Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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No âmbito da aprovação do Orçamento de Estado para 2021 o PAN, o Partido dos Animais e Natureza (eles dizem também pessoas, embora isso não conste da sua própria sigla) conseguiu fazer aprovar, uma nova taxa que entrará em vigor em 2022. Fica estranho que um partido que se apresenta contra o aumento de impostos, venha, à distância de um ano e um mês, quase que à socapa, impor um novo imposto que terá uma implicação direta sobre o consumo das classes mais baixas, até à famosa classe média, bem como sobre o seu rendimento mensal real e efetivo.
A taxa visa cobrar 30 cêntimos por embalagem descartável para refeições. Embalagens que até ao momento custavam entre 2 e 10 cêntimos, que pouco ou nada eram imputados ao consumidor final (as ditas pessoas de quem o PAN se diz defensor). A partir de 2022 o Zé Povinho passa a pagar mais meio euro (que vai ser o resultado do aumento no custo das embalagens, acrescidos de impostos e do aproveitamento dos fornecedores e revendedores), de cada vez que traga uma sopa do supermercado ou do pequeno comércio, uma refeição congelada ou que faça um pedido de entrega de comida ao domicílio ou use o “take-away”. Em números redondos, se levarmos em linha de conta os hábitos de um reformado urbano, facilmente somos levados a concluir que a situação é mais grave do que se imagina.
Se bem que no interior e nas aldeias os hábitos não sejam exatamente os mesmos, nas cidades e nas grandes zonas metropolitanas, onde se concentra 80% da população do país, um idoso, normalmente a viver sozinho ou na companhia do seu par, de idade semelhante, passa a ter um encargo mensal acrescido, que podendo inicialmente parecer pouco, se traduz numa enormidade perante as parcas reformas da população alvo.
Para poder ter algumas bases sobre o que fundamento em seguida, resolvi contactar os proprietários de vários espaços de restauração que conheço aqui, em Campo de Ourique, e perguntar a algumas das caixas de supermercado, com quem já tenho uma certa lidação, qual era o comportamento dos séniores nas suas aquisições.
Face a esta pequena investigação pude concluir que, em média, um sénior leva para casa, diariamente, duas embalagens de comida preparada e, pelo menos, outras duas para o fim de semana. Uma das embalagens é normalmente uma ou duas sopas (dependendo se vive sozinho ou se tem cônjuge) para o jantar e uma embalagem de frango do supermercado ou do prato do dia, do seu espaço de restauração habitual. O somatório destas encomendas perfaz um volume de 48 embalagens por mês. Ora, se multiplicarmos isto por 50 cêntimos, teremos para os idosos, em média (haverá certamente casos piores ou melhores), um acréscimo de 26 euros por mês em custos.
Em resumo, o aumento extraordinário de 10 euros das reformas do próximo ano, mais a subida observada este ano e a do ano de 2022 serão integralmente absorvidas por esta ecológica medida do Partido dos Animais e da Natureza (e das pessoas, segundo afirmam os seus líderes).
Por incrível que pareça serão as famílias remediadas, e as com menos meios, as mais afetadas em mais este contributo ecológico. Aliás, a ele irá somar-se a taxa que vai nascer proximamente para os resíduos sólidos urbanos por agregado familiar.
Os ricos não trazem com regularidade o jantar para casa. Pelo contrário, ou jantam fora ou têm quem lhes confecione o jantar. A sorte de uns e o azar dos outros é uma das causas do fosso cada vez maior entre quem tem e quem não tem na nossa sociedade contemporânea. É triste ver que de uma assentada, graças ao PAN, o nível de vida da terceira idade recua três anos.
Não penses, querida amiga, que sou contra medidas ambientais. Pelo contrário, sou totalmente favorável, mas deve haver a preocupação em que o ónus não recaia sempre sobre os mesmos. Afinal, segundo sempre ouvi dizer, o Sol quando nasce é para todos. Até lá… resta-me dizer: arreganha a taxa, ó Zé! Recebe um beijo de despedida deste teu amigo de ontem, hoje e sempre,
A vidinha continua sorridente? Por detrás da máscara só saberá quem te conseguir ler nos olhos o sorriso da alma. Não me posso esquecer um detalhe importante relativamente às memórias que te estou a enviar, ou seja, tens de ter em atenção que nelas eu me dirijo a um leitor anónimo e não propriamente a ti.
Não leves a mal, porém, acho que não era bonito desvirtuar as referidas memórias se lhes alterasse o conteúdo. Com esta ressalva feita, já ficas a entender que estou a referir a qualquer leitor mais atento que, entretanto, me possa estar a ler ou o tenha feito na altura em que escrevi estas memórias.
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte II
“Pronto, não conseguia passar daqui. Ficava curto, talvez em demasia, a história para a revista. No entanto a hora de enviar o mail com o artigo caminhava desgovernada na minha direção. À primeira vista aquilo ia dar em acidente. A culpa era do meu irmão. O único dos 4 que se dignou a aparecer. Cada vez que tentava avançar na história só me lembrava dele a atacar avassaladoramente, com gula desmedida, as travessas de rosbife, que iam claudicando, uma após a outra, à sua voraz passagem cega.
Levantei-me da cadeira. Agora não dava para continuar. Fui ao bolso do blusão buscar um cigarro, um daqueles amaldiçoados pela minha senhoria que tentava a todo o custo proibir-me de fumar num dos seis lances das escadas do quase centenário edifício onde habito, ainda por cima, para cúmulo, um terceiro andar sem elevador (contudo, a vantagem de viver em Campo de Ourique, era sempre o meu porto de salvação). Mas, voltando ao tema… a cada dois metros a etiqueta sangrenta do proibido fumar condenava-me a calabouços bem mais tenebrosos do que aqueles pelos quais o meu tio-avô, antifascista militante, tinha passado, na companhia dos anjinhos da PIDE, no terceiro quartel do último século do milénio passado, o que, dito assim, parece mesmo uma catrefada de tempo, quando afinal, a história tem menos de cinquenta anos.
Peço desculpa, já estou a divagar novamente. Porém, vais ter de te habituar se quiseres continuar a ler-me. É o problema das mentes dos escritores e dos criativos, pensam muitas coisas, umas em cima das outras. Mas acho que rapidamente me apanhas o jeito. E, como penso que o leitor deve respeitar o escritor, eu tento responder do mesmo modo. Não te conheço e, no entanto, estou a tratar-te por tu, sem cerimónias, mas julgo ter uma razão para isso.
Ora bem, se durante algumas horas vou estar aqui a falar, sem tabus e sem receios contigo, fazendo-te confidente deste meu existir, contando quer com a devida descrição da tua parte, quer com a solidariedade própria de pessoas que se tornam intimas, não faz depois sentido a existência de <<salamalecos>> de etiqueta entre ambos. Espero que estejas de acordo.
Acendi o proscrito (cigarro), que para meu descanso e paz de espirito, mais uma vez não gritou, não pediu perdão por servir de bode expiatório dos impostos do governo, nem mesmo me ameaçou com as imagens ridículas que o Estado o obriga a usar, na frente e no verso de cada pacote de cigarros, mas isto porque eu as cubro com uns cromos da bola da Panini de um mundial que tresanda a D. Sebastião, ou com aquelas cartas infantis oferecidas nas caixas do Pingo Doce.”
Já me estou a alongar demasiadamente, minha querida amiga, despeço-me com um beijo, como sempre,
Ainda te lembras do tempo em que se falava da chegada de uma tal de recessão? A conversa era, com os devidos acertos (com equivalências comparativas à da chegada da Elsa ou do ano de 2020 ir ser aquele com a maior carga fiscal, a atingir mesmo os 35 porcento de impostos), que tudo acabaria, em breve, no melhor dos modos.
Nesse tempo, corria o ano de 2008 (ainda te lembras?). Sobre ele passaram, quase, quase, 12 anos e, contudo, apenas as tempestades, as depressões e os furações ficaram limitados e confinados num prazo mais ou menos certo. Já as dificuldades dos povos tendem a instalar-se de pedra e cal, como se fossem construções para prevalecer e resistir. Foi assim com a recessão, continuou depois com a crise e está, neste momento, em vias de entrar aquela que é anunciada como a Maior Carga fiscal de sempre. São 3 maneiras diferentes de dizer que o cocó é o mesmo, o cheiro é que muda, talvez consoante a consistência ou o pacote em que vem embrulhado.
Voltemos atrás. Disseram-nos que ela chegara: a recessão. No entanto, se todos e cada um de nós, tivesse voto na matéria (sendo que eu votava sempre contra a chegada da anunciada) ela nunca teria vindo. Porém, segundo o Primeiro-Ministro da época, um tal de José Sócrates, garantia-se, nessa altura, que seriam tomadas todas as medidas para efetivamente acabar com a dita cuja ou, pelo menos, que a recessão, mesmo que viesse, não criaria raízes. Promessas leva-as o vento minha amiga, venham elas com a Elsa, o Fabien, ou outro qualquer.
O Governo, qualquer governo, fará como fez esse aos 4 mil imigrantes a quem vedou a entrada em Portugal e que repatriou nesses idos anos tristes. Apesar de todos os sinais o tal Primeiro-Ministro prometia à boca cheia que não tínhamos com que nos preocupar. Sócrates dizia que estava pronto para tudo.
O Povo também estaria, se ganhasse um décimo do que recebia o nosso Primeiro, quer em ordenado quer em ajudas de custo, carro, deslocações e subsídio de risco contra tomates podres, livros escolares, seringas “hipo-qualquer-coisa”, sapatos ou mesmo Ovos da Páscoa do ano de 2007.
Vejamos, estávamos à beira da deflação, os portugueses morriam menos 17 porcento em 2008 nas estradas portuguesas e a tendência era para continuar a cair (é giro ver esses sonhos agora, minha amiga), os combustíveis baixavam de preço, os juros desciam com a gorda da Eulibor a perder peso, a olhos vistos, para recordes nunca antes sonhados nos últimos dez anos, as prestações das casas decaíam junto da banca. Tudo fazia parecer ser impossível que algo de errado pudesse acontecer. Alugar ou comprar casa ou loja era mesmo bem mais barato nesse ano.
Por outro lado, o ordenado mínimo subiria o máximo, de uma só vez, em 2009 (não ouviste isso ainda este fim de ano?), o julgamento da Casa Pia chegava ao fim, a MediaMarket tinha saldos incríveis para os que não eram parvos, o Continente fazia 50 porcento de desconto em cartão da marca, a Banca recebia injeções do Estado contra a Gripe das Aves Raras, contra a Peste Suína do Capital, contra a doença das vacas loucas com os saldos e as promoções… Tudo isto, minha querida Berta, a fazer lembrar uma semana de “Back Friday” bem recente e atual.
Mas havia mais, o Magalhães, por exemplo, vendia mais do que o dinheiro chegado dos subsídios europeus da agricultura que o nosso governo devolvia a Bruxelas pois já estávamos hiperdesenvolvidos.
A euforia estava em alta, vinham aí as obras das Câmaras Municipais em ano de Eleições, mais as grandes e pequenas obras do Estado. Mais os empregos criados em 2009 só para alimentar a máquina eleitoral de três votações. A crise da Educação corria veloz para um final que não sabíamos vir a ser tão triste, mas que corria, corria…
As belíssimas vozes e interpretações das músicas dos ABBA, no filme “Mamma Mia”, davam esperança a qualquer português de poder iniciar uma carreira vocal a todo o momento e instante. As novelas portuguesas continuariam a narrar mundos impossíveis. A Manuela Moura Guedes já não ia deixar de ser pivot da TVI.
Mais que tudo, não iriamos passar vergonhas em europeus ou mundiais de futebol porque não os havia neste ano, o Ministro das Finanças até lançou um orçamento suplementar, o AKI tinha os preços em queda, de tal forma que um dia a casa poderia vir mesmo a baixo. A Moviflor dizia que vendia tudo e mais um par de botas, em doze meses sem juros, mesmo que os móveis durassem menos tempo do que isso. Eu próprio coloquei uma velinha à Nossa Senhora dos Aflitos para ver se o Rui Santos deixava de ser comentador de futebol de uma vez por todas, na Sic.
Porém, apesar de tanta e maravilhosa coisa a acontecer, a recessão não passou. Depois… não muito tempo depois, veio, passo atrás de passo, um Passos que nos fez passar misérias, acabando drasticamente com os anos das contas incertas. Chamando de malandros, calaceiros, quase bandidos a precisar de castigo, aos portugueses. Cortou-nos os subsídios de férias e de Natal, as horas extraordinárias, os feriados.
Mandou-nos emigrar, veio com ar de pastor anunciar que a austeridade (outra palavra bonita para a recessão), chegara para ficar. Inventou impostos, criou taxas sobre taxas e mais sobretaxas, os Orçamentos do Estado, passaram a ter de passar pelo crivo do Tribunal Constitucional, a crise instalou-se de vez com a ameaça fantasma de uma banca rota cujos buracos, afinal, acabaríamos por descobrir que se deviam muito mais aos banqueiros, que não ao povo.
Agora, neste exato momento em que tudo isto já é História de Portugal, não estaremos nós à beira de mais uma “merdaleja” qualquer. Espero bem que não. Prefiro, minha querida amiga, os 35 porcento de impostos às Troikas sanguessugas e aos políticos moralistas do alto do seu conforto. Aos arautos da chegada do Diabo e de outras demonizações em tudo quer dizer o mesmo. Podem chamar-lhe recessão, crise, austeridade, banca rota, Diabo, Troika ou Maior Carga Fiscal de sempre.
Eu prefiro a última, pelo menos de momento consigo respirar, ainda não tenho direito a spa, sauna ou banhos turcos, mas giro os meus gastos sem me sacarem o dinheiro à cabeça. É evidente que preferia viver melhor ainda, não existe sobre isso a menor dúvida, mas entre o panorama atual e o que passei entre 2011 e 2015, não há que ter dúvidas ou hesitações.
Não penses, amiga, que estou a defender o PS, a Geringonça ou a Morte da Bezerra, em detrimento dos outros partidos democráticos. Nada seria mais errado e menos preciso. Estou a defender é a forma como agora nos continuam a esmifrar. Pelo menos, deste modo, eu tenho opção. Se não usar o carro, pago menos imposto, se não fumar também, se evitar as bebidas com açúcar igualmente, e podia continuar com os exemplos, contudo, o que importa é eu ter a ilusão de que posso realmente escolher se vou pagar ou não mais imposto. Este aparente alívio deixa-me feliz.
Viva a maior taxa fiscal de sempre. Sabes, infelizmente a História não dá entrevistas políticas no fim dos telejornais dos diferentes canais, senão todos nos lembraríamos de certas coincidências. Deixo-te um beijo de despedida, deste teu amigo que te adora, querida Berta,
Espero que algum mau tempo não te impeça de ir às compras na próxima sexta-feira, afinal, estamos a falar da grande “black friday” e, tão próximo do Natal, sempre deves arranjar algumas coisas aliciantes e mais baratas para presentes da época e até pode ser que descubras algo de interessante para ti. Toma atenção, é já a 29 de novembro. Porém, tem cuidado, pois ainda há gente a querer vender gato por lebre e a tentar enganar o freguês com uma ou outra falsa promoção.
A “black friday” é, aliás, o tema da minha carta de hoje. Não apenas pelo facto de a grande promoção geral, de comércios e serviços, estar para próximo, mas também porque o ministro do ambiente e da ação climática, João Pedro Matos Fernandes, resolveu opinar sobre o tema, bem lá do alto da sua douta sabedoria e inteligência.
Sem que lhe fosse pedida qualquer opinião, decidiu sua excelência, este enorme e sábio representante do meio e das suas modificações, meter foice em seara alheia. Estás a imaginar, minha querida, o que aconteceria se fosse eu o atual ministro da economia? Bem, dir-lhe-ia, preto no branco, onde é que ele devia colocar a dita cuja. Sim, sim. Estou a falar da foice.
Como seria de esperar, as organizações comerciais e de serviços vieram logo a público defender a sua dama negra, o dia em que mais se fatura durante todo o ano, aliás, vieram com dados do Instituto Nacional de Estatística, INE, refutar a regurgitação ministerial.
É que a semana em volta da “black Friday” (e já agora a quinzena) são, em conjunto com o próprio dia, responsáveis por produzir receitas superiores a todo o trimestre anterior. A data, e a sua adoção em Portugal, trouxeram para o PIB um impulso equivalente à existência, no ano, de mais um trimestre altamente rentável, no que aos serviços, compras e pequenos negócios diz respeito. Gerando um verdadeiro vulcão de compras e aquisição de serviços que, começando a tremer uma semana antes do dia propriamente dito, só volta a serenar mesmo no fim do ano civil.
Aliás, com a vantagem de praticamente não haver grande acréscimo de despesas salariais ou reforços de mão de obra, o que tem ajudado ao aumento dos índices de produtividade no país, num setor que, só por si, é responsável por bem mais de dois terços do Produto Interno Bruto português. Pena é que, uma área com um tal dinamismo apenas receba a ajuda e o apoio de 4 porcento dos fundos comunitários, para o comércio, e 11 porcento nos serviços.
Uma disparidade gigantesca, se comparada com a fatia de leão entregue a outros tubarões. De realçar que o aumento, para a casa dos 50 porcento, faria, pelo desaparecimento do fosso entre ricos e pobres, mais do que todas as medidas implantadas desde que o país entrou na democracia.
Tendo Portugal uma carga fiscal altamente alicerçada nos impostos indiretos, com especial relevância para as taxas aplicadas ao consumo, sendo o setor o maior empregador nacional e com um peso tão relevante na economia do país, não fica nada bem escutar um dirigente nacional a chamar nomes aos consumidores e a todo este setor produtivo. Ao fim ao cabo, quem julga a douta cabecinha pensadora que lhe paga o ordenado ao fim do mês?
Eu ainda não me esqueci que foi esta sumidade quem gerou a balburdia no setor automóvel por vir dizer, para a praça pública, que, quem comprasse um carro a gasóleo, estava a fazer um mau investimento, pois não o conseguiria revender ou trocar quatro anos depois. Isso foi em janeiro deste ano, daqui a 3 aninhos alguém deverá pôr o alegadamente intelectual de manjedoura a prestar contas pelas suas afirmações e danos causados.
E não falei em manjedoura por mero acaso, uma vez que foi o tendencialmente invertebrado, no que ao raciocínio diz respeito, que veio aplaudir a medida da Universidade de Coimbra, de deixar de servir nas cantinas carne de vaca. Em vez de dizer que a universidade arranjara uma artimanha manhosa, para passar a gastar menos com as cantinas, porque esta carne é a mais cara do mercado, veio apoiar a medida, como se o metano produzido, pelos animais em causa, lhe tivesse invadido o cérebro de forma permanente.
Este é o mesmo ministro que, no caso do lítio, chutou a bola para canto, ou seja, deixou o seu Secretário de Estado, João Galamba, com a batata quente na mão, em vez de intervir como era sua competência e responsabilidade.
Apesar de tudo, importa saber o que realmente disse o versátil representante da deusa Gaia no Governo de Portugal, que, segundo a notícia do JN de 25 de novembro e resumindo o essencial, foi o seguinte:
"Nesta evolução de consumidores para utilizadores, com todo o respeito por quem promove os 'Black Fridays' da vida, eles são, de facto, um contrassenso".
O ministro considerou que atualmente se verifica a passagem de uma ótica de consumo de produtos para serviços, dando como exemplo as diferenças entre "ter uma lâmpada ou ter luz", "ter uma máquina de lavar roupa ou ter ciclos de lavar roupa", ou entre "ter um berbequim ou um furo na parede".
"O que eu quero é mesmo um serviço e não necessariamente um bem. E por isso cada vez mais vamos ter uma sociedade orientada a serviços que têm bens lá dentro", prosseguiu.
Classificou ainda a 'Black Friday' como "um expoente máximo e negativo de uma sociedade capitalista", sem antes dizer que acredita "na livre escolha e na iniciativa" numa "democracia aberta".
"Acho que é fundamental nós mudarmos de hábitos para podermos aguentar esta mesma democracia e este regime aberto e de livre iniciativa e de livre oportunidade", continuou manifestando também receio de que "alguém o faça por nós e o faça mal".
o ministro lamentou ainda ver "muitas entidades financeiras a dizerem como é que vão apoiar as compras que nós vamos fazer no 'Black Friday'".
Ora muito bem, conseguiste entender o que pensa João Pedro Matos Fernandes? Não? Minha querida, não te preocupes, nem tu, nem eu, nem 99,99 porcento dos portugueses, conseguem vez alguma entender a douta cabeça que tantas vezes nos traz alegadamente à memória a imagem do alho chocho.
Este novo Merlin dos Tempos Modernos, considera que estamos a evoluir de consumidores para utilizadores e acha que os que promovem a “Black Friday” representam um contrassenso relativamente a esta evolução.
Ora, acontece que o contrassenso é, o ministro da economia, o das finanças e o primeiro-ministro, deixarem o Douto Mago abrir a boca fora da sua área de intervenção (porque nesta ele vai-se mantendo calado), sempre que a ave rara lhe apetece armar-se em papagaio. Até porque, se as promoções ligadas a este dia estivessem a rumar contra a maré, as adesões da população não cresciam ano após ano, como se tem vindo a verificar, nem o volume de negócios era, como é, cada vez mais significativo.
O intelectual que alegamos ser, por certo, de vão de escada, afirma ainda que estamos a sair do consumo de bens para a utilização de serviços no seu lugar. A frase faz sentido se acrescentarmos que vamos evoluindo no tipo de produtos que consumimos e que estes trazem agora, muitas vezes, serviços associados, senão vejamos: o ministro dá exemplos: “é diferente ter uma lâmpada ou ter luz”.
Também acho, até por a lâmpada, como algumas cabeças pensadoras, pode estar fundida, enquanto que a luz é sempre a luz e fica lá para os lados da segunda circular, em Lisboa. Gostava de saber o número de telefone do fornecedor de energia elétrica que, juntamente com o abastecimento fornece também as respetivas lâmpadas. É que já procurei e não encontro.
Outro exemplo ministerial é: "ter uma máquina de lavar roupa ou ter ciclos de lavar roupa". O ministro refere-se, certamente, às lavandarias existentes nas principais cidades, em que o utilizador põe ele próprio a roupa na máquina e depois da lavagem, a traz para casa, pronta a secar ou já seca se, pagando mais alguma coisa, a colocar noutra máquina de secagem, depois da lavagem.
Esta estratégia quase parece convencer, porém, essas lojas, apenas cobrem uma percentagem ridícula de utilizadores, que nem chega aos 5 porcento, sendo que mesmo estes estão num perfil etário mais jovem e ainda capazes de transportar as roupas de um lado para o outro. O que cada vez tem menos a ver com o país em que vivemos. Tudo o que são vilas e aldeias estão fora do conceito e a terceira idade, mesmo nas cidades, tem dificuldade de usar o serviço pelo que este exige de esforço físico a um idoso. Era provavelmente boa ideia que quem pensa de forma tão afunilada usasse uma dessas lavandarias para lavar a mioleira, quem sabe se, depois de lavada e bem seca, não deixava de produzir barbaridades imbecis.
Há ainda uma terceira afirmação que me deixa perplexo. O ministro fala que é diferente “ter um berbequim ou um furo na parede”. Aliás, o senhor Jacques de La Palice não diria melhor. Quererá a cabecinha pensadora desta alma iluminada dizer que, daqui em diante, chamamos o homem do berbequim, para nos fazer um furo em casa, quando precisamos de colocar uma bucha e um prego, para pendurar um quadro? E em seguida? Contratamos um homem de martelo, bucha e prego, para encher o buraco? E depois? Já sei contratamos um decorador de interiores ou um arquiteto paisagístico para colocar um quadro de um melão, vegetal bem mais arguto do que quem convictamente solta estas verborreias perigosas e ainda não domesticadas.
Não sei em que país vive o homem que nos cuida do ambiente, mas deve ser certamente nalgum diferente dos existentes na Terra, situado numa outra galáxia, ainda desconhecida dos humanos. Este pensamento leva-me a crer que, talvez, o ministro seja um “allien”, um extraterrestre disfarçado de “parolêz”, com a barba mal feita.
O sábio governante explica ainda que caminhamos para “uma sociedade orientada a serviços que têm bens lá dentro”. Pode ser que tenha razão e, já que não será mais cedo, que pelo menos seja mais tarde. Entretanto, dava um jeitão passarmos primeiro por uma sociedade que tivesse governantes com cabeça e que esta tivesse qualquer coisa lá dentro. Mas em que país vive o ministro? Que raio de sociedade é que o rodeia que eu desconheço e que não consigo ver? O caminho de que o ministro fala, se é que eu o entendi corretamente, está bem mais longe e será mais difícil de percorrer do que os famosos caminhos de Santiago. Prevejo que no próximo século, se consiga ter acesso ao mapa dos ditos, e que, antes do fim do seguinte, a fabulosa meta seja alcançada, para a generalidade da população e não apenas para uns idealistas do bacoco e do rococó da ficção científica de trazer por casa.
Quando olho para o que já escrevi, nos parágrafos anteriores, nem consigo acreditar que tudo isto foi enumerado, com convicção por um governante do meu país, mas foi. E disse mais, afirmou que: a 'Black Friday' é como que "um expoente máximo e negativo de uma sociedade capitalista". Por onde andas saudoso Álvaro Cunhal? Os perfumes da tua existência deixaram nalgumas cabeças mais fracas, resquícios débeis e dementes dos sonhos dourados do velho mundo comunista.
Expoente máximo e negativo de uma sociedade capitalista poderá ser a ação que os bancos portugueses tiveram, este século, expropriando o país da sua riqueza e obrigando o povo a repor-lhes os fundos, nunca, jamais, em tempo algum, os saldos, de um dia de descontos, mais avultados, podem ser chamados de expoente máximo e negativo de coisa nenhuma, quanto mais do capitalismo. Quem é capaz de uma tal afirmação deve ser o híbrido produto, alegadamente, da junção de um burro com um camelo, e, mesmo assim, corro o sério risco de ser chamado à atenção pelo PAN, por estar a diminuir os animais.
O ministro do ambiente e da ação climática, mostrou-se triste por haver entidades financeiras dispostas a ajudar os consumidores a adquirirem os bens e serviços durante a “Black Friday” e afirmou: "Acho que é fundamental nós mudarmos de hábitos para podermos aguentar esta mesma democracia e este regime aberto e de livre iniciativa e de livre oportunidade", continuou manifestando também receio de que "alguém o faça por nós e o faça mal".
Ora, finalmente eu, um cabeça de alfinete e o ministro, estamos de acordo. Todos receamos que alguém o faça por nós e mal, seja lá a que for que o ministro se refere. É que fazer e prestar pior serviço do que a sua douta e sabedora pessoa é quase uma impossibilidade.
Senhor João Pedro Matos Fernandes adorava que alguém lhe dissesse que quem tem de mudar de hábitos e de ares, talvez até sair, em pezinhos de lã, do Governo, é vossa excelência. Isso sim, seria um ótimo serviço prestado à nação e digna de condecoração por parte do Presidente da República Portuguesa, o ilustríssimo professor Marcelo Rebelo de Sousa.
Despeço-me de ti, querida Berta, com um beijo de saudades, diverte-te com a “Black Friday” que se avizinha, deste teu amigo,