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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: De Júlio César a Marcelino da Mata e a Mamadou Ba

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Olá Berta,

Hoje, se me puderes ler em desabafo, agradeço-te de coração. Tenho andado bastante irritado com a polémica viral em torno das declarações de Mamadou Ba, um dos rostos do SOS Racismo em Portugal, sobre a pessoa do tenente-coronel Marcelino da Mata. Mais me irrita ainda que seja a direita a tomar as dores da defesa da honra do falecido militar e a querer crucificar o elemento ligado ao SOS Racismo.

Em primeiro lugar, esta não devia ser, nunca por nunca ser, uma questão política e muito menos uma temática ligada ao racismo. Em segundo plano, a história, quando se analisa e estuda e quando sobre ela se comenta, tem sempre de ser analisada à luz da época em que ocorreram os factos e não pode, sob pena de perder a sua essência temporal e geográfica, ser transportada para a realidade e para os valores da sociedade contemporânea.

Há ainda uma terceira abordagem, à qual terei o cuidado de voltar no final desta carta, e que diz respeito ao ditado: “À mulher de César não lhe chega ser honesta, deve também parecê-lo”. O princípio desta última premissa, se assim lhe podemos chamar, tem a ver com um dos problemas sociais mais graves da atualidade, não apenas em Portugal, mas que se tem generalizado pelo mundo supostamente civilizado e que começa a necessitar da devida correção.

Todavia, já que falamos em Júlio César, pergunto-te, minha querida amiga Berta, que pensamentos tens quando te lembras dele? Igualmente, sem qualquer problema, eu próprio respondo à questão, pensas num grande imperador que foi capaz de levantar e erguer um grande império, que por acaso pertenceu a uma das duas mais importantes civilizações clássicas da nossa história ocidental.

Poderia também indagar o que achas dos reis de Portugal que expandiram o Condado Portucalense, a começar por D. Afonso Henriques e a parar apenas quando, já como Portugal, o país ocupou o Algarve. Pelo caminho ficaram batalhas sanguinárias com os reinos vizinhos cristãos e com os reinos mouros a Sul do país. Falas de heróis ou de assassinos, sem dó nem piedade, quando recordas a sua história? Também respondo, uma vez mais, que falas de heróis.

Aliás, por falar em Portugal, o mesmo se passa com os Descobrimentos Portugueses e com a implantação do império colonial português. Dentro do contexto histórico e analisando o pensamento de então, nem a escravatura pode ser condenada quando foi praticada em larga escala nessa altura. Foi necessário muita alteração de mentalidades e muita luta por princípios que hoje nos parecem evidentes, para que uma prática que vinha da pré-história e que era refletida como natural fosse considerada uma barbaridade. Afinal, a história deve ser analisada à luz da sua época.

Podia estar para aqui a falar do império zulu, mongol, chinês, grego, otomano, espanhol, inglês, alemão, soviético ou egípcio, aliás, não importa qual deles se analisa, se retirados do pensamento e da época, em resumo, do contexto, aquilo que fica é apenas e somente a atrocidade, a guerra e a barbárie, associadas sempre à sede de poder e de conquista dos protagonistas invasores e dos seus povos, ou seja, sem enquadramento a realidade fica comprometida e a verdade dos factos deixa de fazer sentido.

É curioso pensar que nem a história das principais religiões do mundo escaparia a uma análise fora de contexto, à luz dos princípios e valores que hoje nos regem, enquanto sociedade civilizada e integrada no século XXI. Todas, sem exceção, incluindo as orientais, tiveram de praticar aquilo que hoje apelidamos de atrocidades para vingarem na devida altura e se imporem a outros credos e crenças. Podemos nem sequer conhecer o percurso e engenho de cada uma delas em concreto, mas se as formos analisar em detalhe…

Por tudo o que aqui explanei, e muito mais havia para dizer e exemplificar, as afirmações do cidadão Mamadou Ba, enquanto individuo, não passam das opiniões do próprio e deviam ser enquadradas enquanto tal se, e aqui é que nasce o problema, ele não fosse um dos elementos da organização não governamental SOS Racismo e se as mesmas declarações não tivessem sido proferidas enquanto voz desta organização.

Neste enquadramento o senhor Mamadou Ba torna-se um falso moralista que ofende a própria organização que representa pela descontextualização que faz da pessoa do tenente-coronel Marcelino da Mata. As alegações de Mamadou Ba são sectárias e indignas de um dirigente do SOS Racismo e esta revelação deveria ser a condição necessária e suficiente para que a própria instituição afastasse este elemento da sua equipa.

O assunto nunca deveria servir de bandeira a uma direita histérica, armada em defensora de algo que não lhe pertence, mas que é parte integrante do nosso coletivo histórico enquanto povo e país. É por esta mesmíssima razão, e sem qualquer pejo, que considero que o tenente-coronel Marcelino da Mata foi um herói do seu tempo ao serviço do seu país, no seio das circunstâncias que rodearam a sua luta, tal como D, Afonso Henriques o foi no seu ou Alexandre, o Grande na sua altura.

Desenquadrar figuras históricas e analisá-las à luz dos nossos dias é, e se não é devia ser, um crime de lesa-memória da história dos povos e o seu julgamento nunca deveria ser de cariz político-partidário, mas de efetiva descontextualização da verdade e dos factos da própria história. Um raciocínio como o de Mamadou Ba, para chamar de assassino a Marcelino da Mata, da forma como foi feito, serve igualmente para que se possa considerar Jesus Cristo, um radical religioso, líder de um movimento terrorista.

Resumidas que estão, neste último parágrafo, as duas primeiras premissas com que comecei esta carta, amiga Berta, retorno igualmente à terceira: “À mulher de César não lhe chega ser honesta, deve também parecê-lo”, ou seja, se Mamadou Ba quer ser uma personalidade de relevo no seio da organização SOS Racismo, tem não apenas de ser integro nas suas avaliações como parecer isento nos pareceres que emite publicamente.

Sem estas qualidades o dito senhor apenas descredibiliza a entidade que representa e tira-lhe o prestígio e a atenção que deveria efetivamente ter. Agradeço-te, querida Berta, pela paciência que por vezes te obrigo a ter quando me lês. Contudo, a tua atenção acalma-me o espírito e serena-me das irritações que apanho com estes falsos defensores de direitos e princípios que escondem o seu próprio preconceito na sombra das instituições que representam. Por hoje fico-me por aqui, deixo um beijo saudoso,

Gil Saraiva

 

 

 

Rosa Mota versus Rui Moreira e Super Bock: Parte II

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Olá Berta,

Não era para te escrever hoje, mas, a questão que envolve a campeã olímpica, Rosa Mota, a marca de cerveja Super Bock, por intermédio da empresa proprietária da bebida, a Super Bock Group, e a Câmara do Porto, liderada pelo autarca Rui Moreira, continua sem mostrar sinais de diminuição no que concerne à polémica, não existindo qualquer abrandamento ou cedência de posição por entre aqueles que defendem cada um dos intervenientes e as opções e atitudes por estes escolhidas.

Os doutos defensores do ataque à posição de Rosa Mota, veem agora acusar a atleta por ter o seu nome associado ao consumo de cerveja e, por tabela, a uma bebida, por a atleta fazer parte da Confraria da Cerveja. Porém, digam lá estes cérebros o que disserem, uma coisa é, em termos estritamente pessoais uma pessoa estar associada a uma bebida, porque até gosta de a consumir na privacidade da sua vida, outra é, enquanto atleta, ver o seu nome misturado com uma marca alcoólica no seu pavilhão desportivo (“seu”, enquanto detentor do nome da desportista), ou será que Rosa Mota aparece equipada para correr a maratona, enquanto atleta, por entre os capotes dos confrades nas reuniões? Eu diria que esta é uma diferença bem superior à que existe entre a água e o vinho.

Todavia, outros ainda afirmam que existe uma publicidade da TAP, lançada no tempo da Maria Cachucha, na qual Rosa Mota, faz o papel de hospedeira e onde é filmada a entregar miniaturas de garrafas de Vinho do Porto, a pessoas que representam os passageiros. Ora, esta defesa dos “Superboqueiros Camarário-parvos” não faz o menor sentido. Primeiro, a publicidade é à TAP e não ao vinho, segundo, um dos papeis das hospedeiras passa pela entrega de bebidas aos passageiros e, certamente, o Vinho do Porto pagou para aparecer. Terceiro, duvido que o guião previamente entregue a Rosa Mota esclarece-se que isso iria acontecer, precisamente dessa forma, ou que tivesse um papel relevante (que não teve) no conjunto de toda a publicidade que constitui o anúncio. O que Rosa Mota estava a publicitar era a capacidade da equipa de bandeira em bem receber aqueles que transporta e não a demonstrar quão fácil seria transformá-los em bêbados perus de Natal.

Contudo, este espernear de pernas ou patas, não sei bem qual é o caso, traduzido pela busca minuciosa de situações que provem que Rosa Mota escapa por pouco  a fazer parte dos Alcoólicos Anónimos é de toda ridícula, mas demonstra, por outro lado, que alguém anda a gastar muito dinheiro em defesa das posições tomadas quer pela Câmara de Pilatos, quer pelos glutões da Super Bock. Espero bem que não seja o Rui Pilatos, pois nesse caso o dinheiro gasto a denegrir a atleta é de todos nós e eu, pela minha parte, não o admito.

Além disso, nas 2 situações que acima te descrevo tudo não passa de uma forma desajeitada de se tentarem misturar alhos com bugalhos, o que, não fosse a persistência desta gentinha, nem deveria ter merecido os comentários que te envio. Porque será que nem a Câmara nem a Cervejeira reconhecem o erro e o reparam? Só há uma razão possível: O dinheiro fala mais alto do que a honra, a palavra e a verdade!

Aliás, aproveito o facto para esclarecer aqueles que, usando o anonimato, atacam a Carta à Berta, no meu blog, alegadamente.blogs.sapo.pt, através de comentários, maioritariamente anónimos, que o blog só publica os pontos de vista concordantes com a posição política, social ou estética tomada no mesmo, não dando direito a contraditório naquilo que é um espaço de alegada opinião restrita e específica. Escusam por isso de continuar a espernear sobre o assunto neste local, ocultos no manto do anonimato, que por aquelas bandas jamais vos será atribuída voz.

Aliás, nada do que é referido anteriormente tem qualquer importância. O relevante aqui é saber se o Presidente Rui Pilatos Moreia pela Calada, faltou ou não à palavra dada, ao seu compromisso para com a atleta, que não precisa de respeito apenas pelo facto de ser atualmente uma sexagenária sénior da nossa sociedade, mas, principalmente, pela elevação do orgulho de se ser português, de que é total responsável, aos píncaros olímpicos mundiais.

Na sua frenética lavagem de mãos o referido Pilatos alega ainda não estar a par das conversações entre a atleta e a Super Bock, como que a insinuar que a atleta possa ter vendido o seu nome, secretamente, em troca de dinheiro ou de 2 grades de minis, à cervejeira, sem ter dado conhecimento do facto à entidade responsável pelo nome do pavilhão e agido mesmo à sua revelia. É neste ponto que o edil assume o papel de um personagem da BD chamado Grão-Vizir Iznogoud, um maléfico, dissimulado e ignóbil governante que queria ser Califa no lugar do Califa, criado pelo génio do falecido artista Jean Tabary, que aqui adaptei para a imagem ilustrativa desta carta que te envio, minha querida Berta. Neste caso, é mais uma questão de faltar à palavra dada, de esconder que se faltou ao prometido, de limpar uma imagem a todo o custo nem que para isso se seja badalhoco com outra pessoa que é um símbolo nacional.

Lembrando outras bandas desenhadas, considero que ao contrário das histórias de Spirou, não há “Refúgio para esta Moreia”. Desculpa o desabafo deste vagabundo que em tudo o que diz apenas faz afirmações alegadamente corretas, porém, ou muito me engano, ou este tema ainda me fará gastar mais um ou outro desabafo contigo.

Despeço-me com o carinho do costume, sempre saudoso. Recebe um beijo deste teu amigo do peito,

Gil Saraiva

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