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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 13) O Ambientalista

Berta 102.jpg

Olá Berta,

Terminou, organizado pela ARS alentejana, sob a égide do Serviço Nacional de Saúde, na Universidade de Évora, a Conferência Internacional – Envelhecer em Segurança no Alentejo. Compreender para Agir. Mas depois, mais especificamente, a temática perde o pendor regional que a embebia para se voltar para os problemas de como prevenir as quedas e a violência sobre idosos.

Devo confessar que quando li “Compreender para Agir” pensei orgulhosamente que estava, o nosso pouco abonado Serviço Nacional de Saúde, a investir realmente sobre uma região onde o idoso precisa efetivamente que se aja. Aliás, seria natural que a Conferência nos apresentasse um rumo, com diretrizes determinadas sobre como intervir no seio do Alentejo junto dos idosos, muitas vezes totalmente isolados e sem meios ou qualquer tipo de apoio. Após Conferência, portanto, veríamos o fruto dessa reflexão resultar em medidas concretas, a implementar pela Administração Regional de Saúde do Alentejo, no terreno.

Porém, enganei-me redondamente. No final do programa, uns dizeres, nas referências, incluíam a palavra FEDER. Foi aí que todo o meu castelo desmoronou. Aquilo a que pomposamente se chamara de “Conferência Internacional – Envelhecer em Segurança no Alentejo, Compreender para Agir”, mais não era que a reunião de algumas personalidades pagas a peso de ouro, por fundos comunitários, para se deslocarem a Évora e se ouvirem entre si, a falar sobre idosos. Pior, a parte do “Compreender para Agir” apenas serviu para uma apresentação por parte da ARS alentejana do que já estava previamente traçado para a região.

Assim sendo, não só não compreenderam as especificidades da realidade alentejana na terceira idade, como dali jamais resultará qualquer ação prática em benefício dos alentejanos, muito menos da sua população sénior. A batelada de euros gastos neste evento, pagamentos de participação aos ilustres oradores, mais deslocalização (incluindo deslocação, horas extras, compensações de interrupção do trabalho normal, entre outros extras que sempre se inventam) e ainda a hospedagem dos mesmos, para além dos fundos pagos à Universidade pela cedência de espaço, infraestruturas e staff, etc., serviu unicamente os interesses dos oradores e organizadores do evento.

Tudo bem pago pelos contribuintes europeus para botar discurso e se masturbarem mentalmente, em conjunto, numa orgia filosófica de grupo fechado. A minha revolta quanto a estas ações subsidiadas pelo tal de FEDER é tal que só me apetecia mesmo mandá-los a todos FEDER.

Desculpa o desabafo, minha querida amiga, mas este tipo de coisas, em que se usa uma população necessitada, para unicamente masturbar ilustres personalidades, irrita-me solenemente. Se querem bater uma ou duas que o façam na privacidade dos seus lares, sem recurso aos fundos de todos nós. É pornográfica toda a situação e, portanto, revoltante.

O melhor é regressarmos às nossas quadras sujeitas a mote e ao desafio que me lançaste. O tema de hoje é o ambientalista. Um mote muito em voga, na crista da onda, que muitas vezes serve mais interesses ocultos do que o ambiente em si. Mas vamos lá à minha quadra:

 

Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 13) O Ambientalista.

 

O Ambientalista

 

Proteger o ambiente

Está na moda outra vez,

Mas ainda há muita gente

Que diz que faz, mas não fez.

 

Gil Saraiva

 

Com esta quadra me despeço, por hoje, com a mais elevada estima e carinho, este teu amigo do peito,

Gil Saraiva

Carta à Berta: "Os Outros - Tragédia em 4 atos" Parte II - "Migrantes depois de Refugiados"

II Migrantes depois de Refugiados.jpg

Olá Berta,

Como está a ser o teu primeiro dia de 2020? Espero que tudo esteja a correr pelo melhor. A felicidade é a coisa mais importante. Nem importa de onde vem, importa é que se instale, se sinta em casa e que nos acompanhe sempre, em todas as ocasiões. Os dias de folga, são os tais menos bons, mas é normal, até a felicidade precisa de repouso,

Segue, a segunda parte do poema que comecei ontem, ainda no ano passado. Espero que te agrade:

 

"OS OUTROS - TRAGÉDIA EM QUATRO ATOS"

 

                           II

" MIGRANTES DEPOIS DE REFUGIADOS"

 

Entre bombas, escombros, sangue e tripas,

Foge quem pode porque a guerra é cega,

Não vê mulheres nem crianças,

Não vê nada nem ninguém.

 

A música virou ruído e o ruído trovão;

O povo não quer Bashar al-Assad nem o Estado Islâmico,

Quer uma Síria de paz dizem os sírios,

Quer um Estado Curdo gritam os oprimidos,

Mas o Estado é surdo seja islâmico ou não.

 

A guerra veste de santa, clama justiça

E todos se dizem senhores da razão e da verdade,

Mas ninguém dá ouvidos a ninguém;

Morrem civis aos milhares, gente de carne e osso,

Sem limite de idade, de género, de etnia ou de religião,

Morrem porque estavam ali, no local errado,

Na hora errada, apenas e mais nada.

 

Perante a atrocidade dá-se a debandada

E o povo foge, procura refúgio

Nos países mais perto, mas é enlatado

Em campos de fome e aperto,

Sem condições são refugiados que parecem presos,

Tratados a monte na beira da vida…

 

E honrosas exceções não fazem a regra,

Nem estancam a ferida aberta pela guerra.

 

Só de Kobane, de Ain al-Arab, da fonte dos árabes,

Centenas, milhares, quase meio milhão,

Fugiu, deixou tudo, que a fonte secou,

Procurando o direito a não morrer,

Sem explicação ou sentido,

Com os filhos pela mão vazia de pão…

Chegados à Turquia, interesseira, vizinha,

São refugiados, amontoados, e serão tratados de qualquer maneira,

Sem dignidade, consideração ou sentimento …

E às portas da Europa, qual El Dourado,

Viraram migrantes, na busca de luz, de vida, de paz.

 

Pois é minha querida amiga. Infelizmente não é só no Curdistão que o fenómeno tem praça assente, mas em tanto lado. Não há sequer um fim à vista para esta tragédia humana, para este flagelo entre povos que apenas querem viver em paz.

Despeço-me com o costumeiro beijo, esperando que te continues a dar bem aí pelo Algarve. Desejo-te muita felicidade, este teu amigo de agora e sempre,

 

Gil Saraiva

 

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