Carta à Berta: André Ventura Versus George Floyd
Olá Berta,
Hoje vi-me obrigado a escrever sobre um dos temas que menos me agrada abordar nesta nossa partilha diária de informação e contacto. Estou a referir-me ao racismo, contudo, se fosse sobre xenofobia ou a homofobia, seria precisamente a mesma coisa. Acho absolutamente inadmissível a existência desta tríade do mal no seio das sociedades modernas.
O Alegado Cretino Do Chega
A reação de André Ventura à morte de George Floyd nos Estados Unidos da América, foi a minha gota de água, para evitar abordar temas que me desagradam e incomodam verdadeiramente. O alegado cretino do Chega, depois de uma condenação à morte de Floyd, que mais parecia uma apologia da atitude policial, tão malparida ela foi, vem, ainda a propósito do tema, afirmar que, se e quando ele for Governo, ofender policias, magistrados ou guardas prisionais vai mesmo dar prisão. Acrescenta ainda que a Rede Social Twitter deixará de ser a bandalheira que é.
O alegado imbecil André Ventura, não é nem tão inocente como o fatinho e a gravatinha pretendem apresentar, nem tão idiota como as suas hediondas afirmações nos podem fazer crer. Tudo na estratégia do homem está trabalhado para congregar em voto os que constituem a escória do país em que vivemos. Afinal, Portugal, como qualquer outro país do mundo, tem no seu seio, um certo grupo de imprestáveis.
Podem ser 3, 4, 6 ou 10% da população global. É gente que normalmente não vota e que é fácil de controlar, desde que não se reveja num líder público e político, como agora parece estar a acontecer. Nas próximas legislativas é que ficaremos a saber quantos e que percentagem de obtusos e marginais temos por cá.
Com a sua conversa radical o aparentemente atrasado mental do Ventura, conseguiu, nestes meses, reduzir o CDS-PP a uma dimensão que se assemelha imenso à do PPM ou do PCTP-MRPP nos anos 80 e 90 do século passado. Até o recentemente eleito deputado do dito Partido Liberal parece, também ele, estar condenado a ser absorvido pela palhinha da hipocrisia venturina.
É claro que esse partido também fez por isso, depois da liderança de uma alegada galinha, que só fez miséria no Governo, despejando das casas onde habitavam há dezenas de anos os séniores deste país, com a sua famigerada Lei das Rendas, incomportável para tantos, uma tal de Assunção Cristas, seguiu-se-lhe um Chicão, o que em nada abonou em favor do antigo partido de Lucas Pires ou Freitas do Amaral. Chega a parecer que havia, e que há, uma vontade oculta de esvaziar o partido, em favor do próprio Partido Chega.
Faltou ao ainda alegado ignóbil André Ventura explicar explicitamente, quando se referiu ao caso de George Floyd, que quem a polícia pensar que a ofende, se não for morto vai preso. A meu ver era esta a verdadeira mensagem do alegado abominável Ventura, só não a terá passado, assim, tão claramente, por saber que ao fazê-lo arriscaria incorrer em afirmações que poderiam ditar o fim do seu reinado que, por enquanto, se vai mantendo no fio da navalha do legalmente permitido pela liberdade de expressão da nossa democracia. Mas os silêncios, as omissões, os subentendidos e os incentivos à sublevação, também deveriam poder ser considerados na condenação democrática deste alegado oportunista da política e dos fracos de espírito.
Vês, amiga Berta, a presença de gente como Ventura, na cena política nacional, deixa-me com a vontade de gritar como Floyd fez na sua inimaginável aflição: “I Can’t Breathe”. Mais do que o polícia que matou Floyd, para mim, o verdadeiro culpado desta ocorrência é um alegado mau caráter que dá pelo nome de Donald Trump e que por estes dias continua a incentivar as populações ao divisionismo e à revolta contra os seus próprios Estados a propósito do combate à pandemia. Para imenso azar dos norte-americanos este alegado racista, xenófobo e homofóbico é Presidente dos Estados Unidos da América.
A minha esperança é que da tragédia de George Floyd possa nascer um movimento legal e devidamente organizado, denominado talvez de “I Can’t Breathe” que conduza o país a uma verdadeira aceitação das diferenças de credo, raça, opções sexuais, origens ou formas de pensar, como parte do todo e não como parte a ser excluída do mesmo todo.
A democracia, nos vários pontos do mundo, tem de encontrar, com urgência premente, uma forma eficaz de lidar com quem dela abusa e tenta esticar os seus limites para além do verdadeiramente admissível. No caso português, eu passarei a dormir bem melhor e sem o mínimo peso de consciência, no dia em que o partido de Ventura e o próprio alegado incendiário da revolta dos cretinos e idiotas, for considerado ilegal. Não me doerá a alma de assistir à ilegalização do Chega, nem de ver Ventura acusado como o autor moral de muitas das atrocidades que parecem estar a aumentar no país.
Poderia ficar para aqui, minha querida amiga, a tecer considerandos por mais umas horas, mas já me alonguei que baste. Despeço-me com um beijo rápido, porque hoje até eu fiquei sem conseguir respirar. O teu sempre amigo,
Gil Saraiva