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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique. 4) "Snack-Bar O Bitoque"

O Bitoque 08.jpg

Olá Berta,

Continuando a saga dos restaurantes de Campo de Ourique hoje vou-te falar, minha querida amiga, naquele que, dizendo-se um snack-bar, é para mim o melhor exemplo do que é comer bom e barato, ou seja, a genuína e verdadeira tasca de Campo de Ourique, quiçá uma das últimas de Portugal. Estou a falar do restaurante “O Bitoque”.

Uma pérola da cozinha tradicional portuguesa, um tesouro único no bairro, escondido, bem à vista de toda a gente, mas perfeitamente conhecido pelos residentes mais sábios. Não estou a falar dos novos, mas dos que, com 10 ou mais anos de bairro, conhecem bem as suas preciosidades e onde comer bem, sem perder couro e cabelo, para o alcançar com a qualidade desejada.

O bom, velho, estilo das tascas nacionais que se aprimoraram, no contexto do país, a partir dos anos 60 do passado século e que o requintaram até quase meados dos anos 90, tem aqui toda a sua mais ilustre representação. A decoração é alegre e saloia, desdenhando a necessidade da existência dos designers deste mundo. A televisão funciona, da abertura ao fecho, no tradicional canto do espaço principal, atafulhado, sem nunca se tornar claustrofóbico ou asfixiante. Qual joia da coroa, um maciço balcão corrido, de ponta a ponta, no espaço principal com, pelo menos 8 lugares sentados, forrados a lona azul, carimba a tasca.

No ar sente-se um leve odor a comida que, sem que este se torne enjoativo, aguça o paladar. Podemos começar pelas sopas, onde sempre é possível contar com um caldo verde, à moda antiga, uma deliciosa sopa alentejana, ou, porque não, a aprazível e caseira sopa de feijão verde. De realçar que todo o menu varia consoante os dias da semana, sendo que os pratos principais têm dia fixo para nos deliciar, engalanados pelo seu valor.

Nas carnes, os destaques são tantos que só vou mencionar alguns, pois encontramos desde o cozido à portuguesa, das quintas-feiras, até à dobrada à moda do Porto, passando pelo arroz de pato no forno, a carne de porco à alentejana, os escalopes de peru grelhados, as favas tradicionais, os rojões ou o bitoque à casa. Em todos eles, sem exceção, a sensação de regresso à aldeia é inevitável.

Os peixes variam conforme a oferta existente aquando das compras, efetuadas antecipadamente, pelo raiar do dia. É fácil encontrar um bacalhau à lagareiro, peixe espada grelhado, filetes de pescada fritos, perca, robalo ou dourada grelhada e, até mesmo, um delicioso arroz de gambas com ameijoa.

Na janela vitrine, que dá para a rua, é possível ver claramente os queijos da Serra da Estrela, os enchidos, as sobremesas e toalhetes de papel, escritos à mão, a anunciar ao mundo, a boa ameijoa, o bom berbigão, ou até os caracóis, se estivermos na época dos ditos.

Muitas destas iguarias obrigam ao forte aplauso das nossas papilas gustativas. Tudo isto faz de “O Bitoque” o quarto restaurante desta minha seleção na restauração do bairro.

Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique.

4) Snack-bar “O Bitoque”:

A verdadeira tasca portuguesa de Campo de Ourique.

Contudo, a dimensão é pequena, suportando um máximo de 24 lugares sentados, já contando com os 8 do balcão. Também dá pena que, um espaço assim, não se mantenha aberto pelo menos até à meia-noite, mas o que importa é a realidade existente e não os meus desejos enquanto cliente ávido por mais. O importante é que se come bem, à portuguesa e com muito mais prazer do que seria de esperar num espaço tão acatitado.

Tipo: Cozinha Tradicional Portuguesa

Aberto: Todos os dias das 08 às 22 horas

Fecha: Domingo

Preço: Restaurante: Económico

Classificação: 5 Estrelas

Convém dar ainda realce aos petiscos, aos pequenos-almoços e aos lanches pela tarde fora. As tapas existentes em outras casas, aqui tornam-se realmente petiscos no sentido mais rústico do termo. Podemos ver um jogo de futebol na televisão, com um prato de ameijoas ou de berbigão pela frente, umas fatias de queijo e presunto, variadíssimas sandes bem tradicionais, 100 ou 200 gramas de camarão cozido e beber, por exemplo, um Cabriz do Dão, cuja garrafa apenas custa 8 euros.

Enfim, a oferta é múltipla e diversificadamente apelativa. A simpatia e acolhimento luso está bem patente no pessoal, com quilómetros de experiência nas pernas e nos braços, sempre disponível, sempre simpático e sempre atento. Vigilante aos sinais dos tempos n’ “O Bitoque” a existência de “wifi” é uma realidade e os canais desportivos ajudam a fazer conversa na sala, com os clientes mais alegres e conversadores.

Sente-se, todavia, a falta de algum espaço interior e a ausência gritante de uma esplanada. O bar é completo e até é normal conseguir encontrar um medronho, de boa qualidade, para matar a saudade das tascas das nossas aldeias.

“O Bitoque” pode passar despercebido na Rua Ferreira Borges, número 59, em Campo de Ourique, onde assenta praça, mas apenas para quem atravessa a via de carro e não conhece o local porque, para os conhecedores, ele está perfeitamente localizado e é não só referência como também ponto de encontro habitual. Ainda para mais porque, o serviço de “take-away”, permite levar para casa as inúmeras iguarias aqui confecionadas, sejam elas refeições ou petiscos. Nem é preciso lá ir encomendar, basta ligar para o 21 39 65 636 e passar, na hora marcada, a recolher a encomenda efetuada, e, claro, pagar a conta.

Como depois de pagar é hora de sair, assim eu me despeço de ti, minha querida Berta, ciente de que te agradou, por certo, esta casa bem portuguesa onde a palavra tasca é, sem margem para quaisquer dúvidas, um verdadeiro elogio isto  bem ao contrário de algumas modernices que, tendo tasca no nome, mais não são do que pretensiosos sugadores da carteira dos clientes. Recebe um beijo de saudade, deste teu eterno amigo,

Gil Saraiva.

 

Carta à Berta: Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique. 2) Verde Gaio

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Olá Berta,

Sabes, coloquei ontem online, no Facebook, o primeiro restaurante dos que classifiquei, aqui do meu bairro. Ainda estou abismado com o número de pessoas que foram ler a minha opinião. Ao que parece não sou o único a gostar de comer e de ver o que os outros acham dos locais escolhidos. Fiquei bastante satisfeito. Aqui vai mais um do meu registo pessoal. Irei pôr até os que gostei menos, mas isso não quer dizer que sejam maus, apenas direi que, por um ou outro motivo, não se coadunam tanto comigo.

Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique.

2) Verde Gaio:

A melhor grelha a carvão de Campo de Ourique.

Quando falo em restaurantes familiares, minha amiga, estou logo a querer dizer que o local me faz sentir em casa ou que este é um ambiente acolhedor. Ora, no Verde Gaio, para além disso, a família faz realmente a diferença. O senhor Jorge é um especialista nos grelhados, a acompanhá-lo, na cozinha, a esposa dirige a equipa dos tachos e na sala o filho, Rafael, e a nora, Verónica, fazem as delícias de todos no simpatiquíssimo atendimento aos clientes. O restante pessoal varia mais, embora tenham tendência a ficar bastante tempo na casa. Chego a pensar que a comida é confecionada como se fosse para eles.

Sou um fanático, embora a preferência não seja muito ecológica, pela grelha a carvão. Normalmente, amiga Berta, corro o risco de comer as coisas secas e queimadas ou malpassadas e sem sabor. Porém, tal nunca me aconteceu no Verde Gaio. A mestria do senhor Jorge, nesse departamento, faz do restaurante um ponto de paragem obrigatório para quem vive ou passa por Lisboa.

Conforme já descrevi, aqui trabalham, lado a lado, marido e mulher, filho e nora, gente próxima da família e, mais raramente, um ou outro elemento mais afastado deste padrão. Mesmos os poucos desacatos familiares a que por vezes assistimos no espaço dão ao estabelecimento o seu ar mais genuíno e verdadeiro, marcadamente “made in Portugal”. Aliás, querida amiga, os pequenos conflitos são gerados pela razão última de fazer com que o cliente desfrute de uma refeição de topo, a preços que sempre nos parecem de promoção ou de saldos.

Um achado, dirão, por certo, os que o experimentarem pela primeira vez. Pena o orçamento não dar para cá vir todos os dias, pensarão outros. Mas passando à comida, ou seja, àquilo que realmente importa quando se pensa em comer fora. Imagina, minha saudosa amiga, uma paleta de tintas, com as mais variadas cores e tonalidades, com que um artista pinta um quadro. Agora, transpõe a paleta para a grelha e esta vira protagonista de relevo, de uma panóplia de sabores, para as tuas papilas gustativas.

Será escusado dizer que o peixe e a carne são sempre frescos e que se encontram bem expostos nas duas vitrines, logo na entrada do restaurante, quase parecendo sorrir para quem entra, acho que ias adorar o aspeto, Berta. Contudo, grelhar é uma arte e o maior segredo do Verde Gaio é a mestria do verdadeiro artista, o Grão-Mestre Grelhador, da Ordem Culinária da Antracite, o Mestre Jorge. Pode até parecer que me estou a repetir, mas há coisas cuja importância não pode ser descorada. Pois a verdade é que, para mim, esta é a melhor grelha de Lisboa, bem na frente do Mercado de Campo de Ourique, na rua Francisco Metrass, no número 18.

Como a casa também trabalha com a Uber, e os demais distribuidores, e com Take-Away, convém dizer que poderias, cara amiga, se não estivesses a morar no Algarve, fazer diretamente as encomendas pelo número de telefone 213 96 95 79 ou, em alternativa, para os diferentes canais de recolha. Como conselho, recomendaria que ligasses a saber quais são os pratos recomendados para o dia, pois poderias ter a sorte de apanhares umas deliciosas ovas cozidas ou uma garoupa, linguado, e muito mais, como bónus extra à ementa do dia-a-dia.

Embora já tenha referido alguns pratos, destaco, ainda, o melhor piano grelhado de Lisboa, quiçá do país, os legumes grelhados com broa de chorar por mais, peixe ao sal (desde que encomendado previamente), joaquinzinhos fritos, rins fritos ou grelhados, iscas de porco à portuguesa, franguinho frito à ribatejana, costeletas de porco preto grelhadas, robalos ou douradas ou salmonetes grelhados, salmão na grelha à posta, garoupa grelhada, bacalhau assado à lagareiro, lulas grelhadas, camarão na brasa, enfim, podia estar a escrever mais 2 páginas, Berta, que não terminava. Todavia, alguns dos pratos só existem quando o Mestre Jorge os arranja frescos, pelo que convém ligar a combinar previamente, certas iguarias mais especiais.

Destaco ainda as entradas e as sobremesas, com ameijoas à bulhão pato, cogumelos recheados, empadas de frango, de legumes ou de atum, entremeadinha frita, gambas fritas “al ajillo”, linguiça assada, mini alheira grelhada, rissol de camarão, morcela assada com laranja, ovos mexidos com farinheira, “pimentos padron”, paio do lombo fatiado, pica-pau, favas salteadas e até salada de polvo. Continuando para as sobremesas, para além da fruta da época, recomenda-se a sericaia com ameixa, bolo de bolacha ou de mousse, mousse de manga ou de chocolate, tarte de limão “merengada”, pudim de ovos e torta de laranja.

Tipo: Grelhados / Cozinha Portuguesa / Take-Away

Fecha: Domingo ao Jantar e Segunda

Preço: Acessível

Classificação no Género: 5 Estrelas

Sugiro ainda que se experimentem os vinhos tintos do Douro, Alentejo, Lisboa ou Dão, mas aconselho e destaco especialmente o Dão “Quinta de Cabriz” 2015, cuja garrafa sai a 9 euros. Tu ias adorar, Berta.

Bem, minha amiga, por hoje é tudo, despeço-me de água na boca, sempre saudoso, com um beijo, este teu eterno amigo de longa data,

Gil Saraiva

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