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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Desabafos de um Vagabundo: Série Romance - A Felina - Noites de Lua Cheia - 60

A Felina - 60.jpgFalando para todos os presentes, Luís Navas, com um ar sério, informou que acabara de falar ao telemóvel com o Primeiro-Ministro. Este ficara de ter uma palavra com o Senhor Presidente da República e logo de seguida com o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e com a Ministra da Defesa. Tudo contactos breves para já, apenas de maneira a informar a PJ que tipos de apoios teriam na operação.

Assim que ele ligasse, Navas, falaria do cerco proposto pela Felina e dos meios envolvidos. A ideia dos aramites serem armados com metralhadoras de grande calibre e bazucas também lhe parecera excelente. A pantera pensava em tudo, teria ela andado no exército?

Nas contas da Felina impressionava o número de bandidos mafiosos que se deviam encontrar nas instalações. Ela falava em mais de quinhentos e reforçava que o cerco, para ser eficaz devia contar com pelo menos três turnos de dois mil e quinhentos homens e que, uma coisa assim, desta dimensão, só seria possível com a ajuda das Forças Armadas.

Íris, reparou que um dos adjuntos tirava e punha no casaco, nervosamente, um charuto. Abriu um fundo falso de uma mesinha de apoio, retirou de lá um grande cinzeiro e fazendo sinal ao homem, depois de abrir as duas portas de acesso à varanda poisou o cinzeiro numa mesa redonda tipo café, mesmo ao lado de uma cadeira de esplanada e ofereceu-lhe o lugar. O homem batia no coração agradecendo a deferência. Ainda bem que ela reparara nele. Cinco minutos depois, já eram dois sentados no exterior de charuto na boca. Ambos pareciam aliviados e agradecidos.

Carlos Farelo e Luís Navas, enquanto aguardavam o telefonema do Governo, analisavam agora o plano da Felina, passado em grande para a tela montada na sala. Pelos comentários que ouvia, Íris, sempre atenta, parecia contente com as reações. Cerca de uma hora depois de Navas ter feito a chamada foi a vez do seu telemóvel tocar. Era o Primeiro-Ministro. Uma coisa daquela gravidade tivera total luz verde de todos os intervenientes. Já havia algum plano? Luís Navas disse-lhe que a Felina, que ao que parecia já estudara bem o local e calculara os números de mafiosos, enviara uma estratégia que ele achava genial e que evitaria muito mortos. Acabara de enviar uma cópia.

O Primeiro-Ministro acusou a receção e pediu-lhe para ele e Carlos Farelo se juntarem a uma reunião que convocara de urgência para as duas da tarde. Nela estariam todos os chefes das forças que poderiam ser convocados, mais os ministros que tinham a ver com a situação e contavam ainda com a presença do Senhor Presidente da República. Luís Navas, um pouco receoso perguntou se haveria possibilidade de levar a sua assessora, a Doutora Íris Vasconcelos, que fora quem tivera, a pedido da PJ, o encontro com a Felina e quem estava, de momento, mais habilitada para expor toda a situação o mais claramente possível.

O aval do Primeiro-Ministro foi total. Era evidente que sim. Até tinha pena que a Felina não fosse também. Todavia, a situação era o que era e tinham de contar era com quem podia estar presente. Quando a chamada terminou e depois de avisar Carlos Farelo e Íris da reunião, Luís Navas preparava-se para sair, quando Íris, que ainda não tinha dito o que achava de ser convocada, se tentou escapar a ter de estar presente.

      ― Meu caro Diretor, eu não sou precisa nessa reunião com os políticos, os generais e outros que tais. Veja bem, os senhores já sabem tanto quanto eu e, portanto, eu sou tão necessária como uma esfregona dentro de uma piscina. ― Íris, atrapalhada, tentava escapar-se de andar metida com a alta roda do poder. Ela preferia a sombra aos holofotes, ainda mais holofotes direcionados para a sua pessoa. E continuava: ― O Senhor Diretor e aqui o seu Adjunto têm em conjunto mais conhecimento do que eu sobre tudo isto. Afinal que raio iria eu lá fazer? Consegue-me dizer?

      ― Pois, pois, mas não se escapa. Primeiro, adorei a forma como apresentou o SD Card. Agora só terá de fazer o mesmo acrescentando o plano da Felina. Segundo, a Doutora Íris Vasconcelos é a única pessoa que estará na reunião com um pensamento fora da caixa e, igualmente, a única que ouviu a gata de viva voz. Depois, é mais fácil os Generais, os Ministros e os que tais escutarem-na a si, do que a um de nós que estamos sob a alçada deles. Consigo falta-lhes à vontade, na mesma proporção em que existe respeito pelo papel imensamente relevante que tem tido nesta história toda. ― disse Navas.

      ― É isso mesmo. Além de que eu acho que… ― Carlos Farelo acrescentava, aproveitando a pausa de Luís Navas. ― Não tendo eu perfil para piscina, nem nenhum dos que estarão presentes, uma esfregona pode mesmo vir a fazer muita falta.

      ― Além disso… ― reforçava Navas. ― Não vai para longe. O Palacete de São Bento é aqui perto. Até pode ir a pé. Vá lá Doutora Vasconcelos, não seja assim, a senhora nem é uma pessoa tímida, nem nada. Temos feito um brilharete à sua custa e da Felina, não custa nada vir receber um pouco dos louros. Com sorte, ainda vira Cavaleira da Ordem dos Templários por proposta do Senhor Presidente da Républica. Até pode ser que ele queira uma “selfie” consigo.

      ― Cavaleira? Se não for cavalgadura já me sinto feliz. Quanto à “selfie” se não fosse a grande admiração que eu tenho pelo Senhor Diretor eu dizia-lhe onde podia meter essa “selfie”, juro que dizia. Está bem, seja. Lá estarei, se não há remédio, remediado está... ― confirmava, ainda relutante, Íris.

A reunião começou tensa. Era a primeira vez desde o vinte e cinco de abril que o Estado se via ameaçado por forças externas e que nada tinham a ver com o normal e democrático debate político. Também era a primeira vez que um Governo estava sob ameaça credível, bem como, em paralelo, toda a estabilidade do sistema de segurança nacional. Sim, porque, assassinando as cúpulas, iria levar algum tempo a repor a harmonia dos serviços e a sua eficácia. Quando Íris acabou a exposição do CD Card da Felina, com a apresentação dos esquemas de ataque à quinta de Sintra, tornou-se rapidamente consensual que o cerco era a melhor maneira de evitar mortos entre as forças do Estado e de capturar toda a estrutura da Kalinka.

A Direção Nacional da PSP estava em choque com a participação do seu Superintendente nesta trama macabra. Ainda mais incomodados ficaram quando se tornou óbvio que iriam ter de conviver com o sujeito, como se nada fosse, até ao dia da reunião da Kalinka. A reunião terminou com a aprovação unanime do plano da Felina. Como os aramites ainda não tinham sido enviados para a Ucrânia, o Governo disponibilizava trezentos e cinquenta para a operação e o Exército incluía três mil soldados.

Da parte da PSP e da GNR tratando-se de uma operação de curta duração não havia qualquer problema com a disponibilização dos efetivos necessários, quanto à força aérea disponibilizava vinte helicópteros equipados com as câmaras de deteção térmica e com seis paraquedistas em cada um, contudo, mais de vinte é que seria difícil de conseguir ter operacionais para um tão curto prazo.

A Marinha sugeriu o uso dos fuzileiros, mesmo sendo uma operação em terra, aconselhando que os mesmos se juntassem aos comandos vindos de Santa Margarida e aos rangers de Lamego. Decisão que foi aceite com agrado. Quanto às forças de segurança teriam na liderança, por parte da PSP o GOE, ou seja, o Grupo de Operações Especiais, sendo que os Gamas teriam de ficar de fora, face ao envolvimento do seu líder, o Superintendente Vítor Melo. Já a GNR seria liderada pelo GIOE, o Grupo de Intervenção de Operações Especiais.

Tudo teria de ser feito no máximo sigilo até ao momento do início do cerco. Apenas as chefias saberiam, até ao dia, onde decorreriam as operações e qual era o alvo. Conseguir manter a operação secreta era, sem dúvida, meio caminho andado para o sucesso. Nesse campo foi recordado à PSP que o GOE em primeiro plano e a Polícia de Intervenção em segundo, não podiam permitir qualquer fuga de informação para os Gamas.

Tendo em conta que os Gamas em Lisboa e no Porto tinham sido criados por Vítor Fernandes de Melo, ficou decidido pela Direção Nacional, que ambos os grupos seriam desmantelados e dispersos pelos diferentes serviços da PSP em Lisboa e no Porto, logo depois da operação chegar ao fim. Depois os intervenientes entraram nos pormenores técnicos e táticos. As lideranças tentavam ocupar os seus lugares naquela estrutura gigante, contudo, foi surpreendente o cuidado de todos para não se atropelarem uns aos outros.

Todavia, a disposição estabelecida no plano da Felina, que até parecia que conhecia bem as rivalidades entre as diferentes forças, facilitou imenso essa tarefa. O Governo ficou de organizar com os Serviços Prisionais a distribuição dos detidos até à deportação dos envolvidos e das respetivas famílias, que teria de ser rápida, pois não havia qualquer chance de os deixar em Portugal.

A prisão de toda a Kalinka no dia onze iria impedir os atentados agendados para catorze de novembro. Era prioritário que os líderes, os tais Cedros, fossem todos capturados, incluindo o famigerado sniper e depois, em seguida, os Zimbros, até ao último homem. Tinham que agir rapidamente, pois só faltavam cinco dias para o dia D, ou seja toda a logística tinha apenas quatro dias para ser operacionalizada.

Depois de estipulados os timings para todas as forças intervenientes a reunião foi encerra com os votos de sucesso deixados pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República. O Primeiro-Ministro e o Ministro da Administração Interna seriam os interlocutores diretos do governo com a força de ataque. Do lado das forças de ataque, Luís Navas, ficou como sendo o elo de ligação com os políticos e o líder da missão “Quinta Limpa”.

Ninguém que não soubesse daquela missão deu pelas movimentações das forças que se preparavam para o confronto. O momento do início do cerco estava agendado para as duas horas da tarde, uma vez que o almoço da Kalinka, à uma da tarde era, igualmente, a hora do discurso principal de Alex Budvi. Quem viesse depois já não passaria no cerco e seria apanhado logo à entrada. Não podendo fugir por onde chegara, nem tentando continuar para a frente. Todos os caminhos estariam tapados.

Desde a madrugada do dia onze de novembro, até pouco antes do meio-dia e meia o movimento em direção à quinta foi elevado e constante, porém, a partir dessa hora ninguém mais entrou, até porque os elementos de guarda ao portão encerraram o mesmo. Era evidente que tinha sido marcado um prazo de entrada. Luís Navas decidiu antecipar o cerco em vinte minutos. Passou a ordem aos outros líderes e dez minutos depois o cerco estava totalmente fechado. Até a estrada de acesso à quinta foi cortada cem metros antes, para cada lado.

De qualquer modo quem chegava a essas barreiras era totalmente revistado e devidamente identificado. Ninguém se atrasara, tal era o respeitinho imposto pelos chefes da máfia. Repentinamente o telemóvel de Navas tocou, era uma chamada que transmitia uma gravação vídeo, em tempo real, do que se passava dentro da quinta. A Felina contra-atacava. Aquela mulher era o fim.

 

(continua no próximo e último capítulo) Gil Saraiva

 

 

 

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