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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Desabafos de um Vagabundo: Série Romance - A Felina - Noites de Lua Cheia - 58

A Felina - 58.jpgQuanto à segunda-feira, dia catorze, tratariam de eliminar o Ministro da Administração Interna, Joaquim Raiz Cordeiro, mais uma vez através de sniper. Com as polícias sem grande liderança política, seria mais fácil, em seguida, eliminar os principais chefes das organizações policiais. Depois, com novos tipos nos lugares e até que estes se ambientassem, já a Kalinka se teria ramificado por todo o território nacional sem grande resistência.

Esta conversa decorria uma vez mais do salão do solar de Sintra. Estavam agora presentes o chefe e mais seis Cedros, sendo um deles o sniper. Pelo que a jovem conseguia entender a estratégia e as datas desta vez vinham da cabeça de Budvi. Aparentemente, o Superintendente preferia mais alguns dias de permeio, mas o outro estava com pressa. Eram onze e trinta da manhã do dia cinco de novembro, sábado, quando Íris juntou mais esta conversa ao SD Card onde já tinha as outras gravações. Guardou igualmente, no seu gabinete secreto, uma outra cópia para si.

O descontentamento do Superintendente não era apenas devido à falta de novidades sobre o assassinato, nem muito menos devido à antecipação um pouco precipitada de Alex Budvi, indo agir mais cedo do que tinham planeado, nada disso, o que o andava a enervar era nada saber da Felina. Era inverosímil que em tantos dias ainda ninguém soubesse coisa alguma.

Teria a Felina saído do pais? E sem primeiro tentar provar a sua inocência? Não! Isso era impossível. O orgulho da gata fora posto em causa. Ela estava em campo e, certamente, a agir. O busílis era a fazer o quê e onde… onde? O Superintendente tentava pôr-se no lugar da pantera, mas realmente não lhe apareciam grandes alternativas.

Já para Alex Budvi, a pantera virara gatinha, devia estar a curtir uma diarreia de medo, algures num buraco qualquer. Ele tinha que se lembrar que a tipa não sabia sequer quem a tentara acusar e de onde vinha o perigo. Por mais esperta que a mulher pudesse ser, não só não deixava de ser mulher e, portanto, cobarde, como nem podia contra-atacar um inimigo fantasma que desconhecia. O seu amigo Superintendente devia estar mais relaxado, a fulana escondera-se, a tremer de medo, numa cova escusa. Apostava Budvi. As mulheres eram todas umas medrosas.

O telefone de Érica Chandler Vidal tocou, eram os responsáveis da criação da sua Fundação nos Estados Unidos da América. Sim, porque ela, depois de ter pensado muito em várias soluções, fizera algumas alterações ao que inicialmente tinha decidido. Acabou por escolher uma empresa de recrutamento de talentos para lhe escolher a equipa certa para criar e gerir a fundação, tratar das transições  de ativos para a fundação, mas sem fundos de investimento ou quaisquer outros, como de pensões, por exemplo, sem produtos financeiros de capital de risco ou de produtos de que ela entendesse pouco e, para além de capital líquido, apenas ficaria com ações ou aquisições de ações de empresas que ela achava serem sérias e não dedicadas a especulação.

Quanto ao ramo imobiliário decidira manter as propriedades que tinha, entre elas a manutenção de um imóvel, pronto a habitar, em cada Estado americano, bem como diversas residências espalhadas pelo estrangeiro. Contudo, neste setor, tudo ficava em nome da fundação, com seu uso exclusivo ou de quem ela designasse. A manutenção e conservação dos imóveis mantinha-se sob a alçada da fundação. Onde fosse necessário existirem carros, barcos, jatos, helicópteros, motos ou outros meios, ela escolheu as marcas e os modelos dos carros e das motos e deixou ao cuidado da fundação a escolha dos outros meios, incluindo marcas e modelos dos mesmos. Também deixava a cargo da fundação a manutenção desta frota.

Depois haviam normas e detalhes para tudo o que considerava interessante investir, fazer ou criar de raiz e agendara para Lisboa uma reunião trimestral com a direção da fundação. Todos os outros pormenores constituíam mais de quinhentas páginas que se encontravam em duplicado na sede da fundação em Nova Iorque e consigo, quer em formato digital, quer em papel.

A empresa de recrutamento da equipa para a direção da fundação apresentara-lhe dez homens e outras tantas mulheres. Ela fizera via Zoom as entrevistas. Tivera que as dividir por quatro dias seguidos porque perdera mais de uma hora com cada um deles.

No fim escolhera seis mulheres e quatro homens. Com duas das mulheres à frente da equipa. Ficou satisfeita, escolhera bem o grupo, ninguém contestara.

Do que tinha pensado fazer anteriormente, manteve a ideia dos bairros dos emigrantes trabalhadores e prestadores de serviços nas principais cidades americanas. Fazia também questão que os representantes da Érica Chandler Foundation For The Future, em cada local ou cidade, fossem quadros novos com pelo menos mestrado, a iniciarem o primeiro emprego. Precisava de gente que tivesse margem de crescimento e sem trazer vícios de trabalho vindos de outros locais.

Agradecera também via Zoom ao Secretário de Estado do Tesouro americano, pela sua amável disponibilidade e à Embaixadora americana em Portugal, na supervisão da transição do seu património e do facto de a terem mantido informada. Devido à sua saída a Vanguard deixara de ser a segunda do ranking mundial, descera quatro lugares no ranking das firmas gestoras de fortunas, mas já se encontravam em franca ascensão.

Graças à ajuda inestimável do Secretário de Estado do Tesouro americano, fora fácil enviar para uma conta em seu nome, para o Millennium BCP, cinquenta porcento dos dez por cento que guardara para si pessoalmente. No entender do sujeito a percentagem de verba que ela decidira transferir para Portugal era bem inferior à que eles tinham julgado lógica e possível. Deixavam até a porta aberta para outras futuras tranches que Érica pudesse achar necessárias, mesmo ela a dizer que se tivesse sabido que era todo aquele capital nem três porcento disso teria transferido.

Íris, tinha perfeita noção que agira como ela mesma e não como Érica. Mas agira de modo a nunca ter de tocar num cêntimo daquele dinheiro para ela. Assim, desta forma, mesmo o dinheiro que ficara em nome pessoal de Érica ainda podia servir para ajudar terceiros, porque dali não tensionava usar um centavo em seu proveito próprio. Aquilo não era dela, nunca fora, nem nunca iria ser. Se ela fosse pobre, talvez pensasse diferente, mas não era e isso serenava-lhe a alma.

A chamada com Alicia Kinght, e Pati O’Brian, a Chairwoman e CEO, da fundação no seu lugar, servia para estas lhe dizerem que estava tudo pronto e preparado para se assinarem os últimos papeis e a fundação começar a laborar. Elas queriam saber se os dez elementos podiam vir a Portugal.

Podiam e deviam. Ambas informaram que, de acordo com as diretrizes de Érica para quando tudo estivesse pronto, tinham reservado quartos no Ritz em Lisboa, conforme esta determinara, para o sábado, dia doze de novembro. Ainda conforme determinado, seria esse o ponto de encontro para depois irem jantar e assinar a última papelada. Exatamente, confirmara Érica, à exceção da data que na altura ainda não conheciam, elas tinham feito tudo a seu contento. Estava combinado. Despediram-se e Érica desligou.

Pronto, aquele assunto ficara arrumado, ela não gostava nada de ser a ricaça da Érica. Aquilo nem ao menos era dinheiro roubado. Fazia-lhe algum transtorno. Nem imaginava como é que a Vanguard gerira e aumentara daquela maneira o património da mãe de Érica, e achava até melhor nem saber. Assim, para o futuro, sempre serviria para ser útil a muita gente.

A manhã de domingo, seis de novembro, chegou com bom tempo. Íris, que acordara com uma ideia fixa, levantou-se, tratou de si e por fim, depois de estar com o pequeno-almoço tomado, vestida e arranjada, achou que era tempo de ligar para o seu amigo Farelo. Notou que ainda só eram nove da manhã, quase madrugada para ela. Marcou o número do Adjunto do Diretor da Judiciária e aguardou:

        ― Bom-dia, Carlos, já está bem acordado ou ligo mais tarde? ― disse Íris, satisfeita pelo Diretor Adjunto já estar a pé.

      ― Levantei-me às oito, menina Íris. Só ainda estou em casa porque tenho estado ao computador a despachar serviço que trouxe comigo. Não tarda vou estar com Luís Navas. Temos de arranjar uma maneira que resulte para a proteger aquando do seu encontro com a Felina. Pode a menina não concordar, mas ficamos todos bem mais descansados ― esclarecia Carlos Farelo.

      ― Hum… muito bem. Só é pena que já venha tarde. Ela esteve aqui e acabou de sair. Ou julga que eu estou a pé a esta hora só porque me deu vontade de falar consigo? Cá para mim, o Carlos acha-se charmoso e julga que tudo o que tem saias anda atrás de si, não? Hum… ― indagou Íris divertida com a situação.

Do outro lado ouviu que alguém rosnava uns ruídos do interior da garganta.

 

(continua) Gil Saraiva

 

 

 

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