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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 228: Memórias de Haragano - Confissões em Português - Parte VI

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Olá Berta,

Fico satisfeito por teres achado graça à adivinha de ontem. Afinal, mesmo no teu caso que já conhecias as quadras, a explicação do tipo de ambiente em que devem ser declamadas fez-te sorrir de novo. Todavia, escusas de agradecer porque, a haver alguém que tenha de agradecer, sou por certo eu.

Quanto às minhas Confissões, que te têm agradado, aqui segue mais um pouquinho, mais curto do que o costume para não interromper pensamentos ou explicações a meio, pois acho que fica horrível. Assim:

Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte VI

“Alguns riem-se logo outros ficam sem saber muito bem o que dizer. E é nesse momento que se repete devagar a adivinha deixando que os ouvintes, que já sabem a resposta, visualizem cada verso. Desta vez no verso final já não se faz pausa. Pronto, está criado um momento agradável, deu-se nas vistas, não se ofendeu ninguém e por uns instantes fomos o verdadeiro foco de atenção. Agora só têm que se manter ativamente participantes na conversa para continuarem a ter audiência. Simples, não?

Este tipo de desbloqueador de conversa, como se dizia antigamente no programa <<Pão com Manteiga>>, costuma surtir excelentes efeitos. Tenho outro do género que termina com uma jogada de golfe e que fala de pau e bolas, mas é quiçá um pouco mais grosseiro. Vou ficar só pelo primeiro.

Por esta altura tu, que me lês, deves estar a pensar que este livro é muito brejeiro (peço desculpa do uso e do tratamento mais íntimo, por tu, mas é mais afável e fácil de criarmos uma relação de proximidade). De que estavas à espera? Por acaso julgavas que isto era uma coisa mais séria? E agora que já começaste, meu simpático leitor, achas que um livro deste género não teria qualquer hipótese num concurso literário sério. Só que o facto de tu me estares a ler não faz do livro candidato a qualquer concurso, quanto mais literário. Mas eu tenho uma explicação que julgo justificar estes primeiros capítulos, se tiveres a paciência de a leres.”

Não me vou adiantar mais no capítulo, por hoje, pois quero que leias a próxima parte seguida e numa só carta, pelo menos a parte que se segue. Não ficas zangada, minha querida amiga? Espero que não.

As minhas Confissões em Português não são muito longas, até porque não sou pessoa de escrever capítulos intermináveis. Está série que agora te escrevo não ultrapassa sequer a dezena e meia de cartas.

Despeço-me com o usual, que de banal nada tem, beijo diário, com votos de um restante dia bem brilhante para ti, fica-te com as saudades deste teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 218: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XVI - Última

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Olá Berta,

Termina hoje o longo capítulo das Memórias de Haragano, mais propriamente aquele que afirma que <<A Revolução Começa na Cama>>. Na próxima carta as memórias continuam, contudo, sem mais demora, daremos entrada no segundo segmento. <<Confissões em Português>>.

Espero que estejas de acordo comigo quando digo onde começam todas as revoluções, sejam as minhas ou aquelas que fomos acompanhando ao longo da história. No meu entender a razão é simples: antes de levarmos a cabo uma revolução temos sempre, em primeiro lugar, que sonhar com ela. Ora, como é absolutamente evidente, o melhor lugar para se sonhar, foi, é e será sempre, a cama. Berço de todas as verdadeiras revoluções.

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XVI

“Se a sensação que me levou a <<poetar>> é algo de negativo ela é, ao ser escrita, arquivada num arquivo morto. Consigo por de lado o desgosto, a dor mais profunda depois de a transcrever completa e devidamente. Mesmo quando releio um desses excertos é como se já não fosse bem coisa minha, é, enfim, quase como se se tivesse transformado em algo que apenas se gerasse enquanto fruto da minha imaginação. Se pelo contrário foi uma coisa boa que me levou ao arquivo ela é, depois de passada a palavras e a texto poético, um motivo de consulta, um arquivo vivo, dinâmico, catalisador de energias positivas, um animador do desânimo e da nostalgia, ou seja, o melhor antidepressivo natural que conheço.

Agora que terminei a minha já longa palestra sobre o ato de escrever (mas dentro dos parâmetros do acordo ortográfico) sou levado a concluir que Clarice Lispector era capaz de ter alguma razão <<…se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias>>.

Abri o computador, digitei o email da revista Ler anexei o artigo e escrevi: Caríssimos, envio o artigo solicitado. Sai do programa e desliguei o computador. Decidi regressar à cama para terminar os meus profundos pensamentos, aqueles que me levam sempre a chegar à conclusão de que <<A Revolução começa na Cama>>. Sorri satisfeito.”

Desde que começámos esta aventura de te enviar diariamente uma carta, ainda não te ouvi queixar daquilo que lês. Já discordaste, já me contrariaste, já riste e já choraste, mas, ao que parece, até ao presente momento ainda não te fartaste de ler este teu bom amigo, querida Berta.

Pode não te parecer muito importante, porém a mim, provoca-me algum orgulho saber que, do outro lado de cada carta, estás tu, sempre disposta a mais 5 ou 10 minutos de leitura diária. É realmente maravilhoso e por isso, na despedida de hoje, te agradeço do coração. Um beijo sincero deste teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta nº. 217: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XV

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Olá Berta,

Lembras-te daquela quadra minha que te enviei faz algum tempo. Foi no meio de uma série de cartas com quadras populares que criei quando me quiseste pôr à prova, a que me estou a referir rezava assim:

Sorria, nunca ande triste

Pelos caminhos da vida,

Que a vida, que em nós existe,

Não tem volta, só tem ida.

Fui repescá-la para esta carta precisamente para te dizer que é isso que eu faço com o que escrevo, é a minha forma de sorrir, mesmo perante acontecimentos que possam ser trágicos, Ao escrever, nesse caso, arquivo a mágoa e tiro-a da minha vista. Fica ali, parada, imóvel e segura. Contudo, atuo do mesmo modo com aquilo que me é prazenteiro. Nesse caso o arquivo serve de armazém, para que mais tarde possa, novamente, saborear um pouco do anterior momento de felicidade.

São truques simples os meus. Não têm a complexidade dos intelectuais ou dos sábios, contudo, funcionam na perfeição. Mas, vamos regressar às memórias, que já tardam em sair. Assim:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XV

“Voltando atrás, dizia eu que escrever, para mim, é uma de duas coisas, ou um processo de arquivo ou uma aspirina para a imaginação. Começando pela aspirina devo confessar que funciona maravilhosamente. Sempre que me dedico ao conto, à ficção ou ao romance, enfim à prosa, é a híper imaginação que muitas vezes me enche a cabeça, que eu aproveito para esvaziar, isso permite-me que, na minha cabeça, recomece o processo de criar novas situações, enredos, tramas e mistérios, seja o que for até que, a dada altura, lá tenho que tomar de novo a aspirina, ou seja, escrever novamente, para reequilibrar os níveis de ocupação cerebral, não ter insónias, conseguir dormir e descansar em paz e muito sossego.

<<Last but not least>> o meu escrever, enquanto inigualável processo de arquivo. É verdade, sempre que me viro para a poesia, e passo para o papel os versos que me vão na alma, consigo arquivar sentimentos, emoções, vivências, paixões, amores, desgostos, tragédias, mortes. Enfim, tudo o que respeita o nosso mundo sensitivo, emotivo e quase que arrisco dizer sensorial. Mas trata-se de um arquivo em duas partes. Bem delimitado, com todos os parâmetros realmente nos devidos lugares.”

É com esta minha forma de entender e digerir o que escrevo que, por hoje, parto e te dou descanso das minhas letras. Recebe um beijo deste velho amigo,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta nº. 216: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XIV

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Olá Berta,

Se na última carta que te enviei terminei com os temores de um dia ser apagado, início a carta de hoje reforçando que quem escreve, seja lá quem for, tem sempre, o desejo íntimo de poder vir a ser lido. Caso contrário, não escrevia, fazia, por exemplo, crochê.

Para que possas entender ao que me refiro passo de imediato para as memórias. Assim:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XIV

Por outras palavras, além de qualquer outro aspeto, motivo, bandeira, escola, anseio, crença ou método, quem escreve tem sempre como um dos seus objetivos ou desejos a possibilidade de poder vir a ser lido (sendo que o que às vezes muda é apenas o patamar de significado e prioridade que o referido objetivo ou desejo ocupa na escala daquilo a que cada um considera importante e valorativo). Faço notar que os mais fervorosos, além de lidos, anseiam também pelo sonho último de poderem ser lembrados, citados, estudados e, delícia das delícias, imortalizados. Eu já me daria por satisfeito por não ser apagado.

Poderiam dizer-me que isso de querer ser lido nem sempre acontece, que nem sempre é verdade, como já disse entendo essa linha perfeitamente, podemos ter como prioridade o nosso próprio registo memorial. Mas, e lá estou eu com os mas, quem não quer mesmo ser lido limita-se a pensar, analisar, sintetizar, deduzir e, às vezes até concluir seja que ideia ou processo imaginativo for, sem com isso sentir a necessidade de o escrever. Reafirmo que escrever é normalmente um ato privado que provavelmente vai requerer público ou a partir do momento em que possa ser lido ou a partir do instante em que possa ser esquecido.

Sobre os outros, antes de regressar a mim, resta-me falar dos que escrevem como modo de subsistência, coisa que também passou pela vida de Clarice, dos que fazem de um conhecimento, uma arte ou um dom (conforme os dotes e os casos) um modo de vida e ganha-pão. Para eles, ser lido, não chega… eles anseiam avidamente ser requisitados e muito publicados (e lá me lembrei eu de Camilo Castelo Branco que escrevia a metro brilhantemente, embora por pura necessidade).

Já lá vão três mil setecentos e muitos caracteres. Ups! Já passei a metade do estipulado e ainda tenho umas coisas a dizer.”

O facto de, muitas vezes, um jornalista estar limitado naquilo que escreve a um determinado número de carateres obriga-nos a desenvolver duas técnicas completamente distintas, a análise e até se necessário, alguma divagação ou reflexão sobre aquilo que se escreve, ou, pelo contrário, a um enorme poder de síntese, cortando tudo o que não é essencial.

Com estas observações termino a carta de hoje. Despede-se, com a amizade habitual e um cafuné, este teu costumeiro amigo diário e permanente,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta nº. 215: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XIII

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Olá Berta,

Um bom-dia para ti, sejam lá as horas que forem, no momento em que estiveres a ler esta carta. Hoje vais encontrar nas memórias a referência a uma escritora que já nos deixou faz tempo. Contudo, trata-se de alguém que tem a minha admiração e, por isso mesmo, falo dela. Seguindo para o texto, deixo-te com a sua leitura.

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XIII

“A propósito de escrever…

<<Escrevo porque sou uma desesperada e estou cansada, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias>>

                                                                                               Clarice Lispector

Ao ler esta frase de Clarice fico quase tentado a concordar. Mas, e não sei porquê tem sempre de haver um mas, julgo que chegarei ao fim sem realmente a aprovar na totalidade. Porém, se me colocar no lugar de quem escreve, sou capaz de entender. No caso escrever para a autora era tão vital como para qualquer humano beber água. Morreríamos todos sem o precioso líquido. A carência do ato de escrever seria igualmente fatal para Clarice Lispector.

A minha vida faz-me ver outra realidade que, por força do que tenho vivido, me leva a ideias um pouco diferentes. Tenho que concordar que viajar sem um bloco e uma esferográfica é inimaginável para mim e que, na maioria das vezes, não me lembro do champô ou da máquina de barbear. Já me aconteceu inclusivamente sair de casa sem o bilhete de avião e o passaporte, mas muito ciente de trazer comigo tudo o que era preciso, apenas por sentir na bolsa ou no bolso o volume da caneta e do bloco.

Escrever, para mim, é uma de duas coisas: um processo de arquivo ou uma aspirina para a imaginação. Antes de descrever estas situações tenho que discordar da ideia generalizada de que <<quem escreve, escreve para si próprio>>. Ou seja, mesmo os intimistas, os cultivadores de diários muito privados, ou outros <<secretistas>> da palavra passada à escrita, sentem, nem que seja lá no fundo mais refundido do seu fundo, o desejo de ser lidos (para já não dizer apreciados pelo que escrevem), pode até ser, e é o mais normal, mas depois, por outro lado, vendo o meu caso, eu escrevo para arquivar ideias antes que delas me esqueça. Gosto de ser lido? Gosto, principalmente se for apreciado, mas não é o que mais me move. Porém detestaria que após a minha partida deste mundo alguém chegasse ao computador e apagasse pura e simplesmente todos os livros, poemas, pensamentos, crónicas e textos que já escrevi. Odiaria isso realmente. “

É com esta tenebrosa ideia de um dia ser apagado que me despeço por hoje minha amiga. Recebe o virtual beijo deste teu menos novo amigo,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta nº. 214: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XII

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Olá Berta,

Hoje, envio-te a prova provada de que, quando pensamos que nada mais pode acontecer, surge aquela coisinha inesperada que, por si só, é capaz de mudar tudo. Por isso é que eu nunca perco a esperança no dia de amanhã. O que é realmente necessário é a coragem de, a cada despertar, nos prepararmos para enfrentar o dia que por aí vem. Passo, sem delongas, às memórias de hoje. Assim:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XII

“Com o dia de trabalho terminado preparava-me para desligar o computador depois de fechar o mail. Estava contente com a minha nova teoria de que "a Revolução começa na Cama". Levei a mão ao rato, mas não tive tempo de fechar sequer o mail. O som de nova mensagem a entrar fez-me interromper os planos.

Abri para ler. Eu bem me parecia que teria um melhor dia de trabalho depois da próxima noite de sono. Era mais um serviço. A revista Ler pedia-me um artigo de fundo, com algumas páginas, entre três a cinco mil e quinhentos caracteres sobre o ato de escrever. Mas só me davam dois dias para o entregar, embora o pagamento fosse razoável. Disse um palavrão. Aquele que termina em alho. Era evidente que alguém tinha falhado um compromisso com eles e lá ia eu de novo servir de verbo de encher. Mas pronto, antes isso que não haver o que fazer.

Desde que enviara para toda a imprensa a minha disponibilidade para tapar buracos que o meu trabalho, e a respetiva recompensa, estava a conseguir equilibrar a minha balança de pagamentos. Não era a situação ideal, mas ajudava muito. Voltei a olhar para a encomenda. O ato de escrever… o que dizer, ai, ai…

Depois de alguns momentos a pensar, resolvi ir buscar uma frase de Clarice Lispector. Feito isto, uma vez que já tinha mote, achei que mais valia adiantar já o serviço. Decidi-me a iniciar a escrita.”

No início da carta esqueci-me ainda de te referir que um otimista vive muito mais feliz do que um pessimista mesmo que ambos tenham exatamente o mesmo tipo de vida e de problemas. O otimista passa os dias muito mais sereno pois está convencido de que algo vai acontecer que o vai acabar por ajudar. Por isso mesmo está muito mais atento e pronto a aproveitar o que se lhe depara a cada dia. É dessa forma que se desembaraça dos problemas muito mais rapidamente do que o pessimista. A forma como nos deparamos com a realidade é, por si só, um fator que condiciona e ajuda a moldar a própria existência. Eu, pelo menos, acredito que assim é.

Fico-me por estas palavras e despeço-me até amanhã com o terno e velhinho beijo do costume, enviado, como sempre, por este teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

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