Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Há um ditado muito, mas muito, antigo em Portugal que advoga que: “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”. Tem este dito popular muito a ver com as nossas rivalidades seculares com os espanhóis, remontem elas ao tempo da criação de Portugal, à Época dos Descobrimentos, à ocupação nacional pelos Filipes, ou sejam causadas pelo clima porque, o vento, sempre sopra de Espanha, é muito frio e seco no inverno ou muito quente e seco no verão. Seja pelo que for, minha querida amiga Berta, o provérbio arranja sempre uma ou outra maneira de se manter atual.
Desta vez, minha querida, os nossos “hermanos”, resolveram ativar o regime de exceção do acordo que têm com Portugal, que lhes permite unilateralmente fechar a torneira dos rios que nascendo em Espanha desaguam em terras lusas. Para não darem muito nas vistas começaram pelo Guadiana, depois seguiram para o Douro e, finalmente, ei-los que chegam ao Tejo.
Eu sei, e tu também sabes minha amiga, que o mundo vive as consequências das alterações climáticas e também sei que a Península Ibérica se encontra quer sob o efeito de uma seca extrema, quer assolapada por uma onda de calor fora do comum, quer ainda, para cúmulo a atravessar uma enorme falta de água, como consequência lógica dos dois fenómenos anteriores.
Também sei, Berta, que em todo o mundo, e Espanha não é exceção, os governos olham primeiro para o seu umbigo antes de olharem em redor. Porém, o que eu gostaria de saber é quem foi o governante português, melhor dizendo, o estupor cretino e imbecil, que assinou um acordo com os espanhóis permitindo-lhes fechar-nos o acesso à água dos rios cuja nascente seja espanhola, precisamente naquelas alturas em que um caudal mínimo e sensato deveria estar assegurado, hum, quem foi?
Esta besta quadrada, querida Berta, é atualmente responsável pela liofilização do Tejo, pela ausência de peixes no rio, pelas travessias do rio que já se fazem, nalguns troços, a pé, pela concentração de fertilizantes e adubos em níveis venenosos que escorrem destes agora riachos vindos de Castela, e não só, e que entram em Portugal, enfim, pela morte das Tágides de Camões.
Porque este Adamastor de água doce, minha amiga, levou à desertificação dos nossos terrenos, ao abandono da nossa agricultura em zonas antes férteis, ao êxodo dos jovens do interior para as cidades ou à sua imigração, ao envelhecimento da população rural, ao desespero de milhares de famílias que, de um momento para o outro ficaram sem sustento, ao agravamento das alterações climáticas, à proliferação de incêndios e levará, em última análise à revolta justificada de um povo de brandos costumes. Depois não culpem o povo se lhes tiraram os costumes.
Pois é Berta, quando os passeios do Douro passarem a ser caminhadas pelo leito do rio, quando o Guadiana estiver tão seco que fique esquecida qual é a fronteira, ao Sul, entre Portugal e Espanha, quando a travessia entre o Minho e a Galiza deixar de ter como fronteira a travessia do Lima, quando tudo isto e muito mais acontecer, não te admires com o fim dos brandos costumes. Aliás, não te admires com nada.
A culpa podia ser inteiramente espanhola se o tal acordo não existisse, contudo, existe e foi assinado por um mentecapto do governo da República Portuguesa, não sei quando e nem me interessa saber porquê. O que eu quero, querida Berta, é que Costa arranje forma de revogar o quanto antes esta barbárie que nos está a condenar mais depressa do que aquilo que seria a nossa já longa morte lenta. Despeço-me triste e angustiado, recebe um beijo amigo deste teu solidário companheiro de anos, talvez nos encontremos no funeral das Tágides...
Continuando nos “Segredos de Baco”, e antes de mais, há certos destaques sobre este tema de que não me quero esquecer de te mencionar. Não são fundamentais no que que ao vinho diz respeito, mas ajudam a posicionar o país e a sua relevância no panorama internacional. Espero que me desculpes igualmente o facto de eu não resistir a fazer também um pequenino relato histórico de enquadramento luso na temática do vinho.
Vou começar pelo Douro. Conforme sabes as vinhas tradicionais da região são feitas em socalcos e esta aparente escadaria ao longo do rio e dos seus afluentes, é de tal forma única, em termos de paisagem, que foi reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade. Contudo, não é apenas a Região Vinhateira do Alto Douro, onde se produz o vinho generoso designado por Vinho do Porto, que é património mundial, reconhecido pela UNESCO, também a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, nos Açores, tem essa mesma distinção.
Portugal tem o mais antigo sistema vinícola do mundo, a região demarcada do Douro. Quando te falo em sistema estou-me a referir a uma região delimitada, onde existem regras específicas ligadas a todo o processo produtivo. Tal ordenamento leva a que só uns determinados tipos de castas de vinhas possam ser aí implementados.
Esta região, entre outras, como a dos Vinhos Verdes, produzem alguns dos vinhos mais requintados, exclusivos e valorizados no mercado global. Importa salientar, amiga Berta, que os vinhos portugueses não apareceram por geração espontânea. Eles são o resultado de um suceder de tradições introduzidas no país, ao longo dos séculos, por uma panóplia de civilizações que pelo território foram transitando. Estou a falar dos fenícios, dos cartagineses, dos gregos e principalmente dos romanos, apenas para citar os mais importantes.
Se, por um lado, as primeiras exportações do vinho no nosso território foram para Roma, durante os tempos do Império Romano, o arranque das exportações modernas, por outro, desenvolveram-se com o comércio com o Reino Unido, em 1703, através do Tratado dos Panos e dos Vinhos, assinado entre Portugal e a Grã-Bretanha, conhecido por Tratado de Methuen.
Graças à influência inglesa, aliás, ficámos muito mais cientes das nossas próprias riquezas neste setor. A nossa diversidade climática e territorial é tal que o guia “The Oxford Companion to Wine” descreve Portugal como um verdadeiro e incrível “tesouro de castas locais”, ou seja, de castas de origem nacional. Com efeito, verifica-se a existência de cerca de 285 castas nativas. Isto permite produzir obviamente uma imensa diversidade de vinhos com personalidades muito distintas entre si.
Todos sabemos que temos uma dimensão geográfica e territorial reduzida. Porém, a qualidade e carácter único dos seus vinhos portugueses tornam-nos uma referência de destaque entre os principais países produtores, com um lugar de relevo e em crescimento, entre os 10 principais produtores mundiais, sendo que nos idos de 2003 já eramos responsáveis por 4% de todo o mercado mundial. Isso ainda se torna mais relevante se pensares, minha amiga, que somos considerados um produtor tradicional do velho mundo, onde a cultura da vinha ocupa mais de 8% do continente.
Mais espantoso é o facto de este pequeno país representar 9% do total das vinhas da União Europeia. Aliás, temos a quarta maior superfície vinícola, depois de Itália com 19%, França com 25% e da Espanha com 30%. Passando isto para hectares e superfícies abrangidas, e tendo em conta os dados de 2015, Portugal tinha 199 mil, Itália 610 mil, França 803 mil e Espanha 941 mil. Contudo, importa referir que em 2018 a área vitivinícola no país tinha descido para os 177 mil hectares, havendo ainda cerca de 2 mil hectares de vinha usados para a produção de uva para consumo.
Na minha próxima carta tentarei dar-te, querida Berta, algumas noções sobre siglas ligadas ao vinho e explicar algumas noções o produto, embora não prometa conseguir concentrar tudo isso numa só carta. Importa, por exemplo saber o que é o Vinho ou de onde é proveniente.
Hoje não te distraio mais com os meus devaneios, minha querida amiga, despeço-me com um beijo, deste teu amigo para o que der e vier,
Sabes, coloquei ontem online, no Facebook, o primeiro restaurante dos que classifiquei, aqui do meu bairro. Ainda estou abismado com o número de pessoas que foram ler a minha opinião. Ao que parece não sou o único a gostar de comer e de ver o que os outros acham dos locais escolhidos. Fiquei bastante satisfeito. Aqui vai mais um do meu registo pessoal. Irei pôr até os que gostei menos, mas isso não quer dizer que sejam maus, apenas direi que, por um ou outro motivo, não se coadunam tanto comigo.
Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique.
2) Verde Gaio:
A melhor grelha a carvão de Campo de Ourique.
Quando falo em restaurantes familiares, minha amiga, estou logo a querer dizer que o local me faz sentir em casa ou que este é um ambiente acolhedor. Ora, no Verde Gaio, para além disso, a família faz realmente a diferença. O senhor Jorge é um especialista nos grelhados, a acompanhá-lo, na cozinha, a esposa dirige a equipa dos tachos e na sala o filho, Rafael, e a nora, Verónica, fazem as delícias de todos no simpatiquíssimo atendimento aos clientes. O restante pessoal varia mais, embora tenham tendência a ficar bastante tempo na casa. Chego a pensar que a comida é confecionada como se fosse para eles.
Sou um fanático, embora a preferência não seja muito ecológica, pela grelha a carvão. Normalmente, amiga Berta, corro o risco de comer as coisas secas e queimadas ou malpassadas e sem sabor. Porém, tal nunca me aconteceu no Verde Gaio. A mestria do senhor Jorge, nesse departamento, faz do restaurante um ponto de paragem obrigatório para quem vive ou passa por Lisboa.
Conforme já descrevi, aqui trabalham, lado a lado, marido e mulher, filho e nora, gente próxima da família e, mais raramente, um ou outro elemento mais afastado deste padrão. Mesmos os poucos desacatos familiares a que por vezes assistimos no espaço dão ao estabelecimento o seu ar mais genuíno e verdadeiro, marcadamente “made in Portugal”. Aliás, querida amiga, os pequenos conflitos são gerados pela razão última de fazer com que o cliente desfrute de uma refeição de topo, a preços que sempre nos parecem de promoção ou de saldos.
Um achado, dirão, por certo, os que o experimentarem pela primeira vez. Pena o orçamento não dar para cá vir todos os dias, pensarão outros. Mas passando à comida, ou seja, àquilo que realmente importa quando se pensa em comer fora. Imagina, minha saudosa amiga, uma paleta de tintas, com as mais variadas cores e tonalidades, com que um artista pinta um quadro. Agora, transpõe a paleta para a grelha e esta vira protagonista de relevo, de uma panóplia de sabores, para as tuas papilas gustativas.
Será escusado dizer que o peixe e a carne são sempre frescos e que se encontram bem expostos nas duas vitrines, logo na entrada do restaurante, quase parecendo sorrir para quem entra, acho que ias adorar o aspeto, Berta. Contudo, grelhar é uma arte e o maior segredo do Verde Gaio é a mestria do verdadeiro artista, o Grão-Mestre Grelhador, da Ordem Culinária da Antracite, o Mestre Jorge. Pode até parecer que me estou a repetir, mas há coisas cuja importância não pode ser descorada. Pois a verdade é que, para mim, esta é a melhor grelha de Lisboa, bem na frente do Mercado de Campo de Ourique, na rua Francisco Metrass, no número 18.
Como a casa também trabalha com a Uber, e os demais distribuidores, e com Take-Away, convém dizer que poderias, cara amiga, se não estivesses a morar no Algarve, fazer diretamente as encomendas pelo número de telefone 213 96 95 79 ou, em alternativa, para os diferentes canais de recolha. Como conselho, recomendaria que ligasses a saber quais são os pratos recomendados para o dia, pois poderias ter a sorte de apanhares umas deliciosas ovas cozidas ou uma garoupa, linguado, e muito mais, como bónus extra à ementa do dia-a-dia.
Embora já tenha referido alguns pratos, destaco, ainda, o melhor piano grelhado de Lisboa, quiçá do país, os legumes grelhados com broa de chorar por mais, peixe ao sal (desde que encomendado previamente), joaquinzinhos fritos, rins fritos ou grelhados, iscas de porco à portuguesa, franguinho frito à ribatejana, costeletas de porco preto grelhadas, robalos ou douradas ou salmonetes grelhados, salmão na grelha à posta, garoupa grelhada, bacalhau assado à lagareiro, lulas grelhadas, camarão na brasa, enfim, podia estar a escrever mais 2 páginas, Berta, que não terminava. Todavia, alguns dos pratos só existem quando o Mestre Jorge os arranja frescos, pelo que convém ligar a combinar previamente, certas iguarias mais especiais.
Destaco ainda as entradas e as sobremesas, com ameijoas à bulhão pato, cogumelos recheados, empadas de frango, de legumes ou de atum, entremeadinha frita, gambas fritas “al ajillo”, linguiça assada, mini alheira grelhada, rissol de camarão, morcela assada com laranja, ovos mexidos com farinheira, “pimentos padron”, paio do lombo fatiado, pica-pau, favas salteadas e até salada de polvo. Continuando para as sobremesas, para além da fruta da época, recomenda-se a sericaia com ameixa, bolo de bolacha ou de mousse, mousse de manga ou de chocolate, tarte de limão “merengada”, pudim de ovos e torta de laranja.
Tipo: Grelhados / Cozinha Portuguesa / Take-Away
Fecha: Domingo ao Jantar e Segunda
Preço: Acessível
Classificação no Género: 5 Estrelas
Sugiro ainda que se experimentem os vinhos tintos do Douro, Alentejo, Lisboa ou Dão, mas aconselho e destaco especialmente o Dão “Quinta de Cabriz” 2015, cuja garrafa sai a 9 euros. Tu ias adorar, Berta.
Bem, minha amiga, por hoje é tudo, despeço-me de água na boca, sempre saudoso, com um beijo, este teu eterno amigo de longa data,