Carta à Berta nº. 653: A Primeira Rainha do Egito e a Última Rainha do Egito
Olá Berta,
Esqueçamos, por uns instantes, a atualidade frenética que atravessamos. Hoje vou-te falar, querida confidente, de duas histórias que remontam à 5.000 e 2.000 anos atrás. A primeira começa no Egito. Foi noticiado, no dia 20 de outubro deste ano, que uma equipa de arqueólogos em Abydos, no centro do Egito, fez uma incrível descoberta que pode revolucionar a história do antigo Egito. Um estudo publicado esta segunda-feira, minha amiga, pela Universidade de Viena dá conta de uma descoberta impensável feita no inacreditável túmulo da rainha consorte e regente do antigo Egito, rainha Meret-Neith da Primeira Dinastia Egípcia, que ao que parece poderá ter sido a primeira mulher faraó.
Porém, Berta, na altura em que Meret-Neith existiu a designação de faraó ainda não existia. Certo é que, no local, foram descobertos bens dignos da realeza, incluindo centenas de jarras de vinho seladas, e são das provas mais antigas de vinho alguma vez descobertas, indicando bem a sua autoridade e influência excecionalmente elevadas.
A escavação efetuada parece provar que as construções que compõem o túmulo de Meret-Neith foram feitas por etapas durante um longo período. Em 1900, minha amiga, quando da descoberta inicial, ficou claro que o túmulo foi executado com materiais como tijolos de barro, argila e madeira e que continha os restos mortais de 41 acompanhantes.
A 20 de Outubro deste ano, Berta, a equipa de arqueólogos no local sugere que as inscrições no interior do túmulo levam a pensar que Meret-Neith desempenhou importantes funções governamentais por volta de 3.000 a.C., incluindo o controle do tesouro real. O seu nome já fora encontrado ao lado do seu filho, numa lista de governantes, no túmulo deste, em Saqqara, indicando que ela pode ter sido a regente do Egito durante a juventude de Den. Porém, apesar de Meret-Neith poder ter sido uma governante do Egito, como já referi, nunca terá sido tratada como “faraó”, uma vez que este título só apareceu mais tarde na história do Egito. O interessante é que estes escritos parecem provar que ela pode ter sido a primeira Rainha do Egito, há 5.000 anos atrás.
A segunda história é sobre a última Rainha do Egito, Cleópatra, e é dela o busto que te mando, amiguinha, junto nesta carta. Cleópatra subiu ao trono ainda com 17 anos e veio a falecer aos 39. Ela era uma mulher fabulosa e culta e dominava 10 línguas. A língua do Antigo Egito, tendo igualmente aprendido a ler hieróglifos, coisa que, na sua dinastia foi caso único. Dominava também o grego e o romano, as línguas dos partos, hebreus, medos, trogloditas, sírios, etíopes e árabes. Isso permitia-lhe ter um conhecimento abrangente do seu mundo. Com esse conhecimento, qualquer papiro ou livro da época estava ao seu dispor.
Porém, minha querida confidente, ela também estudou geografia, história, astronomia, diplomacia internacional, matemática, alquimia, medicina, zoologia e economia entre outras áreas do seu interesse. Ela procurava mesmo abranger todo o conhecimento disponível da sua época. Os dados revelavam que passava muito tempo numa espécie de laboratório antigo. Foram, inclusivamente, encontrados alguns trabalhos seus relacionados com ervas e cosméticos. Galeno, que estudara o seu trabalho, Bertinha, conseguiu transcrever algumas das receitas elaboradas por Cleópatra.
Nos papiros de Cleópatra, cara amiga, havia um pouco de tudo, desde um remédio especial, em creme, que ajudava os homens carecas a recuperar cabelo, a conselhos de beleza ou curas com ervas. Era evidente a sua influência nas ciências e na medicina nos primeiros séculos do cristianismo. Ela foi, sem margem para dúvidas, uma figura única na história da humanidade.
A Rainha do Egito também viveu com Júlio César, todavia, é historicamente claro aos egiptólogos que Marco António foi o único amor da sua vida. A união anterior com César terá sido apenas estratégica, diplomática e política. Curioso é que, até hoje, o seu túmulo continua por encontrar. Espero que tenhas gostado destes pedacinhos de história. Por hoje é tudo, deixo um beijo,
Gil Saraiva