Carta à Berta: Afinal de Contas...
Olá Berta,
Hoje vou abordar 2 temas distintos. A verdadeira dimensão da pandemia em termos mundiais e o problema demográfico de Portugal que se agrava a cada ano que passa. Daí escolher hoje o título:
Afinal de Contas…
Já deves saber que o mundo ultrapassou pelos dados oficiais os 7,2 milhões de infetados com o vírus pandémico e que mais de metade destes casos continuam ativos. A somar-se a isso estão uns assustadores 410 mil óbitos oficialmente declarados como resultantes deste flagelo.
Contudo, os dados reais são entre 2 a 3 vezes superiores a isto, para as infeções, podendo as mortes oficiais apenas serem um quinto dos óbitos, na mais positiva das hipóteses, e por motivos muito diferentes, consoante o país que os reporta. Espanha, que está a ferver de urgência para reabrir as fronteiras, deixou de reportar mortes no boletim oficial do Governo, como se tivesse resolvido o pior problema, contrariando os dados regionais enviados pelas autarquias. O Brasil, desde a primeira hora sempre adulterou o número de mortes por questões de resistência presidencial e por problemas ligados aos seguros de vida que, no país, não cobrem as mortes causadas por Covid-19.
A Venezuela, Cuba e Rússia, entre outros, por questões políticas e de regime quase não anunciam falecimentos, quiçá para tentarem parecer mais eficazes do que na realidade são. Todavia, uma grande quantidade de países não reporta, devidamente, os dados, sejam infetados ou fatalidades, por falta de recursos para diagnóstico, seja de quem está infetado, seja de quem morreu por Covid-19.
Nalguns casos as organizações de saúde consideram que nem um quinto dos casos reais são comunicados no que se refere às infeções e, pior ainda, apenas cerca de 10% das mortes são anunciadas, e apontam-se os casos do Bangladesh, do Paquistão e da Índia como alguns dos mais evidentes.
Em resumo, é possível e credível pensarmos que já há muito que foram ultrapassados os 25 milhões de infetados e que o valor real dos óbitos no mundo deve andar, na verdade, na casa dos 2 milhões até ao momento.
Contudo, por mais que os países tentem esconder a realidade, quando chegarmos ao final de 2020 e compararmos os números de óbitos do ano com os 5 ou 10 anos anteriores, é que saberemos, de forma mais aproximada e realista, qual foi o verdadeiro valor da mortalidade e em quanto é a que mesma se desviou dos padrões esperados.
Já o próximo ano de 2021, vai trazer outro tipo de novidades em termos nacionais. O Censos 2021 irá dizer-nos, entre muitas outras coisas, quantos somos. Já estaremos nós abaixo dos 10 milhões de habitantes? Teremos de tomar medidas drásticas para parar o acelerado decréscimo populacional em Portugal? A falta de uma taxa de natalidade, que nos ajude a manter o índice populacional, e envelhecimento da população, em nada ajudam nesta demanda que, numa primeira análise parece perdida.
Neste momento Portugal ocupa o octogésimo sétimo lugar em termos de população no ranking mundial, entre mais de 213 países e territórios, ou seja, 60% dos Estados, e Zonas com algum tipo de Autonomia do mundo, detêm um menor número de habitantes do que nós, no seu espaço geográfico. Se continuarmos a perder população à velocidade de 40 mil habitantes por ano, dentro de 30 anos teremos perdido entre 13 a 20 lugares do ranking, ficando situados, provavelmente, na metade que corresponde aos países de menor população mundial. Uma mudança de paradigma significativa.
Mais grave ainda poderá ser o nosso reposicionamento no espaço da União Europeia dos 27, onde apoios e contribuições são definidas pelo número de habitantes de cada Estado membro. No presente momento temos, com menor população do que nós: Malta, Luxemburgo, Chipre, Estónia, Letónia, Eslovénia, Lituânia, Croácia, Irlanda, Eslováquia, Dinamarca, Finlândia, Bulgária, Áustria, Hungria, Suécia, República Checa, Grécia, (tomados como referência os Censos de 2011). Com mais população estão apenas 8 Estados membros: Bélgica, Holanda, Roménia, Polónia, Espanha, Itália, França e Alemanha.
Porém, após o Censos 2021, é quase certo que passaremos a ter menos população que mais 3 países: Suécia, República Checa e Grécia. Países que estatisticamente já possuem mais população que a portuguesa, mas a quem, a efetiva contagem de 2021, trará outro peso e importância no contexto da União, para quem apenas os números reais contam.
Nos próximos 30 anos ainda nos arriscamos a ser ultrapassados pela Áustria e pela Hungria o que nos colocará no topo da metade inferior dos países com menos população no seio da União Europeia. Ora, nada disto teria grande importância se a distribuição de verbas entre os Estados não estivesse direta e indiretamente ligada ao número de habitantes. Mais grave ainda será o continuo envelhecimento da população nacional, a diminuição assustadora da população ativa e a pressão cada vez mais ostensiva sobre o SNS e sobre a Segurança Social.
Em conclusão, analisando as 2 temáticas, no caso português, urge combater agora com determinação a pandemia e devem ser aproveitados os recursos que ai vêm para termos uma eficaz política de crescimento populacional que não nos obrigue a definhar enquanto povo.
Por hoje é tudo, minha muito querida amiga. Este teu permanente amigo despede-se com o usual beijo de saudades e carinho, sempre às ordens,
Gil Saraiva