Carta à Berta nº. 646: "O Mistério do Triângulo"
Olá Berta,
Gostei de te rever nestas minhas férias pelo Algarve, mais propriamente pela maravilhosa vila da Fuzeta. A ilha continua deliciosa e de águas tépidas. Já a praia na Ria Formosa, junto à vila, antes chamada dos namorados, parece ter adotado, definitivamente, a designação de “praia dos tesos”. Contudo, continuo sem saber ao certo se a designação “tesos” se deve à presunção de que só lá vai quem não tem dinheiro para pagar os 5 minutos de barco de ida (e volta também) para a ilha da Fuzeta (há muito ligada à ilha da Armona) ou se o cognome se deve à quantidade anormal de preservativos que se encontram pelo areal ao amanhecer.
Seja porque for, a originalidade do nome é merecida. Aliás, Berta, cada vez mais ficamos com a impressão de que vivemos num país de tesos. Serão, sem dúvida, mais aqueles que o são pela insustentável leveza da carteira do que os outros assim chamados pelo vigor imponente de um mastro firme e hirto, mas ambos são efetivamente “tesos”.
Foi nestes dois areais que eu me deparei com um novo paradigma, um verdadeiro “Mistério do Triângulo Concavo que Não É das Bermudas”. Estou a falar dos novos biquínis que vestem ou despem senhoras e raparigas nesta temporada estival de 2023, conforme podes facilmente constatar, minha amiga, sempre que estiveres na praia.
Com efeito, minha querida, a parte de trás da cueca da maioria dos biquínis, que vi a revestir os corpos do belo sexo na praia, deixaram de servir para cobrir uma boa parte das nádegas e o rego traseiro, para se dedicarem a revestir, num minúsculo triângulo concavo, o fundo das costas, deixando por completo a descoberto os cus que deveriam ocultar.
Poderão uns argumentar que a nova moda é sexy, outros dirão certamente, Bertinha, que dependerá muito do tipo de “peida” que fica a descoberto. É que esta cueca, de utilidade duvidosa, foi adotada pela generalidade das mulheres e não apenas pelas catraias elegantes e ainda sem celulite nos glúteos.
Assim sendo, até um qualquer observador menos atento, se vê obrigado a reparar, ao detalhe, nas cordilheiras de banha, celulite e carne a descoberto pelas praias do país. Ora, minha amiga, eu nem sou sequer um defensor de pudores arcaicos e em desuso e penso mesmo que as mulheres devem ter todas as liberdades que conseguirem conquistar. Todavia, acho evidente que esta nova moda apenas beneficia uma pequena minoria do sexo feminino.
Aviso até que se no verão de 2024 aparecer uma moda de praia em que os homens metem a “gaita e os tomates” num saquinho diminuto preso por um lacinho, eu, sempre coerente, Berta, jamais usarei tal peça estival, nem que o Papa a recomende. Por hoje é tudo, deixo um beijo,
Gil Saraiva