Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Não sei se é de estar em casa em isolamento e devidamente confinado, se é de andar a ler mais notícias, mas é inegável que, desde março passado até hoje, tenho sentido que a criminalidade aumentou, ao que me parece, bastante. Ontem um sujeito, de máscara cirúrgica e boné, assaltou uma dependência bancária roubando mil duzentos e tal euros, em Vila Real. No mesmo dia um outro sujeito, em Borba, foi esfaqueado e estrangulado.
No sábado, um outro individuo foi apanhado a roubar equipamento hoteleiro de uma cozinha de um hotel encerrado. No domingo foi detida uma mulher suspeita de atear um fogo numa pensão na baixa de Coimbra, da qual resultou um morto. Isto que descrevi é apenas uma amostra pequena, referente a três dias, para não falar em violência doméstica ou de crimes de incumprimento do Estado de Emergência.
Podia arranjar bastantes mais, só destes três dias, mas apenas fui consultar as manchetes dos principais jornais entre sábado e segunda-feira. Para meu espanto, são todos crimes diferentes e se fosse ler um correio da manhã de fio a pavio encontraria certamente mais uma boa dúzia em um único dia e mais do que isso para os três dias aqui em causa nesta carta. O que achas disto, amiga Berta? Andará no ar algum concurso de como fazer mal ao próximo em tempos de pandemia?
Analisando as situações acho que está tudo a ficar maluco. Espero que o país consiga ser célere no combate ao coronavírus e que rapidamente voltemos a uma vida mais normal. Por agora, o que me vem à ideia é que as pessoas, com uma cabeça mais frágil, se estão a começar a passar. Gostava de saber se é só impressão minha ou se a criminalidade tem mesmo aumentado durante estes tempos pandémicos. Se vires alguma estatística sobre o assunto, avisa minha querida amiga. Pode ser? Por hoje não me alargo mais. Despeço-me com um cumprimento de muita saudade e com um beijo,
Para haver moralidade todos devem comer pela mesma medida. A desculpa dada pelo Governo de Portugal (e de tantos outros no mundo inteiro), agora e no passado, para taxar os fumadores prende-se com questões ligadas à ética e à saúde pública e, ainda ao custo que um fumador provoca ao Estado, quando contrai doenças provocadas pelo seu vício nefasto, que afeta o próprio e quem o rodeia.
É com base nestes pressupostos que o fumador, em primeiro lugar, e outros frequentadores de espaços onde se vendem cigarros e outros produtos produzidos pelas tabaqueiras, em segundo lugar, são obrigados a visualizar as horríveis imagens explicitas dos ditos malefícios, de muito mau gosto e discutíveis, colocadas obrigatoriamente nas embalagens destes produtos.
A mesma base serve de argumento quer para o elevado peso dos impostos nestes produtos, quer para não permitir a publicidade expressa dos mesmos na televisão, rádio, imprensa, ou em qualquer outro meio de divulgação e anúncio da variedade e qualidade da oferta, que se encontra acessível ao consumidor. Não são permitidos, por isso mesmo “mupis”, outdoors e até publicidade digital. Tudo parece vedado a esta indústria pelo manifesto flagelo que a mesma constitui para a saúde pública. Ora, eu, mesmo sendo um fumador acho muito bem este combate.
Porém, quando digo que acho bem, também me considero no direito de exigir equidade de tratamento para todos os outros produtos que, de um modo comprovado e cientificamente conferido, causam idênticos prejuízos aos indivíduos e a sociedade no seu todo. Como dizia no início desta carta, minha querida amiga Berta, para haver moralidade todos devem comer pela mesma medida.
Ora esta norma, se aplicada, porque a justiça do seu princípio me parece inquestionável, devia proibir os apoios que são dados aos viciados em drogas (porque estas, ainda por cima, estão ilegalizadas e são penalizadas a vários níveis, pelo próprio sistema judicial) fornecendo-lhes gratuitamente seringas, salas de chuto e sucedâneos, como é o caso da metadona, ou tratamentos de combate ao vício suportados pelo Estado, o que obriga a despesas que saem diretamente do bolso do contribuinte.
Pelo mesmo princípio, todos os produtos ligados ao consumo do álcool deviam estar equiparados (e aqui com severas e idênticas penalizações e impostos) aos do tabaco. Com proibição de publicidade a qualquer nível, não devendo sequer ser permitido, como não é para o tabaco, o patrocínio destes produtos a eventos de massa e muito menos ainda a acontecimentos de natureza desportiva. Recordo-te, amiga Berta, que o número de mortos e de problemas e custos para a saúde pública ligados ao álcool supera atualmente os provocados pelos derivados do tabaco.
No caso do álcool acho pornográfico que se permita que a Sagres patrocine e publicite eventos, equipas e seleções desportivas, como é o caso da Seleção Nacional de Futebol. O mesmo processo deveria acontecer com a “Super Bock” e as outras cervejas. Aliás, nem devia ser permitido que as bebidas com álcool pudessem fazer publicidade, fosse em que meio fosse. Isto inclui a cerveja, todos os vinhos e as chamadas bebidas brancas ou destiladas.
Não é difícil de entender que só pela influência no espaço governativo dos lóbis ligados ao consumo de álcool se impede o Governo de obrigar à postagem de imagens alusivas aos malefícios do álcool em todas as garrafas colocadas à disposição da população. Sim, sim! Estes produtos matam anualmente em Portugal mais gente do que os ligados ao tabaco e provocam um peso gigante no campo da saúde pública, para já não falar nas causas indiretas como é o caso da sinistralidade na estrada.
Recordo que há já mais de uma década que os números de óbitos ocorridos, em Portugal, provocados pelos produtos derivados pelo tabaco ultrapassa anualmente os dos falecidos por Covid-19 desde o início da pandemia até hoje e que os mortos com origem no álcool são ainda superiores a este número.
Há, contudo, e embora sem reconhecimento oficial, um mal muito maior do que os quatro anteriormente apresentados. Um mal tão grave que é capaz de gerar, com facilidade, violência doméstica. Falência de famílias inteiras, miséria em agregados familiares já por si à beira da miséria, roubos, assaltos, descalabros sociais e económicos inacreditáveis no seio da classe média, depressões, suicídios, homicídios, disrupções sociais de toda a ordem e criar uma sociedade alienada com um perfil descrito pela ciência como ludopatia (um comportamento aditivo, uma doença grave do foro psicológico, que consiste em jogar e apostar sucessiva e descontroladamente até, se preciso for, em casos mais graves, à destruição integral do ludopata e, muitas vezes, de todo o seu agregado familiar).
A publicidade televisiva de jogos e casinos online devia estar interdita há já muito tempo. Não deveria inclusivamente ser permitida em lugar algum, nem mesmo nas redes sociais. É um crime (sobre o qual falta legislar severamente) incitar ao jogo. Mas a situação devia ser reprimida e interditada a quem não fizesse prova de poder jogar sem prejuízo claro da sua vida privada, familiar, pessoal e social.
Os casinos, os jogos da Santa Casa, os sites de apostas desportivas ou outras e, inclusivamente a famigerada raspadinha, são exemplos vivos e presentes de como se pode espoliar o povo, com o seu próprio consentimento, por o mesmo não se aperceber que é vítima de um processo criado de maneira a enganá-lo e estudado precisamente com esse fim absurdo e que tanto mal causa. A raspadinha, diz a ciência, é já um vício grave a nível nacional, em Portugal.
Dizem os cientistas que se nada for feito pode vir a gerar danos irreparáveis em mais de 50% da sociedade portuguesa. Estamos a caminhar para uma sociedade de viciados, que se julgam livres, e que (já existem registos do fenómeno no país) levam a que muita gente retire dinheiro à verba mínima que precisa para se alimentar (a si e aos seus) para poder raspar mais umas viciantes amostras de papel enganador.
Desculpa o desabafo, minha querida Berta, mas a hipocrisia dos mandantes, este tapar de olhos deliberado e motivado por lóbis ocultos, mete-me nojo de tal maneira que, às vezes, não consigo guardá-lo só para mim. Por hoje é tudo, despede-se este teu amigo saudoso,
Sei que ainda esta manhã te escrevi uma carta, minha querida amiga, mas o que li hoje nas notícias, nos jornais online, não podia ficar por comentar. É deveras deprimente viver num país onde o tratamento de um assunto tão sério ainda não tem a devida atenção, por parte das autoridades nacionais e, principalmente, do lado dos poderes legislativos e judiciais.
Desta vez, pela trigésima sexta, em 2019, foi um pai de 68 anos que, alegadamente, matou por negligência doméstica, uma filha de 43 anos e feriu o genro, enquanto limpava uma caçadeira.
Estava o ano quase a terminar e o patriarca queria celebrar a entrada do novo ano a tiros de arma de caça. A negligência, verdadeira ou não, causando uma morte e um ferido, não deixa de ser violência doméstica. Afinal, esta situação não pode ser tratada, certamente, como uma comemoração familiar, lá porque a arma iria, supostamente, servir para festejar a chegada do ano novo.
Ainda por cima porque, a ser verdade que a arma se disparou por descuido, não faz sentido que o homem se tivesse posto em fuga, tendo no seu encalço a GNR local e depois a polícia judiciária. Todavia, mesmo que essa tese, defendida por outros familiares, prove ser a que realmente aconteceu, o descuido não foge do âmbito violento, ocorrido em casa.
O que me leva a concluir que os factos nunca deixarão de ser, por isso, um crime de homicídio doméstico, seja ele negligente ou não.
No meu entender, embora não seja um especialista da matéria, o trigésimo sexto de violência doméstica que provocou a morte de um familiar, em 2019, neste caso em sede de um acampamento permanente onde toda a família residia.
A morte ocorreu na zona de Ovar, a poucas horas da mudança de ano e pintou de negro a tragédia de um ano em que 3 vezes por mês, alguém é morto no seio do lar por um familiar. Ora, quando a grande maioria das vítimas são mulheres, é caso para nos levar a pensar que soluções urgentes e imediatas devem ser tomadas, porque é preciso pôr termo a esta carnificina sem sentido algum.
Se em 2016 os homicídios registados no âmbito familiar foram 4, mais um que os registados em 2015 e 2014, em 2017 esses números dispararam, passando para 20, em 2018 chegaram aos 28 e por fim em 2019, os homicídios por violência fecharam o ano nos 36, ou seja, 9 vezes mais do que há 3 anos atrás.
Quando uma taxa qualquer sobe 900 por cento em apenas 3 anos, seja ela que taxa for, algo não vai bem no reino ou na república. Mais grave ainda é quando essa percentagem refere a subida de um crime perfeitamente identificado.
Será que sou só eu que considera um absurdo a subida de 1200 por cento dos crimes de homicídio, no âmbito da violência doméstica, em 5 anos? É que saltar de 3 mortes, neste setor, em 2014 e 2015 para 36 em 2019 é precisamente o que aconteceu. Uma vergonha sem nomenclatura digna para a descrever.
Nos últimos 29 anos foram registados em Portugal quase 400 mil crimes de violência doméstica, com um crescimento anual médio superior a 19 por cento ao ano. Um facto, de tal forma assustador, que ameaça tornar este país, dito de brandos costumes, numa verdadeira casa (ou república, melhor dizendo) de horrores. Basta pensar que se estes casos fossem pessoas, e se essas pessoas constituíssem um partido, que fossem a votos nas legislativas portuguesas, ganhariam 10 lugares no atual parlamento.
No cerne de toda esta problemática estão, sem qualquer margem para dúvidas, digo eu que alegadamente me acho cheio de razão, minha querida, as sentenças amigáveis e permissivas dos juízes deste país. Quanto a mim, o conhecimento por parte da população deste tipo de julgamentos, das respetivas penas e do péssimo tratamento dos juízes perante as vítimas, gerou uma espécie de república das bananas, no que ao aparente desculpar dos culpados diz respeito, ou seja, toda o mundo tem a sensação de que existe uma impunidade generalizada no setor. É como se o próprio Estado estivesse de acordo com este status quo.
Ora, amiga Berta, isto é de todo inadmissível. Se eu tivesse 16 anos e Greta fosse o meu nome, formava um movimento contra o femicídio. Sim, porque para além das 31 mulheres mortas (dos 36 homicídios de violência doméstica), este ano que passou, houve outras tantas que escaparam a este fim, tendo os presumíveis culpados sido acusados de tentativa de homicídio.
Espero sinceramente que este 2020 seja o ano da mudança. É preciso parar, estancar e acabar de vez com este flagelo que assombra a nossa sociedade.
Despeço-me saudoso com mais um beijo de esperança, deste teu amigo de todos os dias,
Recebi hoje a tua última carta. Não precisas de me escrever diariamente só porque eu o faço. Para mim é apenas uma forma de desabafar e de te manter por perto. Confesso, contudo, que sabe bem abrir a caixa do correio e encontrar uma carta tua em vez da conta da eletricidade. Já há muito tempo que não tinha essa expectativa ao ir ver o correio. É revigorante, fresco e nostálgico.
A minha carta de hoje é, por incrível que te possa parecer sobre a Segunda Grande Guerra Mundial. É verdade! Com efeito, ainda hoje, continuam a ser divulgadas coisas que mal dá para acreditar terem realmente acontecido. Todavia, mais uma vez, o assunto versa as mulheres.
É do conhecimento geral o abuso, de todo o tipo, a que foram sujeitas as judias e não só, pelo regime nazi. Uma escravidão inaceitável e só possível descrever no contexto de terror que se viveu na época. Das experiências horrorosas efetuadas pelos médicos e carrascos do nazismo à escravidão sexual aconteceu um pouco de tudo.
Porém, para meu espanto, não é daí que vem a novidade. Os 23 documentos hoje divulgados têm origem no país do Sol Nascente. O, na altura, Grande Império do Japão. Se um dos grandes realizadores de cinema fizesse um filme, cujo argumento fosse parecido com o que por lá aconteceu, seria, rapidamente, apelidado de uma grande metragem irrealista.
Contudo, como costumo dizer tantas vezes, a realidade tem a terrível mania de ultrapassar a ficção. Infelizmente, nem sempre nos revelando o melhor dos homens, dos governos e do poder instituído. Afinal, estas revelações referem-se ao segundo quartel do século XX, e têm pouco mais de 80 anos as primeiras, e menos do que isso algumas das outras, entre as quais, se encontram provas documentais com apenas 74 anos de idade… foi quase ontem.
Embora muita gente possa dizer que as coisas foram iguais no passado, de uma forma generalizada, em toda a parte, julgo que esta situação é incomparável com os atos de escravatura, praticados em Portugal e na Europa nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, em que os direitos humanos ainda eram uma miragem absurda e inconcebível, se bem que igualmente condenáveis em absoluto.
Ora, os documentos agora revelados, são prova documental que o exército japonês, solicitou escravas sexuais (em média: uma para cada 70 soldados), ao governo nipónico e que a solicitação foi não apenas aceite, como foi levada a cabo com uma eficácia tremenda.
O Japão, ainda tenta suavizar a coisa, dizendo que parte das mulheres eram gueixas japonesas, profissionais do sexo, cuja existência nada tinha a ver com situações de escravatura sexual. Como se o sistema de gueixas no oriente fosse algum clube de voluntárias, ardentemente desejosas de serem tratadas como coisas.
O problema é que, neste século, nesta década e neste ano, continuam a existir gueixas na terra do Sol Nascente, quase com a mesma inexistência de direitos que há uns séculos atrás. Reconhecer tratar-se de escravatura sexual, poria em causa muito do que hoje ainda se passa e isso o Estado Nipónico não tem qualquer interesse em considerar.
O mais grave dos documentos trazidos a lume é que revelam que o Japão fez escravas sexuais raptando mulheres da Coreia do Sul, de Taiwan, das Filipinas, do próprio Japão e da Austrália. Quase todos os documentos usam a mesma expressão para descrever estas vítimas da guerra: “mulheres de conforto”. Duvido que fosse para conforto das mesmas e que, as operações militares desencadeadas para as raptar, se destinassem a servir de agências de viagens com vista à angariação de voluntárias para servir sexualmente 70 homens por cada uma delas.
Os relatos falam em dezenas de milhares de mulheres ao serviço deste esquema de escravatura hediondo. Sendo que os números agora apurados apenas uma ponta de um grande icebergue. Com efeito, há quem aponte para as centenas de milhares de escravas sexuais ao serviço do exército, marinha e aviação nipónica.
Fonte oficial do Governo Japonês já pediu desculpas formais aos países vizinhos pelo uso abusivo de “mulheres de conforto” oriundas desses países. Provavelmente, o assunto será esquecido a nível das grandes esferas do poder.
Com efeito, e tendo em conta que os últimos carregamentos remontam há 74 anos atrás, poucas serão as sobreviventes desta tragédia. Porém, a existirem, sejam elas muitas ou poucas, considero que todas elas deveriam receber o mesmo pedido de desculpas por parte do poder japonês e uma indeminização que as deixasse confortáveis e em paz para o resto das suas existências.
É triste, este nosso mundo, visto nesta perspetiva, do lado negro da humanidade. Mais ainda porque sabemos que o tráfico e esta escravatura continua por todo o mundo, civilizado ou não. A urgência de medidas e sanções pesadas e firmes tem de partir das instituições internacionais, seja a ONU, ou qualquer outra, a organização que se responsabilize por tomar conta deste tema, não importa, desde que atue. Alguém tem de o fazer e com eficácia, de uma vez por todas, para sempre.
Desculpa lá o desabafo Berta, eu sei que entendes perfeitamente a minha indignação. Despeço-me com um beijo amigo. Este que não te esquece,
Começo por te dizer que a minha carta de hoje é sobre injustiças. Não leves a mal, contudo, escolhi um tema do qual não gosto de falar. Perguntar-me-ás porque é que, então, eu o escolhi? Porque estou farto de ouvir os outros a falar do assunto. Talvez, depois de ser eu a dizer algo, deixe, finalmente, de reparar que o assunto existe. Não tenho a certeza que isso aconteça, mas estou certo que tenho de tentar.
Começou o julgamento do ataque à Academia Sportinguista de Alcochete, anunciando, como cabeça de cartaz, Bruno de Carvalho. Neste mundo, o da nossa correspondência, em que tudo o que é dito se escreve apenas dentro dos domínios do alegadamente, o que achas tu do caso?
No meu entender, o arguido Bruno de Carvalho devia ter sido sujeito a um exame psicológico e psiquiátrico, realizado por peritos e especialistas do foro mental e das suas respetivas doenças, sob pena do julgamento já ter começado inquinado.
Só depois de ser conhecido o resultado de tais exames é que o julgamento se deveria iniciar e nunca antes. É como meter o carro à frente dos bois, julgar alguém que, logo à partida, pode ser inimputável, não faz o menor sentido. Contudo, como estes procedimentos não tiveram lugar, não foi assim que este caso arrancou para a barra do tribunal.
Quando Vale e Azevedo foi julgado e condenado, não houve grandes dúvidas quanto à sua culpabilidade. Aliás, achei muito bem que fosse condenado por tudo o que fez, não apenas à imagem do Benfica, nem só pelos atos de pôr a foice em seara alheia, nem mesmo pelos roubos descarados perpetrados, mas, acima de tudo, porque usou o Benfica em evidente benefício próprio, manchando claramente o bom nome do clube.
Já na situação atual de Bruno de Carvalho, não sendo eu um sportinguista, tenho quase a certeza absoluta que o homem é mesmo inimputável. Pelo que o julgamento no final se revelará irrelevante, no que ao ex-dirigente desportivo diz respeito. Se assim não for, e o sujeito for declarado culpado, não teremos tido, mais uma vez, uma justiça a funcionar de forma isenta, transparente e imparcial.
Contudo, no que respeita aos restantes arguidos, considero que o caso deva continuar apurando os crimes de cada um, quer no campo individual, quer enquanto bando que agiu coletivamente, de forma bem planeada. Só há que prová-lo.
Já no que se refere a Bruno de Carvalho, penso que este é, não apenas um paranoico esquizofrénico, como um maníaco-depressivo, ou, como hoje é moda dizer-se, um bipolar. Os níveis e gravidade da existência destas demências psicológicas e psiquiátricas, do foro estritamente mental, tem de ser metodicamente avaliado.
Digo isto porque, em muitos casos, o demente não se reconhece enquanto tal e por isso mesmo não usará a demência para se defender das acusações de que é alvo. Tal facto poderá, em última análise, levar a um veredito injusto que possivelmente colocará na prisão apenas mais um caso de saúde mental e não um criminoso.
Se o sujeito for demente deve ser tratado, internado à força, se preciso for, mas não faz sentido prendê-lo. Basta ouvi-lo para nos apercebermos que ele não se considera somente um leão de coração, mas um rei absolutista na verdadeira acessão dos termos. Ele é, no seu mundo cerebral, o verdadeiro Senhor da Razão, o portador da Real Juba Imperial, o Rei da Selva. Em termos concretos este é o mais puro Tarzan das Lianas Verdes, egocêntrico, narcisista e vaidoso em soberba, que não aceita sequer que o estejam a julgar, e nem mesmo entende o porquê. Julga-se vítima de um ataque ao seu poder e magnificência e não um vulgar criminoso sem discernimento.
Se a demência tivesse sido detetada e tratada enquanto criança, ou mesmo até na adolescência, se calhar hoje apenas estaríamos unicamente na presença de um sujeito algo perturbado e confuso, mas absolutamente inofensivo.
Berta, minha amiga, fico-me por aqui, beijo de saudades, deste que não te esquece,
Hoje, dia do meu aniversário, acordei pelas 9 horas e picos, tratei da minha higiene, comi qualquer coisa e fui até à televisão, curioso por saber que notícias do dia dos meus anos. A primeira que ouvi foi a da descoberta de um bebé, recém-nascido, ainda com parte do cordão umbilical e vestígios do parto, deitado ao lixo, num contentor perto de Santa Apolónia, em Lisboa. A notícia, avançada pela TVI, já garantia que a criança, um menino, tinha sido levada para o hospital D. Estefânia e que já se encontrava livre de perigo. Um sem-abrigo, ajudado por um outro transeunte terá dado o alerta, evitando assim mais um infanticídio em terras lusas.
Conforme sabes, eu não faço parte dos fanáticos da desgraça alheia, nem mesmo dos que seguem avidamente os crimes que se praticam em Portugal e no mundo. Prefiro a fantasia, seja um filme policial, de ação, espionagem, ficção científica, entre outros, à crua realidade do nosso quotidiano. Mas há coisas que me incomodam seriamente. Os incendiários, o tráfico de seres humanos, a escravatura, as violações, a violência doméstica, a tortura, os raptos, os homicídios paranoicos, o infanticídio, a prostituição forçada, contra a vontade dos próprios, e o canibalismo. A ordem pode não ser exatamente esta, mas, de facto, todos estes crimes, mesmo os que não implicam morte, mexem realmente com o meu equilíbrio emocional.
Dito isto, o crime descrito pela reportagem da TVI, ou a tentativa do mesmo (é-me igual), é dos que mais me revoltam as entranhas. Que mãe ou que pai é capaz de deitar no lixo um ser acabado de nascer, depois do mesmo ter sido transportado num ventre durante 9 meses? Podem dar-me mil explicações atenuantes, contudo, não aceito nenhuma como justificação de tamanha monstruosidade.
Quem não pode cuidar de uma criança ou não a quer, tem sempre, como recurso, a entrega dessa vida às instituições, que delas cuidam e que as tentam encaminhar para quem delas possa tratar, acarinhar ou até dar o próprio nome por um processo legal de adoção.
Num curto espaço de tempo, este caso, mais o do contentor, encontrado perto de Londres, com os 39 cadáveres de vietnamitas, faz-me pensar que nada evoluímos enquanto seres civilizados a viver no século XXI já no terceiro milénio d.C.! Continuamos tão selvagens e bárbaros como sempre fomos, apenas as roupagens e os métodos mudaram.
Muitos são os países que aboliram a pena de morte para os crimes praticados nos seus territórios. Eu sou normalmente favorável a este tipo de decisões políticas, práticas e legislativas, mas, quando me deparo com estes tipos de crime, a minha vontade é que os culpados, se descobertos, sejam votados a mortes bem mais horríveis do que as suas vítimas poderiam ter tido ou tiveram. Não me consigo conter. Nem sequer encontrar atenuantes para casos destes, por mais floreadas ou trágicas que elas sejam.
Não me vou alargar mais sobre este tema, porque, afinal, o que eu poderia ainda acrescentar sobre o assunto aproximar-me-ia, sem qualquer dúvida, perigosamente, dos selvagens que critico.
Deixo-te um beijo saudoso, com carinho, deste teu amigo de sempre,
Minha querida amiga, é com alguma tristeza na alma que te escrevo hoje. Descobri, confesso que por acaso, que o caso do julgamento do ex-primeiro-ministro, José Sócrates, está outra vez na atualidade política. Por fim, começou a fase de instrução do processo, e, finalmente, a defesa tem voz ativa no decorrer dos trabalhos. Como tenho visto pouco as notícias, a situação estava a passar-me ao lado. Contudo, pelo que apurei, o juiz Ivo Rosa tem vindo a ouvir as alegações de Sócrates contra tudo aquilo de que o acusam, desde a corrupção, aos seus sinais exteriores de riqueza, passando pelo branqueamento de capitais e sei lá que mais. Não me interessa.
Aliás, nem me interessa, neste momento, saber se o homem é ou não culpado. O que eu sei é que, graças à nossa comunicação social e à forma como se criam e produzem as notícias neste país, Sócrates já foi há muito considerado culpado e condenado pelo povo que governou. Deve haver pouca gente que não tenha uma opinião formada, e normalmente negativa, sobre o ex-governante, em Portugal.
A coisa é de tal forma que, os seus irmãos de partido, fogem dele como o diabo da cruz. Todos evitam ao máximo estar associados a acusado e às coisas lhe são apontadas. Repara, estes são os amigos mais próximos porque, os antigos adversários políticos, fazem bem pior. Parecem cães raivosos a espumar pela boca, exigindo a pena máxima para aquele que não conseguiram derrotar em democracia. Por fim, não menos importantes, são os invejosos e os que gostam de dizer mal de tudo, os que não podem ver alguém melhor do que eles na vida, e que afirmam, do alto da sua douta inteligência e sabedoria, que sempre disseram que o homem é corrupto.
Enfim, podem ter todos razão, Sócrates até pode ir a julgamento, ser condenado, preso e o caso terminar dessa forma triste para a imagem nacional, para gáudio das hostes enfurecidas, que isso não melhora a situação. Assim sendo, internacionalmente, ficaremos vistos como um país de poucachinhos, de terceiro mundo, onde todos roubam, da peixeira na banca do mercado, que inchou os camarões com água, aos mais altos representantes nacionais.
Pergunto-me se isso é bom? A única coisa que se poderá dizer ser positiva sobre a situação, caso aconteça, é que prevaleceu a justiça e que ninguém está acima da lei. Mas isso não iliba a nossa imagem, como país, e iremos certamente ficar na lama, enquanto as pessoas realmente de bem terão de esconder o rosto de terceiros, pela vergonha a que seremos todos votados com esse resultado.
Por outro lado, o que acontecerá se Sócrates for considerado inocente, ou, pior ainda, nem sequer for a julgamento, por falta de provas factuais convincentes? Os inimigos dirão certamente que a justiça foi comprada. Porque eles, imaculados portadores da verdade, têm a certeza sobre o que realmente aconteceu. Alguns apresentarão como prova o que senhor Manuel, do quiosque de "troca-o-passo" lhes contou, ou seja, que, um dia, presenciou uma situação de tal forma clara que torna irrefutáveis as provas da acusação. Os amigos não se verão assim, tão linearmente, em festa a celebrar a ocasião. Tudo dependerá de como o ciclo se fechar. Se for deixada no ar a suspeição sobre o político, continuarão a sentir a mesma alergia que os fez afastarem-se do antigo amigo, simpatizante ou camarada. Se a coisa se resolver, de forma inequívoca, aparecerão então a gritar aos quatro ventos que sempre souberam que o sujeito era inocente.
Ainda a Páscoa vem longe, mas, para mim, o único crucificado aqui será sempre, seja qual for o resultado, José Sócrates. Esse ficará o resto dos seus dias com a honra e a dignidade manchada, porque o escândalo vendia notícias e dava trabalho e audiências a muita gente. Aliás, haverá quem, se o caso nem seguir para julgamento, afirme ter encontrado evidências cabais de que a cor grisalha dos pintelhos de Sócrates é prova de stress e não da idade, o que é demonstrativo que deve ser aberto um novo processo, porque um estado emocional destes implica que há fogo por detrás do fumo.
Pois é Berta, a minha tristeza provém do facto de toda a história não ter como chegar a um final feliz. Fazer o quê? Eu ainda sou do tempo em que as histórias tinham um final feliz. Contudo, olhando mais profundamente para toda esta trama, existe um padrão que vem à tona mais uma vez. A dada altura, são lançadas às feras algumas figuras públicas, com requintes de uma perícia especializada, com o intuito de que não se olhe para mais nada. Pode ser coincidência, todavia, eu não acredito em coincidências. Foi assim no caso José Sócrates, no Caso de Ferro Rodrigues, no caso de Carlos Cruz e até no caso de Tomás Taveira.
Quem tem poder e astúcia para conseguir atirar para a ribalta situações tão cirúrgicas como estas? O que estão a esconder ou a querer que passe impune por entre as gotas da chuva? Será a maçonaria, a Opus Dei, a organização Rosa-Cruz ou uma qualquer outra força oculta no seio da sociedade portuguesa, bem distribuída nos lugares de influência e decisão? Não sei, minha amiga, mas adoraria saber. Quando determinados padrões se repetem em demasia algo os faz emergir e te garanto que não é magia.
Fica bem minha querida, beijo do teu saudoso amigo,