Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Deixei para hoje um restaurante e bar, quase pub, que nasceu em novembro de 2019, em Campo de Ourique. Estou a falar de um espaço, anteriormente ocupado pelo Túnel 16, snack-bar e restaurante, onde, agora, uma nova marca se assume como um dos mais inovadores e admiráveis espaços de restauração em toda a cidade de Lisboa.
A decoração, minha saudosa amiga, a lembrar velhos tempos, é paradoxalmente refrescante. O jogo de ornamentação varia entre espelhos, discos e capas de vinil, protegidas do ambiente por um acrílico transparente ou molduras com vidro frontal, que facilitam a limpeza e manutenção das paredes primorosamente alindadas, dando à limitada área de apenas 24 lugares sentados, uma dimensão que esta, efetivamente, não tem. É, portanto, altura de entrar no terceiro restaurante desta minha seleção de restaurantes do bairro.
Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique.
3) Dali, Cozinha Surreal:
O espaço culinário mais original de Campo de Ourique.
Estou, repito, a falar do Dali, Cozinha Surreal, na Rua Infantaria 16, no número 43, a pouco mais de 20 metros da Rua Ferreira Borges, mesmo em frente ao Quartel de Campo de Ourique, à direita de quem sobe, em direção à Rua Silva Carvalho. O local é notoriamente digno de elogios, mas, cara Berta, o que mais surpreende, não é o bigode, à Dali, de um dos coproprietários e barman do recinto, o senhor Victor Cavalheiro, um verdadeiro gentleman na arte de bem servir, mas o menu surreal com que somos brindados, de uma imaginação como não me lembro de ver outra.
É que, se os preços da carta de bar visam afastar, logo à partida, clientes de fraco nível económico, a ementa apresenta valores acessíveis e pensados para nos surpreender, deliciar o palato e confortar o estômago com as iguarias apresentadas. São 8 as regiões do globo contempladas em outros tantos pratos no menu.
Entre a seleção de comidas do Brasil apresentada encontramos a “Moqueca Brasileira de Peixe e Camarão”, do Oriente aparece o “Tartar de Salmão Maçaricado” e dos Estados Unidos da América podemos saborear as famosas “Asas de Frango Picantes”. Depois de Itália aparece o “Carpaccio de Vitela”, da vizinha Espanha é sugerido encomendar o “Polvo à Galega”, já do país dos mestres da culinária, ou seja, de França, vem o “Boeuf Bourguignon”. Por fim, as mil e uma noites da Arábia suportam um “Quibe Vegan de Abóbora e Quinoa”, bem dentro dos teus gostos, querida Berta, enquanto, de Portugal, não se pode perder o “Pica-Pau na Panelinha”.
Mas há mais, muito mais, a “Picanha Brasileira” um bom naco alto e malpassado de carne suculenta e deliciosa, o “Cachorro Quente” e o “Hambúrguer Dali”, ambos de inspiração americana, o “Camarão no Varal” das terras de Shiva, as espanholas “Gambas al Aguillo” ou o “Presunto Ibérico Genuíno”, o prato italiano de “Duo de Bruschettas de Pomodoro e Brie com Parma”, as francesas “Ostras Gratinadas” e o tradicional “Bacalhau à Gomes de Sá”, feito de forma irrepreensível.
Posso ainda destacar-te, cara amiga, como entrada os “Corações de Frango Grelhados” inspirado em Terras de Santa Cruz, as sobremesas “Brownie de Nozes” com gelado, uma tradição americana, a “Cartola” brasileira, de banana e queijo, ou o “Queque de Cacau” e o “Bolo de Rolo”.
A cozinha, aberta de segunda a sábado, com o mesmo horário do estabelecimento, do meio-dia à meia-noite e ainda aos domingos do meio-dia às 17 horas, tem num duo feminino o segredo das iguarias apresentadas, ambas sócias do Dali, ambas vindas do Brasil, Jaqueline Leite e a chef Carol Silva.
Os vinhos de reserva têm todos rótulo português e são de curadoria especial da Wine Concept, de Lisboa. Terias muito que provar ali, Berta, tu que és uma fã incondicional do vinho tinto. Todavia, voltando ao Dali, o restaurante faz, desta forma, um esforço em possuir uma adega que represente os principais vinhos de todas as regiões do país, com uma carta pronta a proporcionar excelentes descobertas aos apreciadores, principalmente, no que aos vinhos tintos diz respeito.
Contudo, aqui ficou-me a dúvida, pois sei que o sócio Tavinho Viera, é o responsável pelas opções vinícolas do Dali, estará este senhor também ligado à Wine Concept, deixo essa descoberta para os mais curiosos, uma vez que o que aqui me interessa é apenas e só aquilo que, como cliente, consigo desfrutar numa casa.
A não perder a recente criação da “Happy Hour” que se inicia pelas 17 horas. Caso o cliente não tenha preocupações económicas, recomendo ainda que não deixe de beber o “Cognac Especial” da casa, um “Camus” de ir às lágrimas e chorar por mais. Antes que me esqueça, recomendo a quem aqui deseje vir, principalmente, às horas das refeições, que faça marcação pois os lugares, como já referi, não são abundantes. Basta ligar para o número 966 259 945 e dizer o dia, hora e quantas pessoas são.
Se a habilidade e mestria das cozinheiras Jaqueline e Carol, é fundamental para a genialidade da casa, o atendimento, serviço e simpatia de Victor, um vero Cavaleiro feito Dali, é, sem qualquer margem para dúvida, o maior segredo daquele que considero ser, à distância, o espaço culinário mais original, desconcertante e arrojado de Lisboa.
Tipo: Especialidades / Cozinha do Mundo
Aberto: Todos os dias das 12 às 24 horas
Fecha: Domingo depois das 17 horas.
Preço: Restaurante: Acessível / Bar: Puxado
Classificação Única no Género: 5 Estrelas
Termino por aqui o meu discurso. Julgo que quando vieres a Lisboa, minha querida amiga, desejarás passar pelo Dali. Despeço-me com um beijo, este que não te esquece e muitas saudades sente,
Ontem, por aqui, esteve um lindo dia de janeiro. Apetecia passear, espero que hoje o dia se repita, no que à luz diz respeito. É certo que não está calor, mas com a roupa apropriada apetece sair de máquina fotográfica e registar as belezas do meu Bairro, o Bairro de Campo de Ourique.
Já reparaste como sempre que algo nos agrada muito usamos o pronome meu (ou minha, conforme o género em causa) antes do sujeito? É sempre o meu Bairro, o meu Clube, a minha Casa (mesmo que ela pertença ao banco ou a um qualquer senhorio). Gostamos, temos algum prazer com o que quer que seja e… pimba… lá vem o pronome. É uma maravilha podermos fazer este tipo de possessões, pese embora o facto de o Bairro não me pertencer, nem o clube e muito menos a casa.
Hoje, mais uma vez a teu pedido, vou-te fazer um pequeno resumo sobre os estrangeiros a residir no Bairro de Campo de Ourique, em 2019 e dar-te uma breve panorâmica dos principais problemas do bairro. Como em tudo, nem sempre aquilo que luz é ouro, porém, em termos gerais, fiquei agradado com a minha “Petite Paris”, como lhe chamam alguns dos franceses que por aqui residem. O nome até poderia ser considerado um elogio por analogia com a Cidade Luz, mas o contexto é mais complexo do que isso, e as Amoreiras, embora lindas, não são a Torre Eiffel.
Contudo, descobri que Campo de Ourique é o Bairro de Lisboa com mais franceses residentes, tendo, apenas nele, 15 por cento dos franceses que, atualmente, vivem em Portugal. Não é preconceito, mas preferia que assim não fosse e que este número se estabilizasse de forma a não se perderem costumes, hábitos, rotinas e tradições.
Todavia, nas entrevistas que fiz aos residentes francófonos, descobri que eles também preferiam que não existissem pelo bairro tantos conterrâneos seus. Gostam dos portugueses que cá vivem, dizem que o bairro tem vida própria e uma convivência muito agradável. Apesar disso, a comunidade já representa um pouco mais de 5 por cento do total dos moradores. Há 10 anos eram pouco mais de 900 e agora rondarão os 1.500. A proximidade do Charles Pierre e da escola Redbrigde School, também ajuda à fixação desta comunidade pelo bairro.
Se, por um lado, os franceses representam quase metade dos residentes estrageiros que por aqui moram, é de assinalar uma forte presença, por outro lado, das comunidades brasileira, italiana e chinesa, para além das outras de menos expressão. No total, embora o número precise de validação oficial, o que só deve acontecer depois do Censos de 2021, Campo de Ourique tem cerca de 3 mil residentes estrangeiros. Este número, a confirmar-se, representa cerca de 13 por cento da população do bairro e traduz um aumento de 100 porcento face há 10 anos atrás.
Pode parecer muito, mas trata-se de um crescimento de estrangeiros residentes bem abaixo dos números registados em Lisboa, nomeadamente, em algumas zonas históricas. Bairros houve onde esse incremento ultrapassou já 1.000 por cento de aumento, isto no mesmo período de uma década. Isso sim, é uma coisa realmente indescritível.
São os sinais dos tempos. Porém, enquanto os estrangeiros se mantiverem em números que não excedam os 20 por cento do total dos residentes, aqui pelo bairro, não estou minimamente preocupado. Essa média, de um estrangeiro, para cada 4 nacionais é tolerável e perfeitamente assimilada pelo próprio meio, isto se confiarmos no que dizem alguns estudos sociológicos sobre a matéria. Aliás, existem artigos sociológicos e antropológicos a defender essa fração de população, vinda do exterior, como algo de essencial para a evolução positiva de uma sociedade sã. Não é a minha área, porém, não me incomoda enquanto teoria e até tem lógica.
Contudo, nas situações em que a média aumente mais do que isso, já o seu peso se começa a notar de uma forma que pode não apenas ser incómoda, como ajudar a desvirtuar o espírito local. Em resumo, temos uma margem para um crescimento de cidadãos estrangeiros na casa dos 7 por cento. Ora, a fazer fé, mais uma vez, nos estudiosos da matéria, um tal incremento dificilmente poderá acontecer na freguesia durante este século.
Já realmente preocupante é o envelhecimento geral da população do bairro. É um dado estatístico generalizado para todo o centro histórico de Lisboa e, no caso de Campo de Ourique, faz soar os alarmes da preocupação. O número de idosos com mais com mais de 80 anos quintuplicou face ao existente no início do último quartel do século passado. Pior do que isso, é a constatação de que as zonas metropolitanas de Lisboa e Porto, concentram 42 por cento dos mais velhos existentes em território nacional, sendo os centros históricos as áreas mais afetadas.
O Centro de Saúde de Campo de Ourique, por exemplo, há 11 anos que esgotou a sua capacidade de assimilar os novos residentes, sendo apenas residual o número de utentes a conseguirem ver o seu nome inscrito, nesta unidade de saúde, daí para cá.
O índice de envelhecimento no Bairro era, em 2011, de 221,5 idosos, com mais de 65 anos, para cada 100 crianças menores de 15 anos e, segundo dados não oficiais, deve rondar atualmente os 260. Se compararmos o nosso índice com o do Parque das Nações, facilmente abarcamos a dimensão do problema. Essa freguesia de Lisboa tem apenas 49,5 idosos por cada 100 jovens menores de 15 anos.
Ainda mais grave é o número de idosos a viver sozinhos em toda a vizinhança e o aumento significativo dos dependentes de serviços externos e de saúde nesse escalão etário.
Outro número importante é o da densidade populacional em Campo de Ourique. O Bairro tem o dobro da média do Concelho de Lisboa, sendo já a freguesia com maior número de residentes por quilómetro quadrado. Tal facto ajuda a explicar o agravamento dos problemas relacionados com o estacionamento e com a habitação.
Dito isto, minha querida Berta, continuamos a manter praticamente intactas as caraterísticas que fazem deste núcleo citadino um fenómeno de personalidade e identidade marcante, sempre renovada, viva e pulsante, único em todo o país.
Ainda ontem, eu e uma amiga minha, fomos conhecer um novo estabelecimento de restauração. O Dalí Cozinha Surreal, que abriu portas em meados de novembro do ano passado. O espaço deve ter cerca de 24 lugares sentados, sendo que parte deles são ao balcão, mas fica lotado com 18 pessoas. Tem uma boa carta de vinhos, uma excelente variedade de bebidas, como um pub deve ter, e um soberbo ambiente decorativo e musical.
Ora, verdadeiramente surreal é a comida. Experimentámos 2 pratos. A moqueca de camarão e a picanha. A minha amiga bebeu 2 taças de tinto e eu 2 cervejas. Ficámos clientes e cativados. Os preços são acessíveis, mas não baratos, porém, a qualidade é de primeira. Nem no Brasil comi uma moqueca tão boa e a picanha estava de ir às lágrimas, com doses fartas e serviço perfeito.
É no menu que a escolha deslumbra o cliente, pode comer um clássico pica pau português, uma moqueca de camarão brasileira, um polvo à galega tipicamente espanhol, umas ostras gratinadas à francesa, um carpaccio de vitela bem italiano e tem ainda outras propostas de comida Árabe, do Oriente ou da América. Existem também bastantes alternativas para os entusiastas do veganismo. Uma verdadeira e agradável surpresa, quase à porta de casa, na Rua de Infantaria 16.
Usei este bar restaurante como poderia ter usado outro, por exemplo, o restaurante “Isto é o da Joana”, que também abriu portas depois das legislativas do ano passado, na mesma rua, mas no extremo oposto, a fazer esquina com a Rua Sampaio Bruno, da atriz Rita Ribeiro.
O importante, Berta, é a vivacidade e a inovação constante, mas tipicamente amiga e familiar, dos espaços de comércio, serviços e restauração do Bairro de Campo de Ourique. Tudo bem calibrado pelo bater de um coração carinhoso que responde pela alcunha de Jardim da Parada.
O importante é poder respirar esta atmosfera de recanto encantado, encastrado no coração de Lisboa. Esta aldeia cheia de gente que a cuida como sua, que trata o bairro como seu, que lhe dá cariz e personalidade.
O importante é que eu tenho o privilégio de viver aqui, no meu Bairro de Campo de Ourique.
Desculpa lá qualquer coisinha. Sou um sentimentalão, fora de moda, mas muito feliz. Despeço-me com um beijo alegre, este teu amigo costumeiro,