Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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correto.
Conforme sabes é generalizada a opinião dos portugueses de que as empresas de sondagens políticas em Portugal não batem certo com a realidade dos factos, uma vez chegada a hora da verdade. Há quem diga, inclusivamente que estas empresas se encontram presentemente a ser manipuladas por interesses ocultos, muitas vezes ligadas a este ou àquele interesse económico ou político. Vou ter que dividir esta carta em três partes para não te massacrar com o assunto de uma só vez.
Sobre a questão de os interesses por detrás das sondagens existirem ou não, minha querida amiga, não me interessa pronunciar, contudo, não posso criticar quem assim o acha, devido às tremendas coincidências que se vão constatando face aos resultados finais sobre os quais as mesmas recaíram.
O que me interessa realçar e, isso sim, parece-me importante é que, efetivamente, as sondagens se têm equivocado, e bastante, ao ponto de, segundo a minha opinião, terem condicionado os resultados das últimas eleições autárquicas em Lisboa.
Eu, que acompanho de perto a política nacional, estou mais uma vez convencido que as sondagens continuam erradas, e começo a ficar inclinado para pensamentos que preferia não ter, ou seja, que este serviço anda a reboque de interesses, sejam lá eles quais forem. Se assim for o caso é grave, pois é suposto acreditarmos na isenção destas empresas.
Como exemplo uso a última sondagem da Aximage para o Jornal de Notícias (JN), o Diário de Notícias e a TSF, divulgada neste sábado, que coloca PS e PSD em empate técnico nas intenções de voto dos eleitores, para além de colocar os outros partidos, com assento parlamentar, distribuídos de forma que não me parece a mais correta com aquilo que eu tenho analisado.
O que me parece é que estas últimas sondagens, e não apenas esta, pretendem levar os eleitores a concentrarem os seus votos no PSD, dando esperança aos eleitores não socialistas de que a batalha eleitoral não está ainda decidida e de que tudo é possível, contribuindo eficazmente com isto para adulterar resultados eleitorais, por manipulação dos eleitores.
Contudo, para mim, esta afirmação ainda se encontra dentro do chapéu do alegadamente, pois não tenho quaisquer provas concretas sobre o que acabei de afirmar. Para já esta alegação é apenas uma conjetura política, baseada na minha experiência de quarenta anos de jornalista e tenho alguma esperança de poder estar enganado.
Por hoje despeço-me, mas voltarei amanhã com as duas cartas ainda em falta sobre este tema, deixo um beijo de despedida, com a mais elevada consideração, saudosamente, este teu amigo do coração,
Não me lembro se, nas tuas visitas a Campo de Ourique, alguma vez te deparaste com um sujeito, usando uma camisola do Benfica e uma bandeira do mesmo clube, a percorrer incansavelmente o bairro de bicicleta, enquanto uma aparelhagem adaptada ao veículo vai debitando música, bem alto, pelas ruas, praças e jardins de toda esta minha freguesia. Minha e, claro está, de todos os outros que também a tratam como sua.
Trata-se do Senhor Victor, um jovem (quase a chegar aos 60 anos de idade), que, pelo menos desde inícios deste milénio, percorre o bairro espalhando música e anunciando o amor evidente ao seu glorioso Benfica. O qual conquistou com o correr dos anos o estatuto de figura pública do bairro, querida por quase todos, mesmo por aqueles que não são do seu clube da águia. A verdade é que o Victor, por onde passa, tem sempre um aceno, um cumprimento e um sorriso para quem o interpela.
A situação, com o decorrer dos anos, tornou-o num caso sério de popularidade. Aliás, nem mesmo o dia da vitória do clube rival, neste campeonato, o impediu de sair, na sua habitual demanda, pelas ruas e de sorrir aos sportinguistas que lhe acenavam, batendo no emblema ao peito das suas camisolas verdes e brancas. Mais “fair play” do que esta demonstração do ciclista é difícil de encontrar na capital.
Em 2015, uma jornalista do Correio da Manhã, resolveu dedicar-lhe uma página inteira no matutino. Ainda me lembro muito bem do artigo. A senhora jornalista (que morava na Estrela) via e ouvia passar, de vez em quando, o nosso ciclista pelo Jardim da Estrela, e com a rudeza de um estivador do porto de Lisboa, dos finais do século XIX, resolveu dedicar-lhe cinquenta linhas da edição online com uma verborreia paupérrima e triste sob o título de “O Ciclista Maluco”.
No texto, a senhora jornalista, não se limitava a apelar à intervenção da PSP, da Câmara Municipal de Lisboa e de outras autoridades, mas resolvera também insultar um homem, que não conhecia e sobre o qual não fez nenhuma investigação, com juízos de valor que começavam precisamente no pseudónimo de maluco e de louco, passando por perturbador da ordem pública, etc.. É claro que a dita jornalista desconhece as centenas (para não dizer milhares) de turistas que pedem ao senhor Victor licença para fazerem uma “selfie” com ele, sempre que o apanham parado no início da Rua Saraiva de Carvalho ou junto ao quiosque em frente ao cemitério dos Prazeres.
É igualmente claro que a mesma senhora nem imagina o carinho imenso que todo o bairro de Campo de Ourique tem por esta pessoa que não é maluco, nem nunca foi. É um faz-tudo, um pintor, um canalizador, um eletricista e um desenrasca, sempre pronto a ajudar o seu semelhante.
Ah, mas ele cobra esses serviços. É verdade, eu próprio já recorri a ele por diversas vezes, contudo, nunca senti que se esticasse nos preços e, bem pelo contrário, sempre o achei muito barato. O que a senhora jornalista podia atualmente noticiar é que, desde que há pandemia em Portugal, desde março de 2020 que, todos os dias, o santo do Victor montou aquela bicicleta e se fez às ruas do bairro para que os habitantes sentissem a sua presença.
Hoje, quando calhou falarmos, ele, por acaso todo feliz porque finalmente ia tomar a vacina, explicou-me porque não tinha parado um dia que fosse durante a pandemia. A justificação era de responsabilidade. Afinal, afirmava seriamente, ele sabia que tinha o dever de levar um pouco de alegria às centenas de idosos que vivem sozinhos e tristes no bairro, principalmente desde que a pandemia se instalara.
“- Quando passam um dia sem me ouvirem na bicicleta ou sem me verem eles dizem-me que ficam mais tristes. Eu não posso falhar a esta gente.” Depois ria e dizia-me que muitos deles nem sequer eram do Benfica. “- Mas adoram picar-me e eu respondo sempre com um sorriso ou um aceno.”
O Victor é um homem do povo, de maluco ou de louco nada tem e, no meu entender, até já devia estar a receber, de há muitos anos para cá, um ordenado ou um apoio da freguesia, da Câmara de Lisboa ou até do Benfica, porque o Victor tem passado por sérias dificuldades para conseguir por pão na mesa da sua casa e cuidar da sua família.
Enfim, querida Berta, isto sou eu a falar. A minha opinião pouco vale nos corredores do poder. Contudo, a minha gratidão por este homem, que há duas décadas alegra os corações de tanta gente, é infinita. Podes nem concordar comigo e ser como a acéfala da senhora jornalista do Correio da Manhã, mas que era justo o homem ser compensado não tenho a menor dúvida. Deixo um beijo de despedida, deste teu eterno amigo,