Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Faz hoje, dia 15 de fevereiro de 2020, 527 anos que uma “Carta Aberta” foi escrita. Na altura, deduzo eu, ainda não se usava a expressão “Carta à Berta” ou, então, tu não terás tido ascendência, com o teu nome, nesse tempo. Mas isso não importa para aqui. O que interessa mesmo é que foi uma das primeiras e mais significativas cartas abertas da época. O que prova que, já nesse tempo, a divulgação e o relato de situações dirigidas a toda a população, por parte de alguém, tinha uma relevância considerável.
A carta foi escrita a bordo da caravela Niña, por um tal de Cristóvão Colombo. No seu conteúdo descrevia com algum detalhe as suas descobertas e muito do que, inesperadamente, encontrou no dito Novo Mundo. A carta aberta foi amplamente distribuída no seu retorno a Portugal e diz-se, no seio das discussões entre os doutos historiadores de Colombo, que terá gerado imensa polémica e alguns arrufos por parte da Coroa Espanhola.
Muitos perguntam-se, outros afirmam e todos discutem o porquê de uma carta aberta, difundida massivamente em Portugal, numa altura em que Colombo estava ao serviço dos nossos irmãos espanhóis. Realmente, a situação é difícil de entender, quanto mais de explicar.
Este tipo de descobertas e de situações, mesmo quando se tornavam conhecidas pelas populações, eram, no seu substrato, reservadas apenas e somente a uma parte da corte do reino que pagava a expedição e mais meia dúzia de eruditos dessa corte. Somente um grupo muito restrito tomava conhecimento do relato da expedição, do que fora descoberto (em termos de pormenor), e que tipo de surpresas tinham sido encontradas nessas novas terras longínquas.
Há quem defenda que o navegador sentiu necessidade de se justificar perante o povo luso e a Coroa Portuguesa, de forma a limpar alguma falta de lisura usada, aquando da sua transferência para a equipa rival. Todavia, diga-se lá, o que se disser, ainda hoje não se sabe ao certo o intuito de Colombo ao escrever aquela carta aberta.
O que é certo é que ela foi extremamente útil para as movimentações, acordos e explorações efetuadas, dali em diante, por portugueses e espanhóis. Talvez fosse esse o propósito de Cristóvão Colombo: entendam-se.
Como podes ver, minha querida amiga, a Carta à Berta, tem antecedentes históricos muito relevantes. Mas hoje, o que te importa mais é certamente a quadra popular, sujeita a mote, relativa ao teu desafio direto à minha pessoa. Ainda gostava de saber como escolhes tu as temáticas para as quadras. Sim, porque em vez de melhorarem, cada vez me vejo mais aflito para levar a bom porto esta tarefa. Que tal uns temas suaves como o amor, a paixão, as flores, a primavera, enfim, coisas fáceis de arranjar numa quadra? Não, tu és mazinha.
Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 19) Mulher Prevenida.
Mulher Prevenida
Resiste, mulher resiste,
À chama de um coração,
Vê primeiro se nele existe
Uma idêntica paixão.
Gil Saraiva
Fico-me por aqui, deixando-te o costumeiro beijo de despedida, este teu velho amigo,
Hoje, e nos próximos dias, faço um intervalo no que concerne à revista dos eventos do meu bairro em 2019. Mandar-te-ei o segundo trimestre daqui a mais algum tempo, para que a coisa não se torne uma maçada, em vez de uma curiosidade interessante. Possivelmente voltarei ao próximo trimestre algures no mês seguinte.
Este domingo andei a ler e a rever outras coisas sobre o que se anda a passar por este mundo fora. Podia pegar em vários temas, mas vou dedicar esta carta e talvez as próximas apenas a um deles. Nem sequer vou falar das investigações que fiz no passado sobre ele, e que ainda foram algumas, nem na existência ou não das possíveis evidências. Nada disso, vou apenas referir o que me parece por demais evidente. Contudo, e como sempre, nas minhas crónicas mantenho-me no domínio estrito do alegadamente. Estou-me a referir a Isabel dos Santos e às origens que têm sido contadas de um modo que me parece, no mínimo, lírico e bem pouco próximo daquela que, para mim, é a realidade. Esta primeira carta é o início de um tema que divido em 4 atos, ou cartas.
Porém, e para agora, vamos esquecer a princesa de Angola e voltar atrás no tempo. Não são 10 nem 20 anos… imagina-te, querida Berta, num retrocesso longínquo, distante e nublado. Pensa numa época onde prevalecia a lei do mais forte, do mais apto e do hábil em impor a sua vontade, forma de estar e de agir. É nesse tempo que começo.
Em meados de mil e seiscentos a coroa portuguesa contratou um tal de Baltazar Van Dum. Um homem, de origem holandesa, especializado no comércio de escravos. Para muitos um pirata, nome dado aos mercenários e a alguns esclavagistas arrojados da época, que procediam a capturas, transporte e negócios de escravos intercontinentais. O nome de família de Baltazar evoluiu ao longo dos tempos até se tornar Van-Dunem. Mas a origem é toda deste homem que percorreu todos os territórios ultramarinos portugueses da época a que me refiro.
Baltazar Van Dum esteve em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola, Guiné, no Brasil e em mais algumas regiões que, para a história em causa não são relevantes. O seu acordo com a coroa nacional incluía toda a África Portuguesa e o Brasil. É de assinalar que ele fez o possível e impossível por deixar bem marcada essa responsabilidade.
Diz uma espécie de lenda angolana que Baltazar teve mais filhos do que anos de idade. Filhos da própria mulher, uma negra que se dizia ser o símbolo da beleza africana, de concubinas, de prostitutas e de escravas. Contudo, ao contrário do macho latino, que tenta passar despercebido e tudo fazer à socapa, na sombra, sem assumir grandes responsabilidades, o muito ilustre pirata Baltazar funcionava precisamente ao contrário. Fazia questão de dar o seu nome a todos os seus descendentes, fossem eles filhos de que tipo de mulher fossem.
É por isso mesmo que o apelido, atualmente “Van-Dunem”, aparece difundido abundantemente por toda a África, América do Sul e Estados Unidos da América, onde o primeiro Van Dunem escravo aportou no século XVII, numa primeira remessa de 20 escravos enviados por Baltazar, tão importante que, ainda hoje, é assinalada nas relações bilaterais entre Angola e os Estados Unidos.
A poligamia estava para Baltazar como o vinho para Baco. Era, mais do que uma imagem de marca, uma questão de princípio. Rogam as histórias de então que não havia mulher negra que passasse na sua presença que não fosse devidamente testada e carimbada com o fálico selo de Van Dum. Certamente um exagero, contudo, bem demonstrativo da “fama cobridora” deste verdadeiro touro ou garanhão dos novos mundos que, então, ganhavam protagonismo para a economia mundial e para o desenvolvimento e enriquecimento da Civilização Ocidental.
Pode-te parecer, querida amiga, que estou a ser exagerado, mas, este meu primeiro herói, foi alvo de um livro de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, sob o famoso pseudónimo de Pepetela, um dos nomes maiores do romance angolano, que sobre ele romanceou, descrevendo aquilo que eram os filhos legítimos da mulher, que ele chama de Dona Inocência, e os filhos das escravas da casa e não só, os chamados filhos do quintal. O livro tem um nome muito sugestivo que resume muito do que aqui disse e direi, de uma forma romanceada, mais restrita, mas com o mesmo significado; chama-se: “A Gloriosa Família”, e está deliciosamente escrito por um dos grandes escritores angolanos que, em Portugal, foi editado pelas Publicações Dom Quixote.
Mais te poderia descrever sobre este profícuo homem do passado, este Baltazar sem controle de natalidade, porém, para o cerne da questão, o que importa mesmo é saber que não existe na atualidade, em toda a América ou em África um Van-Dunem cuja origem não seja essa, única e comum, aliás, aquela que aqui descrevi.
Espero que estejas a gostar da narrativa, despeço-me com um gigante beijo de carinho, este que será sempre teu amigo enquanto o coração lhe bater,