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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 652: A Era das Suscetibilidades e do Melindre Fácil e Absurdo

Berta 652.jpg Olá Berta,

Entrámos, desde há um tempo a esta parte, na era das suscetibilidades e do melindre fácil e absurdo. Basta observar cuidadosamente, minha amiga, como isso é evidente nos novos canais de “streaming” (ou seja, um fluxo contínuo, fluxo de média ou transmissão contínua, que é uma forma de distribuição digital, em oposição à descarga “o download”).

Com efeito, caríssima, as antigas categorias tradicionais e claras dos filmes e das séries como, por exemplo: comédia, ação, aventura, guerra, drama, policial, terror e suspense, western, ficção científica ou thriller, só para citar alguns, deram lugar a secundárias designações absurdas e completamente disparatadas, com vista a esclarecer o sensível espectador que tipo de filme ou série tem pela frente.

Basta vermos, minha amiga, qualquer um dos 4 principais canais pagos de “streaming”, nomeadamente o Prime vídeo da Amazon, o Disney +, o HBO Max ou a Netflix, para que entendas o que eu estou a dizer. Com efeito, as designações secundárias agora em voga causam-me arrepios, mesmo as mais fofinhas. Eu não preciso que estes canais me venham com classificações da sua lavra, tentar descrever o que se vai passar no filme, se é algo que possa ferir a minha suscetibilidade ou se é um filme ou série para toda a família.

Se quem assiste ao filme ou à série não gosta do que vê pode simplesmente sair e mudar para outra coisa qualquer. Agora, Bertinha, virem-me classificar vídeos com categorias secundárias é simplesmente ridículo e passa a ideia de que eles consideram de que estão a lidar com mentecaptos, que precisam ser guiados naquilo que podem ou devem ver. É absurdo. Mas eu dou exemplos. Um filme de comédia, romântico ou familiar pode ter ainda, para além do escalão etário a que se destina e que devia ser suficiente, as seguintes “boas” classificações suplementares, de que dou alguns exemplos, porque há mais:

Meigo, irresistível, sério, inspirador, de ir às lágrimas, divino, amoroso, comovente, atencioso, envolvente, tímido, social, empolgante, marcante, excitante, onírico, divertido, para toda a família, para rir, cómico…

Já num filme de aventura, drama, suspense, ação, policial, entre outros, amiguinha, podem ser encontradas classificações secundárias bem mais negativas ou bizarras. Dou apenas mais uns exemplos:

Moralista, sem sentido, terrível, humor negro, sanguinário, avassalador, louco, sofisticado, cerebral, tecnológico, emocional, intenso, mordaz, endiabrado, de culto, sombrio, aflitivo, brutal, erótico, zombies, distópico, assustador, religioso, anárquico, fantasia, pavoroso, fanático, sangrento, soturno, jogo mortal, malicioso, deprimente, mundo épico, arrepiante, animalesco, psicótico, armagedão…

Por fim, Berta, aparecem as classificações secundárias que me tiram do sério e que roçam o disparate ou um puritanismo bacoco e moralista que me irrita seriamente, dou só mais uns exemplos esclarecedores:

De grande impacto visual, luzes cintilantes, esquisito, atmosférico, internacional, violência, uso de substâncias, uso de álcool, linguagem grosseira, conteúdo sexual, nudez, fumar…

Por amor da santa, Bertinha, porque raio é que me alertam de que há gente no filme ou na série que aparece, no decurso do vídeo, a fumar ou a beber e com conteúdos de nudez ou conteúdo sexual, francamente, não há pachorra e já te explico porquê.

Na semana passada, amiguinha, vi um filme em que aparecia uma mulher nua, de costas, apenas visível da cintura para cima (e esta era a única cena do género em todo o filme), seguidamente um homem aproximava-se da senhora, virava-a para si, sem que a câmara deixasse sequer ver os seios da jovem. Por fim, deitava-se com ela, sendo que a cena que regressava à tela era passada debaixo de lençóis, com os movimentos ondulantes de quem está a fazer amor. Não existia no filme mais nenhuma outra interação do género até final e a classificação secundária anunciava nudez e conteúdo sexual.

Para que raio é que me interessa saber se no filme se bebe uma cerveja ou se fuma um cigarro ou um charro? Vou deixar de ver o filme ou a série por causa disso? Por acaso fico bêbado, intoxicado ou atordoado por ver essas imagens? Não, não fico. Odeio condescendências parvas e bacocas, minha cara confidente, principalmente vindas de canais em que eu pago para ver e onde escolho apenas o que quero ver, no meio de uma parafernália de opções que me são dadas. Todas elas cheias destas ressalvas idiotas, como se isso purificasse o canal de “streaming”.

Sabes, Berta, se há 10 anos me dissessem que isto ia acontecer eu negaria logo essa possibilidade por ser rodeada de falsos puritanismos, condescendente, bacoca e ridícula, mas a verdade é que me teria enganado. Por hoje é tudo, este amigo de sempre te deixa com um beijo saudoso,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº.380: Eliminação da Violência Contra as Mulheres

Berta 358.jpgOlá Berta,

 

Há quatro anos interrogava-me se a pandemia teria efeitos sobre a violência doméstica e em que termos. Cheguei até a escrever-te a carta que nunca te enviei, mas este ano vou mesmo enviar-te, com a respetiva atualização, a carta que já tarda, com o meu pensamento sobre violência contra mulheres e violência doméstica que, a meu ver, é um grave flagelo nacional, ao qual importa impor um feroz combate sem tréguas.


Ora, ontem foi o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres e fiquei enojado de ouvir o 1º. Ministro a falar sobre o assunto enquanto assobiava para o lado. Segundo “Montessombrio”, ontem, na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, num discurso na sessão de encerramento da conferência "Combate à violência contra mulheres e violência doméstica", o Luís afirmou que o crime de violência doméstica "é muitas vezes um crime silencioso" e, não querendo "chocar ninguém", disse ter dúvidas de que o aumento no número de casos que se regista nas estatísticas "signifique o aumento da criminalidade tipificada para a violência doméstica".


Num discurso absurdo de tentar tapar o Sol com a peneira afirmou: "Porque um dos fenómenos que aconteceu nos últimos anos foi precisamente que muita coisa saiu do armário onde estava escondida.” E acrescentou: “Eu não quero, repito, chocar ninguém, mas tenho consciência de que o aumento a que assistimos em alguns anos não significa um aumento real, significa um aumento de conhecimento", disse, enquanto tirava do chapéu mais um dos seus pensamentos ilustres, relativamente à sociedade portuguesa que o fenómeno "já foi muito pior desse ponto de vista".
Depois destas maravilhosas palavras de genuína sabedoria, lá elencou melancolicamente uma parafernália de medidas que o Governo irá implementar no combate a este flagelo social.


Ora, querida amiga, o que poderei eu dizer ao nosso 1º.? Posso dizer-lhe que ele está redondamente enganado o fenómeno da violência doméstica nunca foi pior do que hoje e continua a aumentar, não se trata de haver mais queixas porque as pessoas estão mais informadas.


Trata-se, isso sim, de um aumento efetivamente real da violência e nada tem a ver com saídas ou entradas em armários mais ou menos ocultos que agora são miraculosamente revelados.


Na minha opinião a justiça tem é que ter mão muito pesada a julgar estes casos, fazer de todos e de cada um deles um caso exemplar, tentando evitar que assim se voltem a repetir.


Eu penso de forma muito diferente do dito “Montessombrio”, acho mesmo que aquilo que vem à luz é apenas a ponta de um imenso icebergue oculto bem fundo nas raízes de um povo machista em que a mulher é sempre colocada como um ser secundário que precisa de ser controlado para poder agir com o comportamento adequado e subserviente que faz parte do seu papel no mundo.


No apoio à Eliminação da Violência contra as Mulheres, todas as medidas são bem-vindas e é preciso penalizar, em termos de carreira, os juízes que ainda acham que porque a mulher usou um minissaia estava mesmo a provocar o pobre do violador, que não é de ferro, coitado.


Não é a dizer que o crime não aumentou e que apenas estamos mais informados que chegamos a lugar algum. Agir é prevenir e vice-versa. Não digo que é preciso castrar os violadores, embora o merecessem, mas é necessário que o crime tenha o devido castigo proporcional com o ato praticado e sem consideração de quaisquer fatores atenuantes porque afinal a vítima provocou o criminoso.


Não há atenuantes que desculpem uma violação assim como não há atenuantes que desculpem a violência doméstica. Um namorado que bate na namorada não é um namorado mas apenas um selvagem. O mesmo se aplica aos companheiro e maridos deste país. Seja na prática de violência física seja na violência psicológica, que tantas mulheres leva ao desespero e tantas vítimas mortais provoca.


É urgente julgar e condenar estes crimes com seriedade em vez de procurar passar a mão pelo lombo dos criminosos e envergonhar as vítimas destes como provocadoras dos pobres dos artistas aterradores, é mesmo necessário reeducar o sistema judicial para que a justiça possa cumprir convenientemente o seu verdadeiro papel.


Por hoje é tudo que já desabafei a raiva que sinto. Homens e Mulheres são seres iguais perante a Lei e esta tem de ser respeitada. Acabe-se de vez com o: “estava mesmo a pedi-las…” porque isso não existe! Despeço-me com um beijo saudoso, este teu amigo de sempre,


Gil Saraiva

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