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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 500: Portugal Está Mais Violento?

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Olá Berta,

Não sei se é de estar em casa em isolamento e devidamente confinado, se é de andar a ler mais notícias, mas é inegável que, desde março passado até hoje, tenho sentido que a criminalidade aumentou, ao que me parece, bastante. Ontem um sujeito, de máscara cirúrgica e boné, assaltou uma dependência bancária roubando mil duzentos e tal euros, em Vila Real. No mesmo dia um outro sujeito, em Borba, foi esfaqueado e estrangulado.

No sábado, um outro individuo foi apanhado a roubar equipamento hoteleiro de uma cozinha de um hotel encerrado. No domingo foi detida uma mulher suspeita de atear um fogo numa pensão na baixa de Coimbra, da qual resultou um morto. Isto que descrevi é apenas uma amostra pequena, referente a três dias, para não falar em violência doméstica ou de crimes de incumprimento do Estado de Emergência.

Podia arranjar bastantes mais, só destes três dias, mas apenas fui consultar as manchetes dos principais jornais entre sábado e segunda-feira. Para meu espanto, são todos crimes diferentes e se fosse ler um correio da manhã de fio a pavio encontraria certamente mais uma boa dúzia em um único dia e mais do que isso para os três dias aqui em causa nesta carta. O que achas disto, amiga Berta? Andará no ar algum concurso de como fazer mal ao próximo em tempos de pandemia?

Analisando as situações acho que está tudo a ficar maluco. Espero que o país consiga ser célere no combate ao coronavírus e que rapidamente voltemos a uma vida mais normal. Por agora, o que me vem à ideia é que as pessoas, com uma cabeça mais frágil, se estão a começar a passar. Gostava de saber se é só impressão minha ou se a criminalidade tem mesmo aumentado durante estes tempos pandémicos. Se vires alguma estatística sobre o assunto, avisa minha querida amiga. Pode ser? Por hoje não me alargo mais. Despeço-me com um cumprimento de muita saudade e com um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 86: 2019 terminou com mais uma Vítima Feminina de Violência Doméstica

Pai mata Filha( no 36º assassinato de )violência

Olá Berta,

Sei que ainda esta manhã te escrevi uma carta, minha querida amiga, mas o que li hoje nas notícias, nos jornais online, não podia ficar por comentar. É deveras deprimente viver num país onde o tratamento de um assunto tão sério ainda não tem a devida atenção, por parte das autoridades nacionais e, principalmente, do lado dos poderes legislativos e judiciais.

Desta vez, pela trigésima sexta, em 2019, foi um pai de 68 anos que, alegadamente, matou por negligência doméstica, uma filha de 43 anos e feriu o genro, enquanto limpava uma caçadeira.

Estava o ano quase a terminar e o patriarca queria celebrar a entrada do novo ano a tiros de arma de caça. A negligência, verdadeira ou não, causando uma morte e um ferido, não deixa de ser violência doméstica. Afinal, esta situação não pode ser tratada, certamente, como uma comemoração familiar, lá porque a arma iria, supostamente, servir para festejar a chegada do ano novo.

Ainda por cima porque, a ser verdade que a arma se disparou por descuido, não faz sentido que o homem se tivesse posto em fuga, tendo no seu encalço a GNR local e depois a polícia judiciária. Todavia, mesmo que essa tese, defendida por outros familiares, prove ser a que realmente aconteceu, o descuido não foge do âmbito violento, ocorrido em casa.

O que me leva a concluir que os factos nunca deixarão de ser, por isso, um crime de homicídio doméstico, seja ele negligente ou não.

No meu entender, embora não seja um especialista da matéria, o trigésimo sexto de violência doméstica que provocou a morte de um familiar, em 2019, neste caso em sede de um acampamento permanente onde toda a família residia.

A morte ocorreu na zona de Ovar, a poucas horas da mudança de ano e pintou de negro a tragédia de um ano em que 3 vezes por mês, alguém é morto no seio do lar por um familiar. Ora, quando a grande maioria das vítimas são mulheres, é caso para nos levar a pensar que soluções urgentes e imediatas devem ser tomadas, porque é preciso pôr termo a esta carnificina sem sentido algum.

Se em 2016 os homicídios registados no âmbito familiar foram 4, mais um que os registados em 2015 e 2014, em 2017 esses números dispararam, passando para 20, em 2018 chegaram aos 28 e por fim em 2019, os homicídios por violência fecharam o ano nos 36, ou seja, 9 vezes mais do que há 3 anos atrás.

Quando uma taxa qualquer sobe 900 por cento em apenas 3 anos, seja ela que taxa for, algo não vai bem no reino ou na república. Mais grave ainda é quando essa percentagem refere a subida de um crime perfeitamente identificado.

Será que sou só eu que considera um absurdo a subida de 1200 por cento dos crimes de homicídio, no âmbito da violência doméstica, em 5 anos? É que saltar de 3 mortes, neste setor, em 2014 e 2015 para 36 em 2019 é precisamente o que aconteceu. Uma vergonha sem nomenclatura digna para a descrever.

Nos últimos 29 anos foram registados em Portugal quase 400 mil crimes de violência doméstica, com um crescimento anual médio superior a 19 por cento ao ano. Um facto, de tal forma assustador, que ameaça tornar este país, dito de brandos costumes, numa verdadeira casa (ou república, melhor dizendo) de horrores. Basta pensar que se estes casos fossem pessoas, e se essas pessoas constituíssem um partido, que fossem a votos nas legislativas portuguesas, ganhariam 10 lugares no atual parlamento.

No cerne de toda esta problemática estão, sem qualquer margem para dúvidas, digo eu que alegadamente me acho cheio de razão, minha querida, as sentenças amigáveis e permissivas dos juízes deste país. Quanto a mim, o conhecimento por parte da população deste tipo de julgamentos, das respetivas penas e do péssimo tratamento dos juízes perante as vítimas, gerou uma espécie de república das bananas, no que ao aparente desculpar dos culpados diz respeito, ou seja, toda o mundo tem a sensação de que existe uma impunidade generalizada no setor. É como se o próprio Estado estivesse de acordo com este status quo.

Ora, amiga Berta, isto é de todo inadmissível. Se eu tivesse 16 anos e Greta fosse o meu nome, formava um movimento contra o femicídio. Sim, porque para além das 31 mulheres mortas (dos 36 homicídios de violência doméstica), este ano que passou, houve outras tantas que escaparam a este fim, tendo os presumíveis culpados sido acusados de tentativa de homicídio.

Espero sinceramente que este 2020 seja o ano da mudança. É preciso parar, estancar e acabar de vez com este flagelo que assombra a nossa sociedade.

Despeço-me saudoso com mais um beijo de esperança, deste teu amigo de todos os dias,

Gil Saraiva

Carta à Berta nº. 61: As Escravas Sexuais da Segunda Guerra Mundial

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Olá Berta,

Recebi hoje a tua última carta. Não precisas de me escrever diariamente só porque eu o faço. Para mim é apenas uma forma de desabafar e de te manter por perto. Confesso, contudo, que sabe bem abrir a caixa do correio e encontrar uma carta tua em vez da conta da eletricidade. Já há muito tempo que não tinha essa expectativa ao ir ver o correio. É revigorante, fresco e nostálgico.

A minha carta de hoje é, por incrível que te possa parecer sobre a Segunda Grande Guerra Mundial. É verdade! Com efeito, ainda hoje, continuam a ser divulgadas coisas que mal dá para acreditar terem realmente acontecido. Todavia, mais uma vez, o assunto versa as mulheres.

É do conhecimento geral o abuso, de todo o tipo, a que foram sujeitas as judias e não só, pelo regime nazi. Uma escravidão inaceitável e só possível descrever no contexto de terror que se viveu na época. Das experiências horrorosas efetuadas pelos médicos e carrascos do nazismo à escravidão sexual aconteceu um pouco de tudo.

Porém, para meu espanto, não é daí que vem a novidade. Os 23 documentos hoje divulgados têm origem no país do Sol Nascente. O, na altura, Grande Império do Japão. Se um dos grandes realizadores de cinema fizesse um filme, cujo argumento fosse parecido com o que por lá aconteceu, seria, rapidamente, apelidado de uma grande metragem irrealista.

Contudo, como costumo dizer tantas vezes, a realidade tem a terrível mania de ultrapassar a ficção. Infelizmente, nem sempre nos revelando o melhor dos homens, dos governos e do poder instituído. Afinal, estas revelações referem-se ao segundo quartel do século XX, e têm pouco mais de 80 anos as primeiras, e menos do que isso algumas das outras, entre as quais, se encontram provas documentais com apenas 74 anos de idade… foi quase ontem.

Embora muita gente possa dizer que as coisas foram iguais no passado, de uma forma generalizada, em toda a parte, julgo que esta situação é incomparável com os atos de escravatura, praticados em Portugal e na Europa nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, em que os direitos humanos ainda eram uma miragem absurda e inconcebível, se bem que igualmente condenáveis em absoluto.

Ora, os documentos agora revelados, são prova documental que o exército japonês, solicitou escravas sexuais (em média: uma para cada 70 soldados), ao governo nipónico e que a solicitação foi não apenas aceite, como foi levada a cabo com uma eficácia tremenda.

O Japão, ainda tenta suavizar a coisa, dizendo que parte das mulheres eram gueixas japonesas, profissionais do sexo, cuja existência nada tinha a ver com situações de escravatura sexual. Como se o sistema de gueixas no oriente fosse algum clube de voluntárias, ardentemente desejosas de serem tratadas como coisas.

O problema é que, neste século, nesta década e neste ano, continuam a existir gueixas na terra do Sol Nascente, quase com a mesma inexistência de direitos que há uns séculos atrás. Reconhecer tratar-se de escravatura sexual, poria em causa muito do que hoje ainda se passa e isso o Estado Nipónico não tem qualquer interesse em considerar.

O mais grave dos documentos trazidos a lume é que revelam que o Japão fez escravas sexuais raptando mulheres da Coreia do Sul, de Taiwan, das Filipinas, do próprio Japão e da Austrália. Quase todos os documentos usam a mesma expressão para descrever estas vítimas da guerra: “mulheres de conforto”. Duvido que fosse para conforto das mesmas e que, as operações militares desencadeadas para as raptar, se destinassem a servir de agências de viagens com vista à angariação de voluntárias para servir sexualmente 70 homens por cada uma delas.

Os relatos falam em dezenas de milhares de mulheres ao serviço deste esquema de escravatura hediondo. Sendo que os números agora apurados apenas uma ponta de um grande icebergue. Com efeito, há quem aponte para as centenas de milhares de escravas sexuais ao serviço do exército, marinha e aviação nipónica.

Fonte oficial do Governo Japonês já pediu desculpas formais aos países vizinhos pelo uso abusivo de “mulheres de conforto” oriundas desses países. Provavelmente, o assunto será esquecido a nível das grandes esferas do poder.

Com efeito, e tendo em conta que os últimos carregamentos remontam há 74 anos atrás, poucas serão as sobreviventes desta tragédia. Porém, a existirem, sejam elas muitas ou poucas, considero que todas elas deveriam receber o mesmo pedido de desculpas por parte do poder japonês e uma indeminização que as deixasse confortáveis e em paz para o resto das suas existências.

É triste, este nosso mundo, visto nesta perspetiva, do lado negro da humanidade. Mais ainda porque sabemos que o tráfico e esta escravatura continua por todo o mundo, civilizado ou não. A urgência de medidas e sanções pesadas e firmes tem de partir das instituições internacionais, seja a ONU, ou qualquer outra, a organização que se responsabilize por tomar conta deste tema, não importa, desde que atue. Alguém tem de o fazer e com eficácia, de uma vez por todas, para sempre.

Desculpa lá o desabafo Berta, eu sei que entendes perfeitamente a minha indignação. Despeço-me com um beijo amigo. Este que não te esquece,

Gil Saraiva

Crime e Castigo, a Pena para um Infanticídio

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Olá Berta,

Hoje, dia do meu aniversário, acordei pelas 9 horas e picos, tratei da minha higiene, comi qualquer coisa e fui até à televisão, curioso por saber que notícias do dia dos meus anos. A primeira que ouvi foi a da descoberta de um bebé, recém-nascido, ainda com parte do cordão umbilical e vestígios do parto, deitado ao lixo, num contentor perto de Santa Apolónia, em Lisboa. A notícia, avançada pela TVI, já garantia que a criança, um menino, tinha sido levada para o hospital D. Estefânia e que já se encontrava livre de perigo. Um sem-abrigo, ajudado por um outro transeunte terá dado o alerta, evitando assim mais um infanticídio em terras lusas.

Conforme sabes, eu não faço parte dos fanáticos da desgraça alheia, nem mesmo dos que seguem avidamente os crimes que se praticam em Portugal e no mundo. Prefiro a fantasia, seja um filme policial, de ação, espionagem, ficção científica, entre outros, à crua realidade do nosso quotidiano. Mas há coisas que me incomodam seriamente. Os incendiários, o tráfico de seres humanos, a escravatura, as violações, a violência doméstica, a tortura, os raptos, os homicídios paranoicos, o infanticídio, a prostituição forçada, contra a vontade dos próprios, e o canibalismo. A ordem pode não ser exatamente esta, mas, de facto, todos estes crimes, mesmo os que não implicam morte, mexem realmente com o meu equilíbrio emocional.

Dito isto, o crime descrito pela reportagem da TVI, ou a tentativa do mesmo (é-me igual), é dos que mais me revoltam as entranhas. Que mãe ou que pai é capaz de deitar no lixo um ser acabado de nascer, depois do mesmo ter sido transportado num ventre durante 9 meses? Podem dar-me mil explicações atenuantes, contudo, não aceito nenhuma como justificação de tamanha monstruosidade.

Quem não pode cuidar de uma criança ou não a quer, tem sempre, como recurso, a entrega dessa vida às instituições, que delas cuidam e que as tentam encaminhar para quem delas possa tratar, acarinhar ou até dar o próprio nome por um processo legal de adoção.

Num curto espaço de tempo, este caso, mais o do contentor, encontrado perto de Londres, com os 39 cadáveres de vietnamitas, faz-me pensar que nada evoluímos enquanto seres civilizados a viver no século XXI já no terceiro milénio d.C.! Continuamos tão selvagens e bárbaros como sempre fomos, apenas as roupagens e os métodos mudaram.

Muitos são os países que aboliram a pena de morte para os crimes praticados nos seus territórios. Eu sou normalmente favorável a este tipo de decisões políticas, práticas e legislativas, mas, quando me deparo com estes tipos de crime, a minha vontade é que os culpados, se descobertos, sejam votados a mortes bem mais horríveis do que as suas vítimas poderiam ter tido ou tiveram. Não me consigo conter. Nem sequer encontrar atenuantes para casos destes, por mais floreadas ou trágicas que elas sejam.

Não me vou alargar mais sobre este tema, porque, afinal, o que eu poderia ainda acrescentar sobre o assunto aproximar-me-ia, sem qualquer dúvida, perigosamente, dos selvagens que critico.

Deixo-te um beijo saudoso, com carinho, deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

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