Carta à Berta n.º 562: Campo de Ourique e a Clonagem de Cartões Multibanco (versão alterada a pedido de Nuno Martins)
Olá Berta,
Campo de Ourique não é a minha terra natal só porque nasci numa outra parte do campo, lá para os lados de Campo Grande. Porém, foi o bairro que me acolheu com um carinho como nenhum outro. Conforme já te contei por diversas vezes, minha querida amiga, já me encontro por cá há mais de treze anos.
Adoro o bairro, embora para muitos dos meus vizinhos, ainda hoje, eu seja um novato (pese embora os meus sessenta anos) que acabou de chegar à freguesia. Com efeito, muitos deles já ultrapassaram os quarenta e os cinquenta anos, alguns ainda mais, de convivência íntima com a terra. Esta é a mais linda aldeia da minha cidade berço, Lisboa, a capital do país. Muitos lembram, saudosamente, que o bairro já não é o que era e eu acredito. Mas é assim, Berta, num pequeno espaço de 1,65 quilómetros quadrados, esta é, hoje em dia, a segunda freguesia da cidade com mais habitantes por quilómetro quadrado.
Aliás, enquanto Lisboa tem perdido bastante população para a periferia, Campo de Ourique nunca parou de crescer e aumentar as suas gentes. Enquanto em 2011 a população era de 22.120 habitantes, em 2021 passou para 22.169, com este aumento de quarenta e nove pessoas a freguesia foi das poucas de Lisboa a crescer em número de habitantes. São, mais trinta pessoas por quilómetro quadrado.
Isto quer dizer que hoje, querida Berta, Campo de Ourique tem 13.436 pessoas por quilómetro quadrado, ou seja, vivem 13 indivíduos por cada metro quadrado. Quer isto dizer que se não existissem prédios, muitos com bastantes andares e vários apartamentos por andar, e que se toda a população do bairro viesse em simultâneo à rua, nós não caberíamos, uns ao lado dos outros, coladinhos, nas ruas do bairro em que vivemos.
Por outras palavras, em Portugal vivem cerca de 112 pessoas por cada quilómetro quadrado, isto tendo em conta a população e a área do território nacional, ilhas incluídas, enquanto em Campo de Ourique vivem cento e vinte vezes mais pessoas concentradas por cada quilómetro quadrado.
Ora, minha amiga, a acreditar nos dados das eleições autárquicas de 2021 e simultaneamente nos valores apresentados nos censos deste ano, existem 3.087 menores de 18 anos no nosso bairro. Um valor muito baixo, a ser real.
Dito isto não é para admirar que, este mês, ao sair da Pastelaria Trigo da Aldeia, onde vou frequentemente buscar bolinhas de pão malcozidas e o melhor bolo de laranja do bairro, uma rapariga na casa dos trinta anos, me tenha clonado o cartão de débito que eu acabara de meter no bolso detrás das calças. Minutos depois já me tinha sacado 60,21 euros da conta numa compra internacional, online, na aquisição de um qualquer produto de estética. Por sorte eu tinha seguro do cartão e o banco fez a reposição da verba.
Mas isso só acontece porque vivemos num local onde a população é considerável e os recursos são cada vez mais escassos. Eu nem sabia que era possível um cartão multibanco ser clonado desta forma, porém, essa é a triste realidade. E nem Campo de Ourique, na sua pacatez de aldeia escapa aos novos métodos dos bandidos e burlões. É o excesso de população em relação aos recursos a fazer-se sentir. Por isso, Bertinha, tem cuidado, se aconteceu comigo aqui, pode muito bem acontecer contigo por aí. Ainda mais nesta época natalícia onde andamos sempre de cartão multibanco à mão de semear.
Por hoje é tudo, fica com os meus votos de Boas Festas. Com um beijo de saudade, deste teu amigo de sempre, me despeço até à próxima carta,
Gil Saraiva
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PS: A imagem anterior foi removida a pedido do senhor Nuno Martins. Transcrevo o texto que originou esta mudança.
Nuno Martins (13:58) - Bom dia. Agradeço que apague a publicação que tem no seu Facebook relativamente ao trigo da aldeia. Não queremos ser associados às suas publicações sem a nossa autorização, ainda para mais sendo o assunto sobre um tema que nada nos diz respeito. Atentamente, Nuno Martins
Gil Saraiva (17:08) - Caro Nuno Martins, entendo a sua posição. Mas é esta a realidade de um jornalista. Coloquei efetivamente a vossa publicidade na esquina da fotografia apenas para não identificar quem lá se encontrava. Podia ter tirado outra que não seria tão apelativa. Isto no que se refere à publicidade. Quanto à Carta à Berta são crónicas de um Jornalista Profissional em atividade e sinceramente não preciso da vossa autorização, nem a vou remover, evidentemente. Contudo, se desejar, posso alterar a fotografia que ilustra a peça, com a divulgação desta troca de mensagens entre os dois, no final da mesma. Uma vez que se dirigiu diretamente a mim. Aguardo a sua decisão. Sem outro assunto de momento, atentamente, Gil Saraiva
Nuno Martins (18:09) - Boa tarde. Agradeço que altere a fotografia, e de preferência que não apareça a nossa imagem. Atentamente, Nuno Martins
Gil Saraiva (19:40) – Caro Nuno Martins mudança de imagem efetuada para uma de minha autoria. Estou a proceder à respetiva alteração nos grupos do Facebook onde esta entrou e espero ter a situação resolvida ainda hoje. Contudo, nos grupos e nas partilhas que não controlo não poderei fazer grande coisa. Obrigado. Com a mais elevada consideração, Gil Saraiva
Nuno Martins (19:45) - Muito obrigado. Boa semana.
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