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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 572: Portugal em Risco - Crónica de um Conflito Anunciado - Ucrânia / Rússia

Berata 572.jpg Olá Berta,

Tal como eu, certamente, já ouviste falar do conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Todos esperam o início eminente de uma guerra anunciada, ao mesmo tempo que desejam que esta possa ser ultrapassada, mesmo que no limite, pelo uso coerente da diplomacia.

É evidente que as rádios e as televisões têm dado um substancial relevo ao assunto, sendo nisso acompanhadas quer pela imprensa escrita, quer pela que se encontra disseminada em inúmeros sites online. Tal situação não se deve, ao facto de termos uma forte comunidade ucraniana em Portugal, mas sim ao papel da Europa no conflito, principalmente a União Europeia.

A NATO, uma instituição, até há pouco tempo, esquecida dos cabeçalhos da imprensa e das aberturas dos noticiários, aparece agora com um papel relevante, principalmente pelo destaque que os Estados Unidos da América têm dado ao assunto. Basta reparar na quantidade de vezes que o presidente americano já anunciou o início da guerra.

O problema do Ocidente tem estado na conservação do verniz, no tratamento a dar a Putin, que indiferente às advertências ocidentais, começou (a situação já dura desde 2014) por ocupar a Crimeia e agora reconhece o direito das províncias do sudeste ucraniano a integrarem a Federação Russa (reconhecendo-lhes a independência para já).

O apoio, já oficial, dado pelo Kremlin à independência destas províncias e a entrada de tropas russas nessa parte do país vizinho, por forma a apoiarem as pretensões dos separatistas, é já uma evidência clara.

Por outro lado, a desculpa esfarrapada da presença de quase duzentos mil militares russos, na fronteira com a Ucrânia e a ocupar posições ameaçadoras no território bielorrusso, divulgando para o Ocidente de que tudo não passa de simples exercícios militares é algo que já não cola, nem nunca colou, nas análises dos observadores internacionais.

É óbvio que a Rússia não quer que a Ucrânia passe a pertencer à NATO, por questões geoestratégicas. Contudo, a própria NATO e todo o Ocidente também não estão interessados nessa adesão, embora defendam que a Ucrânia, enquanto país soberano, deve ter direito a fazer as suas próprias escolhas e opções.

O Ocidente pensa, não sem razão, que pode não ser uma boa ideia integrar um país que não é propriamente uma grande democracia nem sequer um verdadeiro estado de direito. Com efeito, a Ucrânia tem tiques de autocracia e move-se muito bem nos meandros da corrupção.

Todavia, quer a França quer a Alemanha, mas não só, talvez quase toda a UE, são bastante dependentes do gás russo. Tem sido por isso que se têm desdobrado afincadamente em ações diplomáticas, na grande mesa de jantar de Putin.

Mas, e há sempre um imenso mas, em cenários deste calibre, o tal verniz, de que falei há pouco, pode mesmo vir a estalar, não tarda. O que ninguém parece ainda ter a certeza é qual é a estratégia de Putin. É claro que os americanos dizem que é evidente que a Rússia se prepara para anexar a Ucrânia, mas isso não quer dizer que tenham mais razão agora, do que quando eles provocaram a invasão do Iraque, com a desculpa das armas de destruição massiva.

Há ainda, escondido por detrás do cenário militar, um imenso palco económico e macroeconómico. Do lado russo o interesse em ter a Europa dependente do seu gás e consequentemente da energia que exporta, o qual tem um peso imenso, e deixa a Europa um pouco entre a espada e a parede. Do lado americano a possibilidade de poder tornar-se no principal fornecedor do mesmo gás do velho continente é não só economicamente excelente, como aumenta o seu poder de influência no círculo europeu.

Deves estar a pensar, mas porque raio é que isto é assim tão importante para nós, aqui, em Portugal. Bem, minha querida Berta, tal como na altura das armas de destruição massiva do Iraque, nós aceitámos sem provas, deixar os americanos servirem-se da base das Lages, nos Açores, como ponte aérea para a invasão do Iraque, desta vez, estamos prontos para permitir a entrada de capitais públicos ou privados americanos no porto de águas profundas, em Sines, para receber o gás americano no nosso país.

Depois disso, o PRR, ou seja, o nosso Plano de Recuperação e Resiliência, já prevê o investimento em estruturas ferroviárias rápidas entre Sines e Espanha, de forma a servimos de porta de entrada do gás (e do petróleo) americano na Europa, substituindo o fornecimento russo.

Para além disso, as obras de extensão e alargamento previstas para o porto de Sines, mais o melhoramento das estruturas ferroviárias, permitiram que Portugal possa competir diretamente com os portos de Roterdão e Antuérpia, com uma muito melhor localização estratégica, e também maior proximidade, das rotas comerciais da América do Sul, Central e do Norte, bem como das rotas de África.

Com efeito, uma vez terminadas as obras, melhoramento ferroviário entre Sines e Espanha e extensão e alargamento estrutural do Porto de Sines, deixaríamos de ser um ponto periférico no contexto europeu para passarmos a estrar no centro da distribuição de serviços, produtos e energia de toda a Europa.

Se a isso juntarmos a capacidade de minerar, transformar e gerar as baterias de lítio, para as fornecermos prontas às empresas tecnológicas e à industria automóvel, o papel de Portugal, no seio do contexto europeu seria absolutamente essencial, passando o país a ser um exportador de energia de elevado potencial, e interesse para todo o velho continente, mas principalmente para a Comunidade Europeia.

Em resumo, minha querida Berta, tudo aponta para que Portugal se esteja a perfilar para se tornar fundamental para a estabilidade do espaço europeu quer no que se refere às energias convencionais, quer na necessidade do lítio, quer mesmo no abastecimento e comércio de mercadorias e bens com a Europa.

Só que, em caso de guerra, como pode acontecer se a Rússia entrar em guerra com a Ucrânia, também deixamos de ser um alvo terciário, para passarmos a ser um alvo prioritário. A prova disso, que já tem contexto real e evidente, são os ciberataques de que temos sido alvos nos últimos tempos por parte dos hackers de leste. Aliás, não é à toa que até já o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros sofre ciberataques como o de hoje.

É por tudo isto que Portugal importa agora quer aos russos, quer aos americanos, quer aos chineses, que já meteram a mão na nossa rede de distribuição elétrica (a REN com 25%), no capital da EDP (com 21,35%), na Fidelidade (com 85%), na Luz Saúde, e no BCP (com 16,7%), já sem contar com a imensidão que tem sido o investimento em imobiliário por parte dos chineses em Portugal, sendo já donos de vários tesouros nacionais, como é o caso do edifício da Rádio Renascença no Chiado entre muitos outros.

Pelo que disse ao longo desta carta, é bom que nos preocupemos com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, pois estamos a menos de dois ou três anos de sermos um alvo prioritário em qualquer guerra entre as grandes potências mundiais, situação inédita em Portugal desde a era dos descobrimentos.

Despeço-me com um beijinho, minha querida Berta, cheio de saudades, até uma próxima cartinha, este teu amigo de há muitos anos, sempre ao dispor, eternamente grato pela nossa velha amizade,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta a Berta nº. 458: Trump Perde Senado! Vitória dos Democratas

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Olá Berta,

Embora ainda faltem contar cerca de 2% dos votos no que diz respeito ao segundo Senador, nas eleições que decorreram ontem no Estado da Geórgia nos Estados Unidos da América, o candidato Democrata vai à frente com cerca de 16 mil votos e já com outro o primeiro Senador eleito pelo partido de Joe Biden. Se a contagem se mantiver inalterada isso significa que os Democratas ganham, finalmente, este milénio, pela primeira vez, o controlo da Câmara dos Representantes e do Senado.

Isto transformará radicalmente os poderes da Casa Branca que passará a ver-se em maioria nas duas câmaras. Assim Joe Biden poderá implementar, sem entraves políticos, a sua política democrática e isto sem ter de fazer qualquer cedência ao Partido Republicano de Donald Trump.

O melhor de toda esta história, para o mundo em geral, é que, assim sendo, se tratará de uma derrota em toda a linha de Trump, que sairá devastado no dia 20 de janeiro. Embora perdendo por aquilo que se poderão considerar poucos votos, deixando a América dividida como nunca antes, a derrota republicana traduzida pela tripla derrocada (Presidência, Senado e Câmara dos Representantes) pode permitir a Biden uma verdadeira reunificação de esforços e de união dos americanos. Esta vitória permitirá que os derrotados se demarquem de Donald Trump.

Sem grande poder efetivo a nível federal, por parte do partido derrotado, será mais fácil convencê-lo a fazer parte da solução do que a tentar manter-se como sendo o problema. Isso cria um sério problema a Trump. Podem ficar minadas as suas pretensões de se candidatar novamente, pelos Republicanos, às próximas eleições presidenciais.

Não adianto muito mais, minha querida amiga Berta, porque, afinal, a contagem dos votos para o segundo Senador, ainda não terminou, contudo, esperemos que esta história tenha mesmo um final feliz. Despede-se este teu amigo, com um beijo sincero e de franca amizade,

Gil Saraiva

 

 

 

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