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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 578: O Dia Internacional do Beijo

O Colecionador de Beijos.jpg

Olá Berta,

Hoje é o Dia Internacional do Beijo, e não há melhor altura para apresentar a nova sequela do meu livro “O Colecionador de Beijos – Ensaio Sobre o Beijo”, denominada: “O Angariador de Beijos – Uma Temática Para a Eternidade”.

Nos tempos difíceis em que a guerra é o assunto dominante não há nada mais simples do que contrariar a maré enviando um beijo a alguém. Por isso mesmo, minha querida amiga Berta, aqui vai, revelando um pouco deste novo livro, um novo beijo:

Beijo de Namoro.jpgBeijo de Namoro, aquele que, embora possa parecer único e facilmente identificável, tem várias correntes ou vias de concretização. Para os românticos trata-se de um beijo de sedução, fascínio e entrega incondicional. Não tem condicionalismos que não sejam os que derivam da própria relação de entrega mútua. Porém, num cenário que envolva duas pessoas cumpridoras de rituais, sejam eles religiosos ou de mero pudor, traduz-se num beijo casto, impoluto, sem troca de línguas ou demoras exageradas pela paixão. Existem variadíssimos tipos de beijos de namoro, todavia, aquele que se considera mais representativo, mais clássico no género, é o que é partilhado na paixão sensual e mútua de quem se pensa entregar cegamente na fusão eterna entre dois seres, onde a pele sente o arrepio da espinha, o coração acelera batimentos sem motivo aparente, as secreções humedecem recantos na derme ardente e a vida parece, finalmente, ter encontrado a razão do seu perfeito existir.

Despeço-me enviando-te um especial beijo de amizade, este teu amigo saudoso que nunca te esquece, por muito que, por vezes, esteja ausente, mas sempre contigo no coração porque a amizade mais do que presença tem memória,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Tributo de Aguarela

Berta 320.JPG

Olá Berta,

Estava a começar a escrever esta carta quando, na M80 começou a tocar a Aguarela de Toquinho. Não sei bem o que me deu, mas dei comigo a escrever um tributo à aguarela. Como é evidente, embalado pela musicalidade segui o ritmo de Toquinho, embora descrevendo apenas o meu desejo. Coisa que acontece em dias assim. Dias em que se pensa em amor, desejo e partilha e em que vindo do éter algo nos inspira e nos leva a escrever. Espero que te agrade o que aqui vai:

 

“TRIBUTO DE AGUARELA”

 

Se um diário eu puder

Transformar logo em caramelo

E assim que quiser

Desfazê-lo com um cutelo…

 

Para escrever imaginação

Ou um poema à chuva

Eu preciso saber

O que sente, espremida, uma uva…

 

Se há alguém que minta

Para o meu coração eu sinto o fel,

A dor, de sexta a quinta,

Uma imensa derrota escrita em papel,

Desprezando

A minha harmonia deste meu paul,

Dessa estrela, que brilhando,

Desta minha alma esconde o azul…

Vivo para ela

Porque me entregando

Sinto na minha vida o Norte e o Sul…

 

E aos sonhos vou pedindo

Desejos de vida e de oxalá

Onde agora tudo é lindo

Porque a sinto eu agora cá…

Quero acreditar nesses lábios rindo,

Olhar sorrindo,

Porque de ti mulher

Não vem coisa má…

 

Posso ser quem eu quiser,

Com empenho te dou a minha vida.

Sou teu homem, teu, mulher…

Sou um lar, nunca a saída,

Ser teu espaço no espaço

E chamá-lo de nosso mundo…

Ser a seta, ser o traço,

Que na alma chega ao fundo…

 

Se um sonho vira mina

De água, em nascente de futuro,

Porque a sonhar a mente

Ultrapassa vala, parede, muro ou mar…

 

E sem muro a cidade

Continua a aumentar

Procura a felicidade

Que quer vir a alcançar…

Meu amor avança

Como ela, querida,

Tu és minha vida

Só eu te quero amar…

 

És minha rocha, meu jade,

Joia minha, no alto a brilhar…

O princípio da saudade

Que mais não pode aumentar.

 

Menina linda e bela, nessa janela,

Uma aguarela

À beira jardim.

Ela me amará

Só porque me ama a mim…

 

E quero eu ser um caramelo

Que ela degustará,

Ser seu rei ou castelo

Feito de amor e de orixá

E que ela amará

Por instantes, um segundo

Tão imenso como o mundo

E que ela adorará…

 

Termino poeticamente a minha carta de hoje, despeço-me com um beijo saudoso, este teu grande amigo (bem... razoável, só tenho 1,82 metros de altura), sempre à disposição,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: "António Costa - O Grande Golpe - Peça em Três Atos" - "Ato III - Um Corredor Aéreo Para Portugal"

Berta 317.jpg

Olá Berta,

Termina hoje aqui, minha amiga, a minha peça em três atos sobre o que se pode ter passado realmente entre Portugal e o Reino Unido entre o fim de agosto e o princípio de setembro deste ano.

Esta foi a minha maneira de justificar a mudança de atitude do Governo Britânico, que estava determinado a fazer cumprir o fecho dos corredores aéreos para os países que, como Portugal, tivessem ultrapassado os 20 infetados por cada 100 mil habitantes e que, de repente, aparece com o critério (que apenas beneficia Portugal) do rácio entre o número de testes efetuados no país e o número real de infetados.

Uma surpreendente mudança, em cima da hora, a dias de anunciar como ficariam os corredores aéreos britânicos para os 15 dias seguintes.

“Terceiro Ato: Um Corredor Aéreo para Portugal

Na segunda e terça-feira seguintes, à conversa Costa versus Boris, os noticiários de todas as rádios e televisões anunciavam, com drama, o possível fecho do corredor aéreo entre Portugal e o Reino Unido. O país tinha ultrapassado o limite de 20 infetados por cada 100 mil habitantes o que implicava o automático anúncio, na quinta-feira seguinte, do fecho do corredor turístico entre Reino Unido e Portugal. Tudo parecia indicar este desfecho trágico para a economia portuguesa, já a braços com mais uma centena de outros problemas. A gota de água que podia fazer transbordar o copo do descalabro estava prestes a ocorrer. Muitos comentadores, principalmente os televisivos, davam o facto como inevitável e analisavam as consequências trágicas para o país.

Na quarta-feira o assunto Rui Pinto, e o julgamento do mesmo que começaria na sexta-feira, relegavam para segundo plano, um assunto que parecia condenado à tragédia e cujo desfecho se previa como óbvio. Apenas de passagem, sem relevo, se falava ainda do fecho do corredor aéreo com Inglaterra. Já existiam turistas a desmarcar férias, outros a antecipar para sexta-feira o regresso de férias, para não ficarem sujeitos ao confinamento no retorno ao Reino Unido.

Surpreendentemente na quinta-feira o Governo de Boris Johnson anuncia oficiosamente a mudança dos critérios de avaliação de risco para o turismo dos ingleses fora de Inglaterra. O novo critério só tem um único beneficiário: Portugal. Passa a ser recompensado quem mais testa, face ao número de infetados que estes testes revelam. O rácio volta a colocar Portugal nos países seguros e viáveis para o povo do Reino de Sua Majestade. Ninguém consegue entender ou encontrar uma justificação plausível para esta nova forma de avaliação inglesa.

Na sexta-feira a notícia torna-se oficial. Portugal vai continuar no verde no que toca aos corredores turísticos aéreos entre Inglaterra e Portugal. Os empresários algarvios, madeirenses e dos Açores respiram de alívio. Têm mais 15 dias de negócio pois, pelo menos, até 19 de setembro o corredor manter-se-á aberto.

Sentado em casa, a ouvir os noticiários, António Costa sorri. Ninguém suspeita do negócio. O país ganhou um novo fôlego e já só se fala do julgamento de Rui Pinto, passada que foi a enorme surpresa. O sentido de dever cumprido deixa-o feliz. Aquilo podia ter corrido mal, muito mal mesmo. Felizmente, por mais 15 dias tudo está bem na pacata Lusitânia.

Costa sabia que havia um preço a pagar, mas desde que ele cumprisse o prometido Boris Johnson nunca o poderia acusar de incumprimento do prometido. Isso era o mais importante, poder manter a face, sem ter cedido em nada de realmente importante para Portugal.”

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Fico-me por aqui, amiga Berta. Espero que te tenha agradado esta minha peça em três atos. Personagens reais, países reais, factos reais, causas alegadas no domínio do «podia ter sido assim». Com um beijo saudoso este teu amigo do coração despede-se até amanhã,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Ensaio Sobre O Beijo - O Colecionador de Beijos (Chiado Books) - Introdução - II/II

Berta 289.jpg

Olá Berta,

Termino hoje, conforme prometido o preâmbulo do “Ensaio Sobre o Beijo – O Colecionador de Beijos”, editado pela Chiado Books, seguindo a última parte da Introdução para que possas concluir a leitura. Só assim se consegue entender a noção completa do tipo de ensaio que quis fazer de algo comum e humano como o beijo, principalmente o beijo com sentimento.

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Também não descuro os anos de aprendizagem, na área das Artes Plásticas, passados com o grande Mestre da Pintura, conhecido como o pai do Neorrealismo em Portugal, Isolino Vaz e com a Pintora Susana Olga e os conhecimentos de Português, Latim e Grego adquiridos desde a infância, com a minha mãe, a Professora Maria José Gil Alexandre. Tudo ajuda na formação das ideias, na produção da criatividade e na elaboração de contos, romances, poemas, ensaios e fábulas. Até na criação de um simples quadro a óleo existe um distinto olhar sobre o mundo e uma perspetiva diferente de o observar.

Mas porque refiro eu, nesta introdução, este tipo de historial pessoal? Apenas é só porque o tempo acumulado no exercício da profissão de jornalista e investigador, a longa viagem de estudos académicos e universitários, a convivência com mestres, criativos e gente das letras e a consequente aprendizagem adquirida, permitiram, por fim, a deteção da falta de sistematização ensaística do beijo, enquadrado enquanto ato sociológico relevante, nas diferentes civilizações da história e da atualidade. É este olhar diferente que me proponho a deixar aqui registado. Porém, conforme já deixei subentendido, nem o tema acaba com as conclusões deste ensaio, nem o beijo se esgota numas dezenas de páginas sobre ele. Mas é um início, um instrumento de trabalho, um princípio, enfim. Depois dos pressupostos apresentados, que por si só justificam a presente escolha, importa sublinhar alguns aspetos relevantes sobre o beijo. Para além de se tratar, por um lado, de um laço do foro privado, entre duas pessoas, ele é, por outro, uma manifestação de cariz público, se bem que com uma relevância absolutamente diferente do anterior. Assim sendo o beijo acontece quer se cumprimente alguém ao chegar a um determinado lugar, quer nas despedidas, quer ainda nos atos de afeto, simpatia, carinho e, como não podia deixar de ser, de amor.

Poderíamos apelidar o beijo de ser o reóstato perfeito do relacionamento humano. Assim, a sua falta assinala com frequência um estado deteriorado de uma relação específica, no caso dos amantes, um historial clínico depressivo, na convivência social ou o estado de uma relação afetiva dependendo da intensidade deste. A deteção destes factos pode ajudar os envolvidos a efetuarem reavaliações e a procurarem corrigir essa falta procedendo ao seu resgate. No plano íntimo ele funciona como uma dança, quando mais se pratica, melhor é a execução e o prazer que dele se extrai.

Porém, nem tudo é positivo, uma pessoa doente pode transmitir através de um beijo, constipações, gripes, sarampo, rubéola, mononucleose e herpes, embora esses problemas não sejam culpa diretamente do beijo, mas sim, do estado clínico de um dos seus participantes.

No que se refere à sua origem, o beijo tem um passado algo obscuro. Não há certezas quando começou a ser praticado, porque se iniciou esta prática, nem mesmo onde é que esta possa ter a sua origem. Os primeiros registos encontrados, onde se faz prova do seu uso têm, porém, cerca de quatro milénios e meio. Com efeito, são de 2.550 a.C. os primeiros registos de beijos, talhados na pedra, pelas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia.

Na Igreja Católica, o beijo pode ser um sinal de reverência, ao se beijar, por exemplo, o anel do Papa ou de membros da alta hierarquia eclesiástica. Já os romanos da Antiguidade tinham 3 palavras para beijo, “basium”, “osculum” e “suavium”, se o primeiro se dava entre conhecidos, o segundo era apenas partilhado entre os amigos íntimos e o terceiro destinava-se em exclusivo para os amantes. Aliás, o beijo tinha um papel nas lides do poder romano, com efeito, somente os nobres mais distintos podiam beijar o imperador nos lábios, os restantes tinham de se contentar com um beijo nas mãos e os súbditos apenas tinham direito a beijar o seu soberano nos pés. Efetivamente a partilha de beijos entre guerreiros, quer na Grécia, terra onde o beijo tinha um papel fundamental, quer em Roma, era comum no regresso das campanhas. Consta, também, que na Suméria, a antiga Mesopotâmia, os beijos serviam como prendas aos deuses.

Já na Rússia Czarina o beijo era uma verdadeira demonstração de poder porque, um beijo do Czar, traduzia uma das mais prestigiadas honras imperiais. O beijo era tão importante que, por exemplo, em França, no decorrer do século XV, os nobres tinham o privilégio de poderem beijar todas as mulheres que quisessem. Porém, na Itália medieval, um homem cavalheiro que beijasse uma dama em público era imediatamente obrigado a contrair o matrimónio, o assunto era tão sério que o costume se espalhou a uma grande parte do povo. Porém, na Escócia medieval era costume o padre beijar os lábios da noiva no final da cerimónia de casamento para haver felicidade conjugal.

Durante o copo de água, e ainda em prole da felicidade, a noiva devia beijar na boca todos os homens presentes, trocando cada beijo por uma quantia em dinheiro.

No caso português, e já no Brasil, D. João VI introduziu a cerimônia do beija-mão. Assim, em determinados dias, o acesso ao Paço Real era conferido a todos os que desejassem apresentar alguma demanda. Nessa ocasião, em sinal de respeito, tanto os nobres, como o povo, e até os escravos, tinham que lhe beijar a mão direita antes de fazerem o seu pedido. Esse costume foi mantido por D. Pedro I e por D. Pedro II. Porém, a troca de beijos entre portugueses e índias, no Brasil, era mal visto por estas, que achavam o ato nojento, quer por estarem habituadas a cheirar o corpo do parceiro, em busca das feromonas do sexo oposto, em vez de usarem os beijos, quer porque contraíam uma parafernália de maleitas vindas do continente europeu por via dessa troca.

Podemos encontrar o beijo representado e apresentado nas diferentes formas de arte, seja na pintura onde o génio da pintura Gustav Klimt deu cartas, como escultura, com Rodin, na literatura com imensos autores de diferentes épocas, na sétima arte e nas redes sociais. Pelo que investiguei o beijo propaga-se cada vez mais pelo mundo e até já tem um dia próprio. O Dia Internacional do Beijo a 13 de abril de cada ano. O ato de beijar em público é generalizado no mundo ocidental e nos territórios ocidentalizados dos diferentes continentes, mas cerca de dez por cento da humanidade simplesmente não usa o beijo e cerca de vinte e cinco por cento só o faz na esfera privada e íntima. O oriente é a zona do globo onde a prática pública do beijo apenas se encontra nas grandes urbes e mesmo aí, vê-se quase exclusivamente entre casais jovens ou em grupos onde a presença de pessoas de mais idade não se verifica.

Porém, o mais comum, hoje em dia, na cultura ocidental é o beijo ser considerado um gesto de afeição. Entre amigos, é utilizado como cumprimento ou despedida e entre amantes e apaixonados beija-se como prova da paixão, de agrado ou de dedicação. Resta-me desejar uma boa leitura deste ensaio jornalístico e literário, onde se apresentam, numa visão possivelmente esclarecedora, 435 beijos, esperando que este livro possa contribuir para um melhor entendimento cultural e sociológico e uma mais apurada compreensão das afinidades e das consequências desse fenómeno espetacular a que chamamos beijo. Mas passemos ao conteúdo...

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Fico curioso por saber a tua opinião, contudo, escrever sobre os beijos, amiga Berta, é falar de sentimentos, de intimidade, de partilha entre humanos, independentemente do sexo ou da idade, apenas tendo em conta as emoções que os promovem. Fica mais um deles para este adeus, do teu eterno amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Ensaio Sobre O Beijo - O Colecionador de Beijos (Chiado Books) - Introdução - I/II

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Olá Berta,

Como pediste para te enviar todo o preâmbulo do “Ensaio Sobre o Beijo – O Colecionador de Beijos”, editado pela Chiado Books, aqui vai a explicação do Título e a primeira parte da Introdução. Amanhã enviar-te-ei a conclusão da introdução.

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"Título

O Colecionador de Beijos é um ensaio que resulta da análise histórica e social do papel do beijo através dos tempos, desde o berço das civilizações até aos nossos dias. Contudo, sem procurar criar uma cronologia por região, época ou povo, como seria feito no caso de se tratar de uma abordagem iminentemente histórica.

O beijo é fruto, da concretização de um ato que exige sentimentos e sentidos, sendo resultado de um plano biunivocamente traçado. Tem a caraterística singular, se bem que muitas vezes aparente, de transmitir confiança a outro alguém, de demonstrar afeto ou de servir de cumprimento caloroso, quer num qualquer regresso ou chegada, quer num momento de partida ou de despedida mais ou menos breve. Visualmente é representado pelo desenho de uns lábios femininos rubros e semiabertos.

Aliás este esboço é utilizado de maneira corrente nas redes sociais, quer através do próprio desenho, quer pelo uso de um “emoji” que o represente. Escolher o Título de “O Colecionador de Beijos” para o atual ensaio, ilustra, na minha perspetiva, por si só, a importância social do beijo. Afinal, ele até tem um papel curativo, de raiz bem popular. Quantas mães e avós não curaram já os “dói-dóis” das criancinhas a partir de um beijo no lugar afetado ou próximo deste?

Introdução

O Colecionador de Beijos, ensaio jornalístico e literário, de matriz sociológica, do ato de bem beijar, procura a vertente sociológica e cultural, não perdendo as raízes históricas e a composição literária e humanista do beijo. Não é, porém, um ensaio académico de base científica porque, objetivamente, nunca o poderia ser. Por mais que se tente não se consegue sintetizar ou analisar, o beijo, nem mesmo o ato de beijar, isoladamente, sem ter em conta toda a imensidão de afetos, respostas sensitivas e sensoriais que o rodeiam e influenciam.

O beijo é um produto composto e, embora se apresente com uma identidade singular, muita tinta precisa de correr para que ele se realize numa das suas tão variadas formas e feitios. Diferente seria se estivesse a escrever um ensaio sobre a introdução sociológica do papel higiénico na sociedade portuguesa. Aí sim, teríamos à mão um produto final que poderia ser analisado de um modo bem mais académico, sistematizado cientificamente e enquadrado com razoáveis limites de precisão em termos históricos, sociológicos e culturais, fosse ou não a analise ensaísta literária e jornalística.

Mas não é esse o caso aqui. Nem poderia ser, derivado da imensa complexidade que o mais simples beijo exige. Por isso, este ensaio, é declaradamente um ensaio jornalístico e literário de análise sociológica, humanista e cultural. Pode-se até incluir uma lufada sistematizada de psicologia e inteligência emocional, mas não há, no meu entender, maneira de ir mais longe num ensaio que verse esta temática, usando esta abordagem.

A pergunta que esta introdução deixa no ar é a seguinte: É ou não relevante o beijo no contexto do comportamento humano em sociedade? Proponho-me a demonstrar que a resposta é afirmativa sem qualquer margem para erro, mesmo nas sociedades onde o beijo só é praticado na privacidade do lar ou do leito conjugal. Se analisarmos, por exemplo, o Japão tradicional e conservador vamos descobrir que o beijo, não sendo um ato público, continuou determinante portas dentro, no seu papel aglutinador de um determinado par ou no seio de uma família. Só agora, ainda a título de exemplo, é que, no país do Sol Nascente, já 28% dos jovens urbanos se beijam em público e, mesmo assim, só se não se encontram sob o olhar atento dos progenitores. Mas se este já é um comportamento fruto da globalização, dos filmes e das redes sociais, está ainda a léguas de se tornar efetivamente uma conduta tipicamente japonesa.

Tendo iniciado a minha atividade jornalística em 1981, há trinta e oito anos atrás, e tendo conseguido a carteira profissional em 1996, exatamente quinze anos depois do início, conforme a lei da altura o previa e regulamentava, julgo poder afirmar, com segurança, que a realização deste ensaio tem, na experiência acumulada, base suficiente para poder vingar. Ainda para mais que, muitos desses anos, foram passados no âmbito da investigação jornalística, para jornais locais onde o apuramento da verdade dos factos ou dos feitos é muito mais importante do que nos grandes títulos nacionais. Como a minha atividade académica, a nível universitário, se pautou por cerca de 18 anos de estudo interessado, fosse no Curso de Direito em Coimbra, nos Estudos Portugueses, Cultura e Expansão em Faro, na Filosofia no Porto ou na Psicologia Clínica no Polo Universitário de Loulé, julgo poder afirmar ter garantido uma plataforma estrutural suficiente para, conjuntamente com a experiência jornalística, conseguir desenvolver este projeto de forma cabal e conseguida. Porém, a minha convicção não deixa de ser apenas e somente uma mera opinião sobre um tema que me é caro."

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Espero que te esteja a agradar, nem me tinha lembrado que alguém pudesse ter interesse nas motivações e narrativa antecedente aos beijos em si. Fica um deles para despedida, deste teu amigo do costume,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Ensaio Sobre O Beijo - O Colecionador de Beijos (Chiado Books)

Bera 287.jpg

Olá Berta,

Como sabes, no meu blog do Sapo, “plectro” onde escrevo os “Desabafos de um Vagabundo” tenho estado a divulgar alguns dos beijos do “Ensaio Sobre o Beijo – O Colecionador de Beijos”, um livro publicado pela editora Chiado Books já lá vai mais de um ano. Por isso, já que andas a seguir os beijos, vou-te passar o que escrevi sobre o tema:

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“O ensaio jornalístico e literário, de matriz sociológica, do ato de bem beijar versa o tema das relações humanas, através da forma mais pura: o beijo.  Aborda-se aqui a convivência principalmente entre géneros, mas não só. Com efeito, a partilha de um beijo não se pratica apenas na dualidade masculino versus feminino, ela pode também ser encontrada facilmente no seio familiar, ou em relações minoritárias, como as que existem dentro de um mesmo género. A busca visa uma abordagem sistemática dos chamados beijos bons, os positivos, aqueles que contribuem para o bem-estar íntimo entre dois parceiros ou para a harmonia familiar ou, ainda, para a paz social.

O beijo, principalmente nas civilizações ocidentais, é tão remoto como a história das mesmas. Varia de nomes e funções com o correr dos tempos, mas volve sempre à temática da aproximação entre pessoas. Em casos mais arrebatados, até se encontra entre pessoas e os seus animais de estimação. Ou seja, beijar, tende a gerar laços de contiguidade.

No entanto, ao procurar registos escritos e compilados das diferentes formas de beijar dei-me conta da lacuna. Ora, não chegavam, para minha satisfação, os tradicionais beijos, beijocas e beijinhos que encontrei descritos, de forma avulsa, aqui ou ali na literatura, alguns, até, demasiado sucintamente. Nada disso. Nem muito menos me serviam certos beijos soltos que encontrei em blogs, sites e redes sociais. Havia que compilar, recriar e imaginar um completo universo do maravilhoso enleio de beijar enquanto ato íntimo, social, histórico e cultural. Foi isso o que me propus fazer.

Contudo, apenas se versam aqui, por opção e escolha deliberada, os beijos considerados positivos, excluindo-se os beijos de tendências e práticas minoritárias, ou assim consideradas, como os beijos entre masoquistas, os sádicos e os de “bondage”. Também não se referem os adversos, certos beijos religiosos, ou, ainda, os de cariz negativa, como o Beijo de Caca, o Beijo de Merda, o Beijo Cínico, o Beijo de Judas, o Beijo da Morte, o Beijo Político ou o Beijo de Poder entre outros, que não se enquadram no presente perfil deste ensaio jornalístico, sociológico e civilizacional.

Porém, sempre que um beijo possa ser praticado, enquanto ato de bem-estar, entre duas pessoas, embora pertencente a uma outra categoria, e pese o facto de ser mais frequentemente realizado por outras fações, este será referido e incluirá a presente abordagem sociológica.

Não estamos perante uma coletânea, nem a mesma estaria fechada se o fosse, nem ficam aqui esgotados os beijos ditos positivos. Contudo, mais importante, é este constituir de um primeiro passo em senda de uma realidade que nos é tão próxima.

Enquanto abordagem sistemática procurei não fazer juízos de valor sobre cada um dos diferentes beijos encontrados e transferidos para aqui. Porém, foram revestidos da roupagem devida e apropriada. Era imperativo que todos eles tivessem em comum uma mesma linguagem, uma mesma escrita e um mesmo tipo de apresentação. Carregar para um ensaio uma parafernália de beijos sem os sistematizar e lhes dar um estilo próprio e uniforme parecia-me descabido e desprovido do cunho pessoal que pretendia dar a este estudo sobre o tema. Tentei selecionar aqueles que me pareceram diferentes, originais, criativos, apelativos e tradutores do comportamento sociológico em causa.

Num ensaio de raiz eminentemente social achei relevante apresentar a diversidade em desfavor da quantidade. Se, em vez deste tipo de estudo, no qual a minha própria visão sobre o tema se reflete, eu tivesse querido apresentar um dicionário, então os mais de quatro mil beijos encontrados teriam de ser todos apresentados, correndo, ainda assim, o perigo de deixar escapar da colheita, talvez, mais umas centenas largas de beijos. Contudo, essa não era, de todo, a intenção. Os 435 beijos selecionados, resumem, devido à forma como foram escritos por mim, os tais 4.000 de que falei atrás. Até porque existem muitos beijos que mais não são do que sinónimos uns dos outros, sem grandes diferenças que não a das palavras utilizadas por cada autor.

O tema que se explora e problematiza aqui versa a relevância de um agir aparentemente simples, como é o beijo, no convívio diário e continuo das gentes no espaço da sociedade ocidental e, mais recentemente, global, graças ao evoluir tecnológico dos últimos quarenta anos.”

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Com esta narrativa terminada me despeço com um beijo tradicional. Fica bem, minha querida amiga. Saudades deste que nunca te esquece,

Gil Saraiva

 

 

 

 

Carta à Berta: "Os Outros - Tragédia em 4 atos" Parte II - "Migrantes depois de Refugiados"

II Migrantes depois de Refugiados.jpg

Olá Berta,

Como está a ser o teu primeiro dia de 2020? Espero que tudo esteja a correr pelo melhor. A felicidade é a coisa mais importante. Nem importa de onde vem, importa é que se instale, se sinta em casa e que nos acompanhe sempre, em todas as ocasiões. Os dias de folga, são os tais menos bons, mas é normal, até a felicidade precisa de repouso,

Segue, a segunda parte do poema que comecei ontem, ainda no ano passado. Espero que te agrade:

 

"OS OUTROS - TRAGÉDIA EM QUATRO ATOS"

 

                           II

" MIGRANTES DEPOIS DE REFUGIADOS"

 

Entre bombas, escombros, sangue e tripas,

Foge quem pode porque a guerra é cega,

Não vê mulheres nem crianças,

Não vê nada nem ninguém.

 

A música virou ruído e o ruído trovão;

O povo não quer Bashar al-Assad nem o Estado Islâmico,

Quer uma Síria de paz dizem os sírios,

Quer um Estado Curdo gritam os oprimidos,

Mas o Estado é surdo seja islâmico ou não.

 

A guerra veste de santa, clama justiça

E todos se dizem senhores da razão e da verdade,

Mas ninguém dá ouvidos a ninguém;

Morrem civis aos milhares, gente de carne e osso,

Sem limite de idade, de género, de etnia ou de religião,

Morrem porque estavam ali, no local errado,

Na hora errada, apenas e mais nada.

 

Perante a atrocidade dá-se a debandada

E o povo foge, procura refúgio

Nos países mais perto, mas é enlatado

Em campos de fome e aperto,

Sem condições são refugiados que parecem presos,

Tratados a monte na beira da vida…

 

E honrosas exceções não fazem a regra,

Nem estancam a ferida aberta pela guerra.

 

Só de Kobane, de Ain al-Arab, da fonte dos árabes,

Centenas, milhares, quase meio milhão,

Fugiu, deixou tudo, que a fonte secou,

Procurando o direito a não morrer,

Sem explicação ou sentido,

Com os filhos pela mão vazia de pão…

Chegados à Turquia, interesseira, vizinha,

São refugiados, amontoados, e serão tratados de qualquer maneira,

Sem dignidade, consideração ou sentimento …

E às portas da Europa, qual El Dourado,

Viraram migrantes, na busca de luz, de vida, de paz.

 

Pois é minha querida amiga. Infelizmente não é só no Curdistão que o fenómeno tem praça assente, mas em tanto lado. Não há sequer um fim à vista para esta tragédia humana, para este flagelo entre povos que apenas querem viver em paz.

Despeço-me com o costumeiro beijo, esperando que te continues a dar bem aí pelo Algarve. Desejo-te muita felicidade, este teu amigo de agora e sempre,

 

Gil Saraiva

 

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