Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Carta à Berta nº. 379: Valência - Terra dos Valentes

Berta 357.jpg Olá Berta,


Valência, é, nominalmente, a terra dos valentes de Edeta, dos que têm força, coragem e determinação. Edeta, que mais tarde se viria a chamar de Líria, emprestou a denominação do seu povo aos valencianos a quem os romanos chamavam de Valentia Edetanorum os seja a terra dos fortes, corajosos e determinados edetanos, possuidores de uma valentia assinalável. A cidade de Valência foi fundada pelos romanos no ano 138 a.C. Ou seja, Valência tem atualmente 2.162 anos de idade.


Quando há 4 anos te escrevi esta crónica ia falar-te dos diferentes parques temáticos existentes na comunidade valenciana, mas hoje isso não faz qualquer sentido. Porém, se analisarmos os tempos correntes temos, isso sim, que nos debruçar na temática das alterações climáticas e nos seus efeitos no seio da comunidade valenciana.


225 mortos! Uma tragédia provocada pelas chuvas e pelas inundações que se lhe seguiram. Ora, os dados indicam que 217 pessoas morreram na Comunidade Valenciana, sete em Castilla-La Mancha e uma na Andaluzia. Assim sendo, foram efetuadas 225 autópsias (oito pessoas morreram de causas não relacionadas com a catástrofe) e 217 foram totalmente identificadas, ou seja, morreram de causas relacionadas com a catástrofe.

 

Ainda segundo a atualização do governo espanhol, 209 corpos já foram entregues às suas famílias e 14 pessoas continuam desaparecidas. As Forças Armadas realizaram 1.783 missões e, entre outras tarefas, está a ser prestado apoio ao reconhecimento de gases tóxicos nos coletores da rede de esgotos, tendo sido inspecionadas 617 garagens e caves.


A população foi afetada pelas inundações causadas pela tempestade (conhecida localmente como DANA, ou seja, uma “depressão isolada em níveis altos”). O sistema de tempestades que afeta Espanha é causado por ar quente que colide com ar frio estagnado e forma poderosas nuvens de chuva. Uma verdadeira danação, diria eu.


Nestes últimos dias verificou-se uma diminuição acentuada dos pedidos de apoio por parte das localidades afetadas, de referi que 46 destas 72 localidades não solicitaram qualquer apoio, segundo os dados das últimas atualizações.


Só nas últimas 24 horas foram distribuídos 1.200 quilogramas de alimentos, 13.300 litros de água engarrafada e 11.000 quilogramas de produtos de higiene. Já em termos de infraestruturas, entre outros dados, foram recuperados até ao momento 148 quilómetros das 160 estradas estatais afetadas e foram removidos para pontos autorizados um total de 1.290 veículos.


Mas não é da situação atual que a população se queixa, o que as revoltou foi a falta de um alerta para a situação, a tempo e horas, e a demora na prestação de auxílio por parte das autoridades regionais e nacionais. As autoridades da região levaram imenso tempo a reconhecer a dimensão da tragédia e a autorizar a intervenção das autoridades nacionais. Tudo isto levou a tragédia a situações de desespero e à revolta das populações atingidas.


Aos locais valeram-lhes os voluntários valencianos, esse povo dos fortes, corajosos e determinados edetanos, possuidores de uma valentia assinalável, que acorrem massivamente para auxiliar as populações em dificuldades. A solidariedade não espera pelos políticos nem pelos fala-baratos de promessas mansas e quantas vezes falsas.


Pois é Berta, assistimos a uma tragédia sem igual, numa luta desumana em que centenas de pessoas morreram nas suas casas afogadas pela enchente do rio Túria que lhes invadiu as casas de água e lama até ao teto. Tivessem as autoridades agido atempadamente e provavelmente a tragédia seria bem menos impactante e grave. Fica de lição para um futuro que se espera que não se volte a repetir, despeço-me com um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 119: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 5) Violência Doméstica

Berta 98.jpg

Olá Berta,

Hoje estou bem mais calmo. Já me passou a neura benfiquista. Por outro lado, este país continua, admiravelmente, a escapar, por entre os pingos da chuva, como se não fosse nada com ele, às maleitas do nosso mundo. Só mesmo por milagre é que se justifica ainda não termos infetados com o coronavírus, em Portugal. Basta pensar que só a região de Lisboa tem, por dia, em média, mais de 1200 novos turistas chineses. Ora, este número tão expressivo deveria constituir uma verdadeira ameaça no que concerne à propagação do vírus, mas não. Cá continuamos nós, alérgicos ao coronavírus, sem que a maleita nos invada a todo o gás.

Só de pensar no caos que é o aeroporto de Lisboa, me dão arrepios espinha abaixo se, valha-nos Nossa Senhora de Fátima (dirão os católicos), a pandemia chegar até ao nosso amado burgo. Por muito alerta que exista por parte das autoridades de saúde, uma chegada do vírus, via aeroporto, dificilmente seria travada e contida em tempo útil. Porquê? Porque simplesmente não existem condições. Em termos de ranking ocidental estamos em primeiro lugar e em terceiro, na lista dos piores aeroportos.

Acho que o que nos tem valido são as despistagens feitas nas partidas dos passageiros, principalmente os chineses, que para cá se deslocam.

Considero, muito sinceramente, que estamos perante uma bomba relógio. Ainda não aconteceu cá chegar um caso daqueles em que o vírus, na fase de incubação, não é detetado na origem, à saída. Quanto tempo durará essa sorte? Terá a Nossa Senhora mudado de poiso para os nossos aeroportos? Não vejo outra explicação e nem sequer sou crente.

Bem, pondo isso de lado e falando do teu desafio. O próximo assunto que escolheste para as quadras sujeitas a tema está mesmo na ordem do dia. Eu, não só consegui fazer a quadra, como tenho a certeza que se, as penas aplicadas aos prevaricadores pelos juízes, seguissem o meu conselho, quase que deixaríamos de ter violência doméstica em Portugal.

Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 5) Violência Doméstica.

 

Violência Doméstica

 

Não devia ter casado.

Quem, na mulher, bate, em casa,

Talvez se fosse castrado,

Perdesse força na asa…

 

Gil Saraiva

 

Com mais este desafio superado me despeço, deixo-te um beijo saudoso e amigo, como sempre é meu hábito quando te digo até à próxima, o mesmo de sempre,

Gil Saraiva

Carta à Berta nº. 98. Lisboa, Capital Verde Europeia 2020

lisboa-capital-verde-2020.jpg

Olá Berta,

Em 2004, um ano que já lá vai, perdido na memória da primeira década do século XXI, era eu editor e jornalista do boletim oficial “TerrAzul”, da Associação da Bandeira Azul da Europa, escrevi uma série de eco crónicas para o semanário Expresso. São elas a base de algumas reflexões que, passados estes anos, e já sem o fervor ambientalista de então, acho relevante analisar agora. Não me vou dedicar aos artigos em si, mas ao evoluir das problemáticas então apresentadas. Espero que te agrade.

A vida é uma teia complexa de eventos que interligam de forma, mais ou menos perfeita, factos, atitudes e comportamentos. No final do segundo milénio a preocupação com o ambiente era crescente e ganhava adeptos, mais ou menos ferrenhos, em quase todas as frentes. Nasceram os partidos ditos ecologistas, desenvolveram-se as associações ligadas à defesa do ambiente. As sementes estavam lançadas. Era agora necessário cuidá-las.

A sociedade civil e os senhores do poder em todo o mundo foram, aos poucos, cedendo à necessidade: Era imperativo tomar medidas! Finalmente, na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como a Cimeira da Terra ou ECO92 ou RIO92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, geram-se, entre outros, 2 documentos basilares: A Agenda 21 e a Agenda 21 Local.

 O conceito de “Desenvolvimento Sustentável” amplamente difundido na ECO92 possuía, por fim, amiga Berta, instrumentos e conceitos operacionais para uma aplicação eficaz e efetiva de políticas para ele direcionadas. Estavam inventadas as fórmulas de referência para a construção de um plano de ação a ser desenvolvido global, nacional e localmente, quer pelas organizações do sistema das Nações Unidas, quer pelos Governos e Autoridades Locais.

Mas onde? Onde aplicar semelhante plano? A resposta é por demais evidente, minha querida amiga: Em todas as áreas onde a atividade humana provoca impactos ambientais desfavoráveis.

É desde o RIO92 que quase duas centenas de países passam a considerar o “desenvolvimento sustentável” como elemento efetivo da sua estratégica política conjugando ambiente, economia e aspetos sociais.

A primeira Conferência das Partes (COP1 - Conferência das Partes designada também por Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) ocorreu em 1995 na cidade de Berlim e nela foi firmado o Mandato de Berlim, no qual os países do Anexo I assumiram maiores compromissos com a estabilização da concentração de GEE ( a Emissão de Gases com Efeito de Estufa), por meio de políticas e medidas ou de metas quantitativas de redução de emissões.

Um salto significativo foi dado depois pelo Protocolo de Quioto em 1997, onde uma série de metas ficaram definitivamente estabelecidas e acordadas. Já no atual milénio, em setembro de 2002, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, reafirmou, inequivocamente, o imperativo de plena implementação da Agenda 21, entre outros documentos essenciais.

A Agenda 21, minha amiga, que se traduz na criação de objetivos e indicadores que possam aferir progressos e estabelecer metas a atingir para um desenvolvimento sustentável, tornou-se a ferramenta ideal para a aplicação de medidas e premeditação de objetivos no que ao ambiente dizia respeito.

Portugal (e é o nosso caso que nos importa mais diretamente, embora esteja globalmente inserido na estratégia mundial) tem, em termos de legislação ambiental, uma posição relevante na salvaguarda do Planeta. O nosso único problema é que parece que nos ficamos pelo papel, pela palavra escrita, pela promessa assinada.

As medidas tardam a ser implementadas e algumas das que florescem parecem temer ser coladas a adjetivos como “fundamentalista” ou “pseudo-qualquer-coisa”, mas nem tudo se perde e, aos poucos, lá vamos encontrando o traçado correto, pois temos os instrumentos para ir e chegar bem mais longe...

Começámos tão bem, nestes anos de definição de estratégias que temos de ir em frente, nem que seja… por um “desenvolvimento sustentável”.

Estes 2 últimos parágrafos servem para vermos como a passagem dos textos aos atos é enganadora. Portugal, que implementou entre 1992 e 2004 um excelente conjunto de medidas na legislação, passou os 15 anos seguintes a assobiar para o lado, a ver a banda passar. É certo que houve alguma evolução positiva, mas as centrais a carvão não deixaram de funcionar. As energias alternativas foram subsidiadas quase exclusivamente numa perspetiva muito mais económica do que sustentável e a meada ainda teria muito fio se lhe resolvêssemos pegar seriamente. Tudo correu de tal forma que, a dada altura, nós, que partimos na carruagem da frente da defesa do ambiente, perdemos literalmente o nosso lugar no comboio.

Apenas em 2019 a coisa voltou a ser importante para o país e a tomar uma relevância, muito por força de novos movimentos e partidos, pelas eleições legislativas, pelo Acordo de Paris em 2015, pelas COP seguintes e depois pela Cimeira do Clima em Madrid,  convocada pelo Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, para coincidir com a COP25 e dela tirar um proveito sustentável com a aprovação de novas medidas e metas a alcançar para o equilíbrio climático, envolvendo, praticamente, todos os países.

Infelizmente, Berta, graças à Austrália, Estados Unidos e Brasil, seguidos da Índia, China e Rússia, num patamar abaixo, tudo volta a ficar adiado, uma vez mais, para a COP26. O caso australiano, então, é perfeitamente surpreendente e absurdo, se tivermos em linha de conta que o estado de calamidade que o país atravessa é, quase na totalidade, devido aos incêndios, fruto das próprias alterações climáticas, que geram tempestades secas, repletas de raios, que vão gerando o caos, à medida que provocam incêndios, que alteram o comportamento dos ventos, que, que, que… numa reação em cadeia sem fim à vista.

Mais grave ainda é sabermos que estes 6 países são os produtores diretos de mais de 50 por cento das emissões produzidas no planeta, e que, por isso mesmo, são diretamente responsáveis pelo agravamento do problema, que continua sem solução à vista. Durante este ano resta-nos seguir com a União Europeia o caminho da Sustentabilidade. A UE resolveu continuar o seu trajeto, independentemente dos outros parceiros mundiais o fazerem ou não. É por causa disso que Lisboa é, a partir de ontem, a Capital Verde Europeia 2020, com obrigação de plantar, este ano, 20 mil árvores, entre outros objetivos.

Este, minha querida amiga, é o atual ponto de situação, esperemos que os anos 20, agora iniciados, sejam mais auspiciosos para todos nós. Despeço-me com um beijo saudoso, este teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub