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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 670: As Coisas de que Eu me Lembro - II...

Berta 670.jpg Olá Berta,

Esta é, minha querida, a segunda carta sobre as coisas de que eu me lembro. Desta vez a história passa-se em 2012. Lembras-te do tempo em que o Governo teve a ideia peregrina de fechar a Maternidade Alfredo da Costa? Pois é, governava Pedro Passos Coelho e o Presidente era Cavaco Silva. Julgo, embora sem certezas neste campo, que a ideia era gerar riqueza, não pelo que na altura se soube na imprensa, mas pelo negócio que se fazia nos bastidores, à porta fechada, longe das luzes da ribalta.

Foi no tempo em que se organizavam manifestações contra o anúncio do Estado de que a MAC (Maternidade Alfredo da Costa) ia fechar que eu tive, através de uma das minhas fontes, que existia um enorme negócio escondido e secreto relacionado com o fecho da MAC. Essa negociação, cara confidente, iria levar cerca de um ano a ser concretizada de acordo com o plano que, à época, me foi revelado.

A ideia peregrina, amiguinha, era composta por diferentes fases. Em primeiro lugar anunciava-se que a MAC estava obsoleta, ultrapassada e que era demasiado caro e complicado requalifica-la. Para isso apareceriam, conforme aconteceu, uns ditos especialistas a opinar sobre o assunto, na comunicação social. Diriam que a MAC tinha sido muito importante, mas que a sua continuidade era impossível devido às dimensões da maternidade e aos custos em causa.

A segunda fase era lançar uma campanha favorável ao fecho das instalações por já não conseguir servir condignamente a população de Lisboa. Falava-se numa poupança anual de 10 milhões de euros. Com efeito, minha amiga, quase o conseguiram. O Governo não contava era com a imensa contestação que a medida apresentada levantou. De todo o lado apareceu gente contra a medida. Afinal, diziam, a MAC era um símbolo de importância relevante para os lisboetas e, em última análise, para o país.

Uma imensidão de personalidades públicas, nascidas na MAC, juntou-se aos contestatários do fecho da maternidade, e a contestação marcou fervorosamente a atualidade não apenas nas televisões e na imprensa escrita, mas em manifestações e protestos furibundos contra o encerramento da velha instituição. As pessoas, Bertinha, não apenas a população em geral, mas um cada vez maior número de personalidades, defendiam a manutenção da MAC custasse e que custasse.

A abertura de mais uma frente, descontente com o Governo, em tempos de Troica, acabaria por ditar o fim da medida, até porque muitos especialistas começavam a pôr em causa a avaliação apresentada pelo Estado sobre a real situação da MAC. Por fim, querida amiga, foi anunciado que a instituição ia continuar aberta e que um novo estudo seria feito para estudar uma futura reabilitação. Se houve uma vitória de que Lisboa se pode orgulhar, em tempos de Troika, foi esta. Nenhuma outra se lhe compara.

Todavia, Berta, eu fiquei a saber, de fonte que julgo ser segura, pois estava envolvida no processo, qual era a fase três, pensada pelo Governo. A ideia era vender a MAC, um ano depois do seu encerramento, a Angola, como forma de rentabilizar e angariar algum capital com uma infraestrutura encerrada e a perder valor. O Estado angolano tinha manifestado interesse na aquisição da Maternidade Alfredo da Costa, para ter na Europa uma maternidade topo de gama para uma parte da sua elite.

Atualmente, minha querida, eu só posso afirmar que tudo isto é alegadamente verdade. Mas já não o posso provar porque a minha fonte faleceu recentemente. Mas fica, de qualquer modo o registo de como politicamente se fazem as coisas. Deixo um beijo de despedida, deste teu amigo de todos os dias, porque vida é assim,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 669: As Coisas de que Eu me Lembro...

Berta 669.jpg Olá Berta,

As coisas de que eu me lembro, minha querida, podiam ajudar a resolver sérios no país em vivemos. No entanto, também sei que nem sempre há interesse em resolver os problemas que Portugal, no seu todo, atravessa. São vários os setores da nossa vida social, política e económica em que, as minhas memórias registam soluções apresentadas a quem de direito e que, embora excelentes, nunca tiveram seguimento por falta de interesse do Estado.

Como na última crónica te falei, cara confidente, de incêndios, vou descrever-te aqui uma dessas coisas que, de forma prática, resolvia 90% do flagelo dos incêndios no nosso território nacional, ilhas incluídas. Não se trata de uma história da carochinha, nem mesmo é fruto da minha imaginação. Nada disso, é uma solução que foi apresentada ao Governo, no passado, por um dos mais prestigiados institutos públicos de Portugal.

Porém, amiguinha, devido ao facto de ter escutado esta solução inadvertidamente, não te posso revelar a que instituto me refiro, nem quem foi a pessoa que apresentou o projeto. Contudo, por sorte ou azar do destino ou da vida, esta matéria chegou aos meus ouvidos por duas vezes. A primeira há quase 30 anos, depois dos terríveis incêndios de 1995, em que a ária ardida foi de quase 190 mil hectares. A segunda em 2013 quando arderam quase 150 mil hectares.

Todavia, foi nesta segunda vez que fiquei a saber que tinham acontecido outras duas tentativas anteriores, em 2003 e 2005, junto do Governo, depois de terem ardido, no somatório desses dois anos, mais de 765 mil hectares. Isto significa, minha querida, que, no mínimo, o instituto contactou o Estado em quatro ocasiões diferentes, mas podem ter sido mais, pois só posso referir o que escutei.

A aplicação das novas tecnologias, Bertinha, também alterou o custo da solução. Se nos anos 90 o valor do sistema rondava os 250 milhões de euros e tinha uma manutenção anual perto dos 30 milhões, em 2013 a mesma operação baixava para 27 milhões com uma manutenção, por ano, nunca superior a 3 milhões de euros. Julgo que atualmente a implantação do projeto fique abaixo dos 20 milhões e a sua manutenção não chegue sequer aos 2 milhões.

Quanto à ideia peregrina da pessoa em causa, defendida pelo dito instituto, o que era preciso fazer para prevenir os fogos era a colocação em todo o território de sensores térmicos, com localização por GPS, em grelha, com uma capacidade para detetar qualquer fogo, do tamanho de uma lareira urbana em qualquer ponto do país e ilhas, no primeiro minuto desde o início da sua ignição. É claro, que me inibo de descrever aqui detalhes técnicos, muitos dos quais desconheço, mas, Berta, posso referir que cada sensor tem a capacidade de vigiar autonomamente vários quilómetros quadrados, só sendo substituídos os poucos que avariassem.

Porque é que vários e sucessivos governos nacionais nunca adotaram este tipo de procedimento, em que a vigilância seria feita numa mera sala de operações da proteção civil, por uma equipa de 3 indivíduos, minha querida, continua a ser um mistério para mim, principalmente, nos dias que correm em que o tempo de vida dos aparelhos, de tamanho reduzido, a caberem na palma da mão, têm uma autonomia de, pelo menos, 20 anos.

E mais não digo, que já muito foi dito, sobre as coisas de que eu me lembro. Despeço-me com um beijo, este teu grande amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

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