Carta à Berta: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 9) O Seu a Seu Dono
Olá Berta,
Hoje estou horrorizado com o que ouvi nas notícias, um padre americano de Rhode Island diz que “ao contrário do aborto a pedofilia não mata”. Em primeiro lugar, muitos pedófilos matam efetivamente as suas vítimas, em segundo lugar, a comparação para defender o não ao aborto é tão descabida e despropositada, que apetece perguntar ao reverendo Richard Bucci, o clérigo que a proferiu, o que é que ele acha que a pedofilia faz:
Será que, como dizia Raúl Solnado na sua paródia sobre a guerra, “não mata, mas desmoraliza muito”? Ou, em alternativa, será que o padre responderia que “o que não mata engorda”? Quando te digo, amiga Berta, que anda tudo louco é porque penso realmente que se perdeu o bom senso. Nos Estados Unidos da América, com o Presidente Donald Trump a dar o exemplo sobre onde consegue chegar a cretinice, talvez não seja para nos admirarmos de ouvir um vigário dizer o que disse.
Pior que tudo é o ar natural como o infeliz padre (para não usar uma expressão mais contundente) proferiu para as câmaras de televisão a afirmação. Falava com uma naturalidade como se estivesse a anunciar as recém-lançadas hóstias sem glúten, recentemente adotadas pela igreja católica e à disposição dos fiéis que as requisitam para a sua comunhão.
Às vezes penso que sou eu que já não consigo acompanhar os sinais do tempo. Mas depois recuo nessa ideia. O que se passa mesmo é que gente estúpida e cretina perdeu a vergonha de lançar bojardas para cima da mesa. Bolsonaro e Trump, entre muitos outros, iniciaram o jogo do vale tudo e quem se lixa continua a ser o mexilhão.
Bem, minha querida amiga, passemos às nossas quadras populares, sujeitas a mote, antes que eu fique com alguma alergia estranha e me julgue infetado, por algum vírus ainda desconhecido da humanidade.
Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 9) O Seu a Seu Dono (entre invejas e cobiças).
O Seu a Seu Dono
Porta-chaves, chaves porta,
No seu anel prateado,
A chave da minha porta,
Não serve na porta ao lado…
Gil Saraiva
E assim termino mais uma carta, não sem antes me despedir com um beijo saudoso, deste que não te esquece e muito estima,
Gil Saraiva