Carta à Berta nº. 655: Feliz Natal e um Maravilhoso Ano Bissexto de 2024
Olá Berta,
A 2 dias do Natal e prestes a entrar no ano bissexto de 2024, a 81 dias de novas eleições legislativas no nosso país, parece-me que está na hora de te desejar um Feliz Natal e um tão maravilhoso quanto possível ano de 2024. Desejos que se estendem não apenas a ti, mas a todos aqueles e aquelas que conheço ou mesmo aos que não sei quem são e que nunca virei a conhecer. No essencial, minha amiga, os meus votos vão para toda a humanidade.
No entanto, por questões de proximidade, os votos mais sentidos são dirigidos a todos quantos têm alguma consideração por mim. Pode parecer incrível, mas não são assim tantos. Contudo, tens de reconhecer, amiguinha, que é normal que a minha homenagem se dirija especialmente àqueles que me respeitam. É uma questão de reciprocidade e de equilíbrio.
Todavia, ainda mais fervorosos são os meus votos para os que gostam de mim e, bem lá no topo das atenções, para os que me amam, sem olhar a género, idade, raça ou religião. Afinal, Berta, são esses que me guardarão na sua memória mesmo quando eu já não andar por cá. É verdade que serão muito poucos, mas as suas memórias perpetuarão a minha existência por mais algum tempo e isso importa, por muito que este tipo de valores esteja fora de moda e se viva atualmente numa sociedade onde apenas existe presente.
É verdade, minha querida, que eu não sou uma pessoa ligada à religião e que acredito tanto no Pai Natal como no Menino Jesus. Só que, mais do que tudo, não são as personagens que aqui são relevantes, o que realmente tem valor é o espírito social, humanitário, solidário e de harmonia que esta época de festas especiais transmite a todos quantos a celebram. Com efeito, a afinidade que sentimos para com os outros está profundamente ligada à própria felicidade e ao que sentimos em cada dia.
Pode parecer-te ridículo, cara amiga, quando eu afirmo que sempre fui uma pessoa feliz. Poderás dizer que é absurdo alguém dizer isto, muito mais depois de ter passado por situações intensamente graves ao longo dos últimos 62 anos. Contudo, apesar disso, é que eu sinto e o que sempre senti, sou um homem de sorte que, durante a vida teve alguns azares. Os azares de um homem de sorte não são o que o desvalorizam, nada disso, dão-lhe experiência, valor e caráter se ele souber tirar partido deles para o futuro.
Continuo a afirmar hoje, como sempre, Bertinha, que sou a pessoa mais feliz que conheço. Se já passei por um coma de 6 meses, se já vivi bem mais do que um ano na condição de sem abrigo, se já tive 9 AVCs, ou se já fui traído por pessoas que eu considerava das mais próximas do meu coração, entre tantas peripécias que a vida me obrigou a viver, o que importa mesmo é o que cresci enquanto indivíduo durante essas experiências menos boas.
Mesmo nesses tempos fui feliz. Porquê? Porque poderia ter sido bem pior. Porque ultrapassei os azares sem deixar que eles me condicionassem e tudo fiz para aprender a tirar o melhor de cada situação. Ora, isso tem sempre de incluir as boas e as más vivências. É nessa dicotomia que nos formamos enquanto gente.
O que realmente importa, doce confidente, é que estou aqui, vivo e feliz, sem remorsos, a viver o meu quotidiano e a pensar que tudo valeu a pena. O que tem mesmo valor é que, nesta época muito especial e festiva, estou aqui a desejar-te um Feliz Natal. Um desejo de Feliz Natal para ti e para todos os que me respeitaram ao longo da vida, aos que me têm nas suas memórias e aos que me guardam nos seus corações, nas suas almas ou nos seus pensamentos.
Até desejo felicidade aos maus das várias fitas da minha vida, se forem felizes, alguma vez, pode ser que melhorem enquanto gente. Para todos e especialmente para ti, Berta, um Feliz Natal e um novo ano de 2024 que vá de encontro os teus sonhos e esperanças. Faz-me a vontade, tu e todos, e sê FELIZ. Deixo um beijo e um abraço profundo,
Gil Saraiva