Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Sei que prometi que era hoje que voltava aos meus pensadores, porém, não me apetece mesmo, já não prometo quando regresso ao Diário Secreto do Senhor da Bruma. Será por certo um dia destes, um dia em que o Sol não me inspire e não me leve noutras direções.
No final desta carta tens alguns endereços do YouTube, podes pô-los a correr enquanto lês esta carta. Afinal, hoje só me apetece falar de amor. Não sei ao certo o que se passa comigo, mas não há como não seguir na corrente, quando ela nos ultrapassa em poder e se qualquer resistência se demonstra como completamente inútil.
Abrir o meu dicionário de sinónimos, da coleção Dicionários Editora, lançado pela Porto Editora, em 1985. Trata-se de um calhamaço de 1.130 páginas. Folhas e folhas repletas de saber, recolhido por quem se dedica anonimamente a auxiliar as almas confusas com o significado das palavras. Os seus autores remontam a 1922, altura da fundação da Tertúlia Edípica, ou seja, o agrupamento dos amigos de Édipo. Procurei a palavra amor e fiquei claramente a entender a complexidade da busca. Diz o livro, na sua página 92 que
Chegado ao fim, mesmo sem querer pôr em causa todo o trabalho de uma Tertúlia que está prestes a celebrar o seu centenário, achei estes sinónimos muito curtos, para a extensão de uma coisa imensa como o amor.
sentidos; sentimentos; sexo; singular; sintonia; sorriso; triunfo; única; veneração; vida e vitória, ou seja, achei que a abrangência dos sinónimos era, no mínimo curta, para não me alargar em demasia.
Certamente que os sinónimos de amor, fossem eles diretos ou figurativos, encontrados pelos elementos da Tertúlia que criou o dicionário não tinham muitos poetas no seu seio.
O amor consegue ser, inequivocamente, o sentimento mais forte da humanidade, não encontrando rival em termos de variedade de sentimentos e sentidos que desperta.
Nunca deixes de amar minha querida amiga. O amor não tem preço, dimensão ou tempo. Quem nunca amou na vida pouco viveu, recebe um beijo deste que não te esquece,
Hoje é dia de abandonar a minha teoria do Universo e da Humanidade para falar um pouco mais de mim. Afinal, mesmo que faças uma ideia, não me parece mal explicar-te quem sou e porque sou como sou. Não só é honesto, como acho que a franqueza é uma qualidade e não um defeito. Voltamos, pois, a estas Confissões em Português, sem mais delongas:
Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte IX
“Depois deste intervalo, de mais página menos página, está na altura de regressarmos aos temas em aberto. Ora, uma vez que se trata de deixar registadas algumas confissões, e que é sobre elas que se desenrola agora a ação, importa repor a conversa nos carris que lhe são devidos.
Concentro-me imediatamente na educação. Eu sou o último filho de pais que, quando me tiveram, já tinham mais idade para avós do que para progenitores diretos. Não é que com isso me tenham educado mal. Nada disso. Mas a atenção que eu deveria ter exigido, em circunstâncias normais, acabou por não ser a que efetivamente recebi, face aos condicionalismos da sua idade mais avançada, dos compromissos já assumidos na educação dos quatro filhos anteriores, das agendas sobrelotadas, pelo esforço de não deixarem que nada faltasse em casa, dos meus progenitores. Enfim, eles fizeram o que puderam, e como se costuma dizer, a mais não são obrigados.
Mas foi preciso chegar à idade adulta, e mesmo assim só depois de eu próprio ter atingido os quarenta anos de idade, para entender plenamente que não tinha sido um filho menos querido ou menos amado, apenas existira uma imensa falta de tempo, para que a atenção que me fora dispensada tivesse sido igual à que tinha existido com os outros. Mimalhices de filho mais novo dirás tu. Poderia ser, se não me tivesse afetado tanto em termos de feitio, mas pronto, finalmente perdoei o que pensei ser lógico perdoar e relevei o que não tinha qualquer hipótese de ser de outra maneira face às circunstâncias.
De qualquer forma fiquei muito bem comigo mesmo, por saber que, apesar de não ter sido um filho planeado, mas sim fruto de uma celebração, nunca existiu um gostar menos, fosse porque motivo fosse, apenas e só, para meu azar, menos disponibilidade por força dos contextos da própria vida. Foi um dia muito feliz para mim esse em que enxerguei a minha realidade. E fiquei a ganhar no final. Sou o único dos cinco que sabe o dia em que foi concebido. No meu caso dia 31 de janeiro, dia de anos de namoro de meus pais. Posso não ter sido planeado, mas fui de certeza fruto de muito amor. Isso ninguém me tira.”
Com esta Confissão em Português me despeço, querida amiga, desejando-te um dia feliz, pelo menos do que falta dele. Deixo um beijo de saudade, com o carinho e amizade do costume, deste teu amigo,
Não sei se te lembras, mas ainda na quinta-feira eram 78 os infetados confirmados com o Covid-19. Hoje, sábado são já 169 os casos de infeção no país, mais do dobro. Face a terça-feira, quando os doentes chegaram aos 39, passa o quadruplo e em apenas 4 dias. Eu sei que números são isso mesmo, apenas números, mas, por detrás destes algarismos, está gente como nós.
Haverá certamente uma explicação para este aumento galopante de infetados. Claro que há. Quem não conhece uma, duas ou três pessoas que não fez caso dos alertas? É evidente que todos conhecemos. Todavia, ainda estamos a tempo de acordar. Se nos unirmos nesta luta contra este inimigo fantasma, que não se vê, nem se sente, até já nos ter atacado, pode ser que ainda se vá a tempo.
Unir, estranhamente, significa mantermo-nos afastados, evitarmos o contacto com terceiros, convivermos menos e mantermos um confinamento social, que nada tem a ver connosco, enquanto povo lusitano. Somos mais alegres e mais sociáveis do que alguma vez imaginámos. Temos um presidente de afetos porque somos um povo de afetos. Ainda bem que assim é. Serão precisos muitos afetos quando tudo isto terminar. Até lá, teremos que os manter guardados se queremos vingar enquanto nação. Para além disso, precisamos de começar a pensar positivo.
É urgente guardarmos junto aos afetos a nossa tendência para dizer mal de qualquer coisa e para criticarmos tudo e todos por tudo e por nada. Se pensar positivo faz falta, que venha ele, o pensar com otimismo. Afinal, dos 169 casos já existem 2 que não estão ativos. É de realçar também que: ainda não se registou nenhuma morte em Portugal. Excelente!
Na verdade, se olharmos para, por exemplo, Hong-Kong já tem 4 mortes com apenas 138 casos e a Argélia com 37 doentes infetados vai no terceiro óbito. Alguma coisa devemos estar a fazer bem. Eu sei que temos 10 pacientes em situações mais graves ou críticas, porém, ainda não perdemos ninguém.
Para além disso somos um povo extremamente solidário e resiliente. Vamos ter todas as oportunidades para provarmos que assim é. A crise, a que acresceu a chegada da Troika, foi forte, abalou o país, contudo, a atual é múltiplas vezes mais grave e profunda. Resistir, acatar, evitar o conflito e o desgaste da má língua, são imposições imperativas para os próximos tempos.
Estamos em Estado de Alerta Nacional, e isso pede de nós que estejamos verdadeiramente alerta. Atentos aos procedimentos de contacto, atentos a quaisquer sintomas, retirados nos nossos lares (aqueles a quem isso for possível), porém, acompanhando ao máximo a informação, que for sendo prestada pelos meios de comunicação social, e prontos a agir, se para tal formos solicitados.
Uma palavra é extremamente importante: Tolerância. Principalmente associada a outra, a Paciência, e auxiliada por mais uma, a Calma. Com estas 3 juntas vamos ser muito difíceis de mandar abaixo. Com elas, iremos evitar o pânico, resistir à adversidade e estarmos atentos, pois nunca se sabe quando até poderemos vir a ajudar, seja lá no que for, se por acaso acontecer.
Não me vou alongar muito mais, amiga Berta, precisamos de amor, entendimento e compreensão. Precisamos de todos nós. Afinal, podemos estar isolados, mas nunca estaremos sós. Despeço-me com uma quadra que fiz tem algum tempo, aliás já te a mandei, mas que, à moda de o António Aleixo, vem, agora, na altura certa:
Peço imensa desculpa por ainda não te ter perguntado se tinhas namorado novo. Coisas de que efetivamente me lembro pouco. Não é muito educado, nem mesmo polido não me recordar de coisas tão básicas como estas, mas para mim amigo não tem sexo. Por isso me esqueço das delicadezas que se devem ter para com uma senhora. Resumindo, se tiveres namorado desejo que tenhas passado um bom dia dos namorados, se não tiveres espero que o dia tenha corrido de feição, mesmo sem esse apêndice.
Hoje não me vou pôr com outro tipo de considerações políticas ou sociais. É um dia para curtir e não para falar muito. Ora, quando digo curtir não é preciso ter namorado, basta que exista vontade para saíres e para te divertires um bocado, ao teu gosto, sem te incomodares com mais nada. Só por si, tirar uma noite para se ir beber um copo ou sair com os amigos já é uma coisa excelente.
Fico-me, portanto pela quadra sujeita a tema de hoje, ou seja, o jogo de interesses. Espero que te agrade, embora sendo tu uma dama possas não achar muita graça à pequena sátira que apresento. Contudo, garanto que foi escrita sem maldade, talvez, apenas com uma pequena pitada de malícia, mais nada.
Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 12) Jogo de Interesses.
Jogo de Interesses
No calor das madrugadas,
Chamas-me amor, com paixão,
Mas nas montras decoradas
Chamas-me amor, sem razão…
Gil Saraiva
Por hoje já chega que não é dia de cartas, mas sim de namorados, despeço-me com o costumeiro beijo, sempre saudoso,
Espero que o dia te esteja a correr de feição. Pelo que li nas notícias o clima tem estado favorável e ameno em quase todo o país. Até o vento virou brisa, que sopra apenas para pentear as árvores, as que mantêm a folhagem o ano inteiro, como se as quisesse compensar das maldades dos últimos 15 dias em que andou depressivo.
Pelo que me disseste, ao telefone, queres aproveitar estes meus momentos de boa disposição, de maior sensibilidade e de mais alegria, para saberes o que eu penso sobre o amor. Ora bem, minha amiga, não sou de grandes teorias nesse campo, aliás, prefiro sem qualquer dúvida dar provas dele, quando tal se mostra necessário, do que me pôr com majestosas dissertações sobre o tema. A outra alternativa que uso, na aproximação a este tópico, é a poesia.
Contudo, não sou pessoa de virar costas aos desafios, ou de mudar de assunto sem dizer o que penso e avançar com uma opinião porque, quando me pedem uma abordagem sobre algo, é por realmente haver curiosidade em saber o que eu penso sobre esta ou outra problemática, qualquer que ela possa ser. No caso concreto, eu até tenho uma teoria bem definida e sou dos que pensam que os géneros feminino e masculino têm diferentes formas de atingir esse sentimento. Porém, embora seja um processo em constante evolução, não deixa de ser a minha Teoria do Amor.
TEORIA DO AMOR
Parte I – AS ALMAS GÉMEAS
A) Noção. Objetivo. Quantidade. Busca. Caminhos. Alvos.
1) Noção: o que é uma alma gémea e quantas existem? Segundo a minha teoria, que contraria o pensamento corrente de que: para cada pessoa apenas existe uma outra que, se descoberta atempadamente, pode ser a sua alma gémea, eu penso exatamente o oposto. Vamos por partes.
2) Objetivo: uma alma gémea é aquela pessoa com a qual podemos partilhar uma existência, em total harmonia, sentindo-nos envoltos numa espécie de casulo de perfeita simbiose e entendimento.
3)Quantidade: Cada ser humano tem no mundo cerca de 155 mil e 62 almas gémeas possíveis. Mas este não é um número para se reter.
a) Busca: com efeito, há que ter em conta o universo de cada um, a área geográfica que se cobre durante a vida e os fatores externos.
b) Caminhos: dou-te uns exemplos: as diferentes histórias locais, regionais e nacionais, os fatores culturais, políticos, religiosos, sociais, sociológicos, antropológicos e mais o facto de a disparidade de idades entre 2 almas gémeas só excecionalmente ultrapassar os 20 anos de diferença entre elas, faz com que a quantidade de almas gémeas possíveis de entrar seja, de facto bastante mais reduzido.
4. Alvos: tudo contabilizado, e escuso-me de te aborrecer com os algoritmos usados, permite-me concluir que apenas temos 10 almas gémeas durante a nossa vida para descobrir.
B) Para que servem?
1) Exemplos: nada melhor do que exemplificar para se explicar esta questão: Cada parafuso tem um tipo de porca que lhe serve na perfeição. Quando me refiro a um “tipo” não estou a dizer que é apenas uma, podem ser várias. No caso das almas gémeas estas são anilhas de rosca dificílimas de encontrar.
2) Resultado: quando se encontram, rosca e parafuso, formam um par funcional perfeito, na compreensão, no carinho, no respeito mútuo, na solidariedade e mais importante que tudo, no amor que sentem de forma mútua e absoluta.
C) O que é o Amor na perspetiva das Almas Gémeas?
O Amor é o conjunto de vivências partilhadas por 2 almas gémeas, desde o momento em que se encontram pela primeira vez até que se separem. Se forem almas gémeas puras a separação apenas acontece com o falecimento de uma das 2.
D) Como se distingue uma alma gémea pura de uma impura?
1) Alma Gémea Pura: aquela que só se separa do seu par única e exclusivamente se este morrer.
2) Alma Gémea Impura: trata-se de uma falsa alma gémea. Muitas vezes o par confunde atração, arrebatamento, paixão, frenesim, entusiasmo, até sexo, com a compatibilidade absoluta entre 2 almas gémeas. Mas, ao fim e ao cabo, no final descobrem (uma delas ou ambas), que tudo não passou de um enorme erro de casting e nada mais.
Gostaste, Berta? Esta é a primeira parte da minha teoria do amor. A que explica as almas gémeas em si mesmas. Quantas há, quais as hipóteses de se encontrarem e o que é preciso para que tudo resulte. Na carta de amanhã, envio-te a segunda parte da minha teoria. Nessa vou-te responder à questão: o que é o amor? Será uma resposta num sentido bem mais lato que que aqui expliquei. Uma resposta sem pontos nem alíneas, apenas com alguns parágrafos, para que entendas o que penso sobre o tema.
Deixo-te um beijo, saudades e muito carinho, este que não te esquece,
Espero que esta véspera natalícia em que te escrevo esteja a passar, por esses lados, de acordo com os teus desejos e votos. Eu por cá mantenho a tradição. Uma ceia à maneira, muita televisão esta noite e é provável que vá à Missa do Galo.
Como sabes não sou praticante de religião alguma, mas, contudo, fui criado no seio de uma família católica bem tradicional e, este ato religioso noturno, traz-me sempre à memória a minha mãe. O fervor com que ela, nessa missa, pedia proteção para os seus durante todo o ano que se adivinhava, é algo que jamais vou esquecer. Ora, não me perguntes porquê, mas quando repito a minha presença nessa cerimónia, sinto-a perto, muito perto, com aquela convicção inabalável de que Deus velaria pelos seus, conforme pedido expresso.
Acontece-me o mesmo quando assisto, pela RTP ao Natal dos Hospitais. A primeira transmissão do programa mais antigo da RTP começou em 1958, ainda eu não era sonhado pelos meus progenitores, porém, segundo o que a minha mãe me contava uma dezena de anos mais tarde (no ano em que entrei para a escola primária 2 meses antes), desde que nasci assisti a todos os programas do Natal dos Hospitais, tivesse eu consciência disso ou não. Ou seja, já vejo esta transmissão há 58 anos. Uma barbaridade de tempo.
Nunca falhei um, embora, nos últimos anos, tenha optado por ver através das gravações automáticas da box da Meo, porque isso me permite só assistir ao que me interessa e nada mais.
Mas assisto com o mesmo sentido místico com que vou à Missa do Galo: o sentimento de proximidade que tenho com os meus pais, que já partiram faz longos anos. Durante a transmissão é como se ambos estivessem ali, o meu pai deitado no sofá maior da casa, com um cálice de vinho do Porto por perto, e a minha mãe, logo ao seu lado, sentada, de lágrima no canto do olho, sempre que alguma ternura lhe chegava do televisor.
São os meus pequenos momentos de romântico e saudosista. Eu, que nem me entendia muito bem com ambos os meus progenitores, recordo-os, nestes dias, com um carinho e um amor que não me lembro de sentir enquanto viveram. Achas isto normal? Ou será coisa de poeta de cabeça enfiada no baú dos sentimentos e das essências? Enfim, nem me importa o que seja, apenas que valorizo, com um imenso prazer, o profundo significado que estas recordações têm para mim.
Lembrei-me do Natal dos Hospitais, que foi transmitido há dias atrás, precisamente por me fazer o mesmo efeito que a Missa do Galo. São os 2 grandes acontecimentos que me trazem uma estranha nostalgia da família reunida e feliz.
Em resumo, hoje, à meia-noite, lá vou eu mais uma vez à Missa. Estou a sorrir, minha querida amiga, porque afinal vou rever mais uma vez toda a família. Não sei o que o Natal faz com as outras pessoas, mas, para mim, tem estes 2 pequenos momentos de conforto, de bem-estar e de felicidade genuína. É isso que importa. Por momentos revejo pais, irmãos, primos, tios, gente que já não está presente nas margens do meu quotidiano e, por breves instantes, convivemos todos, harmoniosamente, em família, a alegria de uns sorrisos ou de uma troca de olhares.
Viva o Natal dos Hospitais. Viva a Missa do Galo. Desta vez, tu, que só por uma vez me acompanhaste numa destas missas, também lá estarás a rir-te da minha cara embevecida com as memórias de uma coisa a que não posso chamar outro nome que não amor.
Despeço-me saudoso com um beijo, este teu amigo de sempre, com votos de festas felizes,