Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Espero que esta carta de encontre bem depois do teu longo cruzeiro à volta do mundo. Se nos escrevêssemos por correio eletrónico não teríamos estado tanto tempo sem desabafar, mas, como ambos decidimos manter a tradição, estas coisas acontecem. Aproveito o teu regresso para te avisar sobre essa terrível espécie invasora que ameaça invadir o país de uma forma avassaladora já no próximo ano.
O animal, amiguinha, apareceu em Portugal em 2007 e logo aí gerou a extinção de uma outra espécie que, devido à forte implementação deste novo bicho, desapareceu por completo. Dizia-se na altura que era normal, que estava de acordo com a Teoria da Evolução das Espécies, com os escritos de Darwin e que pouco havia a fazer.
Afinal, era a lei do mais forte a substituir e a aniquilar o mais fraco. Dizia-se à época, Bertinha, que o bicho aparecera devido às alterações climáticas e que era uma consequência das mesmas, absolutamente inevitável. Rapidamente, qual praga, num só ano, alastrou pelo país qual réstia de fogo que se propaga em palheiro.
Os custos consequentes provocados à população nacional rapidamente se fizeram notar, não eram muitos os que conseguiam ficar imunes às despesas provocadas pelo animal. Porém, Berta, só aqueles que conseguiam abater a espécie de que o monstro se alimentava se viram livres dele.
O bicharoco, amiguinha, não é tão nocivo como um seu parente, bem mais antigo, que foi detetado em França pela primeira vez em abril de 1954 e que rapidamente invadiu o mundo, tornando-se numa das piores pragas da civilização e que hoje é considerado impossível de erradicar, porém, o animal de que falo, tem evoluído muito rapidamente,
O predador, minha querida, tem vindo a mudar de hábitos ao longo destes 16 anos. No início atacava mais afincadamente e de preferência, provocando mais danos, as mais fortes criaturas domésticas de que se alimentava, com especial incidência nas mais novas e tenrinhas, acabadas de nascer. Mas em 2024 a praga promete devorar as vítimas mais velhas e fracas, com pior voracidade do que o que faz com as mais novinhas. Para o ano, ou os donos abatem previamente os animais de que o predador se alimenta ou ele ataca todos os que vê pela frente, sem ter qualquer piedade pelos mais idosos e menos resistentes, onde ameaça ser fatal.
O bicharoco francês de que te falei há pouco, minha amiga, é conhecido em Portugal pelo nome de IVA e está em toda a parte, atacando tudo o que vê pela frente. Já o animal que apareceu no país em 2007, dá pelo nome de IUC, e só ataca veículos foi ele que extinguiu o ISV. Agora promete devorar avidamente os mais velhinhos e pode vir a causar uma extinção em massa de muitas das relíquias de um passado ainda não muito antigo. Tudo para fazer face, dizem eles, às alterações climáticas.
E é assim, amiga Berta que, por hoje, me despeço de ti. Tem cuidado com os bichos papões e troca de carro que o teu é uma relíquia de 1984, senão o IUC vai dar cabo dele e das tuas finanças. Deixo um beijo muito saudoso,
Quanto há 4 anos escrevi a carta a falar-te que o Gelo no Ártico tinha atingido neste verão o segundo nível mais baixo desde que há registo foi pena que acabou por ser uma das cartas que não te enviei. Hoje, portanto, aqui vai a devida atualização. Sabias que o Ártico pode mesmo ficar sem gelo, sabias?
É verdade, e até é o mais provável mesmo e já daqui a dois anos e meio, ou seja, pode acontecer já em 2027. Isto porque o Ártico está à beira de um marco ambiental crítico que, segundo os cientistas, poderá acontecer já em 2027. De acordo com um novo e profundo estudo, a região poderá registar o seu primeiro dia de verão sem gelo dentro de dois anos e meio. Mas como é que algo assim é possível?
Bem, este ano, amiga Berta, a cobertura mínima de gelo marinho no Ártico, de apenas 2,65 milhões de quilómetros quadrados, é significativamente inferior à média de 4,25 milhões de quilómetros quadrados registada entre 1979 e 1992. Porém, para poderem fazer cálculos sérios, os investigadores fizeram 300 simulações informáticas para prever o futuro do Ártico. A maioria destes cenários prevê que o primeiro dia de verão sem gelo ocorra entre 2032 e 2043, mas, todavia, nove deles sugerem que tal poderá acontecer já em 2027. É a famosa Lei de Murphy em ação. Quando uma coisa corre mal, tudo corre mal.
Citada pelo Daily Mail, Céline Heuzé, da Universidade de Gotemburgo, sublinha que o primeiro dia sem gelo no Ártico marcaria uma mudança fundamental, fazendo com que o Oceano Ártico deixasse de ser uma região coberta de gelo e neve, enquanto refletores originais de luz e passasse a ser dominado pela água escura, quase negra do oceano.
Ora, é aqui que a porca torce o rabo, porque esta mudança levaria a que o oceano absorvesse mais calor solar, exacerbando o aquecimento global e dificultando a reforma do gelo marinho nos anos seguintes. Sim, porque a perda de gelo no Ártico também deverá perturbar os padrões climáticos globais.
Aliás, os estudos sugerem que o fim do gelo no ártico poderá conduzir a fenómenos meteorológicos mais extremos, incluindo a invernos muito mais frios no sul da Europa, bem como a ondas de calor no norte da Europa e uma maior frequência de incêndios florestais na Escandinávia.
Mas vamos por partes, por exemplo, em março de 2022, algumas zonas do Ártico registaram temperaturas 10°C superiores à média, uma tendência que continua a suscitar preocupações. Alexandra Jahn, da Universidade do Colorado, outra coautora do estudo que referi no início desta carta, salienta que o desaparecimento do gelo marinho do Ártico é inevitável, prevendo-se meses realisticamente sem qualquer gelo até à década de 2030. No entanto, a especialista sublinha que a redução das emissões de gases com efeito de estufa pode atrasar este resultado e ajudar a atenuar o esperado impacto.
Este mês de outubro foi o segundo mais quente de que há registo, logo seguido por 2023, com as temperaturas médias globais a atingirem uns espantosos 15,25°C. Ora, se tudo acontecer dentro dos padrões previstos e de acordo com o “Serviço Copérnicos para as Alterações Climáticas”, é quase certo que 2024 será o ano mais quente de que há registo, o que é, Berta, um triste record.
Nos últimos 30 anos, a extensão do gelo marinho do Ártico diminuiu 12% por década, e a extensão mínima deste ano foi mesmo das mais baixas de que há registo, mas quando se tenta prever o que pode acontecer o cenário é realmente drástico e dramático. As correntes do Atlântico podem até inverter os seus cursos e isso geraria tremendos fenómenos extremos. Seja como for, só nos resta ter esperança que o fenómeno aconteça apenas por volta do ano 2043 e não já, conforme parecem demonstrar a maioria das simulações informáticas.
É certo que vai acontecer, mas quanto mais tarde isto se passar melhor será para os velhos do Restelo que, como eu, Berta, não desejam ver o mundo num verdadeiro caos tão depressa. Por hoje, fico-me por aqui, deixo um beijo, deste teu velho amigo,
Foi Há 4 anos que te falei de um outubro muito frio em Portugal enquanto a média mundial apontava para que o outubro fosse o quarto mais quente de sempre. Explicava também porque fomos exceção. Mas atualizando a Carta para os dias de hoje, mudo de Hemisfério para te falar da vaga de frio que, este inverno passado atingiu a Patagónia. A vaga foi de tal forma perigosa que os animais morreram congelados durante a invulgar onda de frio extremo na Patagónia.
Esta onda de frio incomum, em julho passado, foi a segunda em três meses na região, mas não altera a tendência de aquecimento global, avisam cientistas. O Inverno no Hemisfério Sul acontece durante o nosso verão no Hemisfério Norte, e as baixas temperaturas são frequentes nessa época na Patagónia e no Cone Sul da América Latina. Este ano, porém, os termómetros chegaram aos -15°C, uma condição meteorológica considerada extrema e incomum. O frio levou os patos a morrerem congelados em lagoas e ovelhas a ficarem presas em pilhas de neve, perfeitamente petrificadas.
Mas, ao fim e ao cabo, qual é a origem do frio extremo na Patagónia? Ora, as baixas temperaturas na Patagónia e no Cone Sul da América Latina (Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e sul do Brasil) devem-se à chegada de ar frio da Antártida. É normal a alta pressão no extremo sul do continente puxar o ar polar para o norte. Isso acontece quando o chamado vórtice polar está fraco, ou seja, o vórtice é uma massa giratória de ar que se forma numa espécie de cinturão de ventos fortes e que mantém o ar frio sobre o Polo Sul.
Segundo as palavras do especialista Raúl Cordero: “A fraqueza incomum do vórtice polar antártico aumenta a probabilidade de que as massas de ar polar escapem para as áreas habitadas do Hemisfério Sul. Em outras palavras, a probabilidade de ondas de frio aumenta.”
Um relatório de evolução climática da direção meteorológica do Chile demostrou, por exemplo, que 2023 foi o ano mais quente registado no país desde 1961 e que há uma tendência de ocorrência de eventos climáticos extremos. “O Chile teve o seu quarto ano consecutivo de temperaturas quentes, com um aumento médio de +0,15°C por década na temperatura média”, diz o documento.
Ora, querida Berta, quer se queira, quer não, a realidade é que o clima está a mudar e mais rápido do que gostaríamos. Se quisermos salvar grande parte das cidades costeiras, como Lisboa, nos próximos tempos vamos ter que inverter este aquecimento ou então construir diques imensos para suster a inevitável subida das águas do atlântico. É tudo uma questão de tempo e não se evita coisa nenhuma sem alterações drásticas de comportamento, aliás, neste ritmo galopante um dia destes o Algarve começará na serra do Caldeirão e Campo de Ourique será uma freguesia à beira rio plantada. Por hoje é tudo, despede-se com um beijo, este teu amigo de sempre,
Continuando onde te deixei ontem, é um facto científico que o metano atmosférico não aumenta sempre na mesma quantidade na atmosfera, uma vez que está constantemente a ser decomposto. Se indagarmos de onde vem o metano? A resposta tem 6 premissas relevantes:
Das atividades humanas; Da criação de gado; Da extração de carvão; Do cultivo de arroz em arrozais; Da extração e o manuseamento de gás natural; E da deposição de resíduos orgânicos em aterros.
Todos estes pontos contribuem com cerca de 65% de todas as emissões de metano. Deste total, a agricultura onde se inclui a pecuária e os arrozais contribuem com 40%, os combustíveis fósseis com 36% e os aterros e as águas residuais com 17%. As emissões de metano dos combustíveis fósseis são atualmente comparáveis às emissões da pecuária. Ou seja, não há motivo para existir uma vaca que ri e, se ri, de que ri a vaca?
Os contribuintes que mais crescem são os aterros sanitários e os combustíveis fósseis, basta que se pense no gás natural que se escapa durante a extração e o processamento dos combustíveis. Porém, o nosso impacto é ainda maior se tivermos em conta as emissões indiretas, como a lixiviação de matéria orgânica para cursos de água e zonas húmidas, e, por fim, a construção de reservatórios e os impactos das alterações climáticas provocadas pelo homem nas zonas húmidas. E não estou a falar de partes do corpo humano o que não passaria de uma brejeirice, mas sim, das zonas húmidas da terra.
Em 2020, as atividades humanas provocaram emissões de 370 a 384 milhões de toneladas de metano. E sim, pode haver muita feijoada, no processo, mas ela, a feijoada, tem apenas culpa numa pequena parte do metano produzido. Caso contrário seria fácil recomendar que andássemos todos de frasquinho sempre que, inadvertidamente, soltássemos um ar da nossa graça.
As restantes emissões provêm de fontes naturais, principalmente da decomposição de matéria vegetal em zonas húmidas, rios, lagos e solos saturados de água: As zonas húmidas tropicais são particularmente grandes emissoras (o que mais uma vez não tem qualquer relação com os humanos e as suas zonas de humidade natural).
Convém realçar que as grandes áreas de permafrost (solo permanentemente congelado) do mundo também produzem metano, mas que, até ao momento, estas taxas são relativamente baixas. No entanto, o descongelamento provocado nessas áreas, por força das alterações climáticas, pode vir a gerar preocupantes libertações de metano.
Dito isto, deixo para a terceira parte, quase que um epílogo do que nos espera no que respeita ao futuro deste assassino silencioso, que continua a fazer vítimas pelo mundo inteiro, com desabamento de terras provenientes de chuvas intensas, resultantes das malditas alterações climáticas, como foi o caso, ontem, no Uganda. E mais não digo, recebe um beijo deste teu velho amigo,
Quando em 2020 te escrevi sobre o assassino silencioso foi apenas uma carta, mas agora, ao voltar ao tema fiquei com matéria para 3. São estas que te vou enviar de seguida, depois me dirás o que pensas sobre o assunto.
Na nossa atmosfera existe um inimigo que está cada vez mais perigoso. Na verdade, já estamos habituados a ouvir falar dele, estou-me a referir ao metano. Por acaso sabias que é 80 vezes mais possante do que o CO₂ e que está a aumentar a um ritmo alucinante? Eu desconhecia por completo. Para o combater foi até criado um Compromisso Global para o Metano, em 2021 e era ousado: tratava-se de reduzir as emissões de metano em 30% até ao final desta década. Mas hoje já sabemos que dificilmente poderá ser alcançado.
Ora, esse tempo seria vital para trabalhar na redução das emissões de dióxido de carbono. Convém lembrar que o Compromisso foi assinado por mais de 150 países.
Para levar a cabo o Compromisso, muitos líderes anunciaram políticas para reduzir o metano. No entanto, mesmo assim, as medições mais recentes mostram que as emissões globais de metano continuam a aumentar rapidamente, ou seja, as concentrações atmosféricas estão agora a um ritmo superior a qualquer outro momento. desde que se iniciaram as leituras globais, há cerca de 40 anos.
São estas as conclusões que foram publicadas na semana passada na “Enviromental Research”, em linha com o Projeto Carbono Global – que envolveu 66 instituições de investigação de todo o mundo. Tratou-se de investigação acompanhou as alterações em todas as principais fontes deste gás com efeito de estufa e que levou à descoberta que os seres humanos são responsáveis por dois terços ou mais de todas as emissões globais.
Pois é, ao que parece, o Metano não dá tréguas. A seguir ao dióxido de carbono, o metano é o segundo gás com efeito de estufa que mais contribui para o aquecimento global provocado pelo homem. O Homem emite menos metano do que dióxido de carbono em termos reais, porém, o metano é muito mais potente.
Aliás, há publicações científicas que relatam que o metano tem um poder de fogo oculto. O metano é e foi muito mais eficaz do que o CO₂, na retenção de calor nas primeiras duas décadas, após atingir a atmosfera. Desde a era pré-industrial, o mundo aqueceu 1,2°C (média dos últimos 10 anos) e, de acordo com os últimos relatórios do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, o metano é responsável por cerca de 0,5°C do aquecimento.
Mas a coisa não fica por aqui, desde o início da década de 2000, o metano tem vindo a aumentar. As emissões de metano provenientes de atividades humanas aumentaram 50-60 milhões de toneladas por ano, nestas duas décadas entre 2000 e 2018-2020 – um aumento de 15-20%. O que é deveras alarmante.
Estamos a falar de um gás que é um assassino silencioso e que, ainda este mês, fez mais de 200 vítimas em Espanha, por força das alterações climáticas. Por hoje fico-me por aqui, amanhã apresento-te a restante argumentação. Despeço-me com um beijo, este teu amigo de sempre,
Valência, é, nominalmente, a terra dos valentes de Edeta, dos que têm força, coragem e determinação. Edeta, que mais tarde se viria a chamar de Líria, emprestou a denominação do seu povo aos valencianos a quem os romanos chamavam de Valentia Edetanorum os seja a terra dos fortes, corajosos e determinados edetanos, possuidores de uma valentia assinalável. A cidade de Valência foi fundada pelos romanos no ano 138 a.C. Ou seja, Valência tem atualmente 2.162 anos de idade.
Quando há 4 anos te escrevi esta crónica ia falar-te dos diferentes parques temáticos existentes na comunidade valenciana, mas hoje isso não faz qualquer sentido. Porém, se analisarmos os tempos correntes temos, isso sim, que nos debruçar na temática das alterações climáticas e nos seus efeitos no seio da comunidade valenciana.
225 mortos! Uma tragédia provocada pelas chuvas e pelas inundações que se lhe seguiram. Ora, os dados indicam que 217 pessoas morreram na Comunidade Valenciana, sete em Castilla-La Mancha e uma na Andaluzia. Assim sendo, foram efetuadas 225 autópsias (oito pessoas morreram de causas não relacionadas com a catástrofe) e 217 foram totalmente identificadas, ou seja, morreram de causas relacionadas com a catástrofe.
Ainda segundo a atualização do governo espanhol, 209 corpos já foram entregues às suas famílias e 14 pessoas continuam desaparecidas. As Forças Armadas realizaram 1.783 missões e, entre outras tarefas, está a ser prestado apoio ao reconhecimento de gases tóxicos nos coletores da rede de esgotos, tendo sido inspecionadas 617 garagens e caves.
A população foi afetada pelas inundações causadas pela tempestade (conhecida localmente como DANA, ou seja, uma “depressão isolada em níveis altos”). O sistema de tempestades que afeta Espanha é causado por ar quente que colide com ar frio estagnado e forma poderosas nuvens de chuva. Uma verdadeira danação, diria eu.
Nestes últimos dias verificou-se uma diminuição acentuada dos pedidos de apoio por parte das localidades afetadas, de referi que 46 destas 72 localidades não solicitaram qualquer apoio, segundo os dados das últimas atualizações.
Só nas últimas 24 horas foram distribuídos 1.200 quilogramas de alimentos, 13.300 litros de água engarrafada e 11.000 quilogramas de produtos de higiene. Já em termos de infraestruturas, entre outros dados, foram recuperados até ao momento 148 quilómetros das 160 estradas estatais afetadas e foram removidos para pontos autorizados um total de 1.290 veículos.
Mas não é da situação atual que a população se queixa, o que as revoltou foi a falta de um alerta para a situação, a tempo e horas, e a demora na prestação de auxílio por parte das autoridades regionais e nacionais. As autoridades da região levaram imenso tempo a reconhecer a dimensão da tragédia e a autorizar a intervenção das autoridades nacionais. Tudo isto levou a tragédia a situações de desespero e à revolta das populações atingidas.
Aos locais valeram-lhes os voluntários valencianos, esse povo dos fortes, corajosos e determinados edetanos, possuidores de uma valentia assinalável, que acorrem massivamente para auxiliar as populações em dificuldades. A solidariedade não espera pelos políticos nem pelos fala-baratos de promessas mansas e quantas vezes falsas.
Pois é Berta, assistimos a uma tragédia sem igual, numa luta desumana em que centenas de pessoas morreram nas suas casas afogadas pela enchente do rio Túria que lhes invadiu as casas de água e lama até ao teto. Tivessem as autoridades agido atempadamente e provavelmente a tragédia seria bem menos impactante e grave. Fica de lição para um futuro que se espera que não se volte a repetir, despeço-me com um beijo,
Espero que esta carta te encontre bem, como aconteceu com as últimas. Nada como viver com saúde, algum dinheiro e em harmonia e paz.
Hoje venho relembrar que a COP25, a conferência de líderes promovida pela ONU sobre a emergência climática, está a chegar ao fim. Esta assembleia, que acabou este final de semana, deveria lançar a esperada declaração de princípios, aquela que poderia ser suficientemente forte para conduzir o planeta ao início de uma caminhada a favor do combate às alterações climáticas.
Contudo, o texto apresentado ontem não convenceu a maioria dos países envolvidos. Tratava-se de uma declaração frouxa, sem grande ambição e sem as desejadas e ansiadas metas, muito, mas muito, aquém de todas as expetativas, para grande tristeza dos ambientalistas.
É certo que um texto assim está sobre a pressão e é resultado das influências de países como a Rússia, a China, a Índia, o Brasil, os Estados Unidos e a Austrália que não parecem convencidos, nem convertidos às questões da emergência. Eles que, conjuntamente, representam quase 70 porcento do problema. Já para não falar dos países asiáticos, responsáveis por 80 porcento da poluição de plásticos existente nos oceanos.
Resta-nos esperar pelo fim do dia. Pode ser que, com alguma diplomacia, alguns destes países ceda o suficiente para que a resposta seja mais firme, mais determinada e mais coerente com as reais necessidades do globo. Afinal, terá de ser apresentada uma nova declaração de princípios, já com algumas propostas concretas. Será que a montanha vai parir um rato ou teremos realmente um caminho novo? Só terminarei esta carta quando a cimeira encerrar. Veremos o que acontece...
Pronto! Terminou a COP25. Agora, acabada que está a cimeira de Madrid, cá vai a minha opinião. A esperança de muito pequena, mas existente, minha querida amiga, passou a desilusão, ansiosa e preocupada, uma vez que a inteligência não prevaleceu.
Aproveito o facto de ainda não ter posto esta carta no correio para te dizer que, finalmente, graças principalmente à Austrália, ao Brasil e aos Estados Unidos da América nem sequer um rato saiu desta cimeira do clima cujos resultados já são conhecidos.
Pior que tudo, os 2 presidentes que tanto insultaram, demonstrando um imenso menosprezo e muita arrogância, pelas posições de Greta Thunberg, tendo o líder brasileiro apelidado a ativista de “pirralha”, fizeram mesmo questão de demonstrar ao que iam.
Assim sendo, não há qualquer fumo branco, luz verde, ou bandeira axadrezada a anunciar uma vontade de realmente travar uma batalha sem tréguas às alterações climáticas. A emergência, ficou-se por uma pulseira verde, e acabou por ser mandada para casa sem que um diagnóstico sério ou um tratamento adequado tivesse sido prescrito.
É a derrota em toda a linha das posições dos ambientalistas do mundo inteiro. Esta COP25 acabou por se tornar numa tragédia mundial e, se ao que parece, o ponto sem retorno estava mesmo à vista, então, se assim for, ele acabou de ser hoje ultrapassado. Para Greta Thunberg é uma derrota ainda maior. A COP25 andou para trás, nem mesmo se ficou pelo que já tinha sido alcançado. A tragédia de Madrid, sob a batuta de um Chile, que se vergou ao poderio dos grandes estados, na responsabilidade que tinha da condução da cimeira, ficará conhecida como o dia em que a Terra foi condenada pelo capital.
Se no futuro esta cimeira vier a ser julgada pelos seus atos e respetivas consequências, não poderão os responsáveis de tal boicote serem acusados e julgados por crimes contra a humanidade? Sendo assim, a direita política vai ficar com um ónus muito grande para explicar ao mundo inteiro. Scott Morrison, o primeiro-ministro australiano, que lidera o governo saído da coligação de centro-direita, Donald Trump, o presidente democrata americano e Jair Bolsonaro, o líder do governo de direita brasileiro, são neste momento os principais réus e responsáveis deste desastre negocial, cujas consequências são ainda imprevisíveis.
Pois é minha amiga, estou sem palavras. Já esperava um resultado fraco e sem grandes avanços, contudo, o que aconteceu foi bem mais do que isso, foi um virar de costas absoluto, com um encolher de ombros brutal, de, como diria Ricardo Araújo Pereira, é “Gente Que Não Sabe Estar”.
Recebe um beijo deste teu grande amigo, que nunca te esquece,
Ontem esqueci-me de te perguntar se sabias que, neste sábado, se celebraram os 30 anos da queda do muro de Berlim. Com toda a certeza que já tomaste conhecimento pelas notícias ontem ou pelas que, ainda hoje, continuam a ser difundidas. Porém, não importa se te estou a informar em primeira mão ou se já tinhas realmente esse conhecimento. O que importa mesmo é o significado da queda do muro, para o mundo e mais especificamente para mim, afinal, o muro foi construído 3 meses antes do meu nascimento.
Porém, quando foi derrubado eu tinha 28 anos e foi um momento verdadeiramente histórico para mim, algo que nunca pensei vir a presenciar. Já aconteceram outras coisas importantes, que ninguém esquece, antes e depois desta, mas, no meu caso, em mais nenhuma vi um filho meu nascer precisamente no mesmo dia, aquando do segundo aniversário do acontecimento. Posso dizer, com alguma certeza, que a queda do muro e o meu sucessor são da mesma geração. Porém, ele já nasceu livre e eu tinha 12 anos quando o Antigo Regime caiu em Portugal. Trinta anos passaram e hoje tem ele os 28 que eu tinha na altura.
Este é um estranho conjunto de circunstâncias que me puxa pela nostalgia, a repetição dos meus próprios ciclos combinados com os ciclos da história. Precisamente num tempo que, mais a ocidente, alguém se esforça arduamente para voltar a construir um muro.
Os ciclos repetem-se e pouco se aprende com a História. Hoje em dia, por todo o lado, regressámos a uma moda que parecia estar perto de cantar o seu dia de finados. Mas não, afinal o muro entre as 2 Coreias não caiu, nem aquele que divide a ilha de Chipre e que tem cerca de 200 quilómetros. Os puritanos diriam que nem a muralha da China desapareceu, contudo, essa agora apenas subsiste por motivos meramente históricos e turísticos.
O problema mesmo são os muros que começam a surgir um pouco por todo o lado. No Médio Oriente, onde Israel é o seu mentor, na América de Trump, e em muitos países de Leste que querem travar as migrações e os migrantes.
Quando alguém diz que há só uma Terra, nos dias que correm, isso é algo muito fantasioso. Devia haver só uma Terra e devia haver terra para todos. Só que, a diferença entre o deve e o haver é mais distante aqui do que em qualquer linguagem contabilística.
Como queremos salvar o ambiente, abandonar o consumo de combustíveis fósseis, tentar inverter a extinção em massa das espécies, agir contra o aquecimento global ou travar as alterações climáticas se continuamos egoístas, virados para os próprios umbigos, apenas preocupados com a parte sem querermos saber ou nos importarmos com o todo?
Quando olho para a localização de Portugal, no globo terrestre, tenho sempre a sensação de que estamos implantados mesmo no centro geoestratégico da Terra. Essa impressão deve-se ao facto de os países ocidentais estarem entre os mais desenvolvidos do mundo e parecerem localizar-se, quase que de propósito, à nossa volta.
Para Norte vejo a Europa que se espraia orgulhosa do seu desenvolvimento, uma superfície retalhada em países e mais países, todos sedentos do seu bocadinho de terra.
Para Este sorri-nos a Ásia, que se mistura nas fronteiras com a Europa, representada pelos grandes colossos imperialistas da China ou da Rússia, pelo Médio Oriente e Arábias.
Do lado sul, África tenta emergir e ganhar protagonismo na cena internacional, mas mantém os seus conflitos e subdesenvolvimento que são geradores das famigeradas migrações de que a Europa se queixa.
Finalmente, a Oeste, estão as Américas onde o desenvolvimento bipolar divide a América do Norte das Américas Central e do Sul, contudo, em todas, o sentimento de cowboy mantém-se tão atual como no passado, só que no Sul, esses heróis e vilões são mais conhecidos por jagunços, ou, em oposição, heróis da liberdade.
Foi este geocentrismo nacional estratégico que nos ajudou nos descobrimentos, na descoberta, no orgulho da glória dos nossos navegadores. Porém, hoje em dia, duvido que sirva para alguma coisa. Temos a importância de uma espiga no centro de um enorme campo de trigo.
O que diriam os portugueses se a vizinha Espanha viesse agora pôr em causa a nossa independência, porque nos separámos dela há séculos atrás, contra a sua vontade? Ficariam certamente revoltados, todavia, aceitamos pacificamente que eles façam presos políticos na Catalunha e que não os deixem sair do jugo de Madrid, tal como não reagimos aos gritos de independência do País Basco, porquê?
Porque não se trata do nosso umbigo. Apenas isso e nada mais. Pois é Berta, o mundo avançou tecnologicamente, as distâncias entre os povos foram encurtadas pelos aviões, os caminhos de ferro, os túneis, as autoestradas, mas a mentalidade do umbigo está outra vez mais viva, mais acesa, mais incandescente. Assim, não é possível combater seja o que for como se fossemos o todo que realmente somos.
É com esta triste conclusão que me despeço hoje, minha amiga, fica bem e recebe um saudoso beijo deste que não te esquece,