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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 307: Alma Gémea

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Olá Berta,

Estou curioso de saber o que a minha querida amiga pensa sobre o amor? Já alguma vez teve a sorte de se cruzar com a sua alma gémea? Conforme sabe, eu tenho aquela minha teoria, sobre a qual já conversámos no passado, de que cada pessoa tem, em todo o mundo, 167 almas gémeas. O problema é encontrar uma delas, num universo de 7,8 biliões de pessoas, em tempo útil e nas condições necessárias, para que uma união possa acontecer. Não é mesmo nada fácil. Mas que acontece, acontece.

Há ainda a questão de saber o que fazer quando se encontra uma dessas escassas almas, mas quando as condições já não permitem a fusão entre ambos. A mim, que sou um rapaz (sim, sim rapaz, só aos 60 anos é que atinjo a meia idade, pois que continuo a ter a intenção de viver até aos 120 anos de idade), já me aconteceu. Porém, cheguei tarde, fora de contexto e sem me ser permitido sequer tentar sarar as chagas abertas nessa alma perfeita, que se recusava liminarmente a tentar uma nova oportunidade.

Ficámos amigos, pelo menos eu ainda tento essa hipótese, embora mesmo isso não esteja atualmente garantido. A vida cortou as asas e o bico a esse rouxinol, conforme reza aquela velhinha balada portuguesa, espero ter chegado a tempo de evitar que, no meio desta trama, ainda lhe seja roubada a noite, para que este rouxinol possa sobreviver.

Não fiquei com raiva, amiga Berta, nem mesmo culpei a outra parte. A vida é o que é. Por mais que se deseje retirar alguém de um labirinto isso não é algo de viável se, ao mesmo tempo, do outro lado o labirinto se tiver tornado o único lar possível.

Contingências da alma, do ser e da essência. Muito superiores, por vezes, à vontade de lutar contra a corrente. Quando um elo se quebra, nem sempre a sua reparação é viável, por mais que deste lado, de fora do problema, todos achemos o contrário. Afinal, não é a nossa opinião que conta, mas sim a de quem passou pela quebra. Contudo, não se trata de uma questão de se ficar com pena seja do que for. A vida é mesmo assim. Umas vezes chegamos a horas, outras, e acontece muito, já não se consegue apanhar um comboio que há muito abandonou a estação onde devíamos ter entrado.

Deixo-te no final do carta o link à balada de que te falei. Espero que gostes minha querida amiga. Despeço-me saudoso do teu sorriso, este amigo que sempre te recorda com carinho,

Gil Saraiva

 

PS: Cantilena - https://youtu.be/QhVrvVSVThQ

 

 

 

 

Carta à Berta nº. 162: Série "Os Segredos de Baco" - IX - Contornos Específicos e Especiais

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Olá Berta,

Poucos temas existirão que tenham o condão e a capacidade de nos ajudar a distrair dessa coisa terrível chamada coronavírus. Porém, não é saudável ficarmos absorvidos apenas por essa temática, como em qualquer outra doença, precisamos de pontos de fuga que nos possam auxiliar a desanuviar um pouco.

É essa a razão para eu voltar, hoje, ao tema de “Os Segredos de Baco”. Esta abordagem visa esclarecer e explicar coisas que nunca vi colocadas por escrito e devidamente sistematizadas, mesmo assim, isso não quer dizer que não existam, mas, apenas, que eu não as encontrei.

Um importante segredo de Baco é a criação de laços de confiança e empatia entre o vinho e o seu consumidor. Trata-se de um jogo subtil, com contornos suaves, sem imposição, gerado quase que instintivamente, na senda de nos fazer acreditar que estamos perante um produto ímpar, merecedor do nosso foco e atenção.

III) O Vocabulário da Terminologia usada nos Vinhos Nacionais e alguns Porquês…

A) Os Contornos do Prazer associado ao Conforto e ao Bem-Estar.

Secção II) Contornos Específicos e Especiais: Portugal, Raízes, Eixos, Avaliadores e Terminologia.

1) O Caso de Portugal:

Julgo que em enquanto nação fomos dos povos mais influenciados por certos valores da antiguidade. Não só falamos uma língua latina, embora com imensa influência grega, principalmente no vocabulário, como, sendo nós periféricos, marítimos, descobridores e aventureiros, usufruindo das benesses do clima mediterrânico, somos um país com quase um milénio de existência, muito mais próximos do que outros povos das influências clássicas. Porém não somos exclusivos, mas fazemos parte de um grupo muito restrito.

2) As Raízes:

Não é de espantar que muitas destas tradições e práticas da antiguidade se tenham infiltrado na forma como lidamos com o vinho, com o tipo de marketing que para ele escolhemos e que exista uma real influência de terminologia e vocabulário que ficaram. Afinal, graças às caraterísticas do nosso território, e aos diferentes climas e microclimas, tivemos a possibilidade de gerar uma variedade imensa de vinhos específicos e adaptados a cada local, com peculiares detalhes próprios de cada região. Os produtores, levados pelo método da experiência e erro, foram inovando, testando e moldando as verdadeiras raízes que, mais tarde, serviriam para caraterizar cada zona vitivinícola e, por fim, cada região demarcada. Portugal, no seu pequeno território, é um exemplo único, no que diz respeito, à diversidade.

3) Os Eixos:

a) Entre o Mar e a Serra, o Sul e o Norte na busca daquilo que nos relaxa: Não poderia ser de outra forma. Por um lado, o consumo do vinho apela por si só ao relaxe, à paz e à descontração. Sem estes eixos seria impossível podermos produzir de forma tão diferenciada, os diferentes tipos de vinho. O segredo encontra-se na adaptação das vinhas e da produção a cada região. Foi isso mesmo que nos tornou singulares no universo de Baco. Por outro lado, os nomes das garrafas procuraram, na sua grande maioria, ajudar a manter essa ideia ou, se possível, fazê-la atingir patamares mais elevados na procura de ligar um bom nome de um vinho a um momento muito bem passado, a uma região demarcada, a uma história e a uma tradição.

b) A harmonia das ideias e da alma convergem, se forem ajudadas por lembretes felizes, na rotulagem das garrafas de vinho. Se num carro gostamos de sentir potência e emoção, adrenalina e perigo, num vinho procuramos o gosto pelas coisas simples da vida, de uma forma quase pura. Importa saber realçar a relação entre o prazer de existir e o deleite de beber, como elementos complementares de uma convergência que tem de nos parecer natural. A criação da necessidade deverá parecer emergir da nossa vontade. É por isso que aqueles que combatem os problemas causados pelo vinho apenas têm um sucesso relativo. O vício não vem do vinho, mas das pessoas, o que é uma mensagem sublime.

4) O Papel dos Avaliadores:

a) Sejam eles provenientes dos Enólogos, dos Escanções, Enófilos e Críticos de Vinhos, Jornalistas e de todos Os Especialistas no Universo da Vitivinicultura:

Todos já lemos as descrições que os peritos deste imenso mundo fazem ao apreciarem um vinho. É pura poesia, numa literatura de palavras em que estas constituem maravilhosas descrições influenciadas pelo vastíssimo horizonte do palato e do olfato, sem nunca esquecer a cor, o brilho do néctar e a própria apresentação da garrafa comentada.

b) O uso de um vocabulário requintado:

Procura-se transmitir ao consumidor a mesma serenidade e prazer que os produtores e as gentes do marketing põem nas garrafas. Eles poetizam sobre como o vinho ganha volume com o tempo na garrafa, se é refrescante ou acolhedor consoante a época do ano. Comentam sobre a existência no néctar de um alinhamento no diapasão da fruta madura. Divagam sobre a comida que os pode acompanhar nessa senda pelo estar muito bem dentro do bem-estar. A recomendação atual de que se deve beber com moderação visa, em última análise, desresponsabilizar o produto de quaisquer culpas sobre os seus malefícios. O malefício é o uso desmedido ou exagerado que certos indivíduos dele fazem, ou seja, a culpa não é nem do produto, nem do produtor. Quem bebe é que deve saber beber.

  1. c) O conjunto das apreciações tem um objetivo bem determinado:

Divulgam fragrâncias, sabores ocultos, vivacidade e brilho. Insistem que tem um terminar longo e profundo, injetando mistério e volúpia. Enfim poetizam para nos cativar. Para nos encaminhar na aventura de todos nós tentarmos decifrar e descobrir quais são, na realidade, “Os Segredos de Baco”.

5) As Escolhas na Terminologia:

Ao prazer e ao conforto juntam-se outras valências intrinsecamente relacionadas.

a) A tradição vinda da antiguidade, o valor da religião, da família, da propriedade e dos locais, a afirmação do nome, a importância da realeza e da nobreza:

Tudo na busca do poder, num ambiente sensorial original, que cheira a terra e a mistério, que nos coloca de novo em contacto com a natureza, com a fauna e com a flora, nessa luta firme pela pesquisa perfeita pelo maior dos regalos. A importância da subtileza dessas abordagens encontra-se no detalhe das descrições, naquilo que, à primeira vista, nos parece somente uma mera descrição de um vinho, uma adega ou uma vinha.

b) Tudo somado gera uma galáxia de palavras e opções na terminologia:

Afinal, importa deixar claro o destaque e o valor deste hidromel da nossa atualidade. Palavras há que se encaixam nos diferentes apelos e, por isso mesmo, o seu uso ainda se torna mais aliciante. Em síntese, a mensagem subtil do vinho aparece retratada de forma indelével, nos diferentes apelos criados para que, subconscientemente, a consigamos assimilar com naturalidade, quase sem disso termos a noção, ou seja, converter sem convencer. Algo brilhante que apenas no vinho tem esse nível perfeito de sofisticação e habilidade absoluta e perfeita.

Espero ter conseguido passar-te a mensagem deste intricado método de induzir a necessidade aos apreciadores sem que dela se fale. Despeço-me, certo de que, amiga Berta, por certo, irás querer saber mais sobre os apelos, que constituem esta última faceta sobre a terminologia do vinho. Contudo, terás de aguardar pelas próximas cartas, para os conheceres de forma clara, em vez daquela que, até ao momento, é meramente intuitiva. Recebe um beijo saudoso deste teu amigo de todos os dias,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta nº. 138: Magazine de Campo de Ourique - Lisboa com Alma

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Olá Berta,

Já lá vão 8 anos, desde que a 21/02/2012, uma terça-feira em dia capicua, como o que recentemente passámos, em que lancei a primeira magazine, em formato A4, denominada Centro Comercial de Campo de Ourique, que apenas durou 3 números e que, haveria de dar lugar, até 2015 à magazine Lisboa com Alma, que lançou mais 13 números, quer com publicação digital, quer em papel.

O conteúdo continuou a ser dedicado à alma de Lisboa, ou seja, a Campo de Ourique. De realçar que, no quarto e último ano, o formato foi alterado, a pedido dos leitores, de A4 para A5. A magazine só não se manteve até hoje, porque a exposição à austeridade, e a  consequente falta de verbas extras no comércio do bairro, para publicidade, acabou por se tornar fatal.

As 68 a 128 páginas da Lisboa com Alma, tinham uma composição interessante, pois que a administração decidira nunca ultrapassar em publicidade mais de 50% do total do espaço da revista. Isto deu azo ao lançamento de alguns artigos de fundo sobre o bairro, as suas gentes e a sua história, que muito orgulho tive, enquanto editor, a trazer à luz.

Ao todo foram editados 48 mil exemplares da revista, a uma média de 3 mil por publicação, foram realizadas mais de 30 entrevistas com personalidades do bairro, o que foi verdadeiramente enriquecedor. Também se publicaram artigos de fundo sobre a Casa Fernando Pessoa, a Casa Museu Amália Rodrigues, o Museu João de Deus, o CACO (o clube Atlético de Campo de Ourique), a centenária Padaria do Povo e a sua capacidade de resistir ao passar dos anos, o Geomonumento da Rua Sampaio Bruno.

Ainda tivemos tempo para as histórias do Ginásio Clube Português, da Sociedade Filarmónica Alunos de Apolo, da Panificação Mecânica que, situada numa esquina da Rua Silva Carvalho (números 209 a 223), já ultrapassou, também ela, o século de existência, pois que nasceu em 1902, e ainda descrevemos o nascimento do “Amoreiras Shopping Center” e do “Amoreiras Plaza”, como também dedicamos várias páginas à “Fundação Maria Ulrich”, ao Quartel de Campo de Ourique e à nossa Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique.

Contudo, o que mais gozo me deu, foi a criação dos prémios de excelência dedicados aos serviços, comércio e restauração de Campo de Ourique. Digo isto porque, a grande maioria dos negócios do bairro premiados, na sua respetiva categoria, agraciados com o galardão e diploma -” Lisboa com Alma”, ainda hoje, seis anos depois da última entrega, continuam a ostentar, nas suas paredes, a atribuição do referido reconhecimento, com o orgulho bem vivo de o terem recebido. Mantive até hoje a propriedade intelectual do nome “Lisboa com Alma”, quem sabe…

Este quem sabe, amiga Berta, tem a ver com a minha esperança de voltar, um dia, a relançar no bairro este prémio maravilhoso que tanta alegria deu a muita gente.

Por hoje fico-me por aqui, despeço-me de ti com um beijo carinhoso, este teu amigo de todos os dias,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta nº. 76: É Natal

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Olá Berta,

Só tu para me convenceres, com esses pedidos simpáticos, a enviar-te o soneto que escrevi à 33 anos, um mês e 3 dias atrás. Mas é Natal e nesta época eu abro uma exceção. Mando-te este soneto de Natal dedicado a uma filha que tenho e com quem não falo. Quis o destino que ela retirasse aos seus filhos o nome do bisavô, que tanto a adorava, já nem falo do meu, mas cortar assim a linhagem Coimbrã é maléfico e não tem perdão. Aqui vai:

 

"O TEU NATAL"

 

Hoje é Natal, Natal na minha vida.

Tocam os sinos p’la minha alma fora...

E em cada canto do meu ser, agora,

Tudo vibra sem conta nem medida!...

 

É Natal! É Natal porque é nascida,

Do ventre desse Amor, a nova aurora,

Filha de nós os dois, pequena amora,

Fruto de louca noite, sem dormida...

 

Hoje é Natal! O teu Natal Diana!

E em lágrimas de riso choro amor...

Hoje é Natal, é vida feita flor...

 

Tem a minha alma nova soberana.

Temos os dois o bem mais desejado:

A Taça da Vitória, um El Dourado...

 

Espero que tenha sido do teu agrado, não é fácil ir buscar sentimentos ao baú. Desejo-te umas festas felizes e um excelente Natal, minha querida. Despeço-me com um beijo, deste teu saudoso amigo de sempre,

Gil Saraiva

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