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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 550: O Bom Taliban - Parte II/II

Berta 550.jpgOlá Berta,

Voltando ao tema do bom taliban, para concluir a ideia de ontem, escusas de avançar com a ideia de que só é aceitável aquele que está morto. Esse não é coisa alguma porque, pura e simplesmente, já não existe. Mas voltando ao que sabemos dos novos Talibans, no atual Afeganistão, já é certo que o Governo vai estar sob o comando e supervisão de um líder religioso e também é sabido que, em vez de uma constituição no país, a lei suprema será a religiosa, ou seja, aquela que aplica uma fanaticamente deformada definição de islamismo.

O ministro do Ensino Superior do novo Governo taliban, um tal de Abdul Baqi Haqqani, expôs as novas políticas religiosas numa conferência de imprensa em Cabul, dias depois da formação de um executivo que, como é do conhecimento de todos, é exclusivamente masculino. Para serem considerados diferentes este atual ministro taliban diz que as mulheres vão ter acesso à universidade, como se estivesse a conceder um prémio à comunidade internacional, imagina tu, amiga Berta. Porém, mais à frente no discurso, entre linhas, explica que as mulheres vão passar a frequentar universidades exclusivamente femininas, onde os 'hijabs' serão obrigatórios, só não especificou se tal significa o uso de lenços obrigatórios na cabeça, tapando totalmente a cara, mas não é difícil de adivinhar qual será o procedimento a adotar num próximo ano escolar.

Para além disso, o ministro quis ainda deixar claro que a coeducação não é, nem será nunca, permitida, bem como deverá ser imposta a segregação de género para (desculpou-se o líder taliban) assegurar a integridade física feminina. O que te parece Berta? O preocupado ministro garante ser também esse o motivo da implementação de um conjunto de regras para as mulheres que incluem igualmente um código de vestuário obrigatório. Apesar de tudo, de um modo condescendente, o ministro do Ensino Superior afirma ainda que as disciplinas ou cadeiras dos cursos superiores ministrados às mulheres vão ser alteradas, de maneira a melhor se adaptarem à sua própria condição feminina. Um verdadeiro rei da hipocrisia.

Há ainda o problema de permitir no país o acesso à música e às artes, como o teatro, o cinema, entre outras formas de expressão cultural, sendo que o governo taliban admite ainda estar a estudar o problema. Problema são também as manifestações públicas femininas que, segundo o novo Estado, estão absolutamente proibidas e que, caso aconteçam de novo, serão reprimidas rápida e violentamente. Os talibans afirmam que não pode haver direitos iguais entre géneros que são diferentes e que cada género terá de ocupar o seu verdadeiro lugar na sociedade islâmica que pretendem construir.

Como se tudo isto não fosse, por si só, suficiente, há ainda que lembrar que entre os elementos do governo e dos líderes religiosos, estão mais de uma dúzia de terroristas, atualmente com a cabeça a prémio nos Estados Unidos e que constam das listas de criminosos de guerra procurados pela NATO. Para cúmulo, a velha guarda taliban de há vinte anos (ou seja, os líderes talibans que sobreviveram aos últimos vinte anos) estão todos em lugares de poder ou na eminência de serem nomeados para muitos dos altos cargos ainda por preencher.

Voltando, por tudo isso, há existência ou não de um bom taliban tenho que reconhecer que tal não existe, porque a própria filosofia radical destes fanáticos religiosos impede que isso possa ser uma realidade. A verdade, minha grande amiga Berta é que o bom taliban permitiria uma carta de direitos humanos e nunca diria que a atual carta universal dos direitos humanos é uma distorção ocidental do significado de humanidade, completamente incompatível com a filosofia que está por detrás do novo regime taliban no Afeganistão. O exemplo da igualdade de género é usado para explicar que géneros diferentes (homens e mulheres) pelo simples facto de o serem, nunca poderiam ter direito a qualquer forma de paridade, quanto mais de igualdade.

Em resumo, minha querida Berta, este regime taliban é uma cópia fiel do anterior, apenas está a demorar algum tempo a ser integralmente implementado, a ver se o Ocidente liberta o país, quer das sanções, quer dos fundos monetários a que de momento lhes falta o acesso. E por aqui me fico, sem mais delongas. Despeço-me por hoje com esta minha conclusão sobre o que é o bom taliban. Conforme acho que deves ter adivinhado, o bom taliban é um conceito que não pode existir de modo algum, o fanatismo explica-o bem, ou se é bom ou se é taliban. Recebe mais um beijo de despedida,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 549: O Bom Taliban - Parte I/II

Berta 549.jpgOlá Berta,

A celebração do 11 de setembro é algo que me faz alguma confusão. Ainda mais quando já lá vão vinte anos. E pior ainda quando os americanos acabaram de abandonar à sua sorte o povo afegão, deixando-os entregues aos talibans. Quanto à lembrança de datas tristes eu sou dos que preferem não ficar a remoer. Registei por escrito e em poema a data, sofri na altura, perdi inclusivamente um grande amigo no ataque às torres, mas, porque a vida continua, arquivei o tema e deixei de celebrar a efeméride.

Não digo que aqui ou além, querida Berta, não tenha um momento de nostalgia amarga quando algo me traz à memória esse dia, porém, não gosto de carpir o passado, não é saudável e tende mesmo a ser algo depressivo.

Para meu espanto ainda há gente que acredita, não sei se genuinamente, que os atuais talibans são diferentes dos terroristas de há duas décadas atrás. As maiores estátuas do mundo budista, os budas de Bamiyan, de 55 e 38 metros de altura, destruídas selvaticamente pelos primeiros fanáticos, deviam ter servido de alerta para esta gente que abrigou carinhosamente Osama bin Laden e que foi mais do que berço do Estado Islâmico, pois que, minha grande amiga, serviu de refúgio e de campo experimental de um Estado Islâmico ultrarradical, como não há memória na história universal deste nosso imenso globo terreste.

Com efeito, querida amiga Berta, estou a falar de uma gente responsável por dar guarida aos planeadores e executores do 11 de setembro de 2001, um evento que usou aviões, carregados de seres humanos, como mísseis e que os fez explodir nas torres gémeas, no Pentágono, para além do que se despenhou na Pensilvânia, por intervenção heroica da tripulação. Estou a falar de assassinos religiosos da pior espécie, aos quais os talibans nunca deixaram de estar intimamente associados, por mais que atualmente tentem fugir com o rabo à seringa. Contudo, no meu modesto entendimento, são tão culpados como a Al-Qaeda, o ISIS e todos os grupos e organizações radicais de islamismo fundamentalista.

Estão, aliás, minha amiga de tantos anos, na mesma categoria do nazismo ou do estalinismo e deviam ser tratados com a devida proporção face aos atos praticados. Não há, nem pode haver qualquer perdão, para genocidas, assassinos, esclavagistas de género (neste caso, o sexo feminino) e qualquer tipo de facínoras à face deste nosso planeta, tendo em conta a mentalidade e o contexto dos factos, nas épocas em que os mesmos se desenrolaram. No atual mundo em que vivemos, tais práticas são absolutamente inadmissíveis e não deviam ter qualquer tipo de condescendência.

Por hoje fico-me por aqui, pois não te quero maçar em demasia com esta minha explosão de genuíno sentido de total afronta. Amanhã termino esta minha ideia. Um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

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