Carta à Berta nº. 196: Carta Aberta a Carlos Cruz - Parte I
Olá Berta,
Hoje vou-te enviar a primeira parte da Carta Aberta que publiquei, faz tempos, dirigida a Carlos Cruz. Nos dias seguintes enviarei a segunda e a terceira parte. Estou a fazê-lo agora porque me lembrei, ao reler as crónicas que escrevi na altura, que o caso ainda não chegou ao seu termo. Porquê? Porque Carlos Cruz conseguiu dar como provado, no recurso que apresentou ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que as suas garantias de defesa enquanto arguido não foram respeitadas no que se refere à admissão de novas provas que na altura apresentou e que foram à data recusadas, para apreciação do caso em sede de recurso a que teria direito.
Em agosto do ano passado Carlos Cruz avançou com o seu último recurso, visando não apenas a inclusão das provas em falta no processo, como a realização de um novo julgamento face à importância e ao conteúdo das mesmas. Este procedimento teve lugar porque o Estado português não reclamou da sentença do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, o que lhe permitiu pedir novamente a reabertura do processo, facto que poderá permitir um novo julgamento do caso no que se refere à sua pessoa.
Em última análise, o caso Casa Pia ainda não se encontra completamente encerrado, pois que o recurso apresentado no passado verão aguarda ainda a decisão da justiça. Da minha parte espero a reabertura e o desfecho de tudo isto.
Carta Aberta a Carlos Cruz (Parte I - 2004)
“Gostaria de dizer umas coisas a Carlos Cruz e sobre Carlos Cruz ou o que o envolveu. Não sei se é por ser jornalista desde 1981, se é pelo meu interesse desde bem jovem nas atualidades e nas notícias, mas sempre que posso acompanho com interesse, pelo menos, os grandes temas nacionais e alguns dos internacionais.
E para mim Carlos Cruz foi e ainda é um grande tema nacional. Mais alto e mais forte que o escândalo que o envolveu, neste que foi o primeiro grande caso mediático do terceiro milénio em Portugal.
Pessoalmente, mas sem o conhecer em pessoa, sempre nutri uma enorme admiração por Carlos Cruz. Há 2 anos (em 2002) o homem era o símbolo de uma nação. O responsável por irmos ter EURO 2004 em Portugal, a imagem da Franqueza, do Brilhantismo Profissional, do Sucesso conquistado a palmo. Chamavam-lhe o SENHOR COMUNICAÇÃO. A presença era de tal forma forte que até os seguros usavam a sua imagem para nos tranquilizar e dar confiança através da sua publicidade televisiva.
De repente... virou pedófilo!
Pessoalmente não acredito e espero sentado para ver o desfecho desta novela das vidas reais. Mas não é sobre as minhas convicções que venho falar.
É que, mesmo que venha a ser inocentado, o Sr. Carlos Cruz já cumpriu um ano e meio de prisão (nesta altura) e já lhe destruíram por completo a imagem. Já lhe arruinaram os negócios, já arrastaram toda a família pela lama, já estragaram completamente uma geração de valores e de confiança, várias vidas, uma carreira, um ser humano e uma alma.”
Minha querida Berta, amanhã continuo esta minha temática pois não quero ser demasiado longo em cada carta que te escrevo. Contudo, se o tema te surpreendeu, lembro-te que para quem vive o drama este não passa da mesma forma, o que é o caso do próprio, e eu nunca fui de entrar em carneiradas e linchamentos públicos ou populares ou condenações realizadas por uma imprensa mais interessada em vender escândalos do que na verdade. Recebe um beijo amigo,
Gil Saraiva