Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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As notícias começaram a surgir com mais força na imprensa escrita em Portugal, em meados de março passado, algures nas páginas internacionais dos diários e semanários e chegaram, de uma forma muito mais clara, através de um documentário que recentemente passou na SIC num horário depois das 24 horas. Para mim, caíram que nem bombas, e eu fiquei a aguardar pelos resultados.
Os meses passaram e, até hoje, nada aconteceu. Deves estar a tentar adivinhar do que estou eu a falar, certo, amiga Berta? Estou a falar de centenas de denúncias de abusos sexuais no seio da ONU, isso mesmo, a Organização das Nações Unidas e de muitas das suas derivadas como, por exemplo, a FAO, a UNISEF, a Organização Mundial de Saúde e muitas outras, tantas que até assusta.
Pelo que li nos jornais e vi e ouvi no documentário que passou na SIC e na BBC, minha querida, fiquei a saber que os todos os funcionários seniores e os altos quadros destas organizações (e são uns milhares) têm imunidade diplomática total, a nível mundial, de todas as leis nacionais e não podem ser julgados em qualquer que seja o país, pelos seus atos, e isto abrange os Estados Unidos da América e todos os outros países, sejam eles a Síria ou a República Democrática do Congo. Se cometerem um crime ou são acusados no seio da ONU e a pena é apenas o seu despedimento, ou nada acontece. Até hoje, pelo que consegui averiguar, nada aconteceu mesmo.
E não penses, cara Berta, que o assédio e o abuso sexual no seio destas organizações são meia dúzia de casos pontuais. Nada disso, só nos últimos quatro anos são centenas, de forma repetida, sistemática e diária. Há denúncias que falam, inclusivamente, de violações de crianças, em algumas das missões da ONU ou da UNISEF, entre outros, em países africanos e asiáticos.
António Guterres, enquanto Secretário Geral da ONU, veio inclusivamente dizer publicamente que passaria a haver uma política de tolerância zero para estas práticas no interior da ONU ou das organizações que dela são derivadas, como é o caso da UNISSEF, do Alto Secretariado para as Migrações ou a Organização Mundial de Saúde, entre outras.
Mas foram apenas palavras. Nenhum acusado foi julgado, fosse em que país fosse, nem mesmo pelas próprias organizações e, a grande maioria das vítimas que apresentaram queixa, acabou por ser liminarmente despedida.
Estamos a falar de homens que assediaram e violaram sexualmente, colegas de trabalho do sexo feminino, minha amiga, mas também outras mulheres e crianças que deviam estar sob a alçada e proteção da própria ONU ou das organizações que dela derivam.
A impunidade e a corrupção semeiam o pânico dentro da ONU, porém, talvez porque até ao momento, que eu saiba, as denúncias surgem apenas da parte de mulheres e crianças ainda nada foi feito para estancar tamanha ferida.
Segundo uma das vítimas, que denunciou estas práticas, ela chegou mesmo a falar com António Guterres, que lhe respondeu que tinha conhecimento de vários casos, mas que ele, diretamente, nada podia fazer. A coisa tinha que passar pelo organismo competente. Ora, cara Berta, esse organismo prefere calar as vítimas a culpar um (ou mais) funcionário sénior ou um alto cargo. Pior ainda, o organismo em causa não tem qualquer poder judicial, seja ele qual for, não podendo julgar, mesmo que quisesse, os indivíduos acusados de assédio ou abuso sexual.
Uma imunidade criada para que as organizações derivadas da ONU e ela própria pudessem agir sem ingerência dos países virou arma secreta de impunidade de umas centenas de predadores sexuais instalados no interior destas estruturas. É uma pescadinha de rabo-na-boca.
Já eu, minha querida, fico enjoado com tanta podridão. Se quiseres ver mais sobre o assunto procura na internet pelo tema, encontrarás centenas de notícias e relatos de denúncias, até na imprensa portuguesa. Assédio e abuso sexual na ONU, começa por aí que rapidamente chegarás ao restante. Despede-se com um beijo, triste com o nosso mundo atual, este teu amigo,
Hoje fiquei chocado com uma notícia que li na imprensa online. A situação era tão surreal, absurda e estupida que, ao princípio, julguei tratar-se de uma piada de mau gosto. Contudo, depois de ler todo o artigo e de tentar encontrar alguma espécie de contraditório, descobri que não havia nada que contradizer porque, para meu espanto, as coisas são exatamente como o artigo as descrevia.
Relatava a notícia que nasceu no Japão, um dos países mais desenvolvidos do mundo, um movimento feminino com vista a exigir mudanças na legislação laboral de forma a permitir que as mulheres possam usar óculos no local de trabalho, seja ele qual for. Sim, sim! Leste bem, atualmente no país do Sol Nascente ninguém do sexo feminino pode usar óculos no emprego.
É o próprio Ministro do Trabalho japonês que afirma publicamente que as regras relativas ao Código de Vestimenta no trabalho são não apenas necessárias como apropriadas. Apresentando-se contra qualquer alteração como as propostas por este movimento nascido nas redes sociais. Aliás, esclarece o artigo que, se uma mulher usasse óculos no trabalho, a sua apresentação tornar-se-ia bem mais rude do que o expectável, o que era realmente inadmissível.
Indignado com tal chorrilho de disparates, e na procura de outras notícias que me desmentissem a que acabara de ler, acabei por descobrir uma outra em que o governo tentou impor que as empresas comerciais e de serviços, que empregassem mulheres nos seus quadros, as obrigassem a ir trabalhar de saltos altos.
A imposição ainda não foi totalmente descartada, mas encontrou resistência severa através de uma petição online, iniciada por uma atriz, que conta até ao momento com milhares de subscritores de ambos os sexos. A medida ainda não conseguiu ganhar forma de lei graças a esta oposição iniciada por uma atriz, mas o Estado já fez saber que a pretende vir a impor num futuro bem próximo.
Podia estar aqui a relatar-te mais umas 30 ou 40 regras deste Código de Vestimenta do Japão, mas, acho que a que já descrevi é suficiente para imaginares o restante chorrilho de disparates e imposições em vigor. O espantoso no Código em causa é que quanto maior for a responsabilidade da mulher numa empresa e mais elevado for o seu cargo, mais graves são as regras impostas e mais apertado é o Código. Aliás, já é obrigatório que toda e qualquer executiva empresarial use saltos altos, a alteração proposta visava apenas ser mais abrangente.
Não leves a mal a brincadeira que passo a descrever, mas eu estou mesmo a imaginar uma executiva japonesa, que possua algumas boas dioptrias, no que à miopia diz respeito, e mais uma abastada dose de astigmatismo, a andar de saltos altos, num piso acabado de lavar e ainda a caminho da secagem total. Deve ser algo como um principiante de patinagem no primeiro dia em que coloca os patins, só que sem as proteções que lhe amparem as sucessivas quedas e trambolhões.
Pois é Berta, sei que estás a pensar que te citei apenas um ou outro disparate em vigor nesse longínquo oriente, mas nem comecei sequer. Dou-te outros 2 exemplos: a tal míope, se cair, apenas terá os seios protegidos, porque é absolutamente obrigatório que vá trabalhar com sutiã. Porém, se a dita senhora tiver uma cintura superior a 90 centímetros, não irá laborar tão cedo porque o Estado a obriga a submeter-se a tratamento ambulatório ou internamento até o objetivo ser atingido.
Não estamos a falar de um país de terceiro mundo, nem de uma qualquer nação em desenvolvimento, estas regras são impostas pela lei numa das maiores e mais fortes economias mundiais. Nem o Japão é o Nepal, onde a religião Hindu obriga à expulsão das mulheres de sua casa e ao seu isolamento da comunidade durante os períodos menstruais, por considerar que a mulher está suja e em estado impuro. Nada disso, estamos mesmo a falar do Japão.
Depois de tamanhas bizarrias resolvi ir ver em que lugar estavam as terras do Sol Nascente no que às disparidades de género diz respeito. Não foi fácil, mas finalmente descobri um relatório do Fórum Económico Mundial, já de 2019, que, entre os 154 países analisados, coloca o Japão no centésimo décimo lugar, apenas a 44 do fim da tabela.
Vou pensar muitas vezes antes de voltar a dizer mal deste país à beira mar onde vivemos. Podemos não ter o índice de produtividade do Japão, mas tenho a certeza que somos bem mais felizes. Fica bem minha querida, despeço-me saudosamente, com um beijo deste, que não te esquece,