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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Este Não é o Tempo dos Poetas...

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Olá Berta,

Estou a fazer mais um intervalo no Diário Secreto do Senhor da Bruma. Eu sei que falta a parte final do meu segundo pensador, Chris Anderson. Porém, sinceramente, não me apetece escrever sobre ele neste momento.

Estive a ver os dados da pandemia em termos mundiais, é terrível saber que mais de 15 milhões de pessoas foram infetadas e contraíram Covid-19, enquanto que a preocupação mundial se centra no desconfinamento, ou seja, anda tudo preocupado com a economia muito mais do que com a pandemia.

É triste. Estamos a perder em todo o globo a nossa geração de anciões. Os mais velhos, os mais experientes e os que deviam ser os mais respeitados do planeta. Contudo, o que tiro da análise dos governantes e de boa parte dos povos em geral é, antes de tudo, uma enorme falta de respeito pela nossa herança genética. Afinal, a esses homens e mulheres de outrora se deve a existência das atuais gerações. O universo humano, digam lá o que disserem os teóricos, não está no bom caminho.

Daqui a sensivelmente 11 dias, lá para 1 de agosto, vamos atingir em dose dupla, o número satânico de mortes por Covid-19 na Terra, serão: 666.666 mortos. Como número é apenas uma curiosidade, como há outras, mas como símbolo mostra bem que a humanidade tem um lado bem negro.

Existem alturas em que invejo as pessoas que acreditam num Deus, sejam elas de que religião forem, e que têm fé na humanidade. Este é um desses tempos. Hoje, aqui, sentado, a escrever para ti, Berta, acho que a humanidade é desumana e, acima de tudo, ainda demasiado primitiva, bárbara e pouco merecedora da dádiva da vida que lhe foi concedida pela evolução, por extraterrestres ou por Deus. Anda tudo demasiadamente preocupado com a estética do próprio umbigo e isso é triste.

Todavia, o que sei eu? Nada! Não passo de um romântico sentimental, desenquadrado da era da imagem, ainda agarrado aos valores da palavra e do sentimento. Costumo dizer que o impossível apenas demora mais tempo, contudo, neste caso concreto, está a demorar uma eternidade. É preciso que o mundo acorde e se respeite.

Deixo um beijo de saudade, até amanhã minha amiga e desculpa o desabafo, despeço-me como me conheces,

Gil Saraiva

 

 

P.S.: Este não é o tempo dos poetas...

 

 

Carta à Berta: Receita de Xarém de Lagosta

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Olá Berta,

Espero que hoje tenhas conseguido ficar em casa. O vendaval é nacional e não é, realmente, nada bom de se sentir. Além do mais dizem que, este tipo de tempestades, são mais assertivas quando carregam um nome próprio no feminino. Não sei se é um dito popular que se criou depois do Katrina, mas desconfio bem que seja isso.

Conforme me pediste segue a minha receita de Xarém de Lagosta. Aviso-te que é para comer em prato de sopa, com colher e que substitui o prato principal. Podes, uma vez que são 8 pessoas no teu jantar, fazer a receita pelo dobro ou, se alguém não gostar de lagosta, fazer a segunda dose substituindo a lagosta por 8 gambas grandes, descascadas e já, previamente, cozidas.

Xarém de Lagosta à Gil

Para 4 pessoas

Ingredientes:

  • Miolo de Meia Lagosta de Kilo (Congelada ou Fresca) = 250 g; (ou 8 gambas grandes cozidas e descascadas)
  • 50 g de toucinho fumado;
  • 100 g de chouriço de carne;
  • 250 g de miolo de camarão médio (40-60)
  • 200 g de farinha de milho (não escolhas a mais moída de todas);
  • 1,5 dl de cerveja
  • Azeite q.b.;
  • Alho q.b.;
  • Sal q.b.
  • Piripiri q.b.;
  • Coentros q.b.;
  • Um ou 2 pés de Coentros Frescos para decoração final.

Confecionar:

  • Num prato coloca o miolo de meia lagosta de um quilograma, corta-o em 8 bocados vistosos e junta-lhes 250 gramas de miolo de camarão previamente cozido ou congelado.
  • Corta o toucinho ou bacon e o chouriço em pedaços.
  • Frita-os numa frigideira, em lume brando, com azeite, alho e coentros. Depois junta 100 ml de água e deixa fervilhar.
  • Coloca o marisco num tacho e junta uma pitada de sal e água e dá-lhes uma pequena cozedura.
  • Escorre o líquido onde cozeu o marisco para um tacho, junta o caldo do chouriço e do bacon, adiciona a cerveja e leva ao lume, deixando ferver um pouco.
  • Deita lentamente a farinha com a ajuda duma colher grande.
    Tem cuidado para não encaroçar, mexendo de vez em quando.
  • Junta as carnes e o marisco e deixe ferver.
  • Se estiver grosso em demasia (deve ficar bem consistente e não a escorrer) junta mais um pouco de cerveja.
  • Depois serve bem quente de preferência em prato de barro enfeitando com uns raminhos de coentros.

 

Bom Apetite.

 

Recebe um beijo de despedida, deste teu amigo de sempre,

que não te esquece,

Gil Saraiva

Carta à Berta: Operações Natal e Ano Novo - PSP/GNR

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Olá Berta,

Um excelente dia para ti. Tem cuidado amanhã com o mau tempo que, ao que parece, vai chegar ao Algarve mais uma vez. Deve chover e ventar bastante. Não sais de casa como se estivesses no Algarve, imagina-te em Coimbra ou algo assim.

Não sei se sabes, mas vamos ter, outra vez, 19 mil elementos da GNR e da PSP nas patrulhas de fiscalização às estradas entre o Natal e o Ano Novo. A justificação apresentada passa, evidentemente, pela tentativa de evitar a sinistralidade rodoviária nesta época festiva.

Contudo, eu desconfio da existência de alguma pressão do Ministério da Administração Interna e do Ministério das Finanças, tal como aconteceu em 2018.

Pela segunda vez consecutiva, o número de elementos policiais, no processo de fiscalização nesta época, é o dobro do que acontecia nos anos anteriores.

Afinal, têm aumentado, significativamente, as receitas provenientes das multas aplicadas nos últimos 15 dias do ano. Em 2018 foram registadas quase 7 mil infrações, o que, traduzido em verbas, é deveras assinalável e justifica o reforço dos contingentes de fiscalização

Por outro lado, ao analisarmos a sinistralidade, podemos ver que o número geral de sinistros aumentou em 2018 face a 2017, onde a força de fiscalização era metade das realizadas nestes últimos anos. De 17 para 18 o número de vítimas mortais também dobrou, como a quantidade de sinistros foi igualmente superior.

Em conclusão, a única componente prática de se dobrar os operacionais, nos últimos 15 dias do ano, tem, como consequência única, um substancial aumento das receitas derivadas das contraordenações e das infrações detetadas nas estradas portuguesas.

Seria por isso obrigatória a exigência da redução drástica do número de sinistros registados. Isso sim, justificaria a manutenção do dobro de efetivos nesta época ou até do triplo. Importa realmente ter resultados práticos nos objetivos propostos e não apenas em verbas angariadas pelas forças da ordem. Enfim, é mais uma medida feita à portuguesa, sem se pensar em tudo, sem foco real no objetivo principal.

Minha querida Berta, recebe um beijo de despedida deste teu amigo,

Gil Saraiva

Carta à Berta: Bolsonaro... e o alegado caminho para a DITADURA!

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Olá Berta,

Espero que o vento previsto aí para o Algarve não seja demasiado forte nem incomodativo. A região está habituada a brisas suaves e a ventos pouco intensos. Principalmente nessa zona do Sotavento onde te encontras.

Um dos alegadamente maiores idiotas da história do Brasil, ocupa, neste momento, a presidência do país, de seu nome, Jair Bolsonaro. Depois da COP25 e do papel mesquinho, ridículo e assustador a que o Brasil se prestou, por força das diretrizes presidenciais, é a vez de o próprio país, vir a público, revelar mais algumas facetas do alegado fanático de direita religiosa.

Segundo declarações, da Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas do Brasil, <<Bolsonaro mostra-se hostil à liberdade de expressão e de imprensa e tem demonstrado essa hostilidade com diversos meios, não só pelos ataques verbais que faz aos jornalistas, mas também pelas tentativas de desacreditação dos “media”(…) Há no Brasil o princípio constitucional da liberdade de imprensa, mas o Governo tenta impor-se contra este princípio usando o seu poder>>.

Por outro lado, Rogério Christofoletti, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e membro do Observatório da Ética Jornalística, afirma que está em movimento no Brasil a implantação de uma agenda anti jornalística.

O douto responsável mostra-se convicto quando diz: <<Estou convencido que esta estratégia faz parte das relações que o Presidente do Brasil tem com a sociedade, numa busca de inimigos claros e evidentes. Ele escolheu a imprensa como um desses inimigos e, para jogar com o seu público, faz críticas e acusações, promovendo uma campanha anti jornalística>>.

Para a Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas do Brasil, Maria José Braga, e para o já referido membro do Observatório da Ética Jornalística, Rogério Christofoletti, é evidente que Jair Bolsonaro, enquanto Presidente do Brasil, promove uma política concertada de ataques à liberdade de expressão.

Aliás, a Presidente da FENAJ adiantou que Bolsonaro deixou claro, ainda como candidato, nos seus discursos de apologia à ditadura militar e à violência, que, os mesmos, uma vez implantados como métodos de Governo, gerariam a sua oposição ao papel dos meios de comunicação social de fiscalizar os poderes da democracia.

Maria José Braga afirma ainda: <<Ele é uma pessoa, um político, e agora um Presidente, que de facto não tem nenhum apreço pela democracia e, por isso, não respeita as regras democráticas (…) não só em palavras, mas por atos, o Presidente tem atacado e retaliado os “medias” brasileiros>>.

A Presidente da FENAJ é perentória ao afirmar que, após um estudo, realizado pela Federação a que preside, ao quase primeiro ano completo de Governo as conclusões são alarmantes.

Segundo a mesma fonte, Bolsonaro desenvolveu ataques sistemáticos à liberdade de expressão e de imprensa ao promover um determinado número de medidas, que passam por avançar com:

Críticas diretas a repórteres e órgãos de comunicação social; extinção da obrigatoriedade de registo para exercer a profissão de jornalista; restrições visando órgãos de comunicação social específicos, apresentando o caso particular das medidas contra o jornal “Folha de S. Paulo”, uma publicação impressa, líder em todo o país, que foi proibido de participar em concursos e licitações públicas.

Aliás o estudo, já referido, divulgado este mês de dezembro pela Federação, indicou que o Chefe de Estado terá realizado, pelo menos, 111 ataques públicos contra profissionais da comunicação social quer em entrevistas, quer em publicações nas redes sociais, isto só no ano de 2019, o que indica um ataque programado e bem direcionado a cada 3 dias.

Ainda segundo a mesma fonte, estes ataques seriam uma forma de o <<Presidente incitar os seus seguidores a não confiarem no trabalho jornalístico da maioria dos órgãos e dos profissionais, principalmente quando divulgam notícias críticas>>.

Por sua vez Rogério Christofoletti apresenta como resultado das suas avaliações ao longo deste ano a conclusão de que o Presidente do Brasil decidiu adotar ações semelhantes às do Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, quer na retórica quer no comportamento, que, reiteradamente, afirma que os meios de comunicação social críticos ao seu Governo propagam notícias falsas.

Segundo Christofoletti, o Presidente tenta assim, com esta atitude, estabelecer uma narrativa que quer ser preponderante aos factos e que, em última análise, sequestra a verdade dos mesmos. Acrescenta ainda que Bolsonaro faz transmissões ao vivo na internet, na rede social Facebook, todas as quintas-feiras e que usa como seu canal de comunicação, em direto com o público, o Twitter e que, deste modo, prescinde dos mediadores convencionais, ou seja, da comunicação social tradicional. Mas o membro do Observatório da Ética Jornalística vai mais longe, afirmando que o Presidente do Brasil sataniza e demoniza a imprensa brasileira e não só.

Os exemplos são muitos, mas, voltando apenas ao já referido, o Presidente, não só excluiu a Folha de S. Paulo das licitações e concursos públicos como, por retaliação, cancelou a assinatura do jornal da lista de periódicos recebidos pelo Governo brasileiro.

Esta medida causou uma reação de Lucas Furtado, o subprocurador-geral junto do Tribunal de Contas da União, o TCU, tendo, na sequência dos factos, apresentado um pedido formal para que a Folha de S. Paulo não fosse excluída das licitações. Até ao momento em que te escrevo, minha querida amiga Berta, este pedido ainda não foi sequer analisado, segundo é referido pelas mesmas fontes.

Quando no fim de outubro, Bolsonaro, declarou que nenhum órgão do Governo voltaria a receber a Folha de S. Paulo, adiantou, à laia de explicação, que o jornal era um órgão propagador de notícias falsas.

Visando criar a sua própria imprensa, devidamente moldada à sua imagem e semelhança e devido à falta de jornalistas devidamente creditados para a comporem, o poder executivo enviou em outubro para o Congresso, um projeto chamado “Verde e Amarelo” que prevê a extinção de registo profissional para quem exerça a profissão de jornalista.

Já em agosto último, Bolsonaro havia declarado publicamente que um outro jornal, o “Valor Económico” poderia ter de fechar as portas, uma vez que o Governo iria acabar com a norma que obrigava as empresas de capital aberto a publicarem os seus balanços financeiros em jornais nacionais, e, com isto, retirar os fundos necessários à sobrevivência da publicação, uma vez que esta ousara, por diversas vezes, criticar a sua gestão, nomeadamente, na vertente económica e financeira.

Contudo, a determinação do Presidente do Brasil, precisou, e ainda bem, de aprovação do Congresso, que inteligentemente a chumbou, sem propor sequer qualquer alternativa possível.

Este é um pequeno exemplo do que tem sido a governação de Bolsonaro. Muito pior do que isto tem acontecido numa imensidão de áreas, desde as questões ambientais, à tentativa de alteração de costumes, ao ataque sistemático às tribos indignas e à criação de uma legião de fanáticos. Em apenas um ano, ainda por terminar, o programa de implementação de uma alegada nova ditadura no Brasil vai adiantado.

A minha esperança, minha querida amiga, é que este povo que eu adoro como se fosse o meu, consiga arranjar forma de inverter esta vertiginosa sucessão de acontecimentos e que este alegado lunático consiga ser travado a tempo. Seja por eleições, seja por impugnação, seja por abuso de poder, seja pelo que for. Impõe-se o fim, a curto prazo, desta desastrosa governação de gente que acha que os peixes são inteligentes e as pessoas burras que nem calhaus.

Despeço-me, como sempre, enviando-te um beijo saudoso, deste que não te esquece,

Gil Saraiva

Carta à Berta: A Bicha Justiceira Vence Novamente

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Olá Berta,

Não sei se já deste conta que o Natal se aproxima a passos largos. No Algarve é um pouco mais difícil, para quem vem de fora, dar pela chegada da quadra. Se fosses de frequentar os grandes centros comerciais ainda davas por ele, agora assim, não é tão evidente. Bem, não era, quando eu vivia aí pelo Sul. Hoje em dia até já pode ser de outra maneira.

Não sei se tens acompanhado “As Aventuras de uma Bicha Portuguesa”, peripécias que davam para pôr nome a um filme, do género do que acabei de dizer. Estou-me a referir ao icónico, pela negativa, José Castelo Branco.

Depois de ter declarado publicamente no verão passado que ia lançar a sua candidatura a Primeiro-Ministro, de ter feito um alarido público anunciando já ter recolhido 12 mil e quinhentas assinaturas, para a formação do seu partido “MJP”, ou seja, o “Movimento de Justiça Portuguesa”, acabou por se retirar prematuramente, alegadamente devido à saúde da sua Betty Grafstein, que se teria agravado ao ponto de ir ser operada no final de agosto passado, o que o obrigava a regressar, fora do previsto, rapidamente aos Estados Unidos.

A senhora de 92 anos foi realmente operada, aos olhos, e, 3 dias depois, já Castelo Branco a exibia num dos aparelhos do ginásio particular do apartamento desta em Nova Iorque.

Ficam no ar as dúvidas se realmente as 12 mil e quinhentas assinaturas existiam. Mas o amigo José, não é bicha que se preocupe com detalhes. Aliás, ele próprio se afirmou como tal, o que justifica eu estar a usar o mesmo termo. Foi precisamente quando em agosto anunciou a sua prematura saída da política:

” Vou continuar sempre a ser a bicha justiceiraEu não minto nem brinco em serviço”. Estas são palavras do próprio, que escolhe com orgulho, a denominação de bicha para se autoidentificar. Podes achar algo de incompreensível, mas tudo neste espécime tem esse tipo de caraterísticas de difícil entendimento.

Se pensarmos na personagem como pretenso líder da justiça portuguesa a situação ainda é mais confusa. José Castelo Branco, em 2003, foi detido no Aeroporto de Lisboa por contrabando de mais de 2 milhões de euros em joias, acabando o caso por ser resolvido pelos advogados de Betty Grafstein, com pagamento de pesadas coimas. Mais tarde, em 2013, foi condenado a 9 meses de prisão, com pena suspensa, a pedir desculpas publicamente e ao pagamento de mil euros por ter injuriado e dado uma cabeçada ao produtor Daniel Martins. Depois, em 2016, foi condenado por injurias e maus tratos a uma empregada doméstica, com 3 meses e 16 dias de prisão efetiva ou, em alternativa, ao pagamento de uma indeminização de 6 mil e 400 euros, que acabou por pagar.

Finalmente, esta quarta-feira, Castelo Branco foi novamente preso no Aeroporto de Lisboa, antes de partir para Nova Iorque, acusado de roubar um perfume da marca Dior. No presente momento aguarda julgamento, com termo de identidade e residência, sem autorização para sair do país, por determinação judicial.

Ora, perante um cenário destes, faz realmente sentido que uma pessoa com este perfil, casado com uma mulher 36 anos mais velha, proprietário de uma galeria de arte em Nova Iorque, de uma vivenda em Sintra e de um apartamento em Lisboa, que vive, não se sabe bem do quê, se excluirmos a fortuna da esposa, resolva criar um partido denominado “Movimento de Justiça Portuguesa”.

Minha querida Berta, eu acho que o Termo de Identidade e Residência, agora pendente sobre esta pessoa natural de Moçambique, e que ostenta passaporte português, tem, no fundo, a ver apenas com o facto da própria justiça o querer mais perto de si.

Como ainda não te enviei esta carta e já há novidades sobre a bicha rica, achei por bem um pequeno “update”.  José Castelo Branco conseguiu “provar”, ao que parece, que o perfume lhe caiu para dentro da carteira. Foram anuladas todas as acusações e já seguiu hoje para Nova Iorque. Como diria a bicha: “Money talks”. Mais absurdo só naquele antigo jornal… “O Incrível”.

Despeço-me com um beijo, sempre cheio de saudades, este teu amigo eterno,

Gil Saraiva

Carta à Berta: O Peso do Dinheiro de Sócrates

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Olá Berta,

Nem te pergunto como estás porque isso, aliás, é o tenho feito todos os dias e a coisa ainda vira exagero. Eu por aqui continuo satisfeito a gozar esta época saudável, que parece ter regressado para ficar, depois das chatices que tive até junho passado.

Não sei se tens acompanhado toda a saga do ex-primeiro-ministro José Sócrates que, desde que voltou a ser chamado a testemunhar pelo juiz Ivo Rosa, regressou às primeiras páginas dos jornais, aos noticiários das rádios e às reportagens televisivas.

Provavelmente fizeste como eu, não leste, ouviste ou viste nem um quinto do alarido à volta da Operação Marquês. Fizeste bem. Diga-se, de passagem, que a continua exposição mediática do caso começa a jogar a favor do principal arguido em vez de o prejudicar.

A malta começa a ficar farta. Ainda por cima à medida que vamos tomando conhecimento da inexistência de provas cabais e demonstrativas da acusação proferida pelo Ministério Público. Caramba! Mas não haverá um raio de um papel que prove, de uma vez por todas, que o político meteu a mão na massa e que, por isso mesmo, é culpado dos 31 crimes de que é acusado? Como é que se acusa alguém, num país onde o enriquecimento elícito não é crime, sem ter na mão os papeis, fotografias ou gravações com provas?

Não consigo entender que tudo, pelo menos até ao momento, não passem de deduções, explicações elaboradas do que possivelmente aconteceu, acusação do homem ter andado com muito dinheiro, que não poderia de forma alguma ser seu, e, por isso mesmo, só poder ser fruto de corrupção, mas, e lá vem sempre a porcaria do mas, sem o conseguirem demonstrar com provas irrefutáveis e absolutas, para que não fique nenhuma dúvida.

Tu entendes uma coisa assim? Eu não e juro-te que também, como tu, não sou parvo nenhum. É que, quando o acusado diz que tem um amigo que lhe dá milhões, por mais que isso nos custe a engolir, não há lei que o impeça de o fazer.

Talvez se enriquecer sem explicação fosse crime já o caso estivesse arrumado, porém, minha querida Berta, isso é coisa que não convém ao Estado colocar no papel, passando essa prática a ser crime perante a lei. O resultado seria trágico para muita gente, neste país, que vive milionariamente, sem razão aparente que justifique essa vida e onde, infelizmente, muitos deles circulam nos corredores do poder.

Se os investigadores da Polícia Judiciária, e o Ministério Público, tivessem e pudessem investigar todos os milionários de Portugal, quantos achas tu que conseguiriam justificar cada cêntimo que detêm? Uns 20 porcento? Talvez menos? Eu também não sei. Todavia, espero ansiosamente pelo dia em que um Governo tenha a coragem de mudar a lei.

Até lá, ou arranjam as tais provas cabais ou está tudo muito complicado, quer para os investigadores, quer para o Ministério Público.

Outra coisa que me irrita, é a forma como se criticam as declarações de José Sócrates, nos debates e nos programas de comentário político, na televisão. Vi gente, e por alguns deles eu nutro um enorme respeito (principalmente pela sensatez daquilo que dizem e pela forma clara e ponderada com que o fazem), pôr em causa os 5 milhões que Sócrates teria em casa (os tais que alega terem sido herdados pela mãe), com base no volume do dinheiro e na dimensão que um cofre caseiro teria de ter para guardar tal fortuna. Mas esta gente deu-se ao trabalho de investigar o volume e o peso de 5 milhões de euros em notas de 500 euros?

É por estas e por outras que o ex-primeiro-ministro, mesmo que seja efetivamente culpado, vai passando por entre os pingos da chuva sem se molhar.

Primeiro temos a obrigação de tentar perceber se algo é absurdo antes de fazermos a afirmação de que o é, apenas e só, porque não temos a mínima noção das proporções, medidas e pesos em causa, numa coisa que nem é difícil de investigar. Revolta-me o desleixo com que, quem tem a seu cargo o comentário político e sério, trata matérias importantes e relevantes, para consolidar as coisas que afirma. Na ignorância de algo, só existem 2 maneiras de se resolver o problema: investigar devidamente ou não falar no assunto.

Não é correto cuspir verborreia sem se ter qualquer ideia sobre o que se fala. Essa é a hipótese que nunca deveria chegar ao comentário político. Por isso mesmo, e para não passar por estúpido, como muitos outros, resolvi investigar. Garanto que fiquei admirado com o que descobri.

Afinal, 5 milhões em notas de 500 euros, cabem numa malinha que tenha 58 centímetros de comprimento, por 48 de largura e apenas 20 centímetros de altura, ou seja, qualquer cofrezinho caseiro, mediano, de gente abastada, suporta, com algum conforto, a verba em causa. Quanto ao peso, tudo se torna ainda mais ridículo, 8 quilogramas, sem tirar nem pôr. Apenas 8. O que quer dizer que 5 milhões de euros só pesam pelo trabalho e esforço que custam quando se trata de os ganhar. Nada mais.

Para poderes ter uma ideia, minha amiga, mando-te uma fotografia com esta carta, que ilustra o volume e peso de 500 mil euros. Despeço-me saudosamente com um beijo, deste teu confidente de sempre,

Gil Saraiva

Carta à Berta: A Seleção Portuguesa de Futebol, CR7 e a Felicidade

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Olá Berta,

Estou a escrever-te para desabafar um pouco. Numa altura em que o Presidente Donald Trump está a ser alvo de investigação por parte do Senado, podendo esta levá-lo à destituição; num momento em que há hospitais em Portugal a fechar a sua urgência pediátrica durante a noite; numa ocasião em que existem mães a deitar bebés no lixo, quando seria fácil deixá-los numa igreja ou entregá-los à primeira pessoa que vissem, para que fossem encaminhados para quem deles pudesse cuidar; numa época assim tão estranha e perturbadora, hoje, eu, no meu egoísmo orgulhoso, só consigo pensar na Seleção Nacional de Futebol e no seu Capitão, Cristiano Ronaldo, vulgo CR7.

Reconheço que devia estar a sentir-me mais solidário e preocupado, e este meu sentimento não quer dizer que, no fundo, não esteja, mas eu sou um homem de esperanças e não de dramas. Sempre que aparece algo de bom, onde a minha consciência ou ego se podem agarrar, lá estou eu a trepar para cima dessa boia de salvação, qual naufrago que desesperadamente luta para sobreviver.

Poderás pensar que o meu egoísmo é pecado ou quase. Não faço ideia se o estarás a fazer. Acabo de me lembrar que não sei se és ou não uma pessoa religiosa. Nunca abordámos esse assunto. Mas, para o caso, isso é pouco relevante. Estou a falar de mim e não de ti. Ora, para mim, a felicidade constrói-se a partir das pequenas coisas, uma a uma, e, apesar de vivermos num mundo conturbado, há muita, mas mesmo muita, coisa boa a acontecer a todas as horas.

A minha alegria prende-se com os 6 a zero dados pela Seleção Portuguesa à Lituânia, ainda por cima coroados pelo facto de 3 desses golos serem de Cristiano Ronaldo, um benfiquista que, por força da necessidade de não largar os seus sonhos e objetivos de vida, acabou por ingressar profissionalmente na academia do Sporting e por se tornar um símbolo máximo desse clube. A vida é assim, não apenas para ele, mas para todos os que nunca desistem. As boias de salvação não se escolhem, agarram-se.

Quando, há poucos dias atrás, CR7 chegou ao seu golo 700, a comunicação social, ao mesmo tempo que enaltecia o facto, punha a correr uma afirmação de Pelé onde este falava dos seus mil duzentos e tal… golos. É aquele gostinho de picardia, que parece fazer o deleite da imprensa desportiva. É claro que todos sabem que Pelé se estava a referir aos golos que marcou desde a pré-primária, incluindo os jogos realizados com a sua turma de amigos no bairro onde cresceu, e não aos registados em jogos oficiais, pois desses, o craque, marcou, ainda assim, uns impressionantes 757. Já alguém perguntou ao Ronaldo quantos golos ele marcou desde que começou a jogar no Andorinha em 1993? Acho que não, nem isso interessa, afinal o que conta são mesmo os golos marcados em jogos oficiais enquanto jogador sénior profissional.

Existe outro jogador que reclama 1002 golos. Estou a falar de Romário, um outro fenómeno com bola, porém, mais uma vez, só tem realmente, na contabilidade que interessa, 761 ou 768 golos, conforme a contagem é feita por brasileiros ou terceiros.

Apesar de os brasileiros apenas contabilizarem 759 golos a Josef Bican, internacionalmente são-lhe atribuídos 805. É esse o número que CR7 persegue. Ainda faltam 100. É muito golo, sem dúvida alguma. Mas de cada vez que, nos próximos tempos, Cristiano marcar um golo, será mais um degrau nessa escada impressionante, onde a glória suprema se escreve com bolinhas através do número 806.

O atleta está agora apenas a 5 golos de ultrapassar a lenda Ferenc Puskás e a uma dúzia de se tornar o melhor marcador de sempre de uma seleção nacional, ao galgar sobre a marca do jogador Ali Daei, do Irão, que fez 109 golos em 149 jogos pela sua seleção, numa zona do globo onde marcar golos não tem o grau de dificuldade da Europa.

O degrau seguinte desta monumental escadaria será quando conseguir concretizar mais 53 golos, ultrapassando Pelé, depois mais 11 para deixar Romário para trás e, por fim, daqui a 101 golos chegar ao Olimpo e tomar o trono a Zeus, ou seja, a Josef Bican.

O meu orgulho em CR7, tem uma imensa dose de alegria associada. Não interessa se ele é bacoco, nacionalista ou tolo, é meu, como o é de muitos outros portugueses.

Mas voltando à Seleção Nacional de Futebol e, já agora, ao próximo jogo com a Seleção do Luxemburgo, proponho que se calem os arautos da desgraça e da calamidade que se atrevem a considerar a hipótese de Portugal não ganhar. A questão não é nem será nunca: e se Portugal não ganhar? Queremos é saber por quantos golos vai ganhar e, quantos desses, serão de Cristiano Ronaldo. Quantos? Pelo menos eu penso assim e isso deixa-me feliz por mais 3 dias. A felicidade faz-se das coisas mais simples do mundo, pelo menos a minha.

Despeço-me com muito carinho, recebe um beijo saudoso deste amigo que não te esquece,

Gil Saraiva

 

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