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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: “A Prova dos Nove da Profecia de Haragano” ou a “Crónica do Impossível” - Parte III/III

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Olá Berta,

“A Prova dos Nove da Profecia de Haragano” ou, mais sobriamente, a “Crónica do Impossível”, terminaria hoje a revelação da profecia projetada para o dia de ontem e com consequências no futuro que podem ou não ser graves, consoante o caminho escolhido pela humanidade, isto, claro está, se eu for um profeta que se veja, contudo, amanhã ainda publicarei o epílogo com as últimas observações e conclusões finais.

Vamos, pois, aos números e aos seus possíveis significados. Vou começar pelo número total de infetados no mundo que foi atingido ontem, dia 21/03/21, e que fez parte da minha previsão em março de 2020 para este março de 2021. Trata-se do número 123.456.789 os primeiros algarismos do 1 ao 9 seguidos, daí resulta o n.º de Lúcifer: 666, (ver quadro).

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Ora, se fizermos a Prova dos Nove ao dia 21/03/21 obtemos o seguinte resultado: 2+1+0+3+2+1= 9, noves fora = 0. Zero é, pois, um dia de início de qualquer coisa, o ponto de partida, por exemplo, para uma profecia. Não é à toa que, ao contrário do que eu pensava, o n.º 123.456.789 de infetados só foi atingido um ano e 19 dias depois do primeiro caso de Covid-19 em Portugal. Afinal, se somarmos os 365 dias do ano aos 19 dias extras que precisámos para termos chegado ao n.º de Lúcifer obtemos: 365+19=384, ou seja 3+8+4=15, número que, se tirados os noves fora, dá 6 (1+5=6), o primeiro algarismo do Demo. Faz todo o sentido que assim seja.

Porém, o dia 21/03/21 trouxe mais surpresas, pelas quais eu não esperava. Assim, ao olhar para o total de casos ativos no mundo, descobri que tínhamos atingido os 21.285.612, o que (como mostra o gráfico abaixo apresentado) volta a fazer aparecer o nº de Mefistófeles, ou seja, pela segunda vez: 666. Ora, eu nunca fui muito de acreditar em coincidências.

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Apesar de tudo, achei que poderia acontecer algo assim, mas com alguma sorte à mistura ou muito azar, falando mais corretamente. Certamente que os ciclos do demo ficariam por aqui e ainda me faltavam verificar mais dois parâmetros importantes: os totais de casos encerrados globalmente e o número total de mortos atingidos no mundo. Por mais que as coisas tendam todas a correr mal quando algo corre mal, como diz a Lei de Murphy, seria difícil continuar a ter números estranhos e arrepiantes.

Fui consultar o número de casos encerrados no mundo. O quadro do worldometer.com, que costumo consultar na internet, mostrava o seguinte número total de casos encerrados no planeta: 102.156.966. Pela terceira vez o 666, o n.º de Belzebu, voltou a aparecer (ver o quadro abaixo). Aquilo já não era uma banal coincidência fortuita.

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O dia continuou a passar e eu tinha abandonado esta carta um pouco impressionado com tanta repetição de números do demo. Faltavam-me ver o total de recuperados no mundo, que anotei como 99.429.333 e o número total de óbitos no globo, aquela palavra que tenta disfarçar que se fala de pessoas que morreram mesmo, cujo somatório era 2.722.272. Fazendo a conta e tirando os noves fora, para cada um dos números, o resultado apresentava apenas o algarismo 6.

Por hoje fico-me por aqui, querida Berta, voltarei amanhã com o epílogo desta Crónica do Impossível. Deixo um beijo de despedida, este teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: O Oraculo

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Olá Berta,

Conforme sabes eu tenho dedicado especial atenção à evolução da pandemia no país e no mundo. Faço-o desde a primeira hora, desde a altura em que ainda não existia nenhum caso registado em Portugal. Mês após mês tenho feito, como se fosse um entendido na matéria as minhas previsões e, para meu próprio espanto, não tenho andado muito longe do que tem acontecido.

A significar alguma coisa, seja lá o que for, tal não faz de mim um analista especializado, nem me transforma de um oráculo da pandemia, apenas quer dizer que tenho tido a sorte de fazer uma boa leitura da informação que vou colhendo. Isso não quer dizer que, mais cedo ou mais tarde eu não me engane redondamente numa previsão e até admito que o engano seja monumental.

No entanto, a minha próxima previsão arrepia-me ao ponto de esperar que seja desta vez que eu me engano redondamente. Normalmente tento antever os números de infeções e de óbitos com três tipos de prazos. Primeiro o curto prazo, para o qual projeto um espaço de 12 dias, depois o médio que é de 36 e o longo de 108.

Faço este exercício quer para o país quer para o globo em geral. Ora, hoje, enquanto esperava pela chegada da noite eleitoral, decidi fazer mais uma dessas previsões. O resultado do curto prazo para a nossa terra lusitana foi tal que já nem fiz mais nada. Segundo os meus cálculos algures até sexta-feira, cinco de fevereiro, nós atingiríamos os mais de 20.000 infetados diários e para cima de 500 óbitos em vinte e quatro horas. Um absurdo tão gigantesco e de tal forma dantesco que só me posso ter enganado.

É o que dá quando nos pomos a tentar adivinhar o futuro sem termos os elementos de cálculo dos especialistas. É claro que devo ter feito algo de errado, só me irrita não ter descoberto onde me enganei. Se te falo no assunto é para que saibas, que mesmo quando dou a minha alegada opinião sobre algo, não me considero com isso o senhor da razão e da verdade. Dou, quanto muito a minha opinião, o que já não é mau de todo.

Por hoje é tudo, minha querida Berta, despede-se, com um beijo de saudades, este teu amigo sempre ao dispor daqueles a quem quer bem,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Porque É Tão Difícil Confinar Agora?

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Olá Berta,

2.103.000 era, há 15 minutos atrás, o número de óbitos, por Covid, registados oficialmente no mundo. Dois milhões cento e três mil, este é o número de mortos oficiais por Covid, o que é muita gente e isto num universo em que, talvez já no próximo domingo, o globo atingirá os cem milhões de infetados. Então, perguntarás tu, minha querida Berta, porque é que não andamos todos em pânico?

Porque nos adaptamos, esta é a verdadeira resposta. O nosso cérebro tem a maravilhosa capacidade de se adaptar a todas as circunstâncias para conseguir sobreviver. Quando a notícia que aparece repentinamente, tem mostras de tragédia e é chocante, nós reagimos de imediato. Temos medo, pavor, pânico e insegurança nos instantes seguintes, todavia, a repetição continuada no tempo, de forma cíclica, de um mesmo tipo de desastre faz disparar os nossos mecanismos de defesa. Passamos a assimilar essas notícias como parte da rotina e o susto inicial é substituído por uma espécie de enfado triste até que um dia, sem sabermos porquê, passamos a achar normal tudo o que anteriormente nos horrorizou.

Não admira, portanto, embora a pandemia esteja bem mais grave agora do que no início, que a coisa nos pareça mais normal, menos preocupante, o que justifica que não entremos em pânico com a facilidade anterior.

Não passámos a ser mais insensíveis, nada disso, nós entrámos, isso sim, em modo de defesa cognitiva. Como consequência disso temos todos a tendência de sermos impelidos a voltar às velhas rotinas da pré pandemia, como se esta fosse algo que, embora existindo e sendo uma realidade, não nos diz diretamente respeito.

Aqui ou ali, um detalhe, um acontecimento sobre o tema, ou uma qualquer relação de proximidade, pode fazer regressar o medo, o pavor ou o pânico, contudo, tem de ser por um motivo específico, porque a generalidade do assunto se tornou corriqueira e banal.

Essa é a razão que explica porque fomos tão ordeiros e obedientes no primeiro confinamento de março do ano passado e porque procuramos, com a mesma naturalidade, as exceções ao isolamento desta vez.

Apesar disso ser naturalmente assim, há coisas que não aceitamos. Por exemplo, porque não perdemos a capacidade de pensar, é-nos difícil aceitar que as eleições de domingo para a Presidência da República não tenham sido atempadamente adiadas. Aliás, foi com sentimento de revolta que já reagimos à votação antecipada, marcada por filas e esperas sem sentido, do passado domingo.

Psicólogos, psiquiatras, analistas especializados, cientistas do comportamento, médicos, terapeutas e mais uma gigantesca parafernália de entendidos sabem bem o que nos acontece e porque agimos da forma como agimos e porque acabamos por nos comportar como nos comportamos.

Se os grandes senhores das gigantes tecnológicas usam os estudos do comportamento humano para nos fazerem consumir quase que por instinto, porque raio não há de o Estado usar os mesmos mecanismos para nos explicar o que estamos a fazer intuitivamente de errado?

A pergunta fica no ar, minha querida Berta, por hoje despede-se saudoso este teu amigo do coração, recebe um beijo de despedida deste que não te esquece,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Novos Infetados - 14.647 - Mortos - 219 - Às Costas de Costa

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Olá Berta,

14.647 novos infetados e 219 mortos por Covid-19, são os novos dados de hoje em terras lusas. Um número absolutamente impensável ainda no mês passado, antes do ano ter terminado. É por causa de coisas como esta que eu digo muitas vezes, e neste caso infelizmente, que a realidade é sempre capaz de nos surpreender mais, muito mais do que qualquer possível ficção.

Embora até aqui eu tenha, na grande maioria dos casos, defendido a atuação do Governo, começa a ser-me difícil compreender porque é que este não adota uma política de transparência imediatamente. Eu sei, cai bem dizer que se está preocupado com a formação das crianças e dos jovens e com o seu futuro. É um facto bonito, constitucional e cheio de valores.

Porém, não é por esse motivo que António Costa não fecha as escolas. Costa não quer o confinamento geral porque o Estado Português anda no limite do seu endividamento e já não tem dinheiro para pagar (e mal) um confinamento total, ou, mesmo que tenha, irá ter que o ir retirar a outro lado onde depois não o conseguirá repor nunca mais.

Minha querida Berta, se é preciso confinar que se confine e já, escolas e tudo. Que se passe a revelar os números da pandemia por freguesia, com honestidade e transparência. É tempo de o Estado agir com integridade e esquecer o poleiro.

Se depois faltar dinheiro ou se tivermos de ir para eleições antecipadas, porque o Governo se torna impopular, iremos. Não é possível é continuar a agir com meias-tintas que pouco ou nada conseguem resolver. O António tem de ser frontal e o que vier veio, ele até já tem umas costas largas, pode bem com mais este fardo.

Por hoje, deixo-me ficar com este desabafo. Eu sei que tu me compreendes, cara Berta, e que entendes a minha frustração com a falta de frontalidade do poder que nos governa. Despede-se este teu amigo, com um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Afinal de Contas...

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Olá Berta,

Hoje vou abordar 2 temas distintos. A verdadeira dimensão da pandemia em termos mundiais e o problema demográfico de Portugal que se agrava a cada ano que passa. Daí escolher hoje o título:

Afinal de Contas…

Já deves saber que o mundo ultrapassou pelos dados oficiais os 7,2 milhões de infetados com o vírus pandémico e que mais de metade destes casos continuam ativos. A somar-se a isso estão uns assustadores 410 mil óbitos oficialmente declarados como resultantes deste flagelo.

Contudo, os dados reais são entre 2 a 3 vezes superiores a isto, para as infeções, podendo as mortes oficiais apenas serem um quinto dos óbitos, na mais positiva das hipóteses, e por motivos muito diferentes, consoante o país que os reporta. Espanha, que está a ferver de urgência para reabrir as fronteiras, deixou de reportar mortes no boletim oficial do Governo, como se tivesse resolvido o pior problema, contrariando os dados regionais enviados pelas autarquias. O Brasil, desde a primeira hora sempre adulterou o número de mortes por questões de resistência presidencial e por problemas ligados aos seguros de vida que, no país, não cobrem as mortes causadas por Covid-19.

A Venezuela, Cuba e Rússia, entre outros, por questões políticas e de regime quase não anunciam falecimentos, quiçá para tentarem parecer mais eficazes do que na realidade são. Todavia, uma grande quantidade de países não reporta, devidamente, os dados, sejam infetados ou fatalidades, por falta de recursos para diagnóstico, seja de quem está infetado, seja de quem morreu por Covid-19.

Nalguns casos as organizações de saúde consideram que nem um quinto dos casos reais são comunicados no que se refere às infeções e, pior ainda, apenas cerca de 10% das mortes são anunciadas, e apontam-se os casos do Bangladesh, do Paquistão e da Índia como alguns dos mais evidentes.

Em resumo, é possível e credível pensarmos que já há muito que foram ultrapassados os 25 milhões de infetados e que o valor real dos óbitos no mundo deve andar, na verdade, na casa dos 2 milhões até ao momento.

Contudo, por mais que os países tentem esconder a realidade, quando chegarmos ao final de 2020 e compararmos os números de óbitos do ano com os 5 ou 10 anos anteriores, é que saberemos, de forma mais aproximada e realista, qual foi o verdadeiro valor da mortalidade e em quanto é a que mesma se desviou dos padrões esperados.

Já o próximo ano de 2021, vai trazer outro tipo de novidades em termos nacionais. O Censos 2021 irá dizer-nos, entre muitas outras coisas, quantos somos. Já estaremos nós abaixo dos 10 milhões de habitantes? Teremos de tomar medidas drásticas para parar o acelerado decréscimo populacional em Portugal? A falta de uma taxa de natalidade, que nos ajude a manter o índice populacional, e envelhecimento da população, em nada ajudam nesta demanda que, numa primeira análise parece perdida.

Neste momento Portugal ocupa o octogésimo sétimo lugar em termos de população no ranking mundial, entre mais de 213 países e territórios, ou seja, 60% dos Estados, e Zonas com algum tipo de Autonomia do mundo, detêm um menor número de habitantes do que nós, no seu espaço geográfico. Se continuarmos a perder população à velocidade de 40 mil habitantes por ano, dentro de 30 anos teremos perdido entre 13 a 20 lugares do ranking, ficando situados, provavelmente, na metade que corresponde aos países de menor população mundial. Uma mudança de paradigma significativa.

Mais grave ainda poderá ser o nosso reposicionamento no espaço da União Europeia dos 27, onde apoios e contribuições são definidas pelo número de habitantes de cada Estado membro. No presente momento temos, com menor população do que nós: Malta, Luxemburgo, Chipre, Estónia, Letónia, Eslovénia, Lituânia, Croácia, Irlanda, Eslováquia, Dinamarca, Finlândia, Bulgária, Áustria, Hungria, Suécia, República Checa, Grécia, (tomados como referência os Censos de 2011). Com mais população estão apenas 8 Estados membros: Bélgica, Holanda, Roménia, Polónia, Espanha, Itália, França e Alemanha.

Porém, após o Censos 2021, é quase certo que passaremos a ter menos população que mais 3 países: Suécia, República Checa e Grécia. Países que estatisticamente já possuem mais população que a portuguesa, mas a quem, a efetiva contagem de 2021, trará outro peso e importância no contexto da União, para quem apenas os números reais contam.

Nos próximos 30 anos ainda nos arriscamos a ser ultrapassados pela Áustria e pela Hungria o que nos colocará no topo da metade inferior dos países com menos população no seio da União Europeia. Ora, nada disto teria grande importância se a distribuição de verbas entre os Estados não estivesse direta e indiretamente ligada ao número de habitantes. Mais grave ainda será o continuo envelhecimento da população nacional, a diminuição assustadora da população ativa e a pressão cada vez mais ostensiva sobre o SNS e sobre a Segurança Social.

Em conclusão, analisando as 2 temáticas, no caso português, urge combater agora com determinação a pandemia e devem ser aproveitados os recursos que ai vêm para termos uma eficaz política de crescimento populacional que não nos obrigue a definhar enquanto povo.

Por hoje é tudo, minha muito querida amiga. Este teu permanente amigo despede-se com o usual beijo de saudades e carinho, sempre às ordens,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Quando o Covid-19 chegar a Campo de Ourique Parte II/III

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Olá Berta,

Continuando a minha carta de dia 29, aproveito esta para te dizer que este domingo, já a Farmácia Condestável, anunciava nos grupos de Campo de Ourique do Facebook, que amanhã, segunda-feira, iriam receber máscaras novas e que aceitavam reservas por email. Quanto ao preço e à especulação a ser praticada nada se esclarecia. Ou muito me engano ou a avidez e pânico, permitirão a venda do produto com ganhos superiores a mil porcento.

Claro que isto sou eu a dizer coisas à toa, alegadamente aliás, tudo se pode falar, mas será que realmente estarei enganado? Uma coisa que há 2 meses custava cêntimos ao público, por unidade, quanto é que custa agora? Quantas vezes iremos escutar a desculpa de que o que custava cêntimos era o modelo “xpto”, mas que este, o “xpto do carvalho” sempre foi muito mais caro?

A questão é que por mais sofisticada que fosse a máscara, em dezembro do ano passado nenhuma delas ultrapassava o custo de um euro por unidade, porém, na realidade, na altura, não existiam as “xpto do carvalho” cujo efeito é tão eficaz como a maioria das outras que vão aparecendo, aqui e ali, um pouco por todo o lado, na senda do lucro fácil.

Ao fim ao cabo, qual é a utilidade da informação dada pela farmácia Condestável? Alguém precisa de máscara em Campo de Ourique? Rigorosamente ninguém.

Mas que vão haver inscrições não tenho dúvidas e que a máscara vai esgotar também não. Para além disso a Farmácia passará a ficar com uma boa base de dados de clientes futuros. Quero aqui ressalvar a possibilidade de esta loja de medicamentos poder ter intensões sérias, estar mesmo genuinamente preocupada com os seus clientes ou vizinhos e não ir sequer especular no que se refere ao preço. Mesmo que ela assim funcione, pelo menos o fornecedor já especulou e inflacionou o preço. Contudo, desculpem-me os proprietários, eu não acredito que não haja aproveitamento por parte da loja. Todavia, é a minha opinião e vale o que vale, ou seja, tanto como a tua, amiga Berta, ou a de qualquer outra pessoa.

Se pensarmos que o outono/inverno de 2018/2019 matou, apenas em Portugal, quase 4000 pessoas devido ao frio e à gripe comum, quantas pessoas poderão morrer em Portugal por força do Covid-19? Não imagino sequer (ou talvez até tenha uma opinião). Ora, o que eu sei é que, este outono/inverno de 2019/2020, morrerão pessoas num número semelhante ao do ano passado, devido ao frio e à gripe. Talvez até um pouco mais pois as estatísticas apresentam um ligeiro aumento de ano para ano. Porém, se a estas juntarmos as vítimas da costumeira pneumonia estamos já a falar de cerca de 10 mil mortes esperadas para as estatísticas de 2020. Número que deverá até ser ultrapassado porque, conforme disse, estas fatalidades mais usuais, têm aumentado nos últimos anos.

O que os números destas maleitas comuns me indicam é que, a média anual de vítimas de frio, gripe e pneumonia deverá rondar, em 2020, quase 28 óbitos por dia. Há ainda as previsões climatéricas que apontam para uma primavera mais quente, cerca de um grau, à média dos últimos anos, com menos chuva e tudo aponta para um verão quente, com picos, como o de 2018. Ou seja, poderemos contar, sem falhar por muito, com algo como mais 2000 vítimas do calor estival. Em conclusão, este será um ano em que diariamente teremos uma média de 33 óbitos diários derivados do clima, da gripe e da pneumonia.

Ora, se os números mundiais sobre os infetados e os óbitos provocados pelo Covid-19, até à presente data, estiverem certos, então, no pior dos cenários, poderiam vir a falecer em Portugal, fazendo a devida extrapolação, cerca de 365 a 730 pessoas, ou seja, uma média de uma ou duas pessoas por dia. O que, amiga Berta, se comparado com os valores do parágrafo anterior seria insignificante para nós (que não para os familiares dos falecidos).

Todavia, e podes chamar a isto intuição de 40 anos de jornalista, eu acho que a comunicação social apenas tem conhecimento de cerca de 10 porcento das verdadeiras estatísticas relativamente a infetados e óbitos. Nesse cenário e imaginando uma catástrofe nacional, no pior dos panoramas, as mortes por Covid-19, em Portugal, poderiam atingir cerca de 7 mil e 500 pessoas, em 2020. O que, somado às outras vítimas atrás referidas, representaria cerca de 40 falecimentos diários.

Mesmo neste filme ultra trágico apenas 0,18 porcento da população nacional morreria derivado ao clima, à gripe e pneumonia comum e ao coronavírus. Tal número se comparado aos dados dos óbitos provocados, anualmente em Portugal, pelo álcool e pelo tabaco, fica bem abaixo destas realidades, que juntas matam, atualmente, cerca de 70 pessoas por dia no país.

Mas o que representa um cenário desta pandemia, uma vez que se instale em Portugal? Voltemos ao exemplo de Campo de Ourique. O Bairro em 2011 tinha cerca de 1500 estrangeiros residentes, sendo cerca de 900 desses franceses. Ora, 10 anos depois, os números deverão andar pouco abaixo dos 3 mil, com os franceses à frente, seguidos pelos espanhóis, italianos, brasileiros e chineses. Tudo gente que já tem Covid-19 nos seus países de origem.

Portanto, e ainda considerando o pior dos quadros, o mais temido por todos (ou seja, uma pandemia instalada em Portugal, com uma tipologia parecida à italiana, e tendo em conta que apenas conhecemos 10 porcento da verdadeira situação), estaríamos a falar de 19 casos de Covid-19, em todo o ano de 2020, no Bairro de Campo de Ourique.

Porém, se os números oficiais forem reais, então a probabilidade de casos no bairro cai, durante os 12 meses de 2020, para um máximo de 2 óbitos. Para menos até, porque já ultrapassámos 2 meses do ano, sem que qualquer caso se tivesse manifestado.

Ora, mesmo assim, a acontecer, não deixaria de ser trágico, todavia (pondo mais uma vez de lado o trauma das famílias diretamente afetadas), seria apenas residual. Apesar de tudo, quero lembrar que, por esta altura, estou a falar de nos virmos confrontados com as piores previsões e, em simultâneo, com péssimas prestações por parte dos nossos serviços de saúde. Algo que, com o que já se conhece, as tornariam verdadeiramente desastrosas.

Porém, amiga Berta, como verás na minha última carta sobre este tema, Portugal já teve dois meses sem vírus (e não se sabe quantos mais dias terá). Tal facto, constituiu um grande benefício, criando tempo suficiente para o país se preparar para o combate à pandemia. Por que raio é que agora iria cometer os mesmos erros de países onde a epidemia se espalhou mais rapidamente? Não faz realmente muito sentido.

Por hoje despeço-me e aguarda pela próxima carta para que consigas entender claramente qual é a minha perspetiva realista sobre o que alegadamente devemos fazer em termos de bairro, para escaparmos todos, a toda esta tragédia. Entretanto, recebe um beijo deste teu amigo,

Gil Saraiva

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