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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Não Se Aponta Que É Feio

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Olá Berta,

Tenho visto e ouvido imensa gente a criticar o Governo por andar a fazer poucos testes. Seja na Assembleia da República, por parte dos partidos da oposição, seja na imprensa escrita e, mais assertivamente nas redes sociais, que quase que espumam de raiva reivindicativa pela testagem em falta. Eu que aponto o dedo à atuação dos nossos líderes, sempre que me parecem que eles escorregam nos seus deveres, também gosto de ter a noção de que as críticas que faço são minimamente justas.

Nestas coisas sobre o que o SNS anda a fazer a mando da DGS eu acho importante que se tenha em atenção dois pontos fundamentais: o rácio de testagem realmente efetuada, desde que a pandemia começou, por milhão de habitantes e a comparação com os países que têm a mesma ou maior população que Portugal.

O primeiro critério é evidente porque não faz sentido fazer comparações sem ser pela percentagem de testes realizados desde o início por cada milhão de habitantes, o segundo ponto é ainda mais importante porque não acho justa a comparação nacional com países ou territórios de menor dimensão populacional, como por exemplo o Mónaco, o Luxemburgo ou Andorra, que, dada a sua pouca população, atingem grandes percentagens por milhão de habitantes com meia dúzia de testes, porque a comparação se torna ridícula.

Ora, analisemos, portanto, quais e quantos são os países e os territórios que, com igual ou superior dimensão populacional e desde que as testagens começaram, têm mais testes por milhão de habitantes que Portugal. Serão muitos? Estaremos assim tão na cauda da testagem como se afirma? Devo confessar que eu não sabia, mas resolvi consultar as testagens em todo o globo e compará-las connosco, fazendo uso dos critérios já referidos. Para tal usei os dados da OMS e do site do “Worldometer”, que é muito usado para avaliação dos dados da pandemia.

República Checa, Bélgica, França, Reino Unido e Estados Unidos da América, são os cinco, e únicos, países do mundo que, tendo uma população igual ou superior à nossa, já fizeram mais testes por milhão de habitantes que Portugal, desde que a pandemia começou. Ora, vistas as coisas por este prisma objetivo, não se pode dizer que estamos na cauda seja lá do que for no que à testagem diz respeito.

Pelo contrário, fica demonstrado que testamos mais do que Espanha, Itália, Holanda, Alemanha, China, Rússia, Índia, Brasil, México, Canadá, Austrália, só para enunciar alguns dos países que esperaríamos encontrar mais avançados do que nós. Para cúmulo desta análise, devido ao elevado aumento da testagem nacional, e a manter-se este ritmo, dentro de menos de 30 dias, estaremos no top 3, o que não me parece um lugar de envergonhar quem quer que seja, por mais voltas que se tentem dar aos números.

Vergonha, é a palavra certa a aplicar a todos estes críticos de barriga cheia e de língua solta e viperina, que nem se dignam a consultar as tabelas oficiais antes de botarem discurso. Vir criticar o Governo, porque num período de sete ou quinze dias se fizeram menos testes que o normal, tendo em conta o universo de quase 16 meses, é como criticar a Telma Monteiro, honra e glória do judo português, por ter faltado a um treino quando, mesmo assim, sempre atingiu o pódio de cada vez que participou em campeonatos internacionais da sua modalidade. Haja bom senso e moderação.

Se querem criticar os nossos governantes atirem-lhes à cara com o abandono discriminatório, e quase xenófobo, a que os circos e as atividades circenses foram votadas desde o início da pandemia, por exemplo, no que se refere ao apoio a um setor da cultura totalmente desprezado pelo Governo, que os proibiu de exercerem a sua atividade, desde que a pandemia teve início há 16 meses. Aqui sim, há razões para indignação e vergonha, mas há mais exemplos como este, muitos mais.

A crítica, a ser feita, deve ser objetiva, assertiva e construtiva. Falar por falar fica ridículo e põe em perigo quem realmente precisa de apoio. Por hoje é tudo minha querida amiga, recebe um beijo de despedida e sempre saudoso,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 14) O Corrupto

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Olá Berta,

6 de fevereiro é, a partir deste ano, também em Portugal, o Dia da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina. Podes pensar que este é um assunto que nada tem a ver com os hábitos e costumes lusos e, estando totalmente correta, tenho é que te lembrar que, cada vez mais, temos migrantes a residir no nosso país onde essas práticas são de uso corrente, muito para além do que nós, à partida, imaginamos possível e aceitável. Daí a medida fazer todo o sentido, servindo de alerta para o problema.

No mundo são mais de 200 milhões de meninas e mulheres sujeitas a este ato de barbárie que continua a subsistir no século XXI. O fenómeno é usual na Etiópia, na Eritreia, na Gâmbia, no Mali, na Nigéria, no Senegal, no Sudão, na Tanzânia, na Costa do Marfim, no Djibuti, no Benin, no Burkina Faso, na Índia, na Indonésia, no Sri Lanka, na Malásia, no Egito, em Omã, no Iémen, nos Emiratos Árabes Unidos e no Peru.

Contudo, face às migrações, o problema já se espalhou para países como a Austrália, o Canadá, a Dinamarca, a Alemanha, a França, a Itália, a Holanda, a Suécia, o Reino Unido, os Estados Unidos da América e Portugal. Todavia, esta lista apenas apresenta os países onde o problema já tem proporções significativas. Basta olhar para o nosso exemplo nacional. Quem imaginaria que, segundo os números relativos a 2018, 43 mil mulheres e crianças, neste cantinho à beira mar, foram sujeitas à Mutilação Genital Feminina? É difícil de engolir estes números, contudo, o problema é bem mais extenso uma vez que estes são apenas os números oficiais confirmados. Inacreditável, não é, minha querida amiga? Mas bem real, infelizmente.

Assim, a existência de um “Plano de Ação para a Prevenção e o Combate à Violência Contra Mulheres e à Violência Doméstica 2018-2021”, integrado na “Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não-descriminação 2018-2030” e do “Programa Portugal + Igual”, faz todo o sentido. É aqui que se prevê e enquadra o combate às práticas tradicionais nefastas, como é o caso da Mutilação Genital Feminina. Uma praga que urge combater com a maior seriedade e prontidão, criando os normativos necessários a uma atuação que não apenas seja célere como também eficaz.

Voltando agora à temática do teu desafio, no que se refere à criação de quadras populares, sujeitas a tema, a tua última escolha recaiu sobre “O Corrupto”. Tentei o meu melhor para estar à altura de mais esse desafio. Espero que a próxima quadra o supere. Posso afirmar que, embora existam temas mais difíceis que outros, às vezes não é bem na dificuldade do tema que eu encontro o problema, mas sim na limitação curta dos versos de uma quadra, para se expor uma ideia, de modo claro e sintético. Enfim, eu vou tentando, quando tiver que me render, também o farei. Tema de hoje:

Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 14) O Corrupto.

 

O Corrupto

 

Defender o que é de todos,

Mas não pertence a ninguém,

Pode bem gerar engodos,

Para o proveito de alguém…

 

Gil Saraiva

 

Chegada que é a hora de mais um adeus, é com um beijo saudoso que se despede este teu amigo eterno, sempre ao dispor da sua boa amiga,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta. Lisboa, Capital Verde Europeia 2020

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Olá Berta,

Em 2004, um ano que já lá vai, perdido na memória da primeira década do século XXI, era eu editor e jornalista do boletim oficial “TerrAzul”, da Associação da Bandeira Azul da Europa, escrevi uma série de eco crónicas para o semanário Expresso. São elas a base de algumas reflexões que, passados estes anos, e já sem o fervor ambientalista de então, acho relevante analisar agora. Não me vou dedicar aos artigos em si, mas ao evoluir das problemáticas então apresentadas. Espero que te agrade.

A vida é uma teia complexa de eventos que interligam de forma, mais ou menos perfeita, factos, atitudes e comportamentos. No final do segundo milénio a preocupação com o ambiente era crescente e ganhava adeptos, mais ou menos ferrenhos, em quase todas as frentes. Nasceram os partidos ditos ecologistas, desenvolveram-se as associações ligadas à defesa do ambiente. As sementes estavam lançadas. Era agora necessário cuidá-las.

A sociedade civil e os senhores do poder em todo o mundo foram, aos poucos, cedendo à necessidade: Era imperativo tomar medidas! Finalmente, na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como a Cimeira da Terra ou ECO92 ou RIO92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, geram-se, entre outros, 2 documentos basilares: A Agenda 21 e a Agenda 21 Local.

 O conceito de “Desenvolvimento Sustentável” amplamente difundido na ECO92 possuía, por fim, amiga Berta, instrumentos e conceitos operacionais para uma aplicação eficaz e efetiva de políticas para ele direcionadas. Estavam inventadas as fórmulas de referência para a construção de um plano de ação a ser desenvolvido global, nacional e localmente, quer pelas organizações do sistema das Nações Unidas, quer pelos Governos e Autoridades Locais.

Mas onde? Onde aplicar semelhante plano? A resposta é por demais evidente, minha querida amiga: Em todas as áreas onde a atividade humana provoca impactos ambientais desfavoráveis.

É desde o RIO92 que quase duas centenas de países passam a considerar o “desenvolvimento sustentável” como elemento efetivo da sua estratégica política conjugando ambiente, economia e aspetos sociais.

A primeira Conferência das Partes (COP1 - Conferência das Partes designada também por Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) ocorreu em 1995 na cidade de Berlim e nela foi firmado o Mandato de Berlim, no qual os países do Anexo I assumiram maiores compromissos com a estabilização da concentração de GEE ( a Emissão de Gases com Efeito de Estufa), por meio de políticas e medidas ou de metas quantitativas de redução de emissões.

Um salto significativo foi dado depois pelo Protocolo de Quioto em 1997, onde uma série de metas ficaram definitivamente estabelecidas e acordadas. Já no atual milénio, em setembro de 2002, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, reafirmou, inequivocamente, o imperativo de plena implementação da Agenda 21, entre outros documentos essenciais.

A Agenda 21, minha amiga, que se traduz na criação de objetivos e indicadores que possam aferir progressos e estabelecer metas a atingir para um desenvolvimento sustentável, tornou-se a ferramenta ideal para a aplicação de medidas e premeditação de objetivos no que ao ambiente dizia respeito.

Portugal (e é o nosso caso que nos importa mais diretamente, embora esteja globalmente inserido na estratégia mundial) tem, em termos de legislação ambiental, uma posição relevante na salvaguarda do Planeta. O nosso único problema é que parece que nos ficamos pelo papel, pela palavra escrita, pela promessa assinada.

As medidas tardam a ser implementadas e algumas das que florescem parecem temer ser coladas a adjetivos como “fundamentalista” ou “pseudo-qualquer-coisa”, mas nem tudo se perde e, aos poucos, lá vamos encontrando o traçado correto, pois temos os instrumentos para ir e chegar bem mais longe...

Começámos tão bem, nestes anos de definição de estratégias que temos de ir em frente, nem que seja… por um “desenvolvimento sustentável”.

Estes 2 últimos parágrafos servem para vermos como a passagem dos textos aos atos é enganadora. Portugal, que implementou entre 1992 e 2004 um excelente conjunto de medidas na legislação, passou os 15 anos seguintes a assobiar para o lado, a ver a banda passar. É certo que houve alguma evolução positiva, mas as centrais a carvão não deixaram de funcionar. As energias alternativas foram subsidiadas quase exclusivamente numa perspetiva muito mais económica do que sustentável e a meada ainda teria muito fio se lhe resolvêssemos pegar seriamente. Tudo correu de tal forma que, a dada altura, nós, que partimos na carruagem da frente da defesa do ambiente, perdemos literalmente o nosso lugar no comboio.

Apenas em 2019 a coisa voltou a ser importante para o país e a tomar uma relevância, muito por força de novos movimentos e partidos, pelas eleições legislativas, pelo Acordo de Paris em 2015, pelas COP seguintes e depois pela Cimeira do Clima em Madrid,  convocada pelo Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, para coincidir com a COP25 e dela tirar um proveito sustentável com a aprovação de novas medidas e metas a alcançar para o equilíbrio climático, envolvendo, praticamente, todos os países.

Infelizmente, Berta, graças à Austrália, Estados Unidos e Brasil, seguidos da Índia, China e Rússia, num patamar abaixo, tudo volta a ficar adiado, uma vez mais, para a COP26. O caso australiano, então, é perfeitamente surpreendente e absurdo, se tivermos em linha de conta que o estado de calamidade que o país atravessa é, quase na totalidade, devido aos incêndios, fruto das próprias alterações climáticas, que geram tempestades secas, repletas de raios, que vão gerando o caos, à medida que provocam incêndios, que alteram o comportamento dos ventos, que, que, que… numa reação em cadeia sem fim à vista.

Mais grave ainda é sabermos que estes 6 países são os produtores diretos de mais de 50 por cento das emissões produzidas no planeta, e que, por isso mesmo, são diretamente responsáveis pelo agravamento do problema, que continua sem solução à vista. Durante este ano resta-nos seguir com a União Europeia o caminho da Sustentabilidade. A UE resolveu continuar o seu trajeto, independentemente dos outros parceiros mundiais o fazerem ou não. É por causa disso que Lisboa é, a partir de ontem, a Capital Verde Europeia 2020, com obrigação de plantar, este ano, 20 mil árvores, entre outros objetivos.

Este, minha querida amiga, é o atual ponto de situação, esperemos que os anos 20, agora iniciados, sejam mais auspiciosos para todos nós. Despeço-me com um beijo saudoso, este teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta: Tragédia na COP25

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Olá Berta,

Espero que esta carta te encontre bem, como aconteceu com as últimas. Nada como viver com saúde, algum dinheiro e em harmonia e paz.

Hoje venho relembrar que a COP25, a conferência de líderes promovida pela ONU sobre a emergência climática, está a chegar ao fim. Esta assembleia, que acabou este final de semana, deveria lançar a esperada declaração de princípios, aquela que poderia ser suficientemente forte para conduzir o planeta ao início de uma caminhada a favor do combate às alterações climáticas.

Contudo, o texto apresentado ontem não convenceu a maioria dos países envolvidos. Tratava-se de uma declaração frouxa, sem grande ambição e sem as desejadas e ansiadas metas, muito, mas muito, aquém de todas as expetativas, para grande tristeza dos ambientalistas.

É certo que um texto assim está sobre a pressão e é resultado das influências de países como a Rússia, a China, a Índia, o Brasil, os Estados Unidos e a Austrália que não parecem convencidos, nem convertidos às questões da emergência. Eles que, conjuntamente, representam quase 70 porcento do problema. Já para não falar dos países asiáticos, responsáveis por 80 porcento da poluição de plásticos existente nos oceanos.

Resta-nos esperar pelo fim do dia. Pode ser que, com alguma diplomacia, alguns destes países ceda o suficiente para que a resposta seja mais firme, mais determinada e mais coerente com as reais necessidades do globo. Afinal, terá de ser apresentada uma nova declaração de princípios, já com algumas propostas concretas. Será que a montanha vai parir um rato ou teremos realmente um caminho novo? Só terminarei esta carta quando a cimeira encerrar. Veremos o que acontece...

 Pronto! Terminou a COP25. Agora, acabada que está a cimeira de Madrid, cá vai a minha opinião. A esperança de muito pequena, mas existente, minha querida amiga, passou a desilusão, ansiosa e preocupada, uma vez que a inteligência não prevaleceu.

Aproveito o facto de ainda não ter posto esta carta no correio para te dizer que, finalmente, graças principalmente à Austrália, ao Brasil e aos Estados Unidos da América nem sequer um rato saiu desta cimeira do clima cujos resultados já são conhecidos.

Pior que tudo, os 2 presidentes que tanto insultaram, demonstrando um imenso menosprezo e muita arrogância, pelas posições de Greta Thunberg, tendo o líder brasileiro apelidado a ativista de “pirralha”, fizeram mesmo questão de demonstrar ao que iam.

Assim sendo, não há qualquer fumo branco, luz verde, ou bandeira axadrezada a anunciar uma vontade de realmente travar uma batalha sem tréguas às alterações climáticas. A emergência, ficou-se por uma pulseira verde, e acabou por ser mandada para casa sem que um diagnóstico sério ou um tratamento adequado tivesse sido prescrito.

É a derrota em toda a linha das posições dos ambientalistas do mundo inteiro. Esta COP25 acabou por se tornar numa tragédia mundial e, se ao que parece, o ponto sem retorno estava mesmo à vista, então, se assim for, ele acabou de ser hoje ultrapassado. Para Greta Thunberg é uma derrota ainda maior. A COP25 andou para trás, nem mesmo se ficou pelo que já tinha sido alcançado. A tragédia de Madrid, sob a batuta de um Chile, que se vergou ao poderio dos grandes estados, na responsabilidade que tinha da condução da cimeira, ficará conhecida como o dia em que a Terra foi condenada pelo capital.

Se no futuro esta cimeira vier a ser julgada pelos seus atos e respetivas consequências, não poderão os responsáveis de tal boicote serem acusados e julgados por crimes contra a humanidade? Sendo assim, a direita política vai ficar com um ónus muito grande para explicar ao mundo inteiro. Scott Morrison, o primeiro-ministro australiano, que lidera o governo saído da coligação de centro-direita, Donald Trump, o presidente democrata americano e Jair Bolsonaro, o líder do governo de direita brasileiro, são neste momento os principais réus e responsáveis deste desastre negocial, cujas consequências são ainda imprevisíveis.

Pois é minha amiga, estou sem palavras. Já esperava um resultado fraco e sem grandes avanços, contudo, o que aconteceu foi bem mais do que isso, foi um virar de costas absoluto, com um encolher de ombros brutal, de, como diria Ricardo Araújo Pereira, é “Gente Que Não Sabe Estar”.

Recebe um beijo deste teu grande amigo, que nunca te esquece,

Gil Saraiva

Carta à Berta: Violência Contra Mulheres

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Olá Berta,

Hoje é um dia em que, 5 minutos depois de acordar, ao abrir as notícias no computador fiquei possuído por uma angústia extrema. A razão prende-se com a violência contra mulheres. Não estou a generalizar para a violência doméstica, estou apenas a falar do absurdo abuso contra quem é mulher. O que li é algo que vem de longe da nossa Europa, mas o facto de ser mais grave do que aquilo que acontece entre nós, não nos transforma em anjinhos ou meninos do coro e, o que se passa por cá, é na verdade igualmente revoltante, para não dizer repugnante e mesmo abjeto.

Na investigação que depois efetuei descobri um estudo recente da União Europeia sobre o tema e que analisa e compara a gravidade do mesmo nos 28 Estados Membros. Os números do relatório sobre a “Violência contra as mulheres: um inquérito à escala da União Europeia — Síntese dos resultados” são avassaladores.

O inquérito de 48 páginas, que pode ser pedido em livro, gratuitamente, através do número europeu gratuito composto por 13 algarismos, 00800 6 7 8 9 10 11, é, realmente, extremamente grave. De qualquer maneira eu coloquei o “link do pdf” disponível no meu blog, para facilitar o acesso e a consulta de quem queira ler, mais em detalhe, o estudo realizado.

Para quem não está habituado a consultar este tipo de relatórios o discurso e a apresentação são tão cinzentos, como os textos e os gráficos em análise. Recomendo que, em vez de tentarem ler tudo online, imprimam e vão lendo e analisando, ponto por ponto.

Usem a tabela das siglas dos países como uma folha de consulta em separado. Assim, uma vez chegados às tabelas poderão mais facilmente verificar onde e com que frequência, em percentagem, certas práticas e crimes são mais repetidos nesta barbárie a 28.

Separem também as tabelas finais do resto do inquérito, usem-nas, igualmente, como folhas de consulta à medida que leem. O relatório é demasiado formal para o meu gosto, todavia, os dados estão todos lá e, depois de uma análise cuidada, fica mais fácil retirar as devidas conclusões. Existe inclusivamente uma página que sugere “os caminhos a seguir”. Porém, peca pela forma, mais uma vez cinzenta.

Por fim, recomendo o uso de 2 marcadores fluorescentes, um amarelo e outro laranja ou verde, de forma a sublinharem e entenderem melhor a relação dos textos com as tabelas e as siglas dos países. Contudo, isto não é um método obrigatório, mas apenas aquele que eu uso quando faço uma investigação deste tipo, por forma a retirar todo o sumo daquilo que estou a consultar. Cada um pode ler e seguir o caminho que entender melhor.  

Ora, voltando ao tema, eu já sabia, que a violência contra mulheres era crítica, mais frequente do que há uns anos atrás se imaginava, mas não fazia ideia que, na Europa dos 28, uma das zonas mais civilizadas do globo, num dos locais onde melhor se vive e mais qualidade de vida se tem, ela fosse de tal forma alarmante que, quase se pode dizer, tratar-se de uma coisa comum, banal e enraizada nos hábitos de uma imensidão de agressores, perante a benevolência quase pacífica de amigos, vizinhos e conhecidos. Assusta ler este inquérito e mais do que ser um texto, por si só gritante, é algo que exige dos Estados medidas imediatas e muito mais drásticas do que tudo o que foi feito até aqui. É preciso parar este flagelo.

Contudo, Berta, não te vou falar dos números deste inquérito, se quiseres saber algo mais sobre ele basta ires ao meu blogue, onde guardo as cartas que te escrevo e clicares, na coluna da direita, no local onde diz:” Inq. Violência sobre Mulheres UE”.

A minha má disposição de hoje tem a ver com uma notícia que vem de um local bem longe da Europa, como te dizia no início desta carta, ou seja, vem da Índia. Onde hoje, um grupo de 5 homens raptou e pegou fogo a uma jovem de 23 anos, no “distrito de Unnao”, no norte do país, quando esta se dirigia para a estação de comboio da localidade. A razão prendeu-se com o facto de a rapariga se estar a dirigir para o tribunal onde ia ser julgado o caso da sua alegada violação.

A jovem, foi interpelada, agredida, raptada e arrastada para um campo fora dos olhares de terceiros. Uma vez nesse local os 5 selvagens regaram-na com gasolina e em seguida pegaram-lhe fogo. A rapariga, que foi encontrada pouco depois do crime ser cometido, foi conduzida a um hospital em Lucknow e está em estado crítico com queimaduras em 90 porcento do corpo. Será transportada ainda hoje para a capital, Nova Deli, não se sabendo, contudo, até ao momento, qual é a probabilidade de sobrevivência.

Segundo depois consegui saber pela BBC, a polícia deteve 5 homens, todos adultos, sendo 2 deles os alegados violadores da vítima, que iriam ser julgados, em tribunal, neste mesmo dia. A denúncia da violação provinha de março deste ano e só 9 meses depois, a partir desta data, é que a justiça se iria pronunciar, tendo os acusados ficado em liberdade até ao julgamento.

Segundo dados divulgados pelo Expresso online, na Índia, a média diária de violações é de quase 100 mulheres por dia. Porém, este é apenas o número oficial, mas, as Organizações Não Governamentais, estimam que o real valor possa ser cerca de 5 vezes superior ao apresentado pelas autoridades. Tal facto indicaria que, por ano, mais de 180 mil mulheres sejam violadas neste país. E, minha amiga, só estamos a falar da violação, os dados da violência contra mulheres estimados para esta zona do globo entram na casa dos milhões com o maior à-vontade.

Só na capital, Nova Deli, a informação mais recente aponta para que de 3 em 3 horas uma mulher seja violada na capital, quando, os dados oficiais de 2015 referiam uma de 4 em 4 horas, segundo informação do Expresso. Ora, se estes são dados oficiais, isso significa um quotidiano na capital indiana onde pelo menos uma ou 2 violações ocorrem a cada hora que passa. Um cenário absolutamente dramático, horripilante e intolerável, seja qual for a perspetiva em que for visto ou analisado.

É importante que estes assuntos ascendam, e muito, na agenda política mundial, não apenas na Índia, na China ou na Austrália, na América Latina, Estados Unidos ou em África, mas também aqui, na Europa e nomeadamente em Portugal. ISTO TEM DE PARAR JÁ!

Despeço-me muito triste, minha querida amiga Berta, isto não é o mundo em que um poeta, como eu, possa viver tranquilo e escrever odes sobre o mais perfeito ser do universo conhecido: A Mulher. Recebe um beijo deste que não te esquece,

Gil Saraiva.

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