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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Desabafos de um Vagabundo: Série Romance - A Felina - Noites de Lua Cheia - 57

A Felina - 57.jpgXIV

A Felina Contra-Ataca

XIV

Na reunião da Direção Nacional da Polícia Judiciária discutia-se precisamente a verdadeira natureza dos assassinatos. A presença do Diretor-Geral e do Diretor-Geral Adjunto do SIS, bem como do Diretor do SIED, o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa e do SEF, atestava a importância da reunião. A presença do Diretor Nacional da PSP e o líder máximo da GNR naquela sala também eram indicativos do grau de alerta que estava instalado. As ausências da ASAE, da Polícia Marítima, da Polícia Florestal e de um representante das Polícias Municipais fora ponderada nesta primeira fase e considerada, para já, como não sendo prioritária.

Segundo informações recolhidas pelo SIS, os Serviços de Informações e Segurança, o assassinato da Secretária de Estado, parecia estar ligado à recente instalação do braço mafioso do Grupo Wagner, a Kalinka, em Portugal. Porém, nada parecia antever um ataque desta natureza.

Alguma coisa, que ainda lhes era desconhecida, interferira no comportamento normal desta máfia russa. Sabiam onde ela atuava na zona do Grande Porto e, numa primeira fase, tinham sido entregues ao Comando Metropolitano do Porto da PSP as primeiras ações, tendo a recente criação dos Gamas gerado uma mais valia que resultara em mais de quarenta elementos presos. Também tinham conhecimento que a Kalinka se instalara já na Grande Lisboa, absorvendo rapidamente as antigas atividades criminosas do desfeito bando de Jô Muttley. Contudo, enquanto no Porto já sabiam que a máfia tinha a sede algures na zona de Matosinhos e julgassem estar por dias a sua localização exata, já em Lisboa tal investigação ainda agora tinha começado.

Por seu lado, o SEF falava numa enorme quantidade de mafiosos russos clandestinos no país, principalmente nos últimos cinco meses, que tinham optado por entrar em Portugal por via das fronteiras terrestres com Espanha, a partir da zona Norte. Tinham imensas queixas de cidadãos estrangeiros de Leste, residentes no Grande Porto, que diziam estar a ser alvo de extorsão por parte da Kalinka.

A PSP adiantava que já distribuíra por todas as forças de segurança os últimos relatórios dos Gamas, elaborados no Porto. Porém, em Lisboa, só este mês é que terminara a formação e constituição dos Gamas sob a alçada do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP. Por outro lado, a GNR, dava conta de cada vez mais criminalidade, desenvolvida pela máfia russa, na periferia da zona metropolitana do Porto e bem visível nos arredores de Lisboa, em zonas como o interior de Cascais, Sintra, Mafra, Oeiras e Amadora.

Quer o SIED, quer o SIS, falavam que o assassinato da Secretária de Estado, era, ao que tinham apurado, o primeiro realizado na Europa, pela Kalinka, mas que, a falta de provas, ainda não possibilitavam que se acusasse formalmente a organização. O fenómeno da existência da Felina, em Portugal, também não tinha ajudado muito nessa clarificação, sendo ela, ainda que a coisa fosse rebuscada, uma possível suspeita.

Luís Navas, aproveitava para intervir. Podia quase garantir que a Felina, estava fora da equação. Na sequência da afirmação passou aos presentes o relatório da noite anterior, elaborado por Carlos Farelo que gerira a operação.

Para o SIED algo de muito perturbador estava a alterar o comportamento da máfia russa. De uma infiltração silenciosa e cheia de secretismo tinham, repentinamente alterado radicalmente o seu perfil. A velocidade como se tinham espalhado na Grande Lisboa era exemplo disso e a possível autoria do assassinato era a prova flagrante. A Europol e a Interpol estavam em alerta, preocupados com o alargamento destes métodos ao resto da Europa, com consequências alarmantes. Também a CIA estava a acompanhar de perto o fenómeno que se podia facilmente alastrar aos Estados Unidos, com perigosas associações a organizações e milícias radicais de extrema direita já instaladas no território.

A reunião ocupou toda a manhã e foram criados protocolos de ação conjunta, bem como elaborado um relatório elucidativo da situação, de forma a informar cabalmente, quer o Ministério dos Negócios Estrangeiros, quer o da Defesa Nacional, o da Administração Interna, bem como o gabinete do Primeiro-Ministro. Um outro relatório, mais técnico e também bem mais detalhado, foi elaborado para a Polícia Marítima, ASAE, Polícias Municipais e Polícia Florestal, atualmente designada com a sigla EPF/SEPNA, com funções de polícia criminal, o que significava Equipas de Proteção Florestal e Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente, e que se encontravam atualmente como  que subordinadas à GNR, mas com intervenção direta do Diretor-Geral dos Recursos Florestais da DGRF.

Da parte da tarde, a preocupação de Carlos Farelo era o que estaria a acontecer com a sua assessora. Íris, continuava sem dar notícias e, com o passar do tempo, a inquietação do Diretor Adjunto da Polícia Judiciária aumentava a cada minuto.

Farelo, ficara também deveras surpreendido com a quantidade de conhecimentos que quer o SIS, quer o SIED, quer até a PSP, já tinham sobre a Kalinka. Ele sabia que havia na Judiciária um outro Diretor Adjunto com o dossier dessa organização mafiosa entre mãos, contudo, estava longe de imaginar que já existisse no país tanta informação sobre aquela máfia.

A suspeita da autoria deste assassinato, possivelmente a cargo destes mafiosos, revelara que as forças da ordem não estavam assim tão desatentas.

Ao contrário do que habitualmente acontecia, nada do que era tratado pelas forças de segurança transpirara ainda para a comunicação social. Os jornais e as televisões bem que faziam o cerco às instituições, todavia, a confidencialidade era total. Para além das suspeitas lançadas sobre a Felina, nada mais se sabia sobre o decorrer das investigações. Nem mesmo rumores transpareciam das forças da ordem.

Aliás, todas as informações cruciais estavam ainda concentradas no estrito domínio das cúpulas das diversas forças pertencentes à esfera do Estado. A imprensa bem que estrebuchava com esta atitude inédita, num país habituado a saber demais antes do devido tempo e a fazer julgamentos antecipados em praça pública. Todavia, desta vez, inacreditavelmente, o silêncio era de tal forma intenso que parecia fúnebre, o que realmente até era factual.

Íris, detetou perfeitamente os agentes da Polícia Judiciária, eram quatro em duas viaturas estacionadas, mais três numa carrinha com publicidade a uma loja de peixe congelado e, ainda, um último armado em transeunte. Ao fim do dia, com um ar bastante preocupado Carlos Farelo ligou-lhe. Então a Felina, já dera novidades?

A rapariga, soltou uma gargalhada, se ela sem procurar muito conseguia detetar oito elementos da Polícia Judiciária, quantos é que ele achava que conseguira a gata descobrir? Doze? Catorze? Quantos? Na sua opinião eles estavam a agir mal, mas podiam, por ela, fizer o que muito bem entendiam. Nem era ela que estava com pressa. No segundo dia só detetou quatro. Mais uma vez quando Carlos ligou ela voltou-se a rir. Muito bem, hoje só descobrira quatro, estavam a melhorar. O que lhe fazia confusão, e ela nem era uma especialista na matéria, era se não haveria algures na PJ agentes mais discretos. Caramba, devia haver?

No sábado de manhã, dia cinco de novembro, Luís Navas recebeu no seu telemóvel uma mensagem de voz de um número anónimo. A mensagem apenas tinha números, a cada número correspondia obviamente o número de agentes que guardavam o apartamento de Íris. Aquilo não podia continuar. Não só a pantera tinha o seu número privado, como acertava exatamente no número de agentes presentes em cada dia a vigiar o apartamento de Íris.

Luís Navas ligou para o seu adjunto Farelo. Relatou a situação e ambos resolveram que era melhor pararem com a vigilância ao prédio. Em vez disso decidiram instalar seis câmaras ocultas durante a noite. Meia hora depois, na carrinha de vigilância, arrumada no parque de estacionamento, que ficava situado quase em frente ao prédio de Íris, ouviu-se um barulho estranho em cima do tejadilho. Os homens da JP acabados de chegar ao interior da mesma, mal tiveram tempo de se sentar. De um salto saíram da viatura. Era um saco de plástico normal com qualquer coisa dentro. Alguém atirara aquilo para ali. Dentro do plástico estavam seis câmaras, as mesmas seis que eles tinham acabado de colocar.

Carlos Farelo começava a ficar irritado com aquilo. Ligou para Luís Navas, o chefe bufou igualmente. Bem, teriam de dormir sobre o assunto e no dia seguinte pensariam numa nova solução. Fosse como fosse não podiam permitir que a sua assessora ficasse sem proteção. Teria de haver uma maneira qualquer de fintar a gata.

O Superintendente andava muito chateado. Os jornais só traziam opiniões de comentadores e conjeturas de analistas e políticos e nada de notícias concretas. Com a televisão passava-se o mesmo. As novidades que pedira a alguns amigos, que ainda mantinha na Polícia Judiciária, também não tinham dado em nada. Só lhe diziam que os chefões se tinham fechado em copas. Do lado do Comandante do Comando da Polícia Metropolitana de Lisboa, as informações eram igualmente zero.

Na opinião do homem o Governo devia andar metido ao barulho. Só nessas circunstâncias é que eles ficavam tanto tempo em silêncio. Não via que houvesse outra possibilidade que não essa. O Superintendente agradeceu e avisou que tinha os Gamas em alerta máximo, assim que o Comandante desse a ordem eles sairiam para o terreno.

Vítor Fernandes de Melo ainda tentou mais alguns contactos, infelizmente sem que adiantasse fosse o que fosse. Decidiu aceitar o plano traçado por Alex Budvi. No dia onze, sexta-feira, fariam a reunião nacional da Kalinda em Sintra, onde seria distribuída a nova estratégia com a criação das delegações de Coimbra e do Algarve e eleição dos Cedros responsáveis.

 

(continua) Gil Saraiva

 

 

 

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