Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Desabafos de um Vagabundo: Série Romance - A Felina - Noites de Lua Cheia - 47

A Felina - 47.jpgUma das outras convidadas fora a Doutora Íris Lobato de Lemos Pessanha Vasconcelos, que confirmara a Cassandra Banheiras, da TVI e CNN Portugal, ser consultora quer do Museu Nacional de Arte Antiga, quer da Polícia Judiciária, mas apenas até ao momento da acusação feita pelo coordenador superior Vítor Fernandes de Melo da PJ, altura em que cessara a assessoria com a Judiciária.

De momento, afirmara Íris, embora já tivesse terminado um projeto para o museu, a sua assessoria mantinha-se em vigor, até que uma das partes a desse como extinta. Posteriormente, relatara a sua intervenção na história do bando de Jô Muttley e como vira a Felina, pela primeira e única vez, pendurada na árvore junto ao muro da quinta de Sintra. Depois falara do desmaio ao cair da árvore e do facto de ter enviado a sua localização de GPS à PJ quando acordara. Contara também como chegara à quinta e até como e porque detetara os bandidos junto à sua casa de família.

Quando Cassandra lhe perguntou sobre o seu envolvimento com o, na altura, coordenador superior da Polícia Judiciária, não teve qualquer problema em explicar que o perigo, a excitação, a queda da árvore, o desmaio e o regresso a casa a tinham deixado muito combalida, extremamente frágil e que o Diretor Adjunto da PJ, Carlos Farelo, preocupado com a situação e não podendo ir ele velar pela sua segurança, não tivesse ela de algum modo sido detetada pelos bandidos, lhe enviara lá casa, o responsável pelo dossier da Felina.

O seu braço direito, dissera-lhe o Diretor Adjunto, far-lhe-ia companhia até ele próprio lá poder ir ter. Entretanto, o coordenador Vítor chegara e fora extremamente cativante e ela, naquelas condições, acabara por envolver-se com ele, sem ter a mínima consciência que este apenas se estava a aproveitar do seu momento de fraqueza e fragilidade, somente com o fito de a usar sexualmente, sem nutrir qualquer espécie de sentimento por ela.

Nem estranhara, em absoluto, o coordenador superior omitir ao seu chefe a situação do envolvimento. Apesar de tudo, ele envolvera-se com uma assessora da Polícia Judiciária, portanto, sua colega, num momento em que ela estava absolutamente abalada e, possivelmente, o homem teria a noção de que o sexo, mesmo que consentido, não seria bem visto pelo seu superior.

Face ao sucedido, ela sentira-se realmente usada quando ele a acusara de ser cúmplice da Felina. Porque, afinal, no momento dos factos tinha-se entregue num puro ato de amor total entre dois seres convergentes e agora apenas se sentia sodomizada, face às verdadeiras intensões do companheiro daquela noite. Por isso mesmo não tinha como perdoar a Vítor Melo. Não queria afirmar que não voltaria a trabalhar com a PJ, agora que o homem fora obrigado a mudar-se para a PSP, mas certamente que uma decisão desse calibre ainda ia levar o seu tempo.

Para a reconstituição do assalto ao museu, a TVI, tivera acesso à mesa cortada de forma perfeita para retirar a barra de ouro por baixo, porém, ao querer fazer a reconstrução deste passo, não arranjara forma de o fazer com a precisão com que o trabalho fora feito e, ainda por cima, em silêncio. Este era, aliás, um dos grandes mistérios do roubo da gata. Para simular a perfeição e o silêncio tiveram que filmar sem som e só depois o editar posteriormente por cima da gravação. Mas, na realidade, como o teria feito a pantera ninguém sabia ao certo.

Foi igualmente entregue na estação, pelo senhor Januário, uma sequência de cópias de fotos da Felina com o seu fato, mas sem quaisquer especificações técnicas, sem mais explicações que não fosse a palavra TVI. O sujeito descobriu-as na sua caixa do correio após receber uma chamada da Felina a pedir-lhe que verificasse a correspondência.

As fotografias da Felina tinham sido a base para a ideia da criação da série de nove programas e da própria novela. A primeira fotografia apenas indicava no seu verso que o fato para parecer real tinha de ser criado a partir de um tecido respirável, elástico e preto, bem junto ao corpo da modelo utilizada. Porém, nada dizia sobre a composição do verdadeiro, nem sobre os acessórios visíveis nas imagens.

Quanto à moeda utilizada pela estação de televisão fora usada a que era propriedade da Dona Hermenegilda. Aliás, a espontaneidade da senhora e o seu uso na recriação da cena do furto, fora a chave do sucesso do videoclipe sobre a descoberta do roubo. Embora o ator que fazia de coordenador da PJ também tivesse representado deliciosamente o furioso Intendente.

A propósito dos mistérios sobre o assalto ao museu, existiam muitos aspetos que pareciam não ter explicação. Segundo Cassandra Banheiras, até o aparecimento da carta da Felina na redação da TVI acontecera de modo insólito. Com efeito, ela dera pela existência da carta, dentro da sua carteira, na redação, mas que não fazia a menor ideia como é que esta fora lá colocada nem em que altura. Quanto ao museu em si, os peritos não tinham encontrado qualquer falha na segurança.

Por um lado, não existia o mínimo vestígio de arrombamento. Por outro, tinham sido vistoriadas as imagens das gravações da vigilância sem se conseguir entender como é que o assalto não aparecia nas filmagens. Não tinha sido verificado qualquer corte nas gravações originais, nem mesmo faltava um segundo que fosse nas filmagens.

O que dificultava ainda mais a investigação era o facto de não se saber sequer em que dia fora realizado o roubo. Podia ter sido num qualquer momento desde o início até ao final da exposição. A empresa responsável pela vigilância do museu ainda ia fazer uma triagem mais fina percorrendo todos os conteúdos filmados, mas sem uma pista concreta da data e sem a deteção de cortes na gravação, nem mesmo uma hora para a ocorrência, alegavam ser dificílimo deslindarem o caso.

Fontes da Polícia Judiciária apontavam os dias do Operafest Lisboa 2022 como sendo os mais prováveis para a realização do assalto, contudo, não tinham prova alguma de que assim fora. Outro mistério era o corte feito na madeira de faia com um centímetro exato de profundidade. Tudo indicava ter sido efetuado a laser, porém, não se conhecia nenhum equipamento portátil para o fazer eficazmente e, ainda por cima, tendo a madeira uma almofada forrada a veludo sobre ela, que não indicava qualquer queimadela gerada por contacto com o laser.

O trabalho indicava impossibilidades sobre impossibilidades e o mistério era muito mais complexo do que parecia. Por exemplo, como é que a fazer um corte a laser por debaixo de uma mesa com um equipamento que tinha que ser portátil, mas que não existia, a gata conseguira fazer um círculo perfeito? Só este simples círculo parecia mais um impossível.

Íris, foi ouvindo o que diziam as estações de televisão. Aquelas recriações, reportagens e episódios da TVI iam manter as atenções sobre si ligadas aos televisores e não à sua atuação na vida real e isso era excelente. O Governo já viera, entretanto, dizer que o facto de o país estar grato à Felina, como efetivamente estava, pelo seu papel no desmantelamento do bando de criminosos, esta mantinha-se uma marginal e que se fosse capturada teria de responder pelos seus crimes.

Contudo, depois de julgada e mostrando arrependimento, mas principalmente graças às muitas atenuantes que lhe eram devidas, podia ser que a pena não fosse muito pesada e que até não era impossível que se viesse a pensar em alguma espécie de indulto. Agora, que teria sempre de ir a julgamento isso era inegável porque havia que se fazer justiça.

Carmo Notas, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, também declarara publicamente, na sua conhecida voz irritante de cana rachada, que não podia haver perdão para os criminosos e que não era uma boa ação da ladra aqui e ali que a livrariam de ser remetida, no devido tempo, para trás das grades onde merecia estar.

Dizia o homem que, num país democrático como Portugal, jamais existiria lugar para uma heroína de banda desenhada absurda se vir armar em delfim do povo, enquanto enchia os bolsos à custa deste. O povo tinha a previdência, a segurança social, as IPSS, o SNS e até a Câmara Municipal de Lisboa, no que aos seus munícipes dizia respeito, para tomarem conta dele.

Nunca uma vida marginal e fora da lei seria, neste país, um paladim do que quer que fosse. A Felina não passava de um mau exemplo numa sociedade moderna. Achava até deplorável o papel de heroína que a TVI lhe estava a tentar atribuir. Uma pessoa que vive do roubo e depois distribui umas migalhas do fruto dos seus crimes, pela sociedade, não era digna de louvor, mas de condenação, de repúdio e de repulsa por parte de todos os portugueses. Os verdadeiros heróis eram os trabalhadores da saúde, das instituições de solidariedade social, os bombeiros, as forças da ordem, a proteção civil, até ele que, humildemente, servia diariamente o povo de Lisboa, com abnegação e vontade de lutar por uma vida melhor para os seus munícipes.

 

(continua) Gil Saraiva

 

 

 

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub