Carta à Berta: Uma nova função para Marta Temido
Olá Berta,
Não sei bem porquê, mas hoje não me apetece falar em nada. “Os Segredos de Baco”, continuam em fila de espera para regressarem a estas cartas. O Covid-19, bem… esse é tema quase diário. Se não falar noutra coisa torno-me um chato, como aqueles que, até a mim, me desagradam de forma assinalável.
Contudo, sem falar propriamente do vírus posso falar de algumas coisas que não me têm agradado, mesmo sendo eu um defensor do bom trabalho do governo português. Uma das coisas que me chateia é a maneira como a Ministra da Saúde lança os dados para cima da mesa. Neste caso não se tratam bem de dados de jogar, mas de informação variada. Para esta senhora, dizer que o pico vai ser a 14 de abril e 5 dias depois vir afirmar, com a mesma cara de pau, que afinal será no fim de maio, é igual ao litro. Ela trata os dados como eu trato o papel higiénico em minha casa.
Sou levado a concluir que, para ela, ambos servem para a mesma função algures entre pernas. Quando pomposamente anunciou o pico das infeções para 14 de abril, e depois insistiu na mesma data, como se esta não estivesse ao serviço das flutuações causadas pela propagação do vírus e das medidas de combate ao mesmo, pareceu, inclusivamente, irritada por terem existido jornalistas na sala a questionarem a data, como se estes a estivessem a desafiar. Um absurdo.
Agora, vem anunciar um planalto a que chegaremos no fim de maio. Eu, que tinha colocado, pela observação jornalística que dei a toda a informação, o pico entre fins de abril e meados do mês de maio, posição que aliás mantenho, vi-me ultrapassado pela direita por esta especialista sem freio nem tento tanto nos dentes como na língua.
A mim, que concluo algo enquanto observador, na ótica jornalística, não me fica mal se, chegada a devida altura, se provar que me enganei. Porém, à ministra fica pessimamente. Principalmente pela forma convicta como transmite estes dados. É que, numa altura destas, vir de 5 em 5 dias corrigir o que se disse, saltando neste caso 2 meses para a frente como quem salta 2 dias e achar que se está a prestar um bom serviço, é grave e até dá para envergonhar o paciente António Costa.
Porque é que a senhora ministra não segue o exemplo da Diretora Geral de Saúde, Graça Freitas, que fez o mesmo tipo de afirmações, mas com o cuidado extremo de explicar que a situação se pode alterar completamente, por se tratar de algo dinâmico e que tem de ir sendo ajustado a cada dia? Era outro descanso, outra lisura. Não consigo lidar bem com comportamentos cretinos e que transpiram por tudo quanto é poro a cabeça no ar, arrogância e ignorância.
Aliás, algo não vai bem no lado estatístico e de tratamento dos números da DGS. Dou um exemplo concreto. Tenho de fonte segura, e 2 vezes conferida, que o Distrito de Viana do Castelo, pela representação da sua ARS, estava com 75 casos confirmados à data de ontem. A mesma data em que a DGS apenas lhe atribui 41. Mais, nas investigações que diligenciei consegui ter a certeza que todos os casos foram reportados à tutela. Porque raio não estão então contabilizados? E se isto acontece num distrito pequeno… como estão a ser tratados os dados de todos os outros distritos? Existe um problema grave no reino dos números da DGS e não me parece sequer que seja a tenra idade da técnica superior responsável.
Aqui há 2 dias Graça Freitas tinha vindo explicar que as discrepâncias eram devidas ao facto de serem as ARS a reportar os números e, às vezes, os hospitais já terem mais casos e que, passariam a ser os hospitais a fazer o reporte. Porém, a coisa, ao invés de melhorar, piorou. Agora até os números das ARS são encurtados. Não faz qualquer sentido e tem de haver uma explicação, a qual não pode ser dada levianamente.
Qual é afinal o verdadeiro número de infetados neste país?
Levaram um mês para nos informarem que até ontem tinham sido realizados 40 mil testes, eu, com as minhas fontes, contabilizei 42 mil, mas é parecido. Urge agora um acerto no que à quantidade de infetados diz respeito.
Desculpa se me alonguei, minha querida amiga, mas tenho sido um fervoroso defensor da DGS e preferia que, num momento destes, as discrepâncias fossem totalmente corrigidas e, já agora, que Marta Temido passasse a falar apenas por linguagem gestual. Eram 2 favores que faziam ao país. Despeço-me com um beijo,
Gil Saraiva