Carta à Berta nº. 451: Um olhar sobre o CHEGA e André Ventura - Parte III/III
Olá Berta,
Termino hoje esta minha análise sobre o CHEGA. Antes de mais agradeço que tenhas deixado os teus comentários para o final desta carta. Com efeito, um partido como este, que reúne em seu torno uma quantidade de apoiantes tão diferentes e até divergentes entre si é, por si só, um verdadeiro fenómeno.
Mas não é um partido unido e consistente se lhe retirarmos o líder. Um bom exemplo disso foi o próprio congresso do CHEGA que, sob a ameaça de saída do seu comandante supremo, correu a aprovar as listas por este propostas que tinham sido anteriormente rejeitadas consecutivamente. Estamos, portanto, perante um saco de gatos, com um cão de guarda na porta de saída.
A queda de André Ventura, só por si, acabará por gerar o estilhaçar deste partido numa parafernália de pequenos movimentos, em que cada um puxa o saco para o seu lado. Sem o chefe, os bandos dividem-se nas suas partes e esquecem o benefício do todo que os constituía.
Até este momento o partido Chega é André Ventura e André Ventura é o partido Chega. Isto, mesmo assim, poderia ser e constituir algo de perigoso se a inteligência, o conhecimento, o discernimento e a cultura geral e política do líder fossem algo fora dos padrões aceites como comuns e extravasassem para as margens da genialidade.
Contudo, e para meu alívio, Ventura é apenas um oportunista sem ideias, que navega à vista e que não apresenta qualquer evidência de vir a ter o tão desejado rasgo de génio. Porém, dirão muitos, já reúne 10% das intenções de voto numas eleições legislativas. Com efeito essa é a realidade. Mas achas, amiga Berta, que sabermos que temos 10% de gente desta neste país é verdadeiramente preocupante?
O Partido Comunista Português nem quando tinha 15% dos eleitores portugueses, nas suas hostes, conseguiu implantar uma ditadura do proletariado e isto nos idos tempos do PREC (Processo Revolucionário em Curso), com uma inteligência invulgar como a de Álvaro Cunhal à cabeça e com o apoio da antiga URSS. Ora, nem Ventura é Cunhal, nem os apoios de ventura se comparam à URSS. Por isso, minha querida, deixemos o partido CHEGA implodir, naturalmente, por si mesmo, um destes dias ou quando perder o líder. Tal como aconteceu com o PRD, partido de Ramalho Eanes, quando se viu sem o seu líder.
Por agora basta de um CHEGA que não chega a lugar algum, onde coabitam aqueles que nos interessa saber quantos são e onde estão. Despede-se este teu amigo que muito se lembra de ti, minha querida Berta, com um beijinho, saudosamente,
Gil Saraiva