Carta à Berta: Pedro Costa e o "Eu É Que Sou o Presidente da Junta" - Parte III
Olá Berta,
Termina aqui, hoje, a trilogia de: de “Pedro Costa e o “Eu É Que Sou o Presidente da Junta”. Se dividi este assunto em três partes foi porque, minha querida, não gosto de falar das coisas pela rama, mesmo quando o assunto, é, apenas e só, a minha visão dos factos. Mas voltando à vaca fria e servida com o devido requinte gourmet:
Pedro Costa filia-se no PS em 2016 após, segundo afirmou à Sábado, pouco depois: "ver a luz". É ainda através da mesma revista semanal, querida Berta, que fiquei a saber que três anos depois de se filiar no partido do pai, Pedro Costa tem duas experiências autárquicas: Primeiro, na Junta de Freguesia do seu primo, António Cardoso, em São Domingos de Benfica, enquanto elemento independente. E, finalmente, em 2017, em Campo de Ourique, onde reside com a mulher e “se apaixonou”, pelo que diz, definitivamente, pela vida autárquica.
Foi eleito para a Junta de Campo de Ourique em terceiro na lista, de onde derivou como candidato “naturalmente” vindo de São Domingos de Benfica, por cá habitar e ter tido os seus negócios, mas ascenderia ao segundo posto depois de a número dois, Susana Ramos, mulher de Duarte Cordeiro (o socialista, amigo e atual vizinho, que assinou a sua ficha de entrada no PS), passar para a presidência da mesa da assembleia de freguesia. Pedro Costa fica, então, com o pelouro da Higiene Urbana e na rampa de lançamento para o primeiro lugar caso a “fortuna”, querida Berta, lhe viesse a bater de novo à porta.
Porém, a sua “estrela” continuava a brilhar e quando Pedro Cegonho, o então presidente da junta, escolhido previamente, nas eleições legislativas anteriores, como candidato a deputado, resolve ingressar no Parlamento, ocupando o seu lugar de eleição, deixa o seu número dois, com o lugar que antes ocupava, ou seja, Pedro Costa ascende assim, a meio do mandato autárquico, a presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique. Uma verdadeira viagem de foguetão, minha saudosa amiga, não achas? Daí até à sua recandidatura nas eleições de ontem, ao cargo de Presidente da Junta já tudo é o que parece, ou seja, um processo perfeitamente natural.
Aquilo a que eu acho graça, amiga Berta, é ao facto de Pedro Costa, ainda em declarações à Sábado, se achar um político "discreto" e "reservado", que diz não querer viver na sombra do pai, António Costa. Afirmou até, na altura: "Não é justo nem para ele nem para mim que eu me exponha excessivamente a essas colagens".
Mas Pedro Costa acha que está a ser sincero, como se fosse normal, um militante que ingressa no PS aos 26 anos, acabado de ser associado aos mais bem colocados futuros líderes do CDS-PP, chegar, digamos que naturalmente, apenas cinco anos depois, aos 31 anos de idade, à Presidência de uma Junta de Freguesia do Concelho de Lisboa, depois de ter sido proposto como o cabeça de lista e candidato do Partido Socialista à mesma.
A linhagem hereditária da monarquia, querida Berta, que já terminou em Portugal há um século e uma década, continua a impelir muitos dirigentes políticos nesta senda familiar derivada do direito consuetudinário. Pode Pedro Costa achar que foram tudo “afortunadas” coincidências, pode o seu pai negar a pés juntos nunca ter interferido na tentativa de dar um futuro promissor ao seu filho na política, pode até cair o “Carmo e a Trindade” novamente que eu não acredito no Pai Natal, mesmo que ele chegue à minha varanda do terceiro andar montado num trenó, puxado a renas, com o Rodolfo na dianteira.
E mais não digo, porque, depois deste desabafo à minha maneira, desejo que o rapaz até tenha mesmo muita sorte, e isto porque, nesta batalha final, em que o castelo feudal de Medina desabou, ele teve que batalhar seriamente, nem que tenha sido pela primeira vez, para sobreviver politicamente. Ora, isso sim, já é, definitivamente, mérito do próprio. Assim sendo, despede-se com um beijo, sem mais comentários, este teu amigo de sempre,
Gil Saraiva