Carta à Berta: Os "Cabrones" de "Monteros de la Cabra" - Montaria da Azambuja - Parte III/III
Olá Berta,
Finalizo hoje a narrativa sobre a “Montaria da Herdade da Torre Bela”. Se queres saber, minha amiga, sinto dificuldades para qualificar todo o comportamento da empresa organizadora, dos caçadores envolvidos e dos demais participantes. É tudo tão dantesco e inverosímil que me faltam os adjetivos corretos para comentar o que foi perpetrado por estes “Cabrones”.
Até a desculpa que apareceu nas notícias, de que por detrás de tudo isto estaria a instalação de uma central fotovoltaica na herdade, é ridícula e parece-me descabida de razão. A dita central, embora se possa tratar de uma instalação de grande monta, apenas iria ocupar 10% da área da Herdade da Torre Bela. Bastaria para a sua instalação vedar o acesso aos animais a este bocadinho de terreno, se considerarmos a dimensão total da área da propriedade, até porque o desbaste vegetal já se encontrava efetuado e devidamente concluído.
A suspensão da licença de instalação da central, por parte do Governo, cheira a poeira nos olhos e (embora reconheça que posso estar enganado) faz-me querer que o Estado sabia mais do que quer fazer parecer sobre a dita montaria. Vir desta forma tapar o Sol com a peneira, deixa-me com comichões que sinceramente preferia não estar a sentir neste momento. Talvez seja apenas impressão minha.
O que é certo é que tal como quando nasce, o Sol quando se põe também devia ser para todos, e não para decorar o ambiente em torno do vangloriar de bestas ignóbeis que aproveitam o ocaso para fotografias de macabros troféus de caça, para gaudio dos seus umbigos.
É com um sentimento de profunda revolta que sinto a mesma abjeção quando oiço o alegadamente idiota e líder do PAN, um tal de André Silva, a tentar montar na montaria com o fim de dela se servir para a sua exagerada e absurda defesa dos direitos dos animais. Basta ver a proposta feita na Assembleia da República através de projeto-lei da deputada não-inscrita Cristina Rodrigues, que saiu do PAN este ano, que pretende alterar o Código do Trabalho de forma a alocar sete dias de faltas justificadas à prestação de "assistência inadiável e imprescindível em caso de doença ou acidente" a animais de estimação, bem como um dia adicional de direito ao luto pelo falecimento do companheiro animal.
Como toda esta temática me enerva, termino, por já ter dito o bastante. Despede-se com carinho, este teu amigo que estará sempre ao teu dispor, se para isso for necessário, com um beijo saudoso,
Gil Saraiva