Carta à Berta: Os Azares (Clínicos) de um Homem de Sorte - I/II
Olá Berta,
Já te informei que ao fim de 12 anos de paciência, tempo durante o qual desapareci três vezes da lista de espera do Centro de Saúde de Campo de Ourique, tenho finalmente médico de família, digo, médica.
Um facto destes, parece-me, por princípio, ser algo de positivo. Porém, ou é de nunca ter usado médico de família, em 59 anos, ou sou eu que estou demasiado habituado a tratar de mim sozinho, ou é sei lá o quê, sinto-me desconfortável com esta minha médica.
Depois de lhe passar o meu historial clínico, análises, relatórios, exames, tomografias, radiografias e ecografias, mais dopplers e ressonâncias magnéticas, a jovem (deve ter pouco mais de quarenta anos, se os tiver) mandou-me fazer análises ao sangue para saber como andam os meus triglicéridos e o meu colesterol, depois, porque o meu último cancro de pele já foi há 30 anos (penso que foi por isso) pediu também análises ás fezes, três amostras seguidas, uma de cada vez que eu arreasse o calhau. Após receber tudo isso, novo pedido, novas análises ao sangue, para ver o açúcar.
Ora bem, como tu sabes eu tenho (desde os 19 anos) horror a agulhas e pior do que isso à vista de sangue. Mais ainda não achei graça a quererem vasculhar-me o cocó. O que me dizes a tudo isso, querida Berta?
Sou eu que estou mal-habituado ou a seguir ela vai-me pedir uma análise ao sémen? Ando preocupado. Diz-me qualquer coisa. Despede-se com um beijo de até amanhã, este teu velho amigo,
Gil Saraiva