Carta à Berta: O Regresso do Fantasma de Passos Coelho
Olá Berta,
Como já deves ter visto nas notícias, morreu, devido ao problema oncológico, que a afetava desde 2015, Laura Maria Garcês Ferreira, a esposa de Pedro Manuel Mamede Passos Coelho. O facto não seria notícia se a senhora em causa não fosse a mulher do ex-presidente do PSP e ex-primeiro-ministro, Passos Coelho. Com o seu falecimento o regresso do político, ainda com 55 anos, às lides partidárias, deixará, algures após um período de nojo natural, de ser apenas uma ameaça fantasma para Rui Rio.
Pelas minhas contas esse regresso ocorrerá no final do próximo verão, após as férias dos políticos em agosto. Até lá, Passos Coelho, respeitará uns dignos 6 meses de luto enquanto, sem dar muito nas vistas, recupera, junto do partido e no seu seio, o capital político de que precisa para se voltar a afirmar.
No meu entender, Laura Ferreira era o único e verdadeiro travão que mantinha o ex-primeiro-ministro longe da luta política. Uma doença da gravidade da identificada à esposa, e o seu agravamento progressivo, terá funcionado como freio, mantendo Passos longe do circuito da luta pelo poder. Uma vez desaparecido o impedimento o que poderá deter agora este homem de avançar com as suas convictas ambições? Eu respondo-te, minha querida amiga, absolutamente nada.
Passos Coelho está, na linha de partida da corrida ao poder, prontíssimo. Conforme já referi, é claro que os 6 meses de recato se vão respeitar, por 2 motivos: primeiro, porque o eleitorado conservador veria com maus olhos um regresso logo após o falecimento da consorte, segundo, porque o calendário da luta política apenas se começa a tornar favorável a partir de setembro ou outubro próximos. Aliás, sendo 2021 um ano de eleições, com umas presidenciais logo em janeiro e as autárquicas por volta de outubro, o regresso de Pedro Passos Coelho terá tudo a ver com a proximidade dessas datas.
Quanto a mim, acontecerá logo em setembro, porque algures em outubro, ainda este ano, decorrerão as eleições legislativas referentes aos Açores. Um excelente ponto de partida para alguém que se quer reposicionar no xadrez político e partidário. Para quem pensa que estou a fazer uma mera futurologia política, embora admita que assim pode parecer, respondo com o facto de tudo se poder vir a esclarecer já daqui a 6 parcos meses.
Para além de Rui Rio existe mais um político preocupado, com o regresso do filho pródigo e com o renascer desta fénix da austeridade gratuita. Com efeito, o ressurgir político de Passos faz mossa nos seguidores de Ventura. A direita passará a ter, novamente, um protagonista de peso, que poderá abalar os planos de expansão de um Chega para quem um deputado não basta.
Muita água vai correr debaixo da ponte da direita política e será interessante ver que tipo de estratégias seguirão estes partidos. De qualquer maneira, desperto que fique o fantasma de Passos e logo após a sua genuína materialização, uma reorganização à direita parece ganhar força. A Iniciativa Liberal provavelmente vai diluir-se em pouco mais do que nada, o partido de Santana Lopes vai fazer um esforço enorme por ter o raio do anel a reluzir e já estou a ver um tal de Chicão, em bicos de pés, a gritar do meio da sala, das futuras alianças, “- Então e eu, ó Passos, então e eu?”
Por outro lado, lá para as bandas socialistas, a preocupação não existe no que concerne aos próximos 2 anos. Até porque as movimentações dos partidos à sua direita, antes de crescerem podem até ficar mais enfraquecidas. A grande preocupação do PS existirá, isso sim, nas próximas legislativas, porém, até lá, faltam quase 4 anos, e enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.
Com isto termino, amiga Berta, veremos se esta carta se transformará numas meras páginas de ficção ou se, pelo contrário, se aproximará de um Oráculo por devir. Despeço-me com um beijo. Este teu eterno amigo,
Gil Saraiva