Carta à Berta nº. 335: Os Novos 4 Cavaleiros do Apocalipse - Introdução - I/VI
Olá Berta,
Ao entrarmos na terceira década, do primeiro século do terceiro milénio d.C., pairam no ar notícias de 4 renovados Cavaleiros do Apocalipse. Na verdade, minha cara, embora aparentem ser novos cavaleiros apenas a roupagem é diferente e simplesmente muda a forma e o feitio do embrulho com que nos são presenteados.
Nesta carta e nas próximas 5 seguintes, vou tentar dar-te a conhecer, o melhor que posso e sei, aquilo a que me refiro. Serão, portanto, um total de 6 cartas sobre estes obstinados personagens que nos invadem o quotidiano. Esta é, Bertinha, a carta introdutória de apresentação dos cavalgantes. Antigamente eles eram perfeitamente identificáveis, o primeiro era a Guerra, sempre montada num cavalo malhado de cor indefinida entre o cinza e castanho.
O segundo era a fome, que galopava embalado pelo primeiro, num garanhão creme, de crina ruiva, quase vermelha, determinado a levar a melhor sobre as gentes que encontrava no seu caminho. Sem se importar minimamente se ao passar devastava ou não, amiguinha, uma população amedrontada que tentava, a todo o custo, sobreviver. Unicamente focado em servir a causa dos 4 emissários.
O terceiro era a peste, que ajudava os 2 primeiros a manter o foco da missão, transportado pelo seu alazão branco, de meias negras, que sem piedade pisava e destruía a saúde daqueles que com ele se deparavam à sua passagem. Tudo porque, doce confidente, o seu objetivo era mesmo o de massacrar seres humanos. Sendo, como todos os outros, absolutamente insensível ao padecimento das suas vítimas, fossem elas homens, mulheres ou crianças.
O quarto era a morte, que trotava uma besta negra reluzente, enorme e possante, suportado pelo apoio dos outros 3 cuja missão era, minha querida, apenas e só ceifar vidas. Um verdadeiro colecionador de almas, corações, corpos e seres. Temido por não poupar nada, nem ninguém, na sua rota devastadora com destino ao abismo dos mortais, relegados à cova escura dos estros sem saudade ou esperança.
O facto de todos eles terem nomes femininos, Berta, era apenas mais um logro. Afinal, guerra, fome, peste e morte eram uma maneira, pouco subtil, de dizerem ao que vinham, sacudindo a água dos seus próprios capotes. Desprovidos de piedade e consciência, toda a vida, escudados nos seus contos e mentiras.
Amanhã, falo-te de como o primeiro destes cavalgantes iniciou o seu adaptado trotar neste princípio do terceiro milénio. Não mudou de nome, apenas adotou mais uns pseudónimos, para tentar passar despercebido no início da sua viagem pelos dias que correm. Deixo-te um beijo de despedida, alma gémea, com carinho, deste teu amigo de sempre,
Gil Saraiva