Carta à Berta n.º 636: Os Governos de Costa
Olá Berta,
Hoje, minha querida, venho conversar sobre o custo de vida, as crises no Governo, os casos e casinhos, a imagem dos nossos governantes, da oposição e o papel dos comentadores que pululam no nosso rico quotidiano bafejado de homens baixinhos que, como diz um velho ditado português, ou são velhacos ou bailarinos. No meu entender a maioria está na primeira categoria, talvez por falta de jeito para a segunda.
Todavia, cara amiga, não julgo ser importante, neste momento, repetir tudo o que se tem dito sobre a atualidade política portuguesa. Quero, isso sim, saber como está realmente o país quase oito anos depois da Troika de cá ter saído, levando com ela a pala do cabelo de Passos Coelho, agora um heroico skinhead, não no sentido pejorativo do termo, porque o acho muito bem no papel de D. Sebastião que jamais voltará e porque mau, mau, foi a sua castigadora e quase sádica governança nacional.
Fala-se que este Governo de Costa tem sido mau. Critica-se tudo o que faz e que desfaz, caem administradores de empresas públicas, Secretários de Estado e Ministros, é verdade. Confirmo que efetivamente temos um Governo vivo e muito colorido, que foge ao estereótipo cinzento a que estamos habituados nestes tempos de democracia, porém, Bertinha, sempre vamos sabendo o que se passa.
Mas como estávamos nós, naqueles anos entre 2011 e 2015, em que o PSD liderou o país com Passos, Portas e Cristas, no comando governativo da nação lusa? Bem, minha cara, o que nos vale é termos memória curta.
Em termos de inflação, de que nos queixamos tanto nos dias que correm, no tempo do Bloco Central (com PS e PSD no Governo, ela chegou aos 28,48%, ainda te lembras, amiguinha? Depois, em 1990, na grande euforia dos fundos europeus, com Cavaco Silva na chefia do Governo, atingiu o máximo de 13,59%, (numa época apelidada de rica e próspera, se bem me lembro). No tempo de Passos Coelho, o máximo da inflação foi mais modesto, mas atingiu os 3, 65%, porém, tendo em conta o esvaziar dos bolsos do povo, de dedo esticado a dizer que vivíamos acima das nossas possibilidades, não deixa de ser relevante.
Atualmente, Berta, a taxa de inflação vai nos 7,4% e o Banco de Portugal prevê que fique pelos 5,5% na média de 2023, bem abaixo dos 8,1% do ano passado. Mesmo considerando o ano de 2022, e o anterior Governo de Costa, é fácil verificar que a inflação ficou, no seu pico, 5,49% abaixo do pico de Cavaco Silva e que foi 20,38% menos que no Governo do Bloco Central.
Para fazermos mais algumas comparações vamos olhar, por exemplo, para a dívida pública. Ora, minha amiga, Passos Coelho tomou posse do Governo, em 2011, a dívida pública de era de 114% do PIB e deixou o país, em 2014, com 129% do PIB. Costa iniciou o seu Governo com este valor e neste momento a dívida está nos 113,8% e o ano de 2023 deve acabar com uma dívida pública situada na casa dos 110,8%, sendo que as previsões do Banco de Portugal apontam que o Governo de Costa termine o mandato com a dívida pública na casa dos 100%.
Quanto ao ordenado mínimo entre 2011 e 2014 ele começou com 485,00 euros em 2011 e terminou com o mesmo valor em 2014, porém, com os subsídios de natal e férias suprimidos e mais uma sobretaxa sobre os rendimentos. Já Costa, minha querida, iniciou os seus mandatos com esse valor e atingiu este ano os 760 euros de ordenado mínimo, enquanto aponta para um valor de 900 euros como valor mínimo no final do mandato, ou seja, quase que dobra o ordenado mínimo, enquanto baixa em 29% a dívida pública.
No que se refere ao crescimento do PIB, com Passos, ele decresceu nos primeiros 3 anos (nomeadamente -1,7 em 2011, -4,06 em 2012, -0,92 em 2013) e apenas cresceu para os 0,79 em 2014. Com Costa, Bertinha, o crescimento do PIB acabou 2022 com um crescimento de 6,69 do PIB e com uma previsão de 1,8 de crescimento em 2023 em plena guerra na Europa e com a subida ímpar dos combustíveis nos mercados. Ora, isto aconteceu mesmo depois da pandemia ter causado em 2021 um PIB negativo de -8,3, mas tendo 2022 representado uma recuperação surpreendente de 13,8, algo inédito, fixando o crescimento do BIP nos 5,5 nesse ano.
Mas Costa, cara amiga, não reduziu apenas a dívida pública e aumentou o PIB nacional, ele acabou com o roubo dos subsídios de Natal e Férias aplicado por Passos, já para não falar nesse malfadado imposto designado por sobretaxa.
Passos também reduziu os funcionários públicos em 11% de quase 73 mil para os 65 mil e Costa já reverteu os números para os 73 mil. No SNS Passos reduziu a despesa dos 9,5 mil milhões para os 9 milhões. Costa já aumentou essa despesa em quase 50%, para os 13,5 mil milhões já a contar com a cálculo para este ano. Nem vou falar na educação, porque, Berta, os problemas de Costa vêm todos dos cortes provocados por Passos durante a Troika e que agora se tornam quase impossíveis de repor.
Quanto às pensões, doce amiga, pela primeira vez em muitos anos, os reformados e pensionistas tiveram um ganho real nas reformas e pensões de 2% e isto na média dos últimos quatro anos. E eu vou-me queixar de quê?
Que o Governo tem muitos casos e casinhos. Por amor da Santa, quero lá saber. Que a TAP tem um parecer que teima em não existir? Quero lá saber! A minha vida está muito melhor do que esteve entre 2011 e 2014. Devo isso a António Costa e aos seus Governos. O resto, cara Berta, são coisas para comentadores baixinhos, que não bailam, se entreterem. Deixo um beijo,
Gil Saraiva