Carta à Berta n.º 596: Campo de Ourique - Movimento Cívico “Salvar o Jardim da Parada”
Olá Berta,
Há um movimento cívico de cidadãos e cidadãs que luta nas redes sociais, na imprensa e, basicamente, por onde pode, mas principalmente no terreno, pela manutenção do Jardim da Parada tal como ele está hoje em dia. Usam o nome de movimento cívico “Salvar o Jardim da Parada” e tentam, imaginativamente, lutar de todas as formas de que se lembram contra a ideia peregrina do Metropolitano de Lisboa de colocar a Estação do Metro de Campo de Ourique por baixo do pequeno pulmão do Bairro de Campo de Ourique. Porém, minha amiga, não é uma luta nada fácil.
Pessoalmente não conheço as pessoas que lideram o movimento, mas, pelo que vi até agora lutam numa desigualdade de David contra Golias. Não têm com eles uma agência de publicidade ou de meios que os ajudem na campanha, não possuem verbas próprias para poderem produzir material de divulgação das suas ideias, falta-lhes ainda, minha amiga, um núcleo de juventude, que consiga congregar os jovens na defesa do espaço.
Porém, Berta, em compensação, é notória a entrega dos envolvidos e das envolvidas à causa da preservação do Jardim da Parada. Eu mesmo já fui convidado para me juntar ao movimento e só não o fiz porque a saúde não me tem facilitado a vida, embora, até aqui, valorize esta luta desigual e sem tréguas, que se desenrola à minha porta, por parte de um movimento onde arde a chama da vitória.
Apesar de tudo não é de esperar que o Metropolitano de Lisboa seja sensível aos argumentos do movimento, querida amiga. Afinal, em última análise, trata-se de uma empresa de toupeiras, entretidas a fazerem buracos no subsolo, sem grande sensibilidade para questões de ambiente, natureza, convívio social e preservação do único espaço lúdico do bairro ao ar livre.
Já o Partido Socialista, com o qual, ainda por cima, eu simpatizo, devia ter mais cuidado com as opções que toma. Bem pode o Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique ser filho do Primeiro-Ministro, e nem importa se transitou dos negócios da noite para a política através de obscuras jogadas partidárias de bastidores sombrios, pois, mesmo assim, à tangente, conseguiu ser eleito, minha querida. Todavia, se o resultado for a tragédia que se anuncia, quando a Estação de Metro do Jardim da Parada ficar concluída, jamais, quem estiver no poder na Junta de Freguesia, voltará a ganhar votos suficientes para se fazer eleger novamente neste bairro.
Também não podemos contar com Moedas, que está mais preocupado em se manter, no equilíbrio instável e débil do poder, à frente da Câmara Municipal de Lisboa, cara Berta. Para além disso, o Carlinhos aparenta ter a sensibilidade de um bloco de cimento no que respeita ao ambiente ou às preocupações sociais dos seus eleitores. Embora o homem ainda não se tenha manifestado claramente sobre a Estação de Metro no jardim, eu acho que, pelo que vou ouvindo, ele valoriza a centralidade do local em detrimento de eventuais prejuízos.
O que eu não consigo entender, e nisso a minha opinião diverge da que parece existir no movimento, é qual a necessidade da existência de duas estações de metro num bairro que apenas tem 1,5 quilómetros quadrados. A futura Estação de Metro das Amoreiras, fica a menos de 50 metros da Rua Ferreira Borges, e está bem dentro de Campo de Ourique, por isso eu me pergunto se terão mesmo de existir duas estações de metro no seio de um território tão diminuto? Ainda mais quando já existe uma outra no Rato e vai nascer mais uma na Estrela. Acho mesmo um desperdício de recursos e fundos. Mas isto, minha amiga, sou eu a pensar.
De qualquer modo, ainda agora a procissão saiu da igreja. Muita tinta ainda há de ser gasta para se escrever sobre o assunto. Com sorte, ganha o bom senso e com isso o movimento, mas é preciso que a população do bairro adira e assine o abaixo-assinado em curso. Contudo, se esta for a história habitual, vencerão aqueles que se estão borrifando para a qualidade de vida de um bairro, já vezes sem conta, considerado o melhor bairro de Lisboa para se viver. Por hoje é tudo, amiga Berta, este teu confesso admirador deixa-te um beijo carinhoso de despedida,
Gil Saraiva