Carta à Berta n.º 566: Legislativas 2022 - Vem aí a Caralhampana!
Olá Berta,
Vem aí a Caralhampana. Perguntarás tu, certamente curiosa, e com razão...” — Mas o que é uma Caralhampana?” Pois bem, uma Caralhampana é uma Geringonça do “Carvalho”. O termo é importado do Brasil, mas é realmente expressivo. Se a Geringonça já é uma Engenhoca difícil de engendrar, uma Caralhampana é, sem dúvida, o superlativo desta dificuldade. E foi o único que encontrei para ilustrar o que, segundo o nosso último Primeiro-Ministro, se adivinha em perspetiva, depois de trinta de janeiro.
Pelo pedido e matemática de António Costa não é complicado entender que, caso o PS falhe a maioria absoluta poderá muito bem ter de constituir um governo à esquerda cujos aliados se tornam mais complicados de alinhar no mapa desenhado pelo líder do PS.
Convém acentuar que, amiga Berta, para alguns dos estudiosos da linguagem, a palavra que importei dos nossos irmãos poderá ter uma outra origem e derivar de outra, também brasileira, a saber, “Cralhampana”, que mais do que ser apenas uma geringonça é bem mais aproximada do significado de um “Trambolho de uma Traquitana”. Ora, aqui já estamos numa termologia bem mais lusitana. Todos conhecemos bem o significado de “Trambolho” e de “Traquitana”.
Dito isto, fica particularmente difícil imaginarmos que uma Engenhoca, que combina ambos os termos, seja algo que realmente funcione. Mas a análise a fazer a esta importante temática não se fica por aqui.
Vamos, para nosso conforto, minha querida amiga, analisar o significado destas duas últimas palavras de forma a podermos aumentar as possibilidades de entender o que nos espera dentro de dias, após a realização do ato eleitoral, quando, provavelmente, o PS tiver de formar governo.
“Trambolho” (segundo o que consta no Dicionário Online Priberam): Palavra de origem obscura.
- Cepo que se prende ao pescoço ou ao pé dos animais domésticos, para que não se afastem muito de um local. = Trangalho.
- [Informal, Figurado] — Aquilo que não tem utilidade; aquilo que atrapalha ou incomoda. = Embaraço, Empecilho.
- [Informal, Depreciativo] — Pessoa considerada de pouco valor.
- [Informal, Depreciativo] — Pessoa muito gorda que tem dificuldade em andar.
- [Informal, Depreciativo] — Pessoa que é fisicamente pouco atraente ou maljeitosa.
“Traquitana” (segundo o que consta no Dicionário Online Priberam): — Palavra de origem obscura.
- Carruagem de quatro rodas, para duas pessoas, com cortinas de couro por diante.
- [Informal] — Carro desconjuntado e reles. = Calhambeque, Caranguejola, Carripana.
- [Informal] — Coisa de pouco valor = Bagatela, Bugiganga.
Em resumo, minha amiga Berta, a Caralhampana é um termo tão obscuro como os seus significados e sinónimos, seja na origem brasileira original ou seja nas palavras sinónimas em português de Portugal. O seu verdadeiro significado parece, com efeito, ser portador de uma carga não só negativa como superlativamente depreciativa.
É também um facto que Geringonça também já era, pelo seu significado, uma coisa ou construção improvisada ou com pouca solidez ou uma construção pouco sólida e que se escangalha facilmente ou, ainda, um aparelho ou máquina considerada complicada ou, até, uma coisa consertada que funciona a custo, para não dizer uma sociedade ou empresa de estrutura complexa e pouco credível ou, pior ainda, uma ideia engendrada de improviso e que funciona com dificuldade, ou seja, no caso político, uma combinação ou acordo partidário pouco credível, criado de improviso, que funcionou a custo.
Ora, querida Berta, devido ao seu fator periclitante a Geringonça criada pelo Partido Socialista não conseguiu sobreviver mais de setenta e cinco por cento do tempo para que tinha sido projetada. Ficou, como é sabido, a dois anos de realizar plenamente a sua função integralmente. Mas, mesmo assim, não foi mau de todo se tivermos em conta que os analistas lhe davam, no máximo, um a dois anos de existência.
O problema hoje em dia põe-se, contudo, de outra forma. Quando se pega numa Geringonça que gripou (ou «covidou») talvez fruto da própria pandemia de Covid-19, e se tenta consertar este equipamento, tentando aproveitar o mesmo princípio de engenharia e usar partes da Caranguejola para assim criar uma obscura Caralhampana que funcione, arriscamo-nos, minha amiga, a entrar diretamente no domínio da ficção científica.
A acontecer, segundo parece crer piamente António Costa, esta nova Traquitana, tanto se pode tornar rapidamente um Trambolho, ditado ao fracasso, se a máquina for construída com partes do PAN, como pode conseguir funcionar por algum tempo, talvez até um ciclo inteiro de quatro anos, se o Livre conseguir eleger um ou dois deputados e se juntar ao PS para formarem conjuntamente a dita Caralhampana. O mais difícil para Costa será convencer Rui Tavares a fazer parte de uma solução sem que este exija a agregação novamente o Bloco de Esquerda e a CDU na Caralhampana.
O Livre poderia ajudar a Caralhampana a tornar-se não uma mera Traquitana, mas um verdadeiro Calhambeque funcional se, como exige Rui Tavares, António Costa permitisse a entrada, uma vez mais, do Bloco e da CDU num Calhambeque de quatro cilindros.
Quanto ao PAN será certamente o Empecilho disfuncional de uma futura governação à esquerda e disso não tenho qualquer dúvida. Com efeito, não me parece viável a reconversão das Touradas em Corridas de Touros, em que os animais correm à volta da praça, na perspetiva de ver qual deles apanha o lencinho vermelho primeiro. Já no caso do lítio, como o elemento não é verde, não poderia vir a ser explorado em Portugal apesar de, no entender do PAN, ele possa ser substituído, quiçá, por sumo de limão, embora este não sirva para fabricar baterias, mas, em compensação, seja excelente para gerar ótimas limonadas.
Também não estou a ver António Costa a aceitar obrigar a Autoeuropa a construir apenas viaturas que funcionem a Etanol, Hidrogénio ou por simples empurrão. Muito menos me parece possível o país a alimentar os seus Canídeos com uma dieta especial onde a carne esteja ausente, tipo “Bobi, toma lá o teu molho de brócolos” ou, ainda, a transformar a caça num desporto de tiro ao repolho.
Dito isto, hoje termino esta carta por aqui, querida Berta, na espectativa do que possa vir a acontecer depois do dia trinta de janeiro, sendo que uma coisa me parece certa: não sei como conseguirá funcionar mas vem aí a Caralhampana. Recebe um beijo saudoso deste teu amigo de sempre,
Gil Saraiva