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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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CARTA À BERTA N.º 374: O Despejado

Berta 352 (1).jpg Olá Berta,


Não sei se já te falei aqui da minha amiga Maria de Lourdes Quintas e do marido José Borralho, mas são dois amigos que fiz, no grupo Campo de Ourique, por acaso. Ora, ontem, enquanto se falava da Carta que te escrevi ela lembrou-me uma realidade sobre a qual eu ainda não tinha pensado recentemente, mas que esteve para acontecer em tempos de pandemia há 4 anos, tendo o governo emendado a mão a tempo. É o seguinte:


Se as rendas anteriores a 1990 forem desbloqueadas, e os preços das mesmas atualizados nós, eu e a Marília, seremos os próximos a ser despejados e não é daqui a um tempo, nada disso, é uma realidade que tem os dias contados e que começa já em janeiro de 2025.


Ou seja como temos um rendimento na ordem dos 2.000 € juntos, se a renda sobe para preços correntes de mercado lá vamos nós com os porcos sem apelo nem agravo. E de nada interessa se em 1982 demos 500 contos pela chave de um T4, quando a compra de um T2, naquele tempo custava (para comprar), cerca de 700 contos.


Também não interessará certamente que o 3º. Andar que alugámos não tivesse casa de banho, e apenas uma bacia na cozinha e um buraco no chão na varanda para se evacuar e que tivéssemos de fazer às nossas custas toda a canalização e esgotos do apartamento.


O que vai por certo importar é que são 180 metros quadrados de casa, ao preço a que um terceiro andar sem elevador está em Lisboa, e de nada valerá termos acabado de gastar 20.000 euros a pôr vidros duplos, a pintar a casa e a arranjar o soalho da mesma o ano passado, já para não falar de uma cozinha nova, porque a senhoria não queria fazer obras.


Mais grave ainda é o facto de termos de fazer uma mudança, nem imagino para que Cochinchina, quando temos 42 anos de vida acumulada nesta casa. O que faço a uma biblioteca de 10.000 livros? E a uma coleção de relógio de mais de 300 e aos mil discos de vinil, aos 2,500 Cd’s de música e aos 1,000 DVD de filmes clássicos? Onde pôr mais de 500 isqueiros e cerca de outros tantos porta-chaves e o meu atelier de pintura e os quase 100 quadros? Onde? Onde vou eu colocar, de um dia para o outro, mais de 40 anos de vida? Pois é, amiga Berta, não faço a menor ideia.


A lei Cristas já nos tinha encostado à parede há uns anos atrás, com um aumento de renda 5 vezes mais alta do que aquilo que pagávamos até ali. Mas este OE, este Orçamento de Estado manda-nos de um momento para o outro, pela porta fora para o olho da rua.


A senhora que nos alugou a casa já nem está vida, a filha está internada num lar e o neto, que ao que parece (porque nem fomos avisados) agora gere o prédio não quer saber de nada do que se passou no tempo da avó. O que ele vai querer é receber uma renda, compatível com a casa que hoje existe, independentemente de aqui nunca ter gasto um cêntimo.


Mas minha querida Berta, se a Lei deixar de nos proteger o que funciona mesmo é o mercado, não imagino como será a minha vida, mas não vejo como poderei continuar a viver em Campo de Ourique ou em qualquer outro lado deste país, nem importa muito bem onde seja.


Os Governos de direita não se preocupam muito com isso, o que lhes importa mesmo é servir a sua clientela. Desculpa o desabafo amargurado, mas fazer o quê? Recebe um beijo de despedida deste teu amigo de sempre, porque a vida é mesmo assim…


Gil Saraiva

 

 

 

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