Carta à Berta: MEO, NOS e VODAFONE, o Trio da Vida Airada
Olá Berta,
Lembraste de eu ter-te contado que reclamei sobre o facto de agora termos que levar com 30 segundos de publicidade obrigatória sempre que queremos ver um filme ou um documentário nas gravações automáticas da MEO? Pois bem, já tenho resposta à minha reclamação e passo a transferi-la para esta carta.
“Caro Gil Saraiva,
Em resposta ao seu pedido que mereceu a nossa melhor atenção informamos que à semelhança do que se verifica nos restantes formatos de publicidade em televisão, não existe forma de excluir a publicidade. O que este novo modelo traz de diferenciador é a possibilidade de a publicidade ser segmentada consoante o perfil de cada utilizador. A partir de agora, terá sempre a opção de escolher entre publicidade personalizada ou genérica. Para visualizar o conteúdo gravado terá sempre de escolher uma das opções de visualização da publicidade. A plataforma tecnológica utilizada para a entrega de publicidade foi desenvolvida, em cooperação, pela MEO, NOS e VODAFONE. O projeto obedece às mais rigorosas normas de privacidade e proteção de dados de clientes. A par disso, todos os dados recolhidos para efeitos de publicidade são processados de forma anonimizada na plataforma criada para o efeito. Estão por isso garantidos todos os direitos consagrados no Regulamento Geral de Proteção de Dados. A não aceitação da visualização da publicidade, genérica ou personalizada, implica a não visualização do programa gravado. Mais informamos que pode consultar as Condições de Utilização das Gravações Automáticas em:
https://www.meo.pt/condicoes-de-utilizacao/gerais-dos-servicos...”
A resposta é muito esclarecedora, contudo omite tudo o que é importante e revela que realmente existiu concertação entre empresas de comunicação. Portanto, os cérebros da MEO, da NOS e da VODAFONE juntaram-se todos para lançarem esta publicidade obrigatória, concertando estratégias. Mas o que é, realmente, grave é o facto de todos eles acharem que estão no direito de alterarem unilateralmente as regras das gravações automáticas, acrescentando às mesmas uma obrigação que não constava nos contratos feitos com os seus clientes, ou seja, connosco. Eu poderia ir para tribunal? Podia, se fosse multibilionário para combater este lóbi na barra de um tribunal e provavelmente ganhava.
Eles afirmam que o projeto obedece às leis da privacidade, mas esquecem-se de dizer que alteraram um contrato comigo, enquanto operador, sem aviso ou autorização prévia. O que importa não é a garantia dos direitos de privacidade, mas a garantia da manutenção do contrato tal e qual foi feito comigo.
Alterar as Condições de Utilização das Gravações Automáticas devia requerer o meu consentimento e o de qualquer outro utilizador dos serviços destas empresas. O erro está no abuso de poder. Eu já pago uma verba no contrato com a MEO para poder ter acesso às gravações automáticas. A obrigatoriedade de me fazer ver 30 segundos de publicidade, antes de cada filme ou documentário, das gravações automáticas, é um preço acrescido, pago em tempo, por mim e por qualquer utente destes serviços, sem o nosso consentimento. Ou será que para estas tempo não é dinheiro? Claro que é e são bem pagas pela alteração que fizeram abusivamente.
Ás vezes tenho pena de não ser rico apenas por coisas assim. Iriam ter que retirar a nova norma ou reduzir os custos do contrato, repartindo os chorudos benefícios que têm com esta nova norma publicitária, isto se me fosse viável pô-los em tribunal. Assim, infelizmente minha querida Berta, ficam-se a rir, descaradamente na minha cara.
Mandei também a minha reclamação para as entidades de defesa do consumidor, até ao momento nem uma respondeu. Infelizmente é assim que funcionam os grandes grupos e pouco podemos fazer do modo como as coisas estão implementadas. Despeço-me triste, até à próxima carta, a imaginar que a MEO é um enorme “smile” de riso cínico e arrogante, fica um beijo,
Gil Saraiva