Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte IX
Olá Berta,
Não leves a mal as comparações de ontem. Afinal, não passam de opiniões pessoais, sujeitas aos mais variados critérios de subjetividade, de gosto e de avaliação absolutamente emocional. Embora eu pessoalmente não acredite, ambos os presidentes podem ser excelentes pessoas, dignos dos mais rasgados elogios. Cá por mim dava os rasgados a um e os elogios ao outro. Porém, mais uma vez, isto sou eu.
A curta abordagem de hoje sobre a profissão de jornalista freelancer em Portugal, visa apenas, minha querida amiga, dar-te uma ideia de que, infelizmente, se queremos sobreviver profissionalmente não nos podemos dar ao luxo de escolher sobre aquilo que queremos escrever. Como diz o ditado marítimo <<o que vier à rede, é peixe>>.
Será melhor passarmos às memórias de hoje e deixar os considerandos para o final do texto. É a melhor forma de não me alargar, em demasia, em considerandos que se poderiam alargar. Assim:
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte IX
“Tudo isto para dizer que um freelancer nem sempre faz o que gosta ou que, por sua iniciativa consegue abordar os melhores temas ou os mais intelectuais. O que interessa, por exemplo, o Goucha a alguém, ou outro dos que aqui poderia deixar referidos, que não seja no contexto do que eles efetivamente fazem na área que os torna públicos? Não interessam nada, nem deveria haver mais nada a dizer sobre eles, fora desse contexto.
Contudo, como colunáveis que são, pode mesmo aparecer-nos um trabalho que nos obrigue a falar deles. Contingências do ofício. A vida é assim e temos é que seguir em frente com a melhor disposição possível. Por exemplo, é melhor ser freelancer do que trabalhar nos serviços de saneamento básico da cidade do México onde os trabalhadores entram de escafandro em esgotos, mais largos do que piscinas, para os desentupir. Isso sim é um repugnante, real e verdadeiro trabalho de merda.”
A minha abordagem sobre qualquer tema menos interessante ou até totalmente fatela ou horroroso, pode parecer que cheira mal, que é uma verdadeira porcaria, contudo, eu não sou obrigado a sentir a consistência física das poias, nem tenho que levar nariz acima com as abjeções de terceiros. Em síntese as minhas queixas são de cadeirão e, em última conclusão, totalmente irrelevantes. Todos os trabalhos têm coisas, aqui ou ali, de que não gostamos particularmente de fazer. É o caso do jornalismo de um freelancer.
Por hoje termino com uma despedida alegre, acompanhada de um beijo, deste teu amigo fiel e sempre ao dispor, seja lá para o que for,
Gil Saraiva