Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - Os Primeiros Apontamentos - I.3
Olá Berta,
Folgo em saber que te tens rido das minhas observações. Nem sempre é fácil escrever algo que se destina a não ser lido. Contudo, julgo que o senhor em causa, ou seja, eu, não me importaria se soubesse que tu estás a ler, na integra o “Diário Secreto do Senhor da Bruma”. Pelo contrário, isto é, sei e aprovo. Só espero que te continue a entreter. Afinal só vou parar de o transcrever se tu me disseres que não queres ler mais. Mas voltemos ao Diário. Ia para o apontamento de 13 de janeiro.
I
Os Primeiros Apontamentos (continuação I-3)
Janeiro, dia 13:
Provérbios e pensamentos para um novo milénio:
- Vale mais ser confinado que corno.
Janeiro, dia 14:
- Se um vírus gerar uma pandemia é um libertino. Dá-se com qualquer um.
Janeiro, dia 15:
- Covid-19 em morcego é ermita, em séniores é um <<Serial Killer>>.
Janeiro, dia 16:
- Os vírus são os zombies do mundo microscópio, precisam de ser vivos para se multiplicarem, enquanto as bactérias são como as vacas, pastam por todo o lado e só algumas tresmalham. As que nos infetam ou matam são conhecidas por vacas loucas.
Janeiro, dia 17:
- A semelhança entre um assassino psicopata e um vírus mortal é que nenhum deles pensa antes de matar. O psicopata só tem a vantagem de poder jantar primeiro.
Janeiro, dia 18:
- Se os vírus não são seres vivos não é de médicos que o mundo precisa, mas de exorcistas.
Janeiro, dia 19:
- No século XX a máscara era usada para roubar, no século XXI serve, principalmente, para desconfinar.
Janeiro, dia 20:
- Uma prostituta é uma mulher que não acredita em confinamentos. Um cabrão é o marido da desconfinada. Já um garanhão é um homem que sabe saltar a cerca e a mulher deste é… apenas a cerca.
Janeiro, dia 21:
Atualizações para um dicionário de português em tempos de pandemia:
Coronavírus (1):
- Vírus em formato de coroa (do latim “coronam”, que no castelhano derivou para “corona”), sendo vulgar nos animais selvagens (não confundir com a expressão brasileira de silvestres), contudo, perigoso quando salta entre espécies e atinge o Homem.
Janeiro, dia 22:
Coronavírus (2):
- Zombie microscópico que adora atormentar a espécie humana. Varia de qualidades e caraterísticas no seio da sua própria família e está sujeito a mais mutações do que político em período eleitoral.
Janeiro, dia 23:
Covid-19:
- Doença provocada pelo coronavírus, nomeadamente, pelo SARS COV 2, o caçula dos coronavírus. A doença propaga-se pela saliva ou espirros entre humanos. É um bom antídoto para quem não aprecia beijos e abraços. Quando se agrava pode ser mortal, principalmente, se associada a grupos de risco ou a pessoas com idade para terem juízo. Nos jovens está provado que alastra com uma facilidade inversamente proporcional ao grau de inteligência de cada um.
Janeiro, dia 24:
Confinado (a):
- Pessoa que se viu na obrigação de se abster de convívio com terceiros, sentindo-se obrigada a manter-se o mais isoladamente possível, na maioria dos casos, no reduto da sua própria habitação. Impropriamente usado para designar um individuo tímido que se recusa a sair da casca ou, nalguns casos, a reconhecer que gostaria de pegar de empurrão.
Podia continuar, mas não quero ser aborrecido com demasiado palavreado de uma só vez. Amanhã também é dia e, enquanto fores tendo paciência, cá estou eu para que me possas ler. Despeço-me com saudades, o amigo do dia-a-dia, sempre ao teu serviço, minha querida Berta, junto um beijo fresco,
Gil Saraiva